sábado, 16 de novembro de 2013

A Reforma Protestante não é a responsável pela modernidade

Dr. Fábio Blanco
O protestantismo é comumente acusado de ser o responsável pela modernidade e suas mazelas. Principalmente aqueles que se apegam profundamente às raízes tradicionais, tendo tudo o que passou como melhor do que o que há no presente, afirmam que foi a Reforma Protestante quem inaugurou e possibilitou, com suas loucuras e desvarios, o mundo moderno. Lembro-me, ainda, das palavras de Chesterton, que disse que o mundo moderno, por causa do abalo religioso causado pela Reforma, está repleto de antigas virtudes cristãs enlouquecidas. O que ele quis dizer, por um certo prisma, é que a Reforma, ao mesmo tempo que trouxe liberdade religiosa para o homem, lançou-o na perdição de sua própria insanidade.
O problema é que tal acusação não se sustenta, por jogar sobre os ombros da Reforma aquilo que ela não pode ter-se por responsável.
A questão é mais ou menos simples. Pense no próprio Deus e sua criação. Sabemos que Adão foi feito perfeito e sem pecado. E foi criado também com liberdade. Esta liberdade, necessária e permitida, foi, de alguma maneira, a causa de seu pecado e rebelião. No entanto, o próprio homem é o único responsável por aquilo que fez. Ele não pode, como de certa maneira tentou fazer, responsabilizar Deus por aquilo que somente ele cometeu. Ninguém pode dizer que Deus é o responsável pelo pecado humano só porque concedeu liberdade ao homem.
O mesmo raciocínio deve ser feito sobre a Reforma Protestante. O que ela fez foi lançar sobre os homens a responsabilidade de sua liberdade. O que ele fez com essa liberdade depois não pode ser colocado na conta da Reforma. Culpar a Reforma Protestante pelos erros posteriores, guardadas as devidas proporções, seria como culpar Deus pelo pecado de Adão.
Eu não quero dizer que todas as reivindicações e princípios reformados são irretocáveis. Apenas ressalto que se alguma crítica deva ser feita à Reforma, deve se ater às suas bandeiras, seu discurso, suas práticas, não às consequências que podem ter se manifestado por causa dela ou a pretexto dela. É bem razoável a discussão sobre a livre interpretação das Escrituras, sobre os sacramentos, sobre as formas religiosas; tudo isso é salutar. No entanto, condenar o protestantismo por aquilo que foi feito de errado sob seu nome é demais. Quem faz isso pode estar trazendo condenação sobre a própria Igreja que pretende preservar.
Isso porque se a Reforma Protestante é responsável por eventuais erros ocorridos depois dela, por que a própria Igreja Católica não pode ser responsável pela Reforma, afinal, esta apenas existiu por causa daquela! Aliás, a Reforma Protestante nada mais é do que um movimento ocorrido no seio da própria igreja Católica. Não é porque passaram-se 1200 anos que uma instituição não pode se responsabilizada por algo que ocorreu dentro de seus domínios. Se a Reforma é culpada pela modernidade, a Igreja Católica é culpada pela Reforma e, portanto, culpada pela modernidade.
Qualquer instituição ou movimento apenas pode ser responsabilizado pelos princípios que sustenta pelas bandeiras que levanta, pelas ideias que proclama. E basta ler os sínodos, as confissões e os escritos dos reformadores para vermos que a loucura do mundo moderno não é defendida por nenhum deles. Pelo contrário, os protestantes que se mantém fiéis aos princípios da Reforma, assim como os católicos que permanecem sobre os fundamentos do catolicismo, se encontram do lado oposto aos valores deste mundo contemporâneo. Portanto, não são eles os responsáveis pelo que vivemos nestes dias.
Se seguíssemos a mesma lógica de alguns críticos do protestantismo, diríamos que, da mesma maneira que a Reforma é culpada pelas doenças da modernidade, Deus é culpado pelo pecado, que nada mais é do que a enfermidade humana.
Graças a Deus não pensamos dessa maneira!

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