sábado, 29 de março de 2014

O que foi que fizeram com nosso querido Mackenzie?

Reflexões de um jovem calvinista conservador.

Calvinismo e Conservadorismo. Julgava que ambas as ideias andavam intimamente juntas. Eu já era reformado. E também conservador, o que me tornava completamente fora de moda. Desde a adolescência, eu já sabia que socialismo era tão criminoso quanto o nazismo. Sabia que Che Guevara era um falso messias. Que bandidos não são mocinhos.
Mas viver num Brasil cultural e politicamente socialista é um tapa na cara o tempo todo. Não é à toa que um conservador como eu se sinta como um peixe fora d´água. Eu prefiro dizer que sou um peixe de água doce que acabou, por algum estranho senso de humor do destino (ou da predestinação), nascendo em águas salgadas e amargas, pois, no Brasil, bandidos são transformados em mocinhos, quando não canonizados em governantes. No Brasil, Che Guevara é o Jesus Cristo da juventude universitária e Marx seu Deus-pai.
Como jovem, tive desilusões em minha vida estudantil. Durante todo o ensino médio resisti à doutrinação sistemática de que tudo é uma questão de opressores e oprimidos na história: brancos vs. negros, europeus vs. índios, senhores vs. escravos. Não entendo tudo, mas sabia que há algo muito errado com essa história.
Logo depois, ingressei numa faculdade de direito, onde meus colegas e eu fomos doutrinados pelo positivismo e pelo marxismo desde o primeiro dia. Resisti, porque meu cérebro — sempre fora da moda ideológica — alertava que havia algo tremendamente errado nisso tudo. Não tardou para eu ser chamado de porco capitalista pelos mais maconheiros (ops, mais socialistas!) da sala. Quanto aos outros alunos, eles simplesmente me viam como um “reacionário.” E assim passaram-se os cinco anos. Ao término da faculdade, tomei uma decisão: “Agora quero estudar teologia num lugar onde, com meus princípios, não serei um completo alienígena.” Só pensei numa resposta: Mackenzie.
E assim começou 2014.
No primeiro dia de aula fomos levados ao auditório, junto a todos os demais calouros, onde uma Bíblia foi entregue para cada um. “Uau,” pensei eu, “isso sim é que é uma instituição calvinista conservadora!” Os reverendos presbiterianos fizeram as apresentações e um deles pregou sobre Daniel na Babilônia, dizendo que o estudante pode e deve manter sua fé e desvendar a ciência juntamente. “Uau,” pensei novamente. Em seguida, anunciaram um show. Bem, é claro que minha expectativa era uma banda do meio gospel. Afinal, estávamos numa universidade evangélica.
Fiquei chocado: o show foi dado por Nando Reis!
Nando Reis e os Infernais no Mackenzie. Foto tirada por Oscar Cavallieri

O que me chocou não foi somente o fato da banda desse cantor chamar-se “Os Infernais” e estarem tocando numa — pelo amor de Deus! — universidade presbiteriana. O revoltante foi o discurso contra o preconceito em relação às minorias que Nando Reis fez questão de fazer antes de começar a tocar suas românticas músicas. Ele passou um sermão politicamente correto e carregado para os reverendos e seus alunos de teologia, entre os quais eu estava. Por essa eu, um calvinista conservador, jamais esperei.
No segundo dia, tentei me recuperar, buscando explicações, com a cabeça zonza: “Quem fez o tal discurso esquerdista foi o Nando Reis, e não algum reverendo. Certamente, os reverendos também ficaram incomodados com aquilo e vão dar um basta nisso.”
Dirigi-me à sala e fomos levados a uma atividade dinâmica promovida por uma ONG. Muito divertido e informativo. O nada divertido (mas ainda assim informativo) foi o discurso do dirigente do diretório acadêmico (um teólogo em formação) no final da atividade. Inicialmente ele mostrou uma posição bastante liberal, e logo senti cheiro não apenas de teologia liberal, mas também de teologia da libertação. E quando ele finalizou dizendo que Sodoma e Gomorra foram destruídas não pelo homossexualismo, mas porque negligenciavam amparo aos pobres e às viúvas, novo choque para mim. Para esse aspirante a teólogo no Mackenzie, o problema do homossexualismo é enfatizado demais na narrativa sobre a destruição das cidades quando na verdade a causa foi outra…
Sentindo náuseas com tal manifestação de liberalismo, fui pesquisar sobre a relação entre Teologia da Missão Integral, Teologia da Libertação e Mackenzie e levei um susto. Quase caí para trás ao ver, nos resultados do Google, que problemas de esquerdismo no Mackenzie já estavam sendo biblicamente tratados, ao ler na telinha de meu notebook as matérias escritas por Julio Severo. Ao pesquisar em outros canais informativos, inclusive da própria universidade, vejo que o blogueiro não estava exagerando.
A cada dia, realmente, a Universidade Presbiteriana Mackenzie tem se tornado mais liberal e “libertadora” (no sentido de aderente à TMI). Os dias vão passando e, nas aulas de teologia, venho percebendo essa mesma visão esquerdista em alguns professores. E fico me perguntando: o que foi que fizeram com nosso querido Mackenzie?


* Oscar Cavallieri é um pseudônimo escolhido por um jovem estudante de teologia do Mackenzie que queria apenas, como calvinista conservador, desabafar seus sentimentos sobre os desafios anti-conservadores na famosa universidade presbiteriana.

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