quarta-feira, 1 de julho de 2015

O amor criminoso de um pastor progressista




Um dos argumentos usados por líderes cristãos que são contra a redução da maioridade penal é que Jesus não seria a favor dela. Para corroborar isso, dizem que querer punir adolescentes que cometem crimes é meramente vingança, e não condiz com o amor divino. 

E para não dizer que eu estou inventando isso, deem uma olhada neste artigo de um pastor paulistano, chamado Levi Araújo, na Carta Capital e vejam o quão enviesada pode ser uma análise sobre meros fatos.


Para tentar convencer o leitor que Jesus seria contra a redução da maioridade penal (o que já me parece uma pretensão bem arrogante desse pastor), ele sugere que os cristãos defensores da punição para os menores estão se baseando em textos veterotestamentários. 

Com isso, tenta desmoralizar, na origem, os argumentos dos, comumente denominados por eles, fundamentalistas. 

O problema é que ele se equivocou sobre as fontes, pois nenhum cristão usa o Velho Testamento, sequer a Bíblia, para justificar a redução da maioridade penal. O único argumento baseia-se nos fatos: menores estão conscientemente praticando crimes e precisam ser punidos por isso. 

Mas ao usar a tática de distorcer as palavras do inimigo, o que ele quer é criar um espantalho, para poder bater sem dó. Apenas isso já deixa clara sua má intenção e a manipulação que ele faz da realidade.

E usa, ainda, o argumento da vingança, como se aqueles que defendessem a punição de menores criminosos quisessem, de uma maneira muito simplória, simplesmente ir à desforra contra eles. Então o pastor usa o exemplo de Jesus na cruz, como dando a entender que o que esses jovens precisam é de perdão e não punição. 

O que ele não deixa claro, porém, é por que um menino de 17 anos merece perdão e um de 18 não. Por que, seguindo a lógica piedosa do pastor, o perdão termina na maioridade legal. A não ser que ele entenda que todos os criminosos devam ser perdoados e não sofram a devida punição legal.

Será que ele não percebe que segundo seu pensamento, o perdão divino está restringido por uma abstração chamada menoridade? Quem definiu que apenas a partir dos 18 anos a pessoa está pronta para ser punida criminalmente? Deus, Jesus ou a trupe política que comanda este país há décadas? Mas isso também não espanta, afinal, esses cristãos progressistas têm o estado como seu verdadeiro deus. 

Portanto, se o Estado definiu quem está apto a ser punido ou não, até mesmo Cristo deve se adequar a isso. O pastor nem percebe que sua retórica pacifista não se sustenta nem mesmo após uma superficial leitura de seu texto. Apesar das imagens de amor e compaixão que ele tenta invocar, falta explicar a partir de quando as pessoas devem ser punidas, com que idade ou, sei lá o que passa em sua cabeça, se devem sofrer punição de alguma maneira.

Mas ele vai mais longe em sua retórica cínica, e usa o exemplo de Herodes, que mandou matar crianças para ter seus objetivos satisfeitos, a fim de criar algum tipo de correlação da figura do déspota com os cristãos que defendem a redução da maioridade. Sinceramente, não consigo imaginar uma tática mais canalha! O que tem a ver a atitude daquele maluco com as pessoas que são a favor da redução da maioridade penal (que são 90% da população brasileira, diga-se de passagem)? 

Ao usar essa comparação meio velada, o pastor tenta impingir a pecha de criminosos exatamente naqueles que têm sido vítimas das ações dos menores bandidos. Isso é uma inversão diabólica, que só pode sair da cabeça de alguém que já perdeu a noção da hierarquia de valores ou, simplesmente, que já não os possui de maneira alguma. E pensar que ele lidera uma grande igreja protestante de São Paulo!

Mas muitos dos pastores de hoje são assim: não conseguem entender uma coisinha tão simples como a justiça. Contaminados que estão por ideias liberalizantes, embevecidos de retórica amoral, enxergam todo tipo de punição como falta de amor e o amor como um alvará para qualquer tipo de atrocidade. 

E agora que a redução da maioridade penal foi rejeitada pelos deputados, decidindo contra a vontade de quase toda a população do país, pastores como esse Levi Araújo podem dar seus pulinhos de alegria, esperando o próximo assassinato, estupro ou violência qualquer praticada por seus protegidos.

O mais irônico é que pastores como esse posam de defensores da tolerância, apologistas do amor. No entanto, quando se referem aos conservadores, aos pastores neopentecostais e aqueles que não rezam em suas cartilhas liberais, são bastante agressivos. Chegam a espumar de raiva quando veem um pastor televisivo pedindo dinheiro para seus fiéis, mas não esboçam uma indignação mínima quando menores matam e estupram, como fizeram aqueles no Piauí.

Quando, porém, encontramos líderes religiosos que possuem o bolso mais sensível que a consciência, sabemos bem com que tipo estamos lidando. E quando vemos que seu coração se condói mais pelo bandido que pela vítima, sabemos que o que ele possui não passa de um amor criminoso.

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