domingo, 28 de dezembro de 2014

Sócrates Encontra Marx No Inferno...

Diz Sócrates: 

Fico muito contente que desejas isso e muito contente em responder-te. Eis aqui o que a história fez de tua filosofia – não, não usarei essa palavra preciosa, pois ela significa "amor à verdade"; eis aqui o que a história fez de tua ideologia.

O capitalismo burguês não morreu e nem se enfraqueceu, mas cresceu em tamanho, popularidade, e em sua habilidade de satisfazer as necessidades humanas. Ele cresceu de modo contínuo, com apenas alguns contratempos, interrupções e depressões. Perto da virada do milênio, 150 anos após tua época, o capitalismo era o único sistema econômico bem sucedido da terra e não apresentava quaisquer sinais de decomposição ou revolução. Com efeito, as pessoas gostavam dele; fazia um maior número de pessoas mais próspero e mais contente que as demais alternativas.  

Por outro lado, o socialismo e comunismo foram fracassos econômicos espetaculares por quase toda parte. O comunismo somente chegou ao poder por meio de mentiras, de assassinatos e de terror. Ele dominou meio mundo por boa parte do século vinte – e, então, simplesmente morreu. Nem uma só gota de sangue fora derramada; morreu simplesmente porque, após setenta anos em vigência, ninguém mais o queria ou acreditava nele.


O comunismo não libertou o proletariado, mas o escravizou, tanto econômica quanto politicamente. Povos inteiros foram massacrados por ele; algo mais que cem milhões de pessoas foram mortas em seu nome. Um ditador comunista, na China, matou cinquenta milhões de inimigos políticos. Um outro, no Camboja, assassinou um terço de toda a população de seu país. Ainda um terceiro, na Rússia, maquinou a fome em massa de milhões de pessoas e estabeleceu uma rede enorme de polícia secreta e campos de concentração por todo o seu país. Onde quer que o comunismo tenha tomado o poder, ele reinava pelo terror. A tua ideologia é diretamente responsável pelo maior sofrimento, derramamento de sangue e tirania na história do mundo.



A tua política brotara da Revolução Francesa, especialmente em seu fanatismo "tudo ou nada" e em seu uso do mais puro terror. Os teus discípulos instituíram o Reino do Terror dos jacobinos em escala global, por três gerações.   

Um homem cuja alma, face e movimentos lembravam sinistramente os teus chegou ao poder na Alemanha, em grande parte porque o povo alemão temia e odiava o comunismo a tal ponto que se voltou para esse homem, o qual prometera destruir o comunismo. O sistema dele se chamava "Nacional Socialismo", mas as semelhanças desse sistema com o teu ultrapassavam em muito as diferenças. Esse homem quase destruiu o mundo; ele foi provavelmente o homem mais odiado na história.


Se tivesses alcançado o poder que desejavas, talvez tu o terias superado. No entanto, as estranhas misericórdias da providência divina te conferiram os dons imerecidos da fraqueza e do fracasso e, assim, pouparam-te e deram-te uma pequena esperança, a qual ainda resta.

Marx: Estou atordoado.

Sócrates: Pois nisso reside a tua esperança.

Marx: Simplesmente não sei o que dizer.

Sócrates: E aí está a tua segunda fonte de esperança. Estás a aprender a primeira lição: conhecer a tua ignorância.

Marx: Em outras palavras, começo a soar, como tu.

Sócrates: Pouco tempo atrás, tentaste persuadir-me a pensar como tu e a juntar-me à tua ideologia e ao teu partido. Isso era impossível, é claro, porque não temos ideologias ou partidos aqui. Porém, deves te juntar a mim – não em ideologia, pois não tenho nenhuma, mas em minha missão, a qual nunca tem fim; deves tentar conhecer aquilo que mais evitaste: tu mesmo.


Marx: Estou no inferno?

Sócrates: Estás em ti mesmo, para todo o sempre. Se isso é o céu ou o inferno, depende de ti.

Marx: Tenho uma escolha, então?

Sócrates: Na terra, tinhas a escolha, a cada momento, de abrir ou fechar os teus olhos para a verdade; nenhuma opressão ou prisão poderia cercear tal liberdade. Aqui, não tens mais essa escolha; aqui, não se podem fechar os olhos. As únicas escolhas que temos aqui são aquelas que fizemos na terra, mas que agora são vistas com total claridade e são confrontadas. Essa visão é o processo purgatorial ao qual deste início comigo. Porém, mesmo lá, no primeiro mundo, não tinhas a liberdade para escapar realmente de ti mesmo, mas apenas de tua autoconsciência – os olhos não cessam de existir ao serem cerrados. Pois há realmente um "eu", e tu, em teu "eu", és a única pessoa à qual jamais podes escapar, em vida ou em morte.

Marx: Estou em uma prisão eterna, então? Nunca terei minha liberdade?

Sócrates: Nunca terás aquela liberdade que todas as outras pessoas que já viveram tinham: a liberdade de não serem Karl Marx.

Um comentário:

  1. Estás naquele lugar onde a autoconsciência não pode ser pendurada no poste. Contudo, um dia essa autoconsciência iluminará toda a ignorância da história da humanidade. Viva ao proletariado. Viva Marx

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