quinta-feira, 30 de abril de 2015

O debate cultural se vence nas ruas



Por Wesley 

 Um pregador certa vez recebeu ingressos para o rock musical Jesus Cristo Superstar mas recusou ir. O elenco havia reforçado o convite, insistindo para ele comparecer, então por causa deles decidiu ir. Depois do show, ele foi convidado para conhecer o elenco.

No encontro nos bastidores ele disse aos cantores o quão talentosos eram e elogiou seu desempenho, mas elegantemente lhes afirmou que o Jesus que eles apresentavam em seu show não era o Jesus da Bíblia. A mulher que no show fazia o papel de Maria Madalena respondeu: "Mas nós estamos fazendo de Jesus politicamente correto e aceitável para do século XX. 
O pastor replicou dizendo que Jesus Cristo deve ser aceito como ele o É.”


Realmente é um absurdo que na era da obsessão cultural pelo politicamente correto, onde aceitar tudo que é diferente, oposto, contraste, antagônico seja considerado "amor", Jesus Cristo não possa ser aceito conforme apresentado nos Evangelhos. Mas não foi o conteúdo do diálogo o que me chamou a atenção nesse diálogo, foi a disposição mostrada pelo pregador para o debate. 

O debate não é só vital para que haja paz em uma sociedade, como a democracia não pode ser reconhecida sem ele, como é inevitável reconhecer a natureza do debate na pregação do Evangelho. Afinal quem poderá ser salvo sem que seja antes convencido que estava perdido? Quem encontrará misericórdia sem estar convencido de que se está vulnerável? Quem se arrependerá sem que antes seja convencido de seus erros? 

A Igreja tem um chamado natural para o debate. Jesus debateu desde sua infância. Estevão foi martirizado por vencer um debate com o sinédrio, Paulo debatia nas sinagogas e no Aerópago. Martinho Lutero levou o debate a todo o mundo medieval, e outros reformadores, como Huldrych Zwingli, levavam consigo um púlpito portátil usados para pregações em praças públicas. 

Os reformadores britânicos, como Hugh Latimer e Nicholas se caracterizavam por debater competitivamente, pregavam para vencer e convencer as mentes de seus ouvintes afim de ganhar-lhes o coração para Cristo. Os reformadores entenderam que entrar em debate sempre que possível era bom.

Quanto ao debate eu não me refiro exclusivamente à pregações ao ar livre. Como acontece em todas as gerações existe um debate acontecendo todos os dias. Debatemos desde quando acordamos e sempre que tentamos convencer alguém sobre nossas convicções. Quando a novela ou filme expõe de forma positiva vícios opostos aos teus valores voce está sendo alvo de argumentos, e por consequência participando de um debate sob qual é o comportamento social aceitavel, mesmo como apenas um expectador. 

O debate só não ocorre quando uma parte teme ofender a outra parte. O Evangelho deixa de ser o Evangelho se perde essa capacidade de chocar, provocar lágrimas, perplexar, derrubar fortalezas, penetrar e dividir alma e espírito, juntas e medulas, julgar os pensamentos e intenções do coração, anular sofismas e levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e no processo provocar perseguições. Os cristãos são passivos, mas a natureza do Evangelho é agressiva e é muito grave que a igreja renuncie seu historico protagonismo no debate público.

Há duas maneiras comuns de se perder um debate. A primeira acontece quando o argumento usado é semelhante ou prova o argumento do opositor. Como exemplo apresentado acima sobre o musical Jesus Cristo Superstar. Fazer Jesus ou Evangelho mais “legal” descaraterizando sua mensagem por uma versão socialmente aceitável é dar a vitória ideologica ao inimigo. 

Ora essa papo de "Jesus te ama e eu também" é apenas uma adulação infantil do suposto evangelista que deseja ser simpático e politicamente aceito pelos seus ouvintes. O que esconde uma vergonha inconciente do Evangelho. Já faz algum tempo falar de pecado se tornou um tabu, uma falta de educação ou indelicadeza com o estranho, ou melhor, falar de pecado se tornou politicamente incorreto. Dessa forma um "Jesus te ama" seguido de três beijinhos, e um "estou orando por voce, vê se aparece na igreja" se tornou o estéril padrão de evangelismo comum. A igreja desaprendeu a evangelizar.

Quando Paulo disse que não se envergonhava do Evangelho, em Romando 1:16, ele não se referia a negação em pertencer a certo grupo, de carregar a Bíblia ou dizer que é crente. O que Paulo disse foi "Eu não me envergonho de ensinar sobre o pecado, o arrependimento, de apresentar o escandalo da cruz como salvação na graça."

