domingo, 7 de dezembro de 2014

A séria alegria da oração cristã


Por Richard T. Zuelch

De acordo com o falecido Herbert Lockyer, Sr. (1886-1984), em seu livro de 1959Todas as Orações na Bíblia, há, excluindo os Salmos, 650 claras orações na Bíblia, 450 das quais têm claras respostas registradas a elas. Incluindo os Salmos (que são todas realmente orações) há um total de 800 orações nas Escrituras.

A Bíblia, portanto, está saturada de oração. As muitas pessoas piedosas que são achadas nas páginas dos Escritos Sagrados instintivamente olham para Deus a fim de suprir suas necessidades diárias, acalmar seus temores, vingá-los de seus inimigos e providenciar salvação do pecado. Isto acontece apenas pela graça de Deus o Pai, através do Senhor Jesus Cristo, no poder do Espírito Santo.

Como crentes, nós também deveríamos viver vidas impregnadas de oração. Contudo, nós, às vezes, oramos baseados em condições. Isto é algo que nosso Senhor, durante sua vida terrena, nunca fez. Nós freqüentemente esquecemos como é precioso o dom que Deus nos deu ao prometer aos seus filhos ouvir nossas orações. A fé deveria nos levar ao trono da graça em oração. Como Calvino escreveu uma vez, “a fé não é verdadeira, a menos que assevere e traga à mente o mais doce nome do Pai – e mais, a menos que abra nossa boca para livremente clamar: “Abba, Pai” (Gl 4:6; Rm 8:15) (Institutas 3:13:15).

Há vários princípios vitais que a Bíblia nos ensina a lembrar acerca da oração. Será produtivo que os lembremos.

Oração é algo ordenado por Deus para o crente

Oração não é uma atividade opcional na vida cristã. Ela é, juntamente com a própria Escritura, nosso elo com Deus. Assim como Deus nos fala através das páginas da Bíblia, ao lermos e estudarmos, assim Ele nos ordena a falar a Ele em oração. No Sermão do Monte (Mt 5:3-7:27) nosso Senhor presumiu que a oração deveria ser parte da vida do crente: “E quando orardes ...” (Mt 6:5-7, 9). O apóstolo Paulo nos diz que a oração constante é a ‘vontade’ de Deus para nós (1 Tss 5:17-18). O escritor aos hebreus pediu a seus leitores que orassem por ele (Hb 13: 18). Tiago nos informa que “a oração do justo” tem muita utilidade aos olhos de Deus (Tg 5:13, 16).

O cristão não pode viver sem oração mais do que pode viver ser respirar ou comer. Muitas vezes, nosso Senhor esteve acordado a noite inteira em oração diante do Pai. Se Ele mesmo achou que oração era uma necessidade vital em Sua vida, quão mais deveria um crente inclinar-se no peito de seu Pai celeste em oração? Deus nos convida a ter comunhão com Ele, a fim de que possa nos abençoar.

Nós dedicamos a oração a um Deus Santo

As Escrituras nos lembram que Deus é, acima de tudo, santo (Lv 11:45). Ele é inexplicavelmente santo em todos os Seus atributos e em todas as Suas ações. Do início da criação à consumação de todas as coisas, tudo que Deus é e faz demonstra a pureza de Sua absoluta santidade. “Profira a minha boca louvores ao Senhor, e toda carne louve o seu Santo nome para todo o sempre.” (Sl 145:21)

Conseqüentemente, as orações que Lhe dedicamos não devem ser expressas ligeiramente. O tempo que uma pessoa se prostra diante do trono da graça não é uma ocasião para leviandade. Nós devemos entrar na presença de Deus sabedores de que, conquanto Ele seja nosso Pai celeste que ama seus filhos encarecidamente, Ele também é o Todo-Poderoso Senhor do Universo, o qual exige ser tratado com o máximo respeito e dignidade. Isto não quer dizer que nós devamos nos aproximar dEle com temor acovardado, pois “o perfeito amor lança fora o medo” (1 Jo 4:18).

Entretanto, devemos nos lembrar que a oração é um rico privilégio dado a nós pela graça do Salvador que sofreu a morte por nós. Não podemos de forma alguma abusar dela ou ser frívolos com ela. O Deus santo espera que nos aproximemos com uma atitude de séria alegria em nossas orações.

A oração é, essencialmente, trinitariana

O cristão ora no poder habilitador de Deus o Santo Espírito, que torna apropriado, como é Seu privilégio, a obra expiatória de Deus o Filho, o qual, sozinho, lhe dá acesso ao trono de Deus o Pai.

A aproximação de Deus o Pai pode ser feita unicamente através de Deus o Filho, o Senhor Jesus Cristo (Jo 14:16). No mesmo capítulo do evangelho de João, Jesus enfatiza Sua unidade essencial com o Pai (7, 11). Logo depois, nós aprendemos que o Espírito Santo é dado aos crentes pelo Pai a pedido do Filho (16-17). Então, todas as três Pessoas da Trindade estão envolvidas na obra da oração.

Embora não haja nada nas Escrituras contra orar de forma particular a qualquer das Pessoas da Trindade, é geralmente conhecido que a oração é normalmente dirigida a Deus o Pai. Como autor do plano da salvação, é ao Seu trono que devemos nos aproximar em reverência e santo temor (Is 6). Por causa da expiação vicária efetuada por Seu Filho, Ele está sempre disposto a ouvir as orações fervorosas dos crentes aos aproximarem-se dEle em doce comunhão.

