segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Crescimento Sem Profundidade

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O estado da igreja evangélica atual

Acabo de ler o último livro de John Stott (1921-2011). Publicado em 2010, O Discípulo Radical traz o adeus singelo e carinhoso do teólogo inglês: “Ao baixar minha caneta pela última vez (literalmente, pois confesso não usar computador), aos 88 anos, aventuro-me a enviar essa mensagem de despedida aos meus leitores.

Sou grato pelo encorajamento, pois muitos de vocês me escreveram”. Algumas linhas adiante, despede-se ele de seus amigos e discípulos: “Mais uma vez, adeus”. O livro não é só despedida; é um alerta grave e urgente à nossa cristandade. Ao descrever o perfil da igreja

evangélica atual, o irmão Stott, já bastante apreensivo, preferiu ser econômico nas palavras:
“Crescimento sem profundidade”.

Constranjo-me a concordar com a análise de Stott. Sei que não devo generalizar, pois ainda há rebanhos sadios e bem nutridos. Mas a verdade é que nunca as igrejas estiveram tão cheias de crentes tão vazios. O que está acontecendo conosco? De imediato, seja-me permitido apontar dois fatores que vêm orfanando os filhos de Deus: a substituição do Cristo eterno pelo Jesus secular e a retirada da cruz da mensagem evangélica.

Ao invés do Cristo eterno, o Jesus secular

O maior inimigo de Cristo na presente década é o Jesus que nós, evangélicos, criamos no século passado. Parece que, no armário de nossa teologia, há sempre um “Jesus” pronto a justificar-nos todos os disparates e ambições. Tal Jesus, porém, está longe do Cristo morto e ressurreto do Evangelho. O interessante é que, há bem pouco tempo, não poupávamos ataques ao Jesus comunista da Teologia da Libertação.

Capitalista e terreno, nosso Jesus desenvolveu uma ação preferencial pelos ricos, e já não se acanha em especular na bolsa dos valores invertidos e efêmeros. Ele induz o povo de Deus a transformar pedras em pães, a saltar do pináculo do templo e a curvar-se ante o príncipe desta geração – o maldito e perverso Mamom.

Na promoção do Jesus capitalista, alguns mestres e doutores estão tornando o rebanho de Deus dependente de um cristianismo sem Cristo: é o ópio do atual evangelicalismo. Não foi essa, porém, a mensagem que Paulo expôs aos coríntios. Professando estar comprometido com o evangelho genuíno e radical, escreve o apóstolo: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).

Se quisermos um crescimento com profundidade, temos de nos voltar, com urgência, ao Cristo anunciado pelos santos apóstolos: morto, crucificado e ressurreto. O Jesus do Calvário é insubstituível e inimitável.

Ao invés da Palavra de Deus, a palavra do homem

Quem prega um Jesus diferente do Cristo apostólico acabará por expor um evangelho estranho à mensagem da cruz. Assim como a Lei de Moisés nada era sem os Dez Mandamentos, de igual modo o Sermão do Monte: de nada nos valerão suas bem-aventuranças sem as reivindicações éticas do Mestre. Logo, não posso aceitar uma mensagem politicamente correta se, profeticamente, for inconsistente e permissiva. Afinal, fomos chamados a atuar como homens de Deus e não a representar como homens do povo. Nosso compromisso é com a Palavra de Deus.

Na ânsia por aumentar seus rebanhos, há pastores que retiram a cruz de suas mensagens, tornando-as mais palatáveis. Já descompromissados com o Sumo Pastor, não mais falam o que os crentes necessitam ouvir, mas o que os seus clientes querem escutar. Se estes não mais suportam a sã doutrina e, acriticamente, consomem o que lhes chega ao aprisco, por que se afadigar em servir-lhes o genuíno alimento espiritual? Ao invés do texto bíblico, um pretexto casuístico e oportunista. 

Não sei que nome dar a esse tipo de sermão. De uma coisa, porém, não tenho dúvidas: deve ser muito eficiente, porque infla as igrejas e engorda os rebanhos. Nesses currais, porém, as ovelhas não são fortes: são obesas de si mesmas. Embora comam muito, alimentam-se mal. Acham-se à beira da inanição. A mensagem pode ser eficiente, mas é ineficaz para nutrir as almas que anseiam por Deus.

Em toda a história da Igreja Cristã, nunca se consumiu tantos livros e sermões. E, apesar disso, nunca se viu tantos crentes gordos de si e magros de Deus. Essa gente enche os templos e inflaciona as estatísticas, gerando um crescimento raso.

Não sou contra o aumento do rebanho de Cristo. Se o Evangelho é pregado é natural que se distendam os redis. Haja vista a Igreja Primitiva. Passados trinta anos, desde o Pentecostes, as conversões multiplicaram-se em Jerusalém, tomaram toda a Judeia e Samaria, alcançando os confins da terra. Aliás, havia convertidos até mesmo na casa de César. Mas era crescimento profundo e radical – enraizado na doutrina dos santos apóstolos.

