domingo, 2 de novembro de 2014

Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote imutável


Este [Jesus], no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. 
(Hb 7.24,25)

Nós temos a tendência de olhar as coisas divinas sob a ótica da queda, do pecado e da morte. Nesta perspectiva consideramos o sacerdócio divino como necessário por aquilo que somos, não por quem Deus é. E, por vermos deste modo, deixamos de perceber coisas importantes, que impactará em toda a eternidade.

Para compreendermos a verdadeira dimensão do sacerdócio de Jesus Cristo, votemos ao princípio de tudo. O salmista escreveu certa feita: “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2). Por esta palavra, tudo quando Deus é hoje, sempre foi na eternidade passada, o será na futura. 

Não é sem razão que o sacerdócio de Jesus Cristo é considerado como sendo imutável, por inferência, este sacerdócio é necessário hoje, antes de sermos ressurretos, haverá de continuar existindo mesmo depois de termos corpos glorificados. Se assim o é, precisamos captar que perspectiva é esta, tão elevada que o próprio evento da queda se torna mero detalhe neste ministério tão excelente e importante de Jesus Cristo.

Consideremos primeiro como seria a vida da humanidade sem a queda. A Bíblia define Deus como amor (I Jo 4.8). Se assim o é, então, mesmo na eternidade passada, Deus era amor. Ocorre que, para ser amor, Deus teria de ter em Si mesmo, alguém para ser-lhe por objeto deste amor. Deus é único Deus, não há outro, portanto só há um Deus por toda a eternidade (Dt 6.4). 

Se por um lado há um só Deus, para ser amor, em Deus é preciso existir mais de um ser, na verdade três, o mínimo e máximo necessário para que haja relacionamento em amor entre Eles, permanecendo, contudo uma única substância, um único Deus. Assim, Deus, o Pai eternamente gerou o Senhor Jesus, Seu Filho Unigênito (Jo 1.14), sendo eternamente ligado um ao outro pelo Espírito Santo, que procede do Pai, vai ao Filho e volta ao Pai em fluxo eterno e incessante de amor relacional (Jo 15.26). Deus, portanto, é o mais perfeito referencial de relacionamento. 

Deus é Deus, Deus é trino. Em dado momento, aprouve ao Deus trino criar os céus e a terra (Gn 1.1). Como Deus é de todo suficiente em Si mesmo, este ato de criação não foi proveniente de nenhuma necessidade interna da parte de Deus, antes o modo divino de expressar e revelar Seu amor, compartilhando com a criatura, as dádivas que lhes são pertinentes. Aqui precisamos distinguir um e outro. Uma vez decidido criar, Deus tinha uma única impossibilidade, não poderia jamais criar outro Deus, pois há um só Deus. Portanto a criatura não é uma extensão, muito menos emanação de Deus. Tanto é verdade que Deus tudo criou mediante Sua palavra (Hb 11.3), assim o mundo visível surge de uma ordem divina, não de um DNA divino ou qualquer que seja o elemento embrionário. Para entendermos melhor este princípio, se Deus aniquilasse tudo quanto criou, Ele próprio nada perderia de Si, o que demonstra que Deus é um ser completamente distinto e independente da criatura. É desta distinção que surge a necessidade da figura do sacerdote, independente da condição de ser da criatura.

Agora podemos firmar nosso entendimento de como seria a humanidade sem a queda. Deus criou os céus e a terra, coroando Seu ato criador em fazer o homem conforme Sua imagem e semelhança. Deus fez o homem absolutamente perfeito, contudo não criou outro Deus. Com isso queremos dizer que Deus criou o homem perfeitamente habilitado para cumprir seu propósito eterno, mas deu-lhe liberdade de escolha, livre arbítrio que permite, como de fato aconteceu, inclusive, do homem rebelar-se contra a vontade divina. 

Há de se observar que Deus propôs ao primeiro casal vida eterna, que haveria de se consumar pelo contínuo alimentar-se da árvore da vida (Gn 2.9). A outra árvore, do conhecimento do bem e do mal, se dela o homem se alimentasse haveria de morrer (Gn 2.17). Esta árvore tinha por objetivo manifestar ao homem sua dependência divina, portanto o juízo inerente à desobediência – morte, demonstrava, como de fato demonstra, de forma cabal, que Deus é soberano.

Em permanecendo o homem obediente a Deus, alimentando-se da árvore da vida, ainda assim este ser criado teria necessidade de crescer em conhecimento e maturidade. Com isso estamos a afirmar que Deus é dotado de todo saber, não o homem, visto ser o primeiro divino, o outro criatura. O homem haveria de precisar de toda eternidade futura para crescer em direção a estatura divina e, mesmo empreendendo todos os esforços, jamais atingiria o grau da perfeição absoluta, só existente em Deus, até porque este homem jamais poderia superar a deficiência do que existiu do ponto em que foi criado para a eternidade passada. Ocorre algo similar ao cálculo da dízima periódica. Nesta representação matemática os algarismos se repetem infinitamente, jamais chegando ao final de sua expressão.

Demonstrado a necessidade do homem sair de seu ponto de origem e avançar em direção à eternidade, tendo por referencial o próprio Deus, fica evidenciado uma distinção absoluta entre o Deus santo e o homem criado. Como o perfeito só pode se comunicar com o perfeito, como acontece no seio da trindade, Deus, o Pai, com o Senhor, o Filho e com o Espírito Santo, para que esta comunicação se manifeste em contato com as criaturas, Deus, o Pai precisa necessariamente de um mediador, alguém que se coloque entre Ele, perfeito absoluto, e a criatura, perfeita crescendo em amadurecimento. Jesus Cristo, o Senhor se ocupou deste papel desde o início. 

Alguém poderia dizer, Jesus então não precisaria passar pela cruz. Por certo assim seria se o homem mantivesse sua eterna obediência ao Criador, contudo, como Deus anteviu que este caminho jamais seria possível, Ele próprio criou um plano de redenção que passa pela cruz e, por consequência, pelo sacerdócio eterno, razão porque lemos: “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). Desde que a criação foi concebida o sacerdócio do Senhor Jesus é, portanto, uma necessidade eterna e passa pela queda sob a perspectiva da graça, porque esta foi à escolha feita pelo primeiro homem. 

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm 6:23)

Fonte: http://cezarazevedo.com.br/01-jesus-cristo-o-sumo-sacerdote-imutavel/

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