Nós podemos nos dirigir ao Pai através dos méritos de Seu Filho, e unicamente por Ele (Jo 14:6). Charles Haddon Spurgeon, em um sermão em Lucas 11:9-10 disse: “Nunca houve uma verdadeira oração dedicada a Ele que não foi ouvida. As orações mais aceitáveis em seu nível mais elevado chegam a Ele pelo caminho dos ferimentos de Cristo.”

Como a Pessoa que aplica a grande salvação de Deus aos eleitos em regeneração e conversão, o Espírito Santo energiza as orações a serem dedicadas. Em Sua onisciência, Ele é perfeitamente familiar com a profundidade de nossos espíritos e com a santa vontade de nosso Pai (Rm 8:26-27). Quando nos faltam palavras, Ele sabe imediatamente como orar por nós. Ele sabe como compor orações de modo que sejam aceitáveis ao Pai das luzes. Nós podemos descansar no conhecimento de que a oração sincera do coração do crente não será desprezada pelo Pai, que nos convida a que Lhe falemos.

Adoração é um elemento integral da oração

Louva, ó minha alma, ao Senhor. Louvarei ao Senhor durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu viver” (Sl 146:1-2). “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (Lucas 1:46-47).

Muitos cristãos, seja por ignorância da natureza da oração ou por egoísmo, presumem que o propósito da oração é “conseguir coisas de Deus”. Na verdade, encontramos um livro sobre oração , escrito por um americano, John Richard Rice [1895-1980], no qual ele proclama que oração é somente pedir coisas a Deus. Louvor, ações de graças, ou adoração, para ele, aparentemente não constituem a oração. Pedir nunca deve ser o foco único da oração. Adorar é um grande privilégio. O crente passará a eternidade empenhado na adoração a Deus. É necessário, portanto, que devotemos muito de nossa atenção na oração, seja individual ou corporativa, pensando na adoração e louvor devidos a Deus.

Nenhuma outra atividade engajada pelo cristão pode trazer tal bênção para nossas almas como a adoração. Nenhum outro exercício que o cristão possa experimentar tem igual efeito sobre seu entendimento do ser e natureza de Deus. É santificador estar na presença de Deus e glorificar Seu nome. Nada mais que o cristão possa fazer edifica sua mente e coração como curvar os joelhos diante de Deus e conhecer sua presença soberana. Quando a adoração a Deus é feita de forma reverente e espiritual, o crente conhece a comunhão com Deus de uma forma maravilhosa.

Nós com freqüência não sabemos sobre o que devemos orar e, mesmo quando sabemos, nós oramos com motivos mistos.

Um de nossos textos guias aqui é Deuteronômio 29:29: “As cousas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” Se nós não entendemos as “coisas secretas” que são conhecidas apenas pelo Todo-Poderoso Deus, quão menos entendemos o próprio Deus? O Espírito Santo reside dentro dos crentes para nos ajudar a orar (Rm 8:26-27).

Nós precisamos da ajuda do Espírito para superar nossas tendências pecaminosas. Nós não oramos como deveríamos, em parte, por causa de nossos motivos mistos. Muito de nossas orações é egoísta e egocentricamente orientado, devido ao fato de nosso pecado ser constantemente insistente, mesmo quando fazemos nosso maior esforço para nos concentrarmos apenas em Deus durante nosso tempo de oração. Estamos sendo constantemente arrastados pelo pecado dentro de nós. O Espírito Santo nos ajuda aqui também.

Deus prometeu suprir todas as nossas necessidades, mas não necessariamente todos os nossos desejos. Escuta, ó Deus, a minha oração, dá ouvidos às palavras da minha boca. ... Eis que Deus é o meu ajudador, o Senhor é quem me sustenta a vida” (Sl 54:2,4). “Confia os teus cuidados ao Senhor, e ele te susterá: jamais permitirá que o justo seja abalado” (Sl 55:22).

Estas Escrituras testificam o fato de que Deus graciosamente sustenta seus necessitados filhos ao ser procurado por eles em oração. Entretanto, isto acontece quando procuramos as prioridades de Deus e não as nossas próprias. Nós temos que discordar daqueles que pertencem ao movimento da “confissão positiva”. Estes insistem que Deus é obrigado a dar aos cristãos qualquer coisa que Lhes peçam!

É ao nos humilharmos perante Ele que Ele prometeu suprir nossas necessidades. E, embora nossas necessidades, legítimas como criaturas, sejam graciosamente abastecidas por Deus, Ele está, em última instância, muito mais interessado em nossas necessidades e bem-estar espirituais. Pois nós precisamos principalmente de salvação e santificação. Nós precisamos aprender os caminhos de Deus e como segui-los. Nós precisamos nos preparar para a eternidade. Nós precisamos experimentar o perdão de Deus (João 13:10) e aquele íntimo relacionamento com Ele que a obediência à Sua Palavra fornecerá.

Muitos crentes têm testificado, ao olharem para trás em suas vidas desde a conversão, de que têm razão em agradecer a Deus por não ter Ele respondido muitas de suas orações egoístas. Eles têm visto, em retrospectiva, a sabedoria dos caminhos de Deus e têm aprendido como orar mais biblicamente de modo a glorificar a Deus e edificar os santos.

Vamos seguir seus exemplos, pedindo que nos seja dado mais do Espírito de Deus para nos dirigir, de modo a vermos nossas verdadeiras necessidades.

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Fonte: Os Puritanos

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