domingo, 25 de janeiro de 2015

JESUS CRISTO, um Mito, um Homem da História?


Introdução

Nenhum personagem fora tanto escrutinado como o homem de Nazaré; cientistas, arqueólogos, paleontólogos, antropólogos, historiadores, sociólogos, psicólogos, teólogos, ateus, agnóstico... Enfim, todos querem comentar sobre esse personagem chamado Jesus!

Uns para abordar sua importância sociológica e o teor de suas mensagens, outros para absorver sua teologia e ensinamentos. Entretanto, os que mais chamam atenção e batem recordes de vendas de livros e revistas, são aqueles que querem desmistificar o homem Jesus ou aqueles que arvoram a não existência do Cristo. 

A mídia atual sabe que, apesar da morte de Deus ter sido anunciada pelos iluministas, o
mundo está cada vez mais voltado à religiosidade e ao espiritualismo, por isso as abordagens sobre o tema se tornam cada vez mais acirradas e controvertidas.

Um desses autores que tem batido recordes de vendas é a escritora K. Armstrong, ela afirma o seguinte sobre a existência de Jesus:

"Sabemos muito pouco sobre Jesus. O primeiro relato mais abrangente sobre sua vida aparece no evangelho segundo Marcos, que só foi escrito por volta do ano 70, cerca de 40 anos depois de sua morte. Aquela altura, os fatos históricos achavam-se misturados a elementos míticos... É esse significado, basicamente, que o evangelista nos apresenta, e não uma descrição direta e confiável" (08).

Nesse escopo, no qual procurarei mostrar a historicidade de Cristo, utilizarei fontes não só de autores cristãos, mas principalmente de autores seculares e de credibilidade, além de documentos reconhecidos como provas comprobatórias disponíveis em grandes bibliotecas.

O Que Seria Um Personagem da História?

No sentido mais simples da palavra, um indivíduo é um personagem da história quando: 

  • esse personagem realmente existiu; 
  • se sabe sobre ele de uma maneira segura um certo número de informações; 
  • eventualmente, que lhe podem ser atribuídos certos escritos ou palavras. 

A Problemática da Fonte


O escritor secular Mário Curtis Giordani comenta o seguinte sobre essa problemática: Sobre as origens do Cristianismo, de modo especial sobre a vida de Cristo e sua doutrina, as fontes, por excelência, são, primeiramente, os livros do Novo Testamento, entre os quais podemos pôr em relevo as epístolas paulinas e os quatro evangelhos. 

Para um conhecimento mais aprofundado da mentalidade religiosa dominante na Palestina nos tempo de Cristo, constituem fontes de primeira ordem os famosos manuscritos descobertos a partir de 1947 nas plagas inóspitas do Mar Morto.

Um terceira classe de fontes referentes às origens cristãs, encontramo-las em escritos de autores pagãos como Plínio - o Jovem, Tácito, Seutönio e na obra do escritor judeu Flávio Josefo... 

Quanto aos livros do Novo Testamento, em geral, e aos Evangelhos, em particular, ao focalizarmo-los como fontes históricas, surge logo a interrogação: até que ponto tais escritos, impregnados de espírito sobrenatural, contendo não poucos relatos miraculosos, podem ser considerados como fontes fidedignas para uma reconstituição científica do passado? 

Ante essa interrogação, vêm-nos à mente as palavras do conhecido historiador Francês Joseph Calmette: .O historiador não pode, portanto nutrir idéia preconcebida contra qualquer espécie de fonte, antes que a mesma passe pelo crivo da mais rigorosa crítica científica. 

Com relação aos livros do Novo Testamento e, muito particularmente, aos quatro evangelhos, devemos observar que jamais documento algum sofreu tão cerrado exame da crítica histórica.

Não há uma palavra dos Evangelhos que não tenha sido objeto de cuidadosa consideração. A autenticidade, a veracidade e a integridade substancial desses escritos têm sido sobejamente provadas.

Encontramos, é verdade, algumas aparentes divergências em certas narrações contidas nos Evangelhos. Tais divergências, porém, são apenas de detalhe e para as mesmas sobram explicações dos exegetas. Do ponto de vista da crítica histórica, convém frisar que essas divergências não são, nem de longe, suficientes para infirmarem o valor do depoimento dos evangelistas... 

