quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Elias e os Profetas de Baal


O episódio que envolveu Elias e os profetas de Baal nos faz pensar sobre a crise espiritual e moral que assola o sistema religioso evangélico e político no Brasil.

Uma palavra sobre “sistemas”

Estar (fisicamente) num sistema, não significa necessariamente "ser" (essencialmente ou ideologicamente) deste sistema.

Numa perspectiva macro, Jesus falou disso em João 17.14-18, onde substituirei no texto o termo "mundo" (macrossistema, caído e influenciado por satanás) por "sistema" (organizações religiosas, corporativas, políticas, etc., microssistemas influenciados pelo macrossistema):

Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o "sistema" os odiou, porque eles não são do "sistema", como também eu não sou. Não peço que os tires do "sistema", e sim que os guarde do mal. 

Eles não são do "sistema", como também eu não sou. Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao "sistema", também eu os enviei ao "sistema". (Jo 17.14-18)

Percebe-se no texto a possibilidade clara de "estar no", sem "ser do".

Os profetas bíblicos, Elias e Eliseu se enquadram aqui, não foram enviados de outras nações (sistemas politicamente constituídos) para profetizar contra os pecados de Israel e Judá. 

Eles viviam no sistema (nação israelita e judaica politicamente constituída), e do sistema foram levantados contra o próprio sistema (nação politicamente constituída e influenciada pela idolatria, imoralidade, violência, corrupção, suborno, injustiça social etc).

Foi dessa forma que para Jeremias, filho de Hilquias, um dos sacerdotes que estavam em Ananote, na terra de Benjamim, o Senhor falou:

"Tu, pois, cinge os lombos, dispõe-te e dize-lhes tudo quanto eu te mandar; não te espantes diante deles, para que eu não te infunda espanto na sua presença. 
Eis que hoje te ponho por cidade fortificada, por coluna de ferro e por muro de bronze, contra todo o país (sistema), contra os reis de Judá (sistema), contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes e contra o seu povo. 
Pelejarão contra ti, mas não prevalecerão; porque eu sou contigo, diz o SENHOR, para te livrar." (Jr 1.17-19)

Observe que Jeremias era filho de sacerdote e morador de Benjamim. Ele estava diretamente relacionado com o sistema em termos religiosos e políticos, mesmo assim, o SENHOR o escolheu de dentro do sistema para se posicionar contra o sistema, sem se isolar do sistema:

Olha que hoje te constituo sobre as nações (sistemas) e sobre os reinos (sistemas), para arrancares e derribares (nos sistemas), para destruíres e arruinares (os sistemas) e também para edificares e para plantares (nos sistemas). (Jr 1.10)

Ezequiel é um outro exemplo de profeta cuja origens remonta à família sacerdotal (ministros religiosos do sistema). Dele no diz a Bíblia:

"Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do quarto mês, que, estando eu no meio dos exilados, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus. 
No quinto dia do referido mês, no quinto ano de cativeiro do rei Joaquim, veio expressamente a palavra do SENHOR a Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus, junto ao rio Quebar, e ali esteve sobre ele a mão do SENHOR." 
(Ez 1.1-3)

Ezequiel não apenas estava no sistema, como, inclusive, foi vitimado pelas consequências da desobediência a Deus que dominava o sistema, sendo levado cativo para a Babilônia junto com os demais integrantes do sistema.

Isaías tinha uma alta posição social no sistema, visto a liberdade com que transitava na corte real (Is 7.3-17; 39.3), a maneira como intervinha em questões de Estado (Is 37.5-7) e como se relacionava com os sacerdotes e portadores de altos cargos (Is 8.2). Mesmo assim, com toda esta liberdade e envolvimento com ilustres personagens do sistema, foi de dentro deste sistema e para profetizar contra este sistema que o Senhor o levantou.

Mesmo os profetas que não estavam muito próximos do centro do sistema (Jerusalém e Samaria), como é o caso de Elias (1 Rs 17.1), Amós (Am 1.1), Miquéias (Mq 1.1) e Naum (Na 1.1), de alguma forma se relacionavam com o sistema.

- Sim, é possível estar no sistema sem ser do sistema.
- É possível conviver no sistema e ser contra o sistema.
- É possível realizar coisas boas no sistema e denunciar as coisas ruins do sistema.
- É possível arrancar e derribar no sistema e também edificar e plantar no sistema.
- É possível ser voz e arauto de Deus "no" e "para" o sistema.
- É possível ser santo e íntegro no sistema.
- É possível não se vender e não se render ao sistema.
- É possível influenciar positivamente no sistema, sem ser influenciado pelo sistema.
- É possível imitar Jesus.

A questão dos falsos profetas

Em relação aos falsos profetas, observe o que nos diz a Bíblia Sagrada:

"Sabe que, quando esse profeta falar em nome do Senhor, e a palavra de se não cumpri, nem suceder, como profetizou, esta é a palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenha temor dele." 
(Dt 18.22)

"Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. 
Andareis após o SENHOR, vosso Deus, e a ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos achegareis". 
(Dt 13.1-4)

Perceba que um falso profeta não é apenas alguém que fala (ou prediz) algo em nome de Deus, e que este algo não acontece. O segundo texto deixa claro que um profeta ou sonhador pode anunciar um sinal ou prodígio, e que isto pode vir a acontecer, mas que tal fato não autentica a integridade e a autoridade do profeta, nem a legitimidade da profecia.

Para discernir o falso do verdadeiro a pergunta chave é: Juntamente com a profecia, há um cuidado do profeta em se manter fiel ao Deus da Palavra e à Palavra de Deus?

Os falsos “profetas”, ou seja, aqueles que dizem falar em nome de Deus, são reconhecidos pela ausência de frutos em suas vidas (caráter cristão e compromisso com Deus), ou pela má qualidade dos mesmos. Eles geralmente;

- Falam para agradar seus ouvintes (I Rs 22.1-6 ).
- Falam sem serem autorizados por Deus (Ez 13.1-9)
- Suas profecias tendem a afastar o povo da palavra de Deus (Dt 13.1-4)
- Sempre estão procurando tirar vantagens dos seus “dons” (Nm 22.7; Jd 11)


Nos dias de Elias havia também falsos profetas, e estes serviam a Acabe e Jezabel:
Agora, pois, manda ajuntar a mim todo o Israel no monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas do poste-ídolo que comem da mesa de Jezabel. (1 Rs 18.19)

Os profetas que eram sustentados por Jezabel nos faz pensar em algumas situações atuais, que envolve alguns “mensageiros”. 
  • Há profetas bajuladores que somente falam o que o seu “rei” e “rainha” querem ouvir, e assim garantem o seu sustento. 
  • Há profetas mercenários que sua mensagem é de acordo com a conveniência do momento e com o valor da oferta. 
  • Há profetas “agendeiros” que fazem de tudo para voltar às igrejas onde são convidados. 
  • Há profetas que nem crente são, pois nunca nasceram de novo. 
  • Há profetas empresários que somente pensam em aumentar seu patrimônio pessoal. 
  • Há profetas artistas, que somente pensam em aparecer. 
Assim como nos dias de Acabe e Jezabel, tem muito líder político hoje comprando a consciência e calando a boca de profetas através de esquemas fraudulentos, de cargos e salários para o próprio profeta, ou para os seus parentes e familiares.

Apesar dos profetas de Baal e do poste-ídolo de nossos dias, ainda existem nas ruas, praças e templos, no interior e nos grandes centros urbanos do Brasil, homens levantados e sustentados pelo Deus de Elias.

| Autor: Pr Altair Germano 

| Divulgação: EstudosGospel.Com.BR 

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