Só pode haver crescimento genuíno com maturidade espiritual. Há uma grande diferença entre o fruto que por si mesmo amadurece e o que é posto na estufa. Este pode ser até maior, mas jamais terá a doçura daquele. Infelizmente, muitas igrejas tornaram-se estufas de crentes. Suas mensagens, geradas em eficientes departamentos de marketing, engrandecem o homem e diminuem Deus, exaltam a bênção e humilham o Abençoador, menosprezam a doutrina da santificação por já não prezarem o santíssimo Deus.

Aferindo a qualidade do rebanho de Cristo

Temos de aferir nossa qualidade não pelas estatísticas, e, sim, pela doutrina dos apóstolos. Antes recorríamos à Bíblia e, humildemente, cotejávamos a nossa vida de acordo com a Palavra de Deus. Hoje, buscamos os gráficos do IBGE e nos aborrecemos quando nossas expectativas não são cumpridas.

Dessa forma, viemos a substituir o imperioso “ide” do Mestre por metas empresariais. E, sempre que estas são batidas, distribuímos galardões: reajustes salariais, viagens e presentes. Se continuarmos assim, não estou certo se haverá alguma coisa a recebermos no Tribunal de Cristo, pois a nossa premiação eterna já está sendo usufruída no tempo.

John Stott não estava errado. A igreja evangélica cresceu e já é contada aos milhões. Somos, de fato, um oceano vasto, azul e belo. Infelizmente, tal oceano pode ser atravessado com as águas pelos artelhos. Quem dera fôssemos como o poço de Jacó! Não tinha a boca grande nem arrogante. 

Sua profundidade, contudo, era insondável. Para que isso venha a acontecer, faz-se urgente que voltemos ao Cristo de Deus, e deixemos de lado os “jesuses” que, todos os dias, tiramos de nossa prateleira teológica. Além disso, faz-se urgente recolocarmos a cruz em nossas mensagens.

Se agirmos assim, nosso crescimento terá a profundidade do rio de Ezequiel. De caudaloso e insondável, terá de ser transposto a nado. Basta de pregarmos o que o povo quer ouvir. Falemos o que as pessoas precisam escutar. Além do mais, na Igreja não temos clientes, mas ovelhas ansiosas por ouvir o Bom Pastor.

Autor: Pr Claudionor de Andrade
Divulgação: Estudos Gospel

6 comentários:

  1. No livro "O Sal da Terra"1, que é na realidade a publicação de uma longa entrevista concedida pelo então cardeal Joseph Ratzinger ao jornalista Peter Seewald, o agora papa emérito Bento XVI falou sobre este posicionamento, atualmente tão comum, de se atribuir a todas as religiões o mesmo valor, considerando-as todas mais ou menos iguais. – A título de nota, vale acrescentar: àquela época, Seewald era declaradamente ateu; as respostas que obteve nesta entrevista causaram-lhe tão forte impressão que logo depois converteu-se, tornando-se católico.

    Entre outros temas, o Cardeal Ratzinger foi categórico ao afirmar que, com certeza, nem todas as religiões são iguais. Afirmou mesmo, sem reservas, que algumas religiões não podem sequer ser consideradas boas. Disse que existem formas de religião de tal maneira corrompidas e insalubres que não são capazes de levar o homem a Deus; pelo contrário, servem tão-somente para aliená-lo. Nestas e noutras, entendemos porque Bento XVI foi tão odiado e combatido, fora da Igreja, e até boicotado dentro dela. O mundo sempre preferiu e vai continuar preferindo quem use de meias verdades, ou adoce a realidade com uma generosa porção de açúcar, ou ainda quem simplesmente não diga a verdade quando esta for capaz de melindrar as sensibilidades alheias. Alguém que "respeite" a todos, e/ou que considere o respeito humano mais importante do que a proclamação das verdades do Evangelho.

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  2. Uma opinião assim tão clara e direta é altamente contrastante com o modo de ser "politicamente correto" dos nossos tempos. Vivemos dias em que apenas emitir opinião sobre qualquer assunto já é motivo para que alguém se declare "ofendido". Acostumamo-nos a aceitar tudo, a conviver com tudo, a dizer sempre que tudo está bem, que tanto faz, que tudo é válido e tudo pode, porque ficar de bem com todos é o mais importante. Não compensa brigar por nada, nem mesmo pelo bem, pelo bom, pelo que é certo, pela defesa dos bons valores ou da verdade.