Se aplicássemos a muitas outras fontes históricas os mesmos rigores de que a crítica racionalista e até mesmo a cristã usaram no estudo dos evangelhos, um bom número de acontecimentos do passado sobre cuja autenticidade não levantamos dúvida passaria para o terreno das lendas. Ainda é W. Durant que observa: ... (1, pg. 308, 309).

Jesus - Um Homem Localizado na História

A atuação de Jesus deu-se na Palestina, pequena faixa de terra com área de 20 mil quilômetros quadrados, dividida de alto a baixo por uma cadeia de montanhas. 

A cidade de Jerusalém contava com aproximadamente 50 mil habitantes. Por ocasião das grandes festas religiosas, chegava a receber 180 mil peregrinos. A economia centrava-se na agricultura, pecuária, pesca e artesanato. 

O poder efetivo sobre a região estava nas mãos dos romanos, que respeitavam a autonomia interna das regiões dominadas. O centro do poder político interno localizava-se no Templo de Jerusalém. 

Assessorado por 71 membros do Sinédrio (tribunal criminal, político e religioso), o sumo sacerdote exercia grande influência sobre os judeus, mesmo os que viviam fora da Palestina. Para o Templo e as sinagogas convergia a vida dos judeus. E foi nesta realidade que Jesus apareceu na História dessa região. (5)

Os Evangelhos dizem-nos imensas coisas sobre Jesus. Mesmo se o seu objetivo, propriamente dito, não é contar a história dia a dia e nem fazer a descrição jornalística como gostaríamos hoje de fazer. Contudo, eles são muito mais precisos do que se pensou durante muito tempo.

Acontece que estão cheios de pormenores acerca das cidades e aldeias do tempo, das maneiras de viver, de falar, acerca das personagens oficiais. A história e a arqueologia confirmam que todos estes elementos são exatos, verídicos. 

Aliás, certos pormenores não podiam ter sido inventados ou escritos mais tarde porque certas instituições, certas práticas tinham mudado pouco tempo depois da morte de Jesus, particularmente no ano 70, ano da destruição de Jerusalém.

1900 anos depois dos acontecimentos, descobre-se que os Evangelhos é que tinham razão ao contrário do que, durante muito tempo, os historiadores julgaram que estava errado, precisamente em algumas das suas passagens: por exemplo, no Evangelho segundo S. João, considerado o mais espiritual e, portanto, o menos concreto, menos preciso, mais afastado dos tempos e dos locais, encontramos o nome de mais vinte localidades concretas do que nos outros três evangelistas.

Certos números destas localidades desapareceram completamente, mas puderam ser identificadas. Só recentemente os historiadores puderam provar a sua existência... Também em dada altura se perguntou se a localidade de Nazaré não tinha sido inventada pelos Evangelhos. Porquê? Porque o Antigo Testamento e os antigos comentários hebraicos não falam dela.

Críticos e jornalistas fizeram disto um romance completo. Mas, na realidade, já em 1962, uma equipa de arqueólogos israelitas, dirigida pelo professor Avi Jonah tinha encontrado nas ruínas de Cesaréia Marítima uma placa gravada em hebreu, datando do século III antes de Cristo e com o nome da aldeia de Nazaré.

Em 1927, o arqueólogo francês Vincent encontrou o lithostrotos ou Gabbatha esse espaço lajeado do pretório em que Jesus esteve quando compareceu diante de Pilatos (Evangelho segundo S. João, capítulo 19, versículo 13).

Quanto ao próprio Pilatos, o prefeito romano que condenou Jesus à morte e do qual não se encontrava rasto concreto ao longo de dezoito séculos (Ainda que Pilatos seja várias vezes citado pelo Historiador épico Flávio Josefo), arqueólogos italianos encontraram em 1961, também nas ruínas de Cesaréia Marítima, o seu nome gravado numa pedra com o seu título exacto: praefectus. (2).


Esta averiguação a partir dos dados arqueológicos, geográficos e políticos podia ser muito mais desenvolvida. Entretanto, a falta de espaço desse escopo não nos permite nos determos mais nessa questão, mas cada um poderá compreender como o argumentado é fidedigno!

