quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Falácias e “Safatlezas” sobre a Ideologia de gênero


por Renan Cruz*
Vladimir Safatle, professor de filosofia da Usp, está no lado mais, digamos, vermelho-escuro da esquerda brasileira. Chilreia os velhos chavões comunas com regularidade intestinal, se é que entendem a dupla metáfora.

Em sua coluna na Folha de São Paulo, Safatle trouxe à baila o tema da Ideologia de gênero. O assunto, tomado por certa esquerda como prioritário, tem assanhado os “intelectuais”. E, como de hábito, tudo aquilo que elegem como prioridade se torna alvo de campanha insistente e intelectualmente desonesta.
A esquerda não vai abandonar o assunto, não importa quantas derrotas em sucessão acumule. Suas ambições, muitas vezes, não são imediatistas. Há perversões implementadas hoje que foram planejadas há um século atrás.
O texto dele vai em vermelho (claro!).
Eu rebato em azul.
À esquerda,  Vladimir Safatle, o outro Lenin.
Qualquer semelhança não é mera coincidência!
“Não quero que a escola trate de assuntos relacionados a comportamento sexual, religião ou política. Quero o Estado longe, tenho o direito de ensinar meus valores a meus filhos. Chega de doutrinação.”
Esse é um comentário que apareceu abaixo de uma notícia na internet sobre a decisão “iluminista” e “corajosa” do prefeito de São Paulo de não vetar o Plano Municipal de Educação, que exclui menção explícita à importância de ensinar questões de gênero e respeito à diversidade sexual.
Vladimir Safatle, neste trecho ao menos,  merece o mérito de dizer muito falando pouco, geralmente costuma fazer o contrário. Seu ponto já está apresentado; o viés revelado.
Fernando Haddad, o prefeito de São Paulo, que tem perpetrado esquerdices insanas ao longo de seu mandato por São Paulo (são 3 anos em que a cidade retroagiu 10, e que parecem demorar 30), é tratado por esta mesma esquerda como visionário quando sacrifica a circulação na cidade em nome da militância ciclo-ativista, transforma pichadores em artistas-símbolo da metrópole e afaga o movimento LGBT com nosso dinheiro. Nesse momento, Haddad é o prefeito do futuro, aquele que está à frente de todos nós, um iluminado e abnegado.
Como Haddad não moveu uma palha em prol da nova vedete da esquerda, até porque o momento do prefeito, e do PT de um modo geral, não é propício para enfrentamentos com a maioria, entrou também na mira de Safatle.
Mas ele é o menor dos problemas. Haddad é administrável. O incontornável e inaceitável, para o uspiano, é o que vai no primeiro parágrafo: Que exista quem não queira o Estado se metendo na educação sexual das crianças, e que se manifeste enfaticamente contra qualquer tipo de doutrinação e intervenção naquilo que compete à esfera familiar.
Tais afirmações podem inicialmente parecer ter alguma sensatez. Afinal, o que essa pessoa estaria a dizer é que o Estado não deveria impor valores a seus filhos. Ao contrário, ele deveria respeitar as diferenças de valores que existem nas famílias. Não seria possível aceitar “doutrinações” monolíticas que visariam a impedir os indivíduos de defender aquilo em que acreditam.
Sim, tais afirmações podem parecer sensatas, mas só para aqueles acostumados ao caráter distorcido e farsesco do liberalismo brasileiro, o mesmo liberalismo que outrora se esmerou em usar o discurso dos “valores esclarecidos liberais” para justificar sociedade escravocrata e golpe de Estado.
Começa a farsa intelectual, histórica e ideológica. Safatle, ciente da obviedade do argumento, tenta demovê-lo arguindo uma suposta entrelinha sub-exposta, que ele, iluminado, é capacitado a perceber e desvelar.
Uma família não querer que um marxista de botequim infunda na cabeça de uma criança que ele não precisa ser menino se não quiser, mesmo que ele tenha nascido menino e não tenha qualquer reticência em relação a isso; e que ele pode experimentar um pouco de cada coisa, para depois decidir se quer ser menino ou menina, para Safatle, representa um pensamento arraigado que remete até a escravidão.
Mesmo que Safatle seja quem defenda cotas e movimentos raciais determinados a transformar cor de pele em categoria de pensamento, e que os liberais sejam aqueles que repilam o cotismo, sobre a premissa de que a cor da pele não descredibiliza ninguém e que cada qual, independente disso, tem condições de lutar e vencer na vida.