    Em contrapartida, é um fato incontestável que nós só podemos nos ajudar uns aos outros se formos capazes de franqueza e de honestidade; amigo é aquele que ajuda, e nós só podemos efetivamente ajudar alguém se apontarmos os erros desse alguém, se existirem e nós formos capazes de vê-los, e dizer com clareza o que precisa ser feito para resolvê-los, se estiver ao nosso alcance. Da mesma maneira, se quisermos receber ajuda de alguém, precisamos ter humildade para aceitar críticas e procurar entender as falhas apontadas em nós mesmos.

    Assim, retomando a resposta dada por Ratzinger à pergunta de Seewald: "Por que a Igreja não adota uma posição mais aberta com relação ao pluralismo religioso? Todas religiões não são boas?".

    O Cardeal responde dizendo que não é verdade que todas as religiões são boas. Historicamente não é verdade; logicamente também não.

    Historicamente não é verdade porque existiram e existem religiões simplesmente más, que ao longo de sua existência pregaram o ódio, o terrorismo, a destruição pela destruição. Algumas praticaram, – e ainda praticam, – mesmo o sacrifício humano. É evidente que tais modalidades religiosas, mesmo em uma sociedade como a nossa, em que a liberdade é cláusula pétrea, simplesmente não têm direito de existir, pelo simples fato de atentarem contra a própria humanidade.

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  3. Do ponto de vista da lógica, independentemente de se admitir ou não alguma proposição de fé, –mesmo do ponto de vista puramente laico e racional, – não é possível pôr no mesmo nível uma religião que prega absoluto amor ao próximo, como é o caso do cristianismo, com uma religião que oferece o holocausto de crianças em honra a um ser de trevas, como é o caso de certas seitas satânicas. Ainda que a liberdade religiosa seja cláusula pétrea de nossa constituição, é preciso admitir que uma religião que combata a própria civilização, que pregue o ódio, o terrorismo, que vá contra os princípios mais básicos da dignidade humana, simplesmente não devem (por certo não deveriam) ser toleradas.
    Não são todas iguais e não há escapatória: é preciso escolher

    Além de todo o exposto até aqui, há um fato histórico que determina de modo inexorável que não se possa considerar todas as religiões iguais: a fé em Jesus Cristo homem e Deus.

    Maomé é profeta, não Deus; Buda é o iluminado, não Deus; Confúcio é um grande sábio, não Deus. Cada fundador de cada religião ou seita que há no mundo foi ou é considerado um grande ser humano, um grande líder, alguém capaz de compreender Deus melhor do que os outros, ou falar com anjos, "entidades" espirituais ou da natureza, etc. O cristianismo se diferencia radical e definitivamente das demais religiões porque é a única religião fundada diretamente por Deus feito homem.

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  4. Jesus, AquEle que adoramos, – Nosso Senhor, Salvador e Deus, – nasceu em Belém, viveu em Nazaré, morreu em Jerusalém; foi condenado por Pôncio Pilatos, crucificado, morto e sepultado. – São fatos concretos, diante dos quais ser humano algum, em sã consciência, pode passar indiferente. Estamos postos diante de uma encruzilhada, e é preciso tomar uma decisão. Não é possível escolher ficar "em cima do muro". Ou vai-se para um lado ou para outro: ou Jesus é Deus, e portanto, inescapavelmente todas as outras religiões estão num nível inferior (pois Deus se fez homem em Jesus Cristo e não se fez homem em nenhuma outra religião), ou Jesus não é Deus, e nesse caso o cristianismo é a maior de todas as farsas.

    Ou cremos ou não, e isso necessariamente muda toda a nossa vida, em todos os níveis. Não se pode dizer: "Jesus é muito bom, é 'legal', eu gosto dele e do que ele diz, é tudo muito bonito, mas eu prefiro continuar acreditando que ele foi um entre muitos outros profetas, santos ou 'avatares', porque Buda também é 'legal', assim como Mahavira, Zoroastro, Confúcio, Maomé, etc, etc...".

    Jesus não pode ser só "legal". Não pode ser um entre muitos, porque Ele se apresenta como Deus Todo-Poderoso e único Salvador. A proposta do cristianismo é aceitar Jesus como Cristo, como Deus Criador e Mantenedor de tudo o que existe. O cristão crê que todas as coisas encontram o seu sentido em Cristo. Tudo foi criado por e para Ele. É Ele a razão de ser de tudo o que há; é o sentido da vida de cada homem e mulher, e isso significa que Ele é o Senhor de tudo.

    A pregação católica consiste em dizer que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, o Verbo de Deus encarnado, que continua vivo na história, num Corpo concreto chamado Igreja, e essa Igreja é Católica e Apostólica, tendo sua sede primacial em Roma, portanto é chamada Romana. Este mesmo Jesus Cristo continua Vivo e Presente através da Igreja, em seu Magistério e em seus Sacramentos.

    Ou se aceita tudo isto, todos estes fatos que convergem e estão intrinsecamente ligados entre si ou não. Ou se crê