segunda-feira, 28 de julho de 2014

Cientista diz que voo MH370 estava no ar quando buscas começaram

Como explicar o sumiço de um Boeing 777, com toda a tecnologia que existe hoje em dia? A localização do avião da Malaysia Airlines, desaparecido há mais de quatro meses, é o maior desafio da aviação civil no mundo.

Um setor que, nos últimos dias, foi abalado por três grandes tragédias. Quinta-feira, 17 de julho, outro avião da Malaysia cai na Ucrânia, provavelmente abatido por um míssil, 298 mortos. Quarta-feira, 23 de julho: um pouso forçado de um turbo-hélice em Taiwan mata 51 pessoas. Quinta-feira, 24 de julho: um MD 30 da Air Algerie cai na África e 116 pessoas morrem.


Mas, de todos os acidentes aéreos recentes, que não foram poucos, sem dúvida o mais misterioso, talvez o mais misterioso de todos os tempos, é o do voo MH370, da Malaysia Airlines. No dia 8 de março, esse voo saiu de Kuala Lumpur, na Malásia, com destino a Pequim, na China.

Com cerca de uma hora de voo, a trajetória foi bruscamente alterada, todas as comunicações foram todas interrompidas e o avião desapareceu. Era um Boeing 777 com 239 pessoas a bordo. A BBC de Londres preparou um documentário especial sobre esse voo que você vê agora com exclusividade no Brasil.

Quando o voo MH 370 desapareceu, os parentes de quem estava a bordo mergulharam em um pesadelo. Os cientistas que investigavam o acidente buscavam pistas onde não havia nada.

Na sexta-feira, 7 de março de 2014, os pilotos do MH 370 foram filmados ao passar pela segurança. O que estes homens fizeram nas horas seguintes? Eis aí o mistério.

Controle do voo: Malaysia 370, solicite o seu nível.
Piloto: 370, estamos prontos. Malaysia solicita nível 350 para Pequim.
Estas são as gravações daquela noite.
Controle do voo: 370, pista 32 direita liberada para decolagem.
Piloto: Ok, pista 32 direita, liberada para a decolagem. Obrigado. Boa Noite.

Às 00h41, o Boeing 777 alçou voo rumo a Pequim. A bordo, 227 passageiros e 12 tripulantes.

“Nenhum drama, nenhuma razão para imaginar que algo anormal aconteceria”, diz um homem.

O modelo 777 foi lançado há 19 anos, mas ainda é tão moderno que voa praticamente sozinho. Os pilotos podem se comunicar com qualquer parte do globo, usam rádio de alta frequência, um serviço de mensagens de texto chamado acars e uma conexão por satélite para chamadas de voo e envio de dados.

“Você digita sua rota no computador, desde o ponto inicial até o destino”, explica Stephen Landells, ex-piloto.

Menos de um minuto depois de decolar, os pilotos do MH370 receberam ordem para alterar a rota.

Controle do voo: Suba ao nível 180, cancele a rota planejada, vire à direita na direção Igari.

Piloto: Ok, nível 180 direto a Igari, Malaysia 370.
Essa era uma rota mais direta para Pequim, passando por um ponto fixo chamado Igari. Pontos fixos são coordenadas num mapa, usadas por controladores e pilotos para orientar a navegação.

Controle do voo: Malaysia 370, suba para o nível 350.
Piloto: Nível 350, Malaysia 370.

Os controladores seguiam o voo usando uma tecnologia dos anos 30: o radar. Existem dois tipos de radar. O radar primário localiza as aeronaves ao emitir pulsos eletromagnéticos, e registrar quando eles atingem um objeto no céu e são refletidos. Alcançam cerca de 150 km.

“Mas, o radar primário não é super preciso. O máximo que ele consegue dizer é que encontrou um avião, a tal distância, em tal posição”, conta David Stupples, professor de engenharia eletrônica.

Para aumentar a vigilância, os controladores usam um outro radar, mais sofisticado: o secundário. “É a parte de cima, retangular”, mostra Stupples.
O radar secundário tem maior alcance. Ele manda um sinal para um equipamento no avião, chamado transponder. E é o transponder que envia um sinal de volta, identificando o avião, a altitude e a rota.

Com 38 minutos de voo, os controladores que estavam na Malásia viam claramente o MH370 no radar secundário. À medida em que o avião chegava ao limite do espaço aéreo do país, os pilotos foram orientados a contatar o controle do Vietnã.
Estas são as últimas palavras vindas da cabine de comando.

Controle de voo: Malaysia 370, contate Ho Chi Minh 120 decimal 9. Boa noite.
Piloto: Boa noite. Malaysia 370.


À uma hora, 24 minutos e quatro segundos, os controladores da Malásia viram, pelo radar secundário, o avião passar pelo ponto fixo Igari. Nove segundos depois o transponder do avião, crucial para a visibilidade no radar secundário, parou de funcionar.
Os pilotos não fizeram contato com o controle do Vietnã. E o Boeing 777 nunca mais foi visto no radar secundário. Dezessete minutos se passaram até os controladores do Vietnã contarem seus parceiros da Malásia.

“É muito estranho esse tempo todo 17 minutos. Normalmente não se passam nem dois minutos até se perceber que um voo sumiu”, afirma Doug Maclean, ex-controlador de voo.
“Se o transponder está funcionando, então dá para acompanhar a rota toda pelo radar secundário”, diz Stupples.

Mas o MH 370 não aparecia mais no radar secundário. E ali era longe demais para os radares primários. “Então o avião fica invisível”, explica Stupples.

Quatro horas depois de o Boeing sumir, começou uma busca no sul do mar da China.

Porta voz: Nós, não achamos nada, nada mesmo.

A mais de 10 mil km dali, em Londres, um cientista começava a achar que o Boeing não tinha caído na região das buscas.


“Ouvi a notícia na BBC e pensei: esse avião deve ter equipamentos da Inmarsat. Talvez a gente tivesse dados que pudessem ser úteis aos investigadores”, conta Alan Schuster Bruce, engenheiro da Inmarsat.

O cientista Alan Schuster Bruce trabalha na Inmarsat, que fabrica os equipamentos de comunicação por satélite de muitas aeronaves. O último contato do MH 370 ficou registrado numa estação terrestre em Perth, na Austrália.

“Se um avião fica 60 minutos sem comunicação, a estação manda um sinal, perguntando: você ainda está aí? E o avião responde somente: sim. Isso se chama de aperto de mão, ou de ping”, explica Alan Schuster.


Estarrecido, Alan descobriu sete apertos de mão eletrônicos entre o avião e a estação de terra, com uma hora de diferença entre eles. E todos aconteceram depois de o avião desaparecer.

“O Boeing voou por muitas e muitas horas depois do último contato”, afirma Alan Schuster.
As equipes de busca procuravam destroços de um avião que, na verdade, ainda estava voando. Mas para onde?
“Percebemos que era possível obter ainda mais dados das estações. Isso permitiria medir a distância entre o avião e nossos satélites. E poderíamos chegar a pontos mais precisos por onde o voo tinha passado”, conta Alan Schuster.
Depois de alguma relutância, a Malaysia Airlines mandou para o grupo de Alan mais informações sobre a posição do avião. Eram secretas, vindas de radares militares. Novo cruzamento de dados, e uma estranha conclusão: depois de perder contato, o MH 370 tinha desviado, inexplicavelmente, para sudoeste, totalmente fora do caminho para Pequim. Até virar novamente, dessa vez para o Noroeste. Tudo isso levantou uma possibilidade sinistra.

Porta-voz: Uma ação intencional de alguém dentro do avião.
“Claro que isso não prova que houve sequestro, ou que foi algo criminoso feito pela própria tripulação. É uma possibilidade", diz Tony Cable, investigador de acidente aéreos.
Uma semana se passou, e nada. Chris Ashton, também da Inmarsat, tentava descobrir: depois daquele último ponto em que o avião foi visto pelos radares militares da Malásia ele foi para o norte ou para o sul?

“De repente os gráficos fizeram sentido, as contas bateram, resolvemos”, lembra Chris Ashton, empresário. O voo MH370 tinha seguido para o sul. “O avião tinha ido para o meio do Oceano Índico. Onde não havia lugar para pousar”, conta Ashton.
Mas como explicar essa rota sem sentido? O investigador Tony Cable levanta uma possibilidade. E lembra de um Boeing 737 da empresa grega Helios, que caiu em 2005, depois de perder contato, igual ao MH 370.

“Deu tempo de dois caças emparelharem com o avião. Viram a poltrona do comandante vazia, o copiloto desacordado sobre o painel de controle, e máscaras de oxigênio soltas na cabine”, explica Tony Cable.

Foi uma falha de pressurização. Eles desmaiaram por falta de oxigênio, e o voo continuou no piloto automático. Mas nem todo mundo estava desacordado no Boeing.

“O pessoal dos caças viu um comissário de bordo se sentar no posto do comandante. Ele parecia ter um cilindro de oxigênio para respirar e estava tentando salvar o avião, tentando pilotar”, conta Cable.

Mas, não teve sucesso. Depois que o combustível o Boeing grego caiu. Será, então, que aconteceu a mesma coisa com o MH 370? Os pilotos desmaiaram, alguém tentou pilotar numa rota inexplicável até que o combustível terminou?

No Brasil, o comandante Marco Antônio Cerdera, instrutor de voo, lembra que não faz parte do treinamento dos comissários de bordo aprender a interferir nos controles de um avião. “Só se alguém explicou para ele como que é isso”, Marco Antônio Cerdera, instrutor de voo.

As informações cruciais estão nas caixas pretas, que registram tudo o que acontece em voo. Mas como achá-las? Em Londres, os cientistas chegam a conclusões cada vez mais precisas.

“Chegamos a uma rota que confere com todos os dados que reunimos. E ela dá a área mais provável para o avião ter caído”, aponta Ashton.
Em algum ponto do fundo do mar. As caixas pretas emitem sinais pra serem encontradas. Mas, as baterias duram só 30 dias.“Para nós, das buscas, 30 é o número mágico”, explica Chris Moore, líder das buscas.

Seguindo as indicações da possível rota, foram deslocados para área equipamentos de última geração. Microfones ultrassensíveis, que chegaram a captar sinais. Mas, nada foi encontrado. Era pior do que buscar uma agulha num palheiro. Porque não havia nem palheiro.

No sábado, 8 de março de 2014, o MH370 decolou para um voo de rotina rumo a Pequim. Menos de 40 minutos depois, desapareceu. Um esforço global prossegue.

Fonte: Cenário MT

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