Poderíamos sintetizar o argumento acima da seguinte forma: “Não quero o Estado dizendo para meu filho que ele deve respeitar homossexuais e travestis e parar de vê-los, de uma vez por todas, como portadores de alguma forma de doença ou perversão. Quero continuar a educar meus filhos da maneira que achar melhor, mesmo que ‘educar’, nesse contexto, signifique ‘internalizar preconceitos’. Acho que homossexuais são pervertidos e quero continuar a fazer meu filho acreditar nisso. Por que o Estado me impediria?”. Bem, talvez porque seja atribuição maior do Estado proteger parcelas vulneráveis da sociedade de uma violência arraigada e recorrente vinda de outros setores da população.
Perceba como a argumentação agora chega tensionada. Como Safatle desiste de usar os fatos como fonte e parte para delírios, presunções odientas e preconceituosas, e, surpresa!, a intolerância, palavra de que costumam encher a boca para nos acusar.
A ideologia de gênero, sabemos, como Safatle também sabe, visa a supressão da distinção homem/mulher do ambiente escolar, fomentando que cada criança, através de experimentações, “descubra-se”. Safatle sabe, e nós também sabemos, que o projeto não visa combater supostos desrespeitos a homossexuais e travestis.
E por que sabemos? Porque isso já é realizado! Em qual contexto, Safatle, as escolas brasileiras dão suporte a homofobia? E lembro que há uma diferença significativa entre homofobia e “homofobia”. Homofobia é uma aversão a homossexuais, que se manifesta de maneira agressiva. “Homofobia” a la Safatle, Jean Wyllys, Luciana Genro e etc. é qualquer opinião diferente da do ativismo gay.
A lei, conforme está, já cuida de tais situações, já tendo sanções previstas. A implantação da ideologia de gênero visa impor uma educação homossexual, que, a despeito de qualquer visão que se possa ter sobre as origens e tendências da homossexualidade, não pode ser tomada como isenta.
Por fim, a sugestão nefasta de que pais que não querem que seus filhos recebam um curso de ingresso à homossexualidade na escola querem formar crias preconceituosas e homofóbicas! É  uma transgressão argumentativa abjeta! Tome vergonha na cara, Safatle! Que base factual ou provas conferíveis você possui de que quem não quer o Estado se metendo nas partes baixas de seus filhos o faz por querer manter umstatus quo preconceituoso? Que evidência o nobre professor pode apresentar de que um pai que não quer que seu filho seja submetido a uma overdose de informação sexual antes do tempo que considera oportuno o está fazendo por ter internalizado homofobias?
Não que a esquerda mentir seja surpresa. Não que a esquerda acusar os inimigos do que ela faz seja novo.
Estamos falando de um país, como o Brasil, que lidera rankings internacionais de assassinato de homossexuais e travestis por motivações homofóbicas e transfóbicas.
Uma das razões para isso é, certamente, que há muita gente que compreende preconceito e violência como “liberdade de opinião”, ou respeito à diversidade e indiferença à diferença como “doutrinação”.
No entanto, há de se lembrar que a democracia não respeita os “valores da família” quando tais “valores” são, na verdade, máscaras para perpetuar práticas de exclusão e desigualdade. Ela não os respeita quando famílias são racistas, antissemitas, islamofóbicas e homofóbicas. A democracia não é neutra do ponto de vista da enunciação de valores. Ela tem um valor que toda e qualquer família deve entender. Ele se chama “igualdade”. O que uma criança e um adolescente aprendem quando uma escola ensina gênero é a prática efetiva da igualdade.
Num país com índices de homicídios anuais entre 50 e 60 mil por ano, o número de assassinatos de homossexuais, não justificáveis sob aspecto algum, encaixa-se com tranquilidade nos números gerais. No Brasil se mata muito por causa da impunidade, que esta mesma esquerda é uma das maiores responsáveis por existir de maneira tão intensa. A direita não protege bandidos. Queremos penas duras para assassinos e agressores de homossexuais e de heterossexuais. Quem sempre distingue entre criminosos e “criminosos”, vítimas e “vítimas” é a esquerda. Quem acha que há quem tenha motivo para ser criminoso, e quem dê motivo para ser vítima, merecendo o que recebe, é a esquerda, de modo que, Safatle, mesmo, não sabendo que unicórnio alado o picou, busque argumentos melhores. O Brasil é violento como um todo. Quer diminuir o número de crimes contra homossexuais? Ótimo. Nós também queremos.
