quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
O preço de uma ambição
Toda compreensão, que objetive analisar nos dias de hoje qualquer aspecto relativo ao comportamento humano, deve, obrigatoriamente, voltar-se no tempo e debruçar-se sobre as bases biológicas e evolutivas que tal conduta cumpria junto aos nossos antepassados.
Ambitione
Olhando no dicionário, a palavra ambição é proveniente do latim (“ambitione”) e se refere ao desejo de acumular riquezas, poder, glória ou até mesmo honras. Considerada como um desejo veemente de se atingir algum estado de superação perante os demais, tal pretensão tem sido relatada ao longo de toda a História como a grande mola mestra que impulsionou tanto as pequenas quanto as grandes realizações.
Desta maneira, a necessidade de ascender perante os demais cumpriu uma importante tarefa biológica, ao elevar uma determinada pessoa ao papel de liderança do grupo, conferindo-lhe status e privilégios diferenciados – o também chamado macho alfa.
Macho alfa
Macho alfa (ou alpha) é uma expressão do ramo da zoologia usada para descrever um elemento de um grupo de animais que apresenta características dominantes, sendo o líder desse grupo. A expressão pode ser explicada porque “alpha” é a primeira letra do alfabeto grego, o que significa que o elemento que tem essa designação é o primeiro, o mais importante.
No mundo dos animais, um macho alfa assume o topo da hierarquia dentro da sua comunidade, desfrutando de vários privilégios, como acesso prioritário à comida e o de também poder escolher as fêmeas com as quais vai se reproduzir. Como uma das funções do alfa é defender o grupo e o território, em algumas espécies, a fêmea também pode assumir o papel de alfa, porque muitas vezes são maiores e mais fortes do que os machos. As matilhas de lobos, por exemplo, possuem um macho e uma fêmea alfa.
Ambição
Algumas poucas investigações foram conduzidas para compreender melhor este comportamento, entretanto, o que se concluiu foi que pessoas ambiciosas tendem, em geral, ser mais ousadas em suas ações, o que as leva a melhores resultados em experimentos controlados.
Entretanto, embora possamos ter, possivelmente, na ambição, um comportamento com raízes em nossos ancestrais, tal tendência ainda se faz excessivamente presente nos dias de hoje e, curiosamente, continua sendo extremamente valorizada.
Desta maneira, pessoas se orgulham de serem ambiciosas, pois isso, além de assegurar uma valorização social, traz bons resultados a médio e longo prazo. Por outro lado, a ambição pode, em alguns casos, se manifestar de maneira desmedida, fazendo com que certas pessoas se tornem excessivamente insatisfeitas.
Por exemplo, vemos cotidianamente muitas mulheres procurando atingir um altíssimo padrão de beleza em seu corpo e, através dos regimes intermináveis, gastam horas em academias, cirurgias plásticas sucessivas, tentam, a qualquer custo, atingir seu objetivo de beleza; ou ainda homens que, através de um trabalho profissional obstinado, rapidamente ganham posições nas corporações, mas também perdem o controle de seu esforço, transformando seu desejo de conquista em desequilíbrio e obsessão.
Portanto, ainda que não mais tenhamos que brigar por um pedaço de comida ou nos proteger do bando predador vizinho, muitas pessoas ainda se portam como se vivessem em um passado distante, em que atingir os mais altos padrões era uma questão vital de sobrevivência.
Obviamente, isso provoca um imenso dissabor nos parceiros e nas famílias dos machos (ou fêmeas alfa) do século 21.
A busca da felicidade
Ainda que a ambição seja potencialmente construtora e impulsionadora nas fases iniciais de muitos momentos de vida, é fato que, em muitos casos, ela pode gerar sentimentos de ansiedade e de insatisfação contínuas, não sendo raro, em certos casos, que se transforme em ganância.
Embora muitos filósofos tenham sempre defendido que a ambição deva ser compreendida como um elemento construtor e desafiador de nosso cotidiano, me parece ser mais comum do que se imagina, cruzarmos a linha divisória que faz com que um impulso ardente de realização se transforme em um tipo de calabouço.
Nesse momento, encontramos pessoas que, embora “ultra” bem sucedidas em certos aspectos de sua vida (como profissionais muito valorizados, pessoas com corpo escultural, ou ainda, aqueles que se sentem “tendo chegado lá”), tornam-se indivíduos amargurados e incompletos.
Canso de conhecer pessoas que são “as melhores” em seu segmento, mas que deixam um rastro de desilusão, descaso e de falta de cumplicidade com seus parceiros e famílias. Assim, eu pergunto: qual a vantagem de ter se tornado tão bom em algo, se em nosso entorno provocamos tanta dor e desequilíbrio?…
Defendo, portanto, a tese de que devemos, na verdade, usar de nossa ambição na exata dimensão na qual ela não consiga ferir ou aniquilar elementos importantes, se não vitais para nossa existência. Assim, acredito no desenvolvimento de pessoas que sejam “completas”, ou seja, bons profissionais, mas que também sejam bons cônjuges, bons cuidadores etc.
Isso sim é, em minha opinião, de grande valia. Ser muito bom em apenas alguma coisa, talvez seja uma necessidade de nossos antepassados que não conseguiam ter uma visão mais estruturada da vida e das reais necessidades que compõem nossa realidade.
Conclusão
A solução que proponho então é a de que possamos analisar e desenvolver nossa ambição como um poderoso elemento ou até uma arma efetiva a serviço de nossas mais altas virtudes, evitando assim que ela se torne um elemento compensatório de nossa baixa autoestima.
Incrível notar que nossa sociedade pune aqueles que possuem pouca ou muita ambição. Aos primeiros, ou seja, aos modestos, digamos assim, pouca determinação lhes é imputada e, aos segundos, aos ambiciosos ao extremo, a soberba intratável lhes é atribuída.
Assim, fiquemos atentos se a ambição em nossa vida atua como elemento compensatório (de nossos complexos de inferioridade ou de superioridade) ou se é uma nobre manifestação do psiquismo.
A este respeito, o Barão de Montesquieu dizia: “um homem não é infeliz porque tem ambições, mas porque elas o devoram”.
Portanto, se você deseja testar a natureza de sua ambição, faça a seguinte constatação: se você, através de sua vontade de execução e realização provocar dor ou sofrimento naqueles com os quais convive ou trabalha, possivelmente sua ambição seja negativa, ou seja, ela está mais a serviço de sua personalidade. Entretanto, se sua ambição trouxer realização e felicidade não apenas a você, mas também a terceiros, parabéns! Você está no caminho correto e possivelmente é candidato ao seleto grupo das “pessoas completas''.
Ícaro (em grego “Iκαρος”), na mitologia grega, auxiliado por seu pai Dédalo, foi orientado a fugir do labirinto em que estava.
Ao colar mel de abelha às penas de gaivota, confeccionou asas artificiais para poder voar. Entretanto, antes de partir, seu pai o orientou para que não voasse muito perto do sol, para que esse não pudesse derreter a cera das asas, e nem muito perto do mar, pois esse poderia deixar as asas mais pesadas.
No entanto, Ícaro não ouviu os conselhos do pai e, tomado pelo desejo de voar cada vez mais alto e próximo ao sol, acabou despencando e caindo no Mar Egeu.
Desejo-lhe, portanto, sabedoria e sensatez para que sua ambição o faça feliz e que possa também, girar as rodas de muitas outras vidas.
Fonte: http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/
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