Fontes Não-Bíblicas Atestam a Historicidade de Jesus

Flávio Josefo (37-100 d.C.)

O historiador Josefo que viveu ainda no primeiro século (nasceu no ano 37 ou 38 e participou da guerra contra os romanos no ano 70, escreveu em seu livro Antiguidades Judaicas:

"(O sumo sacerdote) Hanan reúne o Sinedrim em conselho judiciário e faz comparecer perante ele o irmão de Jesus cognominado Cristo (Tiago era o nome dele) com alguns outros" (Flavio Josefo, Antiguidades Judaicas, XX, p.1, apud Suma Católica contra os sem Deus, dirigida por Ivan Kologrivof. Ed José Olympio, Rio de Janeiro 1939, p. 254). 

E mais adiante, no mesmo livro, escreveu Flávio Josefo: "Foi naquele tempo (por ocasião da sublevação contra Pilatos que queria servir-se do tesouro do Templo para aduzir a Jerusalém a água de um manancial longínquo), que apareceu Jesus, homem sábio, se é que, falando dele, podemos usar este termo -- homem. 

Pois ele fez coisas maravilhosas, e, para os que aceitam a verdade com prazer, foi um mestre. Atraiu a si muitos judeus, e também muitos gregos.

Foi ele o Messias esperado; e quando Pilatos, por denúncia dos notáveis de nossa nação, o condenou a ser crucificado, os que antes o haviam amado durante a vida persistiram nesse amor, pois Ele lhes apareceu vivo de novo no terceiro dia, tal como haviam predito os divinos profetas, que tinham predito também outras coisas maravilhosas a respeito dele; e a espécie de gente que tira dele o nome de cristãos subsiste ainda em nossos dias". (Flávio Josefo, História dos Hebreus, Antiguidades Judaicas, XVIII, III, 3 , ed. cit. p. 254). (1, pg. 311 e 3).

Tácito (56-120 d.C.)

Tácito, historiador romano, também fala de Jesus. "Para destruir o boato (que o acusava do incêndio de Roma), Nero supôs culpados e infringiu tormentos requintadíssimos àqueles cujas abominações os faziam detestar, e a quem a multidão chamava cristãos. 

Este nome lhes vem de Cristo, que, sob o principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício. 

Reprimida incontinenti, essa detestável superstição repontava de novo, não mais somente na Judéia, onde nascera o mal, mas anda em Roma, pra onde tudo quanto há de horroroso e de vergonhoso no mundo aflui e acha numerosa clientela" (Tácito, Anais , XV, 44 trad.) (1 pg. 311; 3)

Suetônio (69-122 d.C.)

 Suetônio, na Vida dos Doze Césares, publicada nos anos 119-122, diz que o imperador Cláudio "expulsou os judeus de Roma, tornados sob o impulso de Chrestos, uma causa de desordem"; e, na vida de Nero, que sucedeu a Cláudio, acrescenta: "Os cristãos, espécie de gente dada a uma superstição nova e perigosa, foram destinados ao suplício" (Suetônio, Vida dos doze Césares, n. 25, apud Suma Católica contra os sem Deus, p. 256-257). (1 pg. 311; 3)

Plínio o Moço (61-114 d.C.)

 Plínio, o moço, em carta ao imperador Trajano (Epist. lib. X, 96), nos anos 111 - 113, pede instrução a respeito dos cristãos, que se reuniam de manhã para cantar louvores a Cristo. (4, pg. 106).

Tertuliano (155-220 d.C.)

 Escritor latino. Seus escritos constituem importantes documentos para a compreensão dos primeiros séculos do cristianismo. (6). Ele escreveu: "Portanto, naqueles dias em que o nome cristão começou a se tornar conhecido no mundo, Tibério, tendo ele mesmo recebido informações sobre a verdade da divindade de Cristo, trouxe a questão perante o Senado, tendo já se decidido a favor de Cristo...".

Os Talmudes Judeus

 A tradição judaica recolhe também notícias acerca de Jesus. Assim, no Talmude de Jerusalém e no da Babilônia incluem-se dados que, evidentemente, contradizem a visão cristã, mas que confirmam a existência histórica de Jesus de Nazaré. (6)

Os Pais da Igreja 

Policarpo, Eusébio, Irineu, Justino, Orígenes, etc...

Considerações Sobre a Existência de Jesus Cristo

Para o leitor ter uma idéia do quanto à existência de Cristo é rica em suas fontes, analisemos analogamente a biografia de Alexandre (o Grande) e Jesus. As duas biografias mais antigas sobre a vida de Alexandre foram escritas por Adriano e Plutarco depois de mais de 400 anos da morte de Alexandre, ocorrida em 323 a.C. e mesmo assim os historiadores as consideram muito confiáveis.

Para a maioria dos historiadores, nos primeiros 500 anos, a história de Alexandre ficou quase intacta. Portanto, comparativamente, é insignificante saber que os evangelhos foram escritos 60 ou 30 anos (isso no máximo) depois da morte de Jesus e esse tempo seria insuficiente para se mitificar um indivíduo.

Por exemplo, embora os Gathas de Zoroastro, que datam de 1000 a.C., sejam consideradas autênticas, a maior parte das escrituras do zoroastrismo só foram postas por escrito no século III d.C. A biografia pársi mais popular de Zoroastro foi escrita em 1278 d.C. Os escritos de Buda, que viveu no século VI a.C., só foram registrados depois da era cristã. 

A primeira biografia de Buda foi escrita no século I d.C. Embora as palavras de Maomé (570-632 d.C.) estejam registradas no Alcorão, sua biografia só foi escrita em 767 d.C., mais de um século depois de sua morte. Portanto, o caso de Jesus não tem paralelo, e é impressionante o quanto podemos aprender sobre ele fora do Novo Testamento...

Ainda que não tivéssemos nenhum dos escritos do Novo Testamento e nenhum outro livro cristão, poderíamos ter um prisma nítido do homem que viveu na Judéia no século I. 

Saberíamos, em primeiro lugar, que Jesus era um professor judeu; 
segundo, muitas pessoas acreditavam que ele curava e fazia exorcismos; 
terceiro, algumas acreditavam que ele era o Messias; 
quarto, ele foi rejeitado pelos líderes judeus; 
quinto, foi crucificado por ordem de Pöncio Pilatos durante o reinado de Tibério; 
sexto, apesar de sua morte infame, seus seguidores, que ainda acreditavam que ele estivesse vivo, deixaram a Palestina e se espalharam, assim é que havia muitos deles em Roma por volta de 64 d.C;
sétimo, todo tipo de gente, da cidade e do campo, homens e mulheres, escravos e livres, o adoravam como se ele fosse Deus.

Sem dúvida a quantidade de provas corroborativas extrabíblicas é muito grande. Com elas, podemos não somente reconstruir a vida de Jesus sem termos de recorrer à Bíblia como também ter acesso à informação sobre Cristo por meio de um material mais antigo do que os próprios evangelhos. (Adaptado de 7 pg. 113 e 114).

Conclusão

Pelo que argumentamos acima, diante de tão significativa testemunha documental, podemos afirmar que verdadeiramente Jesus Cristo é um homem da História, tanto que ele a dividiu em antes e depois dele. 

O pesquisador que acurar a questão sem preconceito chegará à conclusão que as provas são substanciais. As provas existem, mas quem quiser escapar a elas, escapa. Como se, afinal de contas, Jesus nos quisesse deixar a decisão de lhe conceder um lugar na história, na nossa história. 

Recordemos quando Ele devolveu a pergunta aos apóstolos: "E vós, quem dizeis que eu sou?". Pense nisso!

Bibliografia

01 - Giordani, Mário Curtis. "História de Roma" Antiguidade Clássica II, Editora Vozes, 1968.
02 - http://www.1000questions.net/pt/
03 - http://www.montfort.org.br/veritas/index.html
04 - Macdowell, J., "Verdades que Exigem Um Veredito" Vol. 1, Ed. Candeia, 1992, São Paulo.
05 - mccgedtb.vilabol.uol.com.br/Ged_Tubarao/Reflexoes/reflexoes01.htm
06 - Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
07 - Strobel, Lee, "Em Defesa de Cristo", Editora Vida, 1998, São Paulo.
08 - Armstrong, K., A History of God, New York, Ballantine/Epiphany


Autor : Prof. João Flávio Martinez É fundador do CACP, graduado em história e professor de religiões.

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