sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Socialismo jabuticaba, o Brasil já é uma república socialista?


Há quem acredite que o povo brasileiro ainda vive num pleno regime democrático e que dizer que já estamos num regime socialista é atestar a própria loucura. Seria mesmo loucura? Talvez a resposta a algumas perguntas possam ajudar a entrever uma conclusão.
1. O que é fomentado hoje nos meios educacionais e midiáticos? Ajudar o próximo e melhorar seu entorno ou deixar que o governo faça isso por você?

2. Temos instituições civis fortes o bastante para impedir a degradação civilizacional do país?

3. Nossa imprensa é livre?

Quanto a primeira: ambos os meios impelem o povo a optar pela força dos números. E quase a totalidade dele aceita muitas vezes por falta de opção. Incitam nesse mesmo povo a prontidão para usar o aparelho estatal em proveito do próprio grupo; o brasileiro em geral acabou se convencendo de que seu grupo imediato tem “direito de impor e dar força de lei aos seus problemas do dia a dia”.

Pensando assim, a praça mal cuidada não é culpa da vizinhança desleixada, é culpa da prefeitura municipal que ainda não cresceu suficientemente seu aparato para estar onipresente; O problema do alastramento da criminalidade não tem parte da culpa em quem sugeriu que deveríamos abdicar da autodefesa, é somente culpa do Estado que ainda não criou um Estado policial onipresente; O caos burocrático não é culpa de um Estado cada vez maior, muito pelo contrário, é justamente por ainda não ter crescido o suficiente que não funciona, e assim por diante.

Enfim, exemplos não faltam para ilustrar o quanto o indivíduo é degradado em prol de um comportamento grupal (ou comunal, nas palavras do lógico russo Aleksandr Zinoviev em seu livro A realidade do comunismo cuja abordagem sociológica da União Soviética tem muito a nos ensinar).

Quanto a segunda: Nossas instituições (políticas e civis) em sua grande maioria hoje servem para três coisas:

1 -
Avançar as agendas marxistas de degradação moral e mental (gayzismo, abortismo, feminismo, etc.);

2 - Ridicularizar o povo — especialmente a classe média — e dizer que suas opiniões representam o que há de pior no pensamento humano (i.e. quando não age conforme a questão anterior), pois seu pensamento vai contra a agenda politicamente correta;

3 - Subverter o pensamento brasileiro (por força de um consenso fabricado) e destruir qualquer rastro de sanidade que resta na sociedade.

Segundo Zinoviev, quando não há instituições fortes num país (igrejas, escolas, universidades, imprensa verdadeiramente livre e liberdade real de opinião[1]) para barrar a avalanche das forças bárbaras, o que se tem como resultado é o florescimento de hipocrisia, violência, corrupção, má administração, irresponsabilidade, escassez de mão-de-obra, trapaças, grosseira, ociosidade, desinformação, falta de caráter e um sistema de privilégio para uma “privilegentsia” (os camaradas e integrantes do Partido). 

Tal era a situação soviética e tal é a nossa na falta de instituições fortes. Ainda de acordo com o lógico e escritor dissidente, nesse cenário “as nulidades são exaltadas e as personalidades significantes são aviltadas.

Cidadãos moralmente superiores são sujeitos a perseguição e os mais talentosos e ativos são puxados para baixo até o nível do medíocre e do incompetente”. Para se chegar a esse ponto, é preciso que não só as autoridades façam isso, mas que também colegas, vizinhos e colegas de trabalho colaborem nesse empreendimento. Todos num esforço prometeico de aviltamento cujo resultado final é o império do tédio, a estagnação moral[2] e a depressão generalizada. Segundo Zinoviev, esse tipo de situação pode durar séculos.

Quanto a terceira: Sim e não. Sim, porque a imprensa ainda pode falar o que quer sem que ninguém vá para o paredón ou para o gulag. Não, porque o poder estatal é um dos maiores anunciantes do país e, portanto, influi diretamente na linha editorial dos seus anunciados ao exigir uma abordagem favorável, sob pena de cancelarem contratos multimilionários: imagine o que é para um grande veículo perder o filão de Caixa, Banco do Brasil, Petrobras, etc.

Outro fato que pede uma resposta negativa é a ocupação da imprensa brasileira por milhares de militantes esquerdistas, que por sua vez permitem a existência de no máximo dois ou três articulistas “de direita” com o fim de dar a esse cenário o nome de “jogo democrático”. 

Há também mais um “não” à frente, pois em decorrência da questão econômica dos anunciantes e do aparelhamento ideológico a grande mídia virou um aparato de desinformação, isto é, um aparato que usa da confiabilidade que goza perante o consumidor para transmitir como verdadeiras notícias francamente falsas e, assim, alterar em prol de uma agenda específica as decisões que os próprios consumidores tomam no dia a dia.

Em suma, a imprensa é parcialmente livre em pequenos veículos e em boa parte mentirosa e dissimulada nos veículos médios e grandes. É possível até mesmo noticiar verdadeiramente um fato e usá-lo para encobrir outro muito mais relevante que poderia prejudicar alguma parte interessada[3].

Conclusão

O Brasil pode ainda não ser uma União Soviética ou uma Cuba, mas ele já está preparadíssimo. Possui vários dos aspectos sociais e políticos chave de uma sociedade plenamente socialista (até mesmo a farsa eleitoral é bem parecida) e muitos sujeitos dispostos a comprar essa ideia de tirania coletiva e responsabilidade individual mínima. Porém, como bem disse Olavo de Carvalho[4], os demais países do Foro de São Paulo ainda precisam do nosso dinheiro para construírem seus paraísos socialistas.

Vivemos então num socialismo à brasileira. Coisa que só dá aqui mesmo.

Referências:

[1] v. “Gramsci e as próximas eleições” para saber como o gramscismo já eclipsou as mentes e tornou quase impossível uma divergência efetiva e consciente.

[2] Olavo de Carvalho, A Nova Era e a Revolução Cultural, v. Posfácio à edição de 2014.

[3] Alexandre Borges, “A fantástica fábrica de notícias”.

[4] Hangout entre Lobão e Olavo de Carvalho: 

http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/15550-2014-11-20-21-17-03.html


Leonildo Trombela Junior é jornalista e tradutor.

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