A segunda maneira comum de se perder um debate acontece quando permanecemos em silencio diante do argumento do nosso opositor. Se não há uma resposta ao argumento apresentado pelo inimigo este é aceito como verdade por falta de contestação. 

Todos os dias no radio, televisão e na internet há mentiras sendo ensinadas, mensagens relativistas que não reconhecem as diferenças entre o certo e o errado, e que apresentam comportamentos outrora viciosos, como virtudes a serem desejadas. Onde está a resposta da igreja? Por que o silencio dos cristãos? Não venceremos o debate social de dentro de nossos templos. Jesus orava, lia a escrituras, não se defendia a si mesmo, mas nunca fugiu de um debate. 

Não é estranho que o maior país cristão do mundo, os EUA, juntamente com o maior país católico do mundo, o Brasil, sofram “bullying” ideologico de uma minoria de anticristãos? O politicamente correto é autoritário em sua essência filosófica, na qual propõe salvar a sociedade de forma inversa à proposta do Evangelho, e se utiliza até da “demonização” de expressões no intúito de formar conciências de ódio a qualquer tipo de idealização do ser humano pois, segundo seus filósofos não há nenhuma verdade "objetiva" quando ensinam que tudo é subjetivo pois, segundo eles, o que é verdade para uma pessoa pode não ser verdade para o outra, concluindo assim que não existe uma verdade absoluta. 

Estes, para alcançar seu propósito, criaram uma agenda de mentiras filosóficas, históricas, psicológicas, antropológicas a serviço do “seu bem”, gerando censura e perseguições nas universidades e na mídia para aqueles que ousam pôr em dúvida suas mentiras. A igreja por sua vez igreja tem respondido de uma forma covarde, ora adaptando sua mensagem e criando um Evangelho politicamente correto, ou se calando pela espiral do silencio, que acontece quando os meios de comunicação impõem uma imagem desfavorável do Evangelho e essa opinião se torna dominante na sociedade, apesar da maioria cristã, poucas são as vozes cristãs discordantes.

Quando os anticristãos dizem que não há um ideal humano a ser perseguido, onde estão as vozes da igreja das ruas a responder que a palavra de Deus expõe o ideal do ser humano virtuoso em Jesus Cristo, e por consequência, um ideal de casamento, um ideal de familia e de criação dos filhos, um ideal moral e ético que sustenta direitos, liberdades e a responsabilidades sociais que podem ser alcançados na volta do homem para Deus através do arrependimento.

Quando os anticristãos, inflexíveis sobre sua crença, dizem que não há verdade absoluta, onde estão as vozes da igreja das ruas a responder que eles estão errados porque a sua própria afirmação de que não há uma verdade absoluta é em si mesma um absoluto. Portanto eles se negam naquilo que eles mesmo acreditam. 

Quando os anticristãos, demonstram sua intolerância ao Jesus bíblico e histórico quando o acusam, por exemplo, de ensinar o ódio quando este disse que um discípulo deve 'odiar' o ​​pai e mãe, par ser dígno dEle, em Lucas 14:26. Onde estão as vozes da igreja das ruas expondo que o texto se trata de uma "hipérbole", uma declaração de extremos, contrastando amor com ódio para propósito de ênfase, é um exagero deliberado a fim de inserir no interlocutor uma idéia ou imagem difícil de esquecer, a língua hebraica é rica em hipérboles, metáforas e paradoxos, pois assim se comunicavam os hebreus.

Não é dos palcos de programas de televisão, representados por figurões evangelicos, que vamos vencer a guerra cultural anticristã. Não é dos templos frequentados por fieis e simpatizantes que ganharemos a opinião pública. A vitória será de quem dominar o debate nas ruas, convencendo pessoas no trabalho, na escola, na feira e até na igreja. Todos os cristãos devem estar engajados em promover o evangelho e os princípios bíblicos. 

Não há pregação do Evangelho que não cause reboliços sociais, quem duvide que abra sua Bíblia e a leia o livro de Atos dos Apostolos novamente, onde encontrará desde a queima comunitária de livros de feitiçaria até a perseguição sofrida por cristãos de uma cidade a outra. Quem acredita que o poder do Evangelho está necessariamente ligado à exposições de poderes miraculosos está perdido em sua teologia, Jesus, os apóstolos, e os dicípulos realizaram milagres, os pais da igreja e os reformadores não, mas ambos os grupos eram prolíficos na arte da exposição da palavra e no debate público.

Raremente, na história houve tantos cristãos e tão poucas vozes representando o Evangelho. Ainda há tempo de mudar o cenário e vencer o debate. O futuro dos nosso filhos e da sociedade está em jogo.

Wesley Moreira é colunista do Púlpito Cristão

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