sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

PT x PSDB: a falsa polarização



Thiago Cortês
Somente analfabetos em História podem acreditar que PT e PSDB realmentehabitam pólos ideológicos opostos. Mais mentirosa ainda, a interpretação segundo a qual a social-democracia brasileira é de extrema-direita se desmancha na primeira lufada de fatos históricos.
Historicamente, a social-democracia nasceu no campo ideológico socialista como uma proposta singular: promover o socialismo no interior da democracia “burguesa” instrumentalizando as instituições democráticas em favor dos interesses de classe.
É a origem ideológica do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), uma agremiação fundada por intelectuais marxistas que enxergaram na democracia brasileira – ainda em gestação – o ambiente perfeito para a ampla disseminação do socialismo democrático (sic) por meio de políticas sociais assistencialistas, cotas raciais e intervenção estatal na economia.
PT e PSDB têm no seu DNA ideológico a mesma fé no Estado como elemento promotor da igualdade social e reparador de injustiças econômicas. Não por acaso, os tucanos são pioneiros no Brasil das políticas de cotas raciais e programas assistencialistas. O PT veio praticar o mesmo, mas o faz se escudado no surrado discurso ideológico da luta de classes.

O PSDB e o Partido dos Trabalhadores (PT) são agremiações partidárias criadas por intelectuais uspianos marxistas na época do regime militar com uma sutil diferença identitária: o PSDB foi concebido como uma esquerda light para agradar progressistas da classe média enquanto o PT foi construído como esquerda militante para atrair as “massas populares”.
Sutilezas ideológicas à parte, o amor pelo estatismo sempre uniu tucanos e petistas.

FHC: intelectual marxista e presidente estatista

Fora algumas privatizações pontuais, o governo FHC passou longe de qualquer vestígio de liberalismo ou “neoliberalismo”. Aliás, o Estado não diminuiu durante o reinado FHC: aumentou significativamente o número de estatais, agências reguladoras e ministérios.

O social-democrata FHC foi pioneiro na implantação das cotas raciais no Brasil. Além disso, foi FHC quem primeiro deu legitimidade política ao Movimento dos Sem-Terra (MST), chegando mesmo a financiar o movimento de invasores com mais de R$ 2 bilhões .
O presidente FHC foi coerente com o intelectual Fernando Henrique Cardoso, um típico intelectual marxista comprometido com uma leitura classista da sociedade. Como todo marxista, FHC colocava no Estado a responsabilidade sobre os indivíduos.

É de FHC uma das interpretações clássicas na sociologia brasileira sobre a “Teoria da Dependência”, besteirol teórico sobre a posição dos países de Terceiro Mundo no sistema capitalista mundial. Os países que habitam a periferia capitalista – ensina a teoria – são submetidos à dependência pelas grandes potências exploradoras e etc.
O intelectual FHC com o tempo se tornou um marxista moderado, mas nunca abandonou o marxismo. Ele chegou a escrever, na conclusão de “Empresário Nacional e Desenvolvimento Industrial no Brasil”, que a opção brasileira era“subcapitalismo ou socialismo”.
“Hoje, se disser que sou de esquerda, as pessoas não vão acreditar. Embora seja verdade. É verdade!”, jurou Fernando Henrique Cardoso, em debate no Museu de Arte do Rio.
Em nome da sua fidelidade à esquerda, FHC nem sequer se dignou a defender o legado de sua falecida esposa, Ruth Cardoso – defensora dos primeiros programas sociais implantados no Brasil – diante da tentativa de assassinato de reputação empreendida por petistas.
Há apenas dois tipos de pessoas que não conseguem acreditar que FHC é de esquerda: os analfabetos em História – em grande quantidade no Brasil; agradeça Lula a e FHC – e os militantes fanáticos do PT (que, é claro, também são analfabetos em História).

Também vale lembrar a postura medíocre do então candidato presidencial Geraldo Alckmin, em 2010. Quando foi “acusado” de ser a favor das privatizações, o tucano apareceu no dia seguinte com uma jaqueta e um boné com logos de todas as empresas estatais.

PSDB “esconjura” a direita

Com toda essa bagagem ideológica, os tucanos sempre aproveitam oportunidades para demonstrar sua fé inabalável na esquerda. Por exemplo, o tucaníssimo ex- Xico Graziano –  que foi deputado federal pelo PSDB e recentemente trabalhou como coordenador digital da campanha Aécio Neves – “esconjurou” a direita em seu perfil no facebook.
Diante do surgimento dos atos pelo impeachment da presidente Dilma Roussef,Xico Graziano se apressou em lembrar que petistas e tucanos têm a mesma origem e agenda ideológica:
Ora, nós, do PSDB, nascemos inspirados na socialdemocracia europeia, com viés da esquerda. Nossa origem reside no MDB autêntico, que foi decisivo na derrubada da ditadura militar. Nós fomos decisivos na Constituinte de 1988. Fomos nós, com FHC à frente, que criamos as bases socioeconômicas do Brasil atual, inclusive as políticas de transferência de renda e as cotas.
Após uma enxurrada de críticas, Xico Graziano retomou o discurso contra liberais e conservadores e, inclusive, os tratou como paranóicos. Diante dos que pediam uma oposição mais aguerrida, o tucano respondeu pedindo que abandonassem o PSDB:
Quem concordar com as teses dessa turma aguerrida que vê o comunismo chegando, é contra os benefícios sociais, sonha com a ordem militar, por favor, deixem o PSDB. Vocês é que estão no lugar errado, não eu…
Xico Graziano tem toda razão. PT e PSDB são dois grandes partidos financiados pelos mesmos grupos empresariais, que compartilham as mesmas origens históricas e ideológicas, e defendem programas econômicos parecidíssimos. Tucanos e petistas polarizam a disputa política no Brasil em um avultado desafio aos fatos, à História e à lógica.
Mas também por causa da ignorância de liberais e conservadores que por muitos anos tomaram partido nessa falsa polarização. Só agora começaram a construir alternativas à direita no espectro ideológico. Já não era sem tempo.
Fonte: Descortês

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