segunda-feira, 21 de julho de 2014

Voo MH17: Lamentemos as vítimas… mas não transformemos uma tragédia em catástrofe mundial

Peter Hitchens
Uma coisa que deveríamos ter aprendido nos 100 anos passados é que a guerra é o inferno. Precisamos também notar que, logo que é iniciada, a guerra é difícil de parar e muitas vezes toma chocantes mudanças de direção.
Vamos apenas lamentar os mortos e consolar os que perderam familiares. 
Vamos deplorar a falta de juízo dos homens e a maldade da guerra.

Então os que iniciaram a atual guerra na Ucrânia — a causa direta do assassinato horrendo de tantos inocentes no Voo MH17 na quinta-feira — de fato não têm desculpa alguma.
Não há dúvida sobre quem são eles. Em todas as guerras, o agressor é o que faz o primeiro movimento num território neutro ou em disputa.
E esse agressor foi a União Europeia, que está rivalizando com a China como a maior potência expansionista do mundo, engolindo países do jeito que focas de espetáculos engolem peixes (desde 1995, 16 foram engolidos de uma vez).
Ignorando os avisos repetidos e cada vez mais urgentes de Moscou, a UE — apoiada pelos EUA — buscou trazer a Ucrânia para sua órbita. Fez isso com o uso de violência e ilegalidade, uma multidão armada de manifestantes e a derrubada de um presidente eleito.
Na época, alertei que isso levaria a um horrível conflito militar. Escrevi em março: “Tendo estimulado esperanças que não pode satisfazer, o Ocidente despertou as antigas paixões dessa parte cruel do mundo e quem sabe aonde a estupidez vangloriosa do Ocidente levará?”
Agora estamos vendo. Em grande parte sem cobertura da imprensa nos meses passados, estava ocorrendo uma suja guerrinha no Leste da Ucrânia.
Destroços do MH17 na Ucrânia

Muitos inocentes têm morrido, sem que o Ocidente esteja notando. Nenhum dos lados tem algo de que se gabar — na terça-feira passada 11 civis inocentes morreram num ataque aéreo num prédio de apartamentos na cidade de Snizhne, mas a Ucrânia está tentando, de modo não convincente, colocar a culpa na Rússia.
Então, por favor, não permita que usem a matança horrível da quinta-feira como propaganda para fazer você se esquecer do que realmente está acontecendo.
Armas poderosas tornam extremamente fácil que pessoas façam coisas estúpidas e assustadoras. As guerras dão uma probabilidade imensamente maior dessas coisas acontecerem.
Em setembro de 1983, a força aérea soviética, inflamada pelas paixões e temores da Guerra Fria, indesculpavelmente massacrou 269 pessoas a bordo de um avião 747 da Korean Airlines.
Em julho de 1988, especialistas com elevado grau de treinamento da Marinha dos EUA a bordo do cruzador Vincennes, usando equipamento ultramoderno, de forma idiota se equivocaram com um Airbus iraniano, o Voo 655 da Iran Air, achando que era um avião de guerra F-14 Tomcat. Eles atiraram e abateram o avião de passageiros, matando 290 pessoas inocentes, inclusive 66 crianças.
Todos os tipos de inverdades oficiais foram ditas na época para desculpar isso. Em outubro de 2001, atrapalhados recrutas ucranianos em treinamento foram os principais suspeitos pela destruição do avião russo Voo 1812 da Siberia Airlines que estava voando sobre o Mar Negro. Quem quer que tenha feito isso, mataram 78 passageiros e tripulação que estavam indo de Israel para a cidade Novosibirsk. Contudo, a Ucrânia nunca admitiu oficialmente culpa.
Portanto, vamos apenas lamentar os mortos e consolar os que perderam familiares. Vamos deplorar a falta de juízo dos homens e a maldade da guerra. Não vamos deixar que inflamem esse acontecimento infeliz, transformando-o numa nova guerra. É isso o que fizemos quase 100 anos atrás, e já era tempo de termos aprendido algo com isso.
Traduzido por Julio Severo do artigo do DailyMail: Mourn the victims... but don’t turn one tragedy into a global catastrophe

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