Só que também queremos diminuir o número de crimes contra todos os outros.
Creio que nisso nos distinguimos.
Há ainda um ponto que explica muito da histeria de certos setores da população brasileira a respeito de questões de gênero. O Brasil gosta de ter uma imagem de si mesmo como um país tranquilo e permissivo, mesmo enquanto pratica as piores violências contra grupos minoritários.
Essa imagem parte do pressuposto de que você pode agir de forma singular desde que não se faça muito alarde, ou seja, desde que não quebre o pacto da invisibilidade, pois é assim que o poder impõe suas normas, a saber, decidindo o que pode ser visível, o que pode ser visto.
Todo poder é uma decisão sobre o que pode ser visto e o que deve ser aceito apenas em silêncio. Nesse sentido, o que tais práticas escolares fazem é quebrar o pacto de silêncio e invisibilidade que perpetua as piores sujeições.
“Invisibilidade” se tornou um termo multiuso da esquerda. Guardiã dos supostamente invisíveis, ela seria a messiânica salvadora, enquanto a direita reacionária congregaria os invisibilizadores. A direita se une numa trama transnacional para enfraquecer determinados grupos.
O termo, como os demais usados tencionando um mesmo fim, visa criar grupos de estimação que, aceitando o compadrio, fortaleçam a esquerda. O que seria de Jean Wyllys sem os cordeirinhos que precisam de sua representação? O que seria do Psol?
O engraçado é que esta é a mesma acusação que reputam aos pastores evangélicos, que quando eleitos defendem os interesses de seu público.
Se pastores se elegem por causa dos cristãos, a esquerda precisa de grupos que se sintam cuidados por ela.
E não há nada errado. Todo mundo merece representação no Parlamento.
Mas cabe questionar: a quem interessa que haja os “invisíveis”?
É mais interessante para mim ou para Jean Wyllys?
Para mim ou para Safatle, que construiu toda sua trajetória acadêmica através do pretenso monopólio da virtude?
A esquerda precisa que existam grupos que se consideram invisíveis, minorados e fragilizados. É através deles que ela se perpetua.
Mas é verdade que questões de gênero não precisam lidar apenas com o estranhamento de alguns a respeito da extensão da igualdade como valor. Há também algo a mais, que toca o cerne do edifício ideológico de nossas sociedades, porque, a partir do momento em que se afirma que gêneros não são meros decalques da diferença binária da anatomia dos sexos, que a anatomia não é o destino, há algo que parece entrar em abalo profundo.
Ninguém está a dizer a proposição delirante de que a diferença sexual não existiria. O que se está a dizer é algo ainda mais forte, a saber, que a diferença sexual não tem nenhum sentido que lhe seja natural, que dela não se deriva normatividade alguma. Isso significa que as nossas formas de vida, a estrutura de nossas famílias, não estão assentadas na natureza. Não, a natureza não é um álibi para nossas decisões culturais.
Com uma covardia que lhe é costumeira, foi isso o que o PT e seu prefeito acharam que não valia uma briga.
O PT, Safatle, tem problemas maiores no momento para se preocupar. Quando se luta pela própria sobrevivência, as teorias e as ideologias de estimação acabam largadas.
A discussão principal sobre a Ideologia de gênero nas escolas não envolve normatividade. Como diria Dilma, quando consegue se expressar em português, estás a tergiversar. Ideologia de gênero é educação gayzista impositiva. Não pode ser aceita. Não faz parte dos deveres do Estado.
Mas um dia, professor, poderemos conversar sobre normatividade.
Aí explicaremos quem precisou “namorar” com quem, desde a aurora dos tempos, para que a humanidade chegasse até aqui.
*Renan Alves da Cruz é professor de história e colunista do portal Voltemos à Direita. 

2 comentários:

  1. "Deus criou homens e mulheres, o resto é gambiarra" Ainda bem que brasileiro vive de gambiarra Haha !

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