domingo, 27 de julho de 2014

Se o suicídio é pecado por que Deus aprovou o suicídio de Sansão?


Você pergunta: Pra mim está bem claro na Bíblia que o suicídio é pecado. Deus diz em Êxodo 20.13: “não matarás” e também diz em 1 Co 3.17: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.”.

A minha dúvida é a seguinte: Quando Sansão se suicidou, vemos no texto o consentimento de Deus nesse ato (Juízes 16.28-30). Como Deus pode consentir o suicídio de Sansão, dando a ele força, e reprovar o suicídio em outras partes da Bíblia?

Cara leitora, esse é um assunto realmente bem delicado e que precisa ser bem analisado para que não cometamos injustiça com a Bíblia.

(1) Creio que a primeira coisa a se pensar é que não podemos crer que toda forma de suicídio é igual. Vemos na Bíblia, por exemplo, o caso do rei Saul, que se suicidou porque não queria ser escarnecido pelos adversários, pois os considerava impuros:

“Então, disse Saul ao seu escudeiro: Arranca a tua espada e atravessa-me com ela, para que, porventura, não venham estes incircuncisos, e me traspassem, e escarneçam de mim. Porém o seu escudeiro não o quis, porque temia muito; então, Saul tomou da espada e se lançou sobre ela.” (1Sm 31. 4).

Outro caso interessante foi quando o profeta Jonas pede para si a morte porque não concordava com a conversão dos ninivitas: “Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver” (Jonas 4. 3). No caso de Jonas não houve o suicídio, mas talvez uma intenção buscando a aprovação de Deus.

Temos também o caso de Abimeleque, que procurou a morte porque não queria ter a fama de ser morto por uma mulher:

“Porém certa mulher lançou uma pedra superior de moinho sobre a cabeça de Abimeleque e lhe quebrou o crânio. Então, chamou logo ao moço, seu escudeiro, e lhe disse: Desembainha a tua espada e mata-me, para que não se diga de mim: Mulher o matou. O moço o atravessou, e ele morreu.” (Jz 9. 53-54).

Em todos esses casos não vemos uma aprovação de Deus para as atitudes apresentadas. Talvez porque esse tipo de “busca pela própria morte” é baseada no egoísmo ou motivos fúteis.

Mas o que dizer, por exemplo, de pessoas que indireta ou diretamente morrem por lutar por causas nobres ou mesmo para proteger alguém? Usemos como exemplo um bombeiro que se lança em um prédio em chamas para salvar alguém lá dentro e morre. Ele sabia dos riscos, mas deu sua vida para salvar outros.

Ou mesmo um policial que se arrisca perseguindo um assaltante e morre cumprindo seu compromisso de proteger a sociedade. Ele também sabia dos riscos de morte. Esse tipo de morte “buscada” é bem diferente das outras que falamos no início desse texto. 

Vários servos de Cristo “buscaram” a própria morte quando desobedeceram a autoridades religiosas da época, que os mandava parar de pregar sobre Jesus Cristo. Um exemplo clássico disso foi Estevão (Atos 6)

(2) Ao analisar o texto que fala da morte de Sansão me parece que não houve em Sansão uma motivação egoísta no seu pedido a Deus. Note que ele pede a Deus para realizar aquele ato e só o realiza porque Deus deu a ele novamente a sua força descomunal para que fosse aplicada contra os filisteus.

Uma motivação egoísta de Sansão poderia levá-lo a simplesmente acabar com a própria vida de outra forma sem considerar a opinião de Deus, o que ele não fez. Essa motivação de Sansão me parece muito com o que Cristo disse em João 15.13:

“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos.”.

"Sansão morreu pela causa de seu povo contra um terrível inimigo. A ação de Sansão está mais para sacrifício do que para suicídio." 

O próprio Jesus deu a sua vida em sacrifício, buscando a própria morte para cumprir o plano de Deus e abençoar muitas vidas. Sansão morreu pela causa de seu povo contra um terrível inimigo.

A ação de Sansão está mais para sacrifício do que para suicídio. Lembrando que mesmo com todos os erros cometidos por Sansão em sua fase de rebeldia, ele figura entre os heróis da fé em Hebreus 11.32 pelo ato de ousadia que fez e pela mudança de vida mesmo que por pouco tempo. 

Já Saul e Abimeleque não são citados como bons exemplos, o que mostra que existia claramente na mente dos autores bíblicos essa ideia da diferença desses atos de “suicídio” que alguns acham “aparentemente” iguais.

(3) Assim, penso que não houve contradição no consentimento de Deus na morte de Sansão. E nem essa aprovação de Deus daquilo que aconteceu com Sansão deve nos fazer pensar que Deus aprova o suicídio em todas as suas formas. 

As atitudes de Saul e Abimeleque não foram aprovadas por Deus, por isso, as situações devem ser bem avaliadas. Já Sansão figura entre os heróis da fé.

(4) Ainda falando sobre suicídio existe muita polêmica principalmente quando o suicídio de uma pessoa está ligado, por exemplo, a um problema psicológico grave como a depressão ou mesmo a síndrome do pânico. Será que nesses casos a pessoa peca se se suicidar, já que estava sofrendo de alguns transtornos mentais graves? 

E mais: será que uma pessoa salva por Jesus Cristo pode se suicidar (por algum motivo) e mesmo assim ir para o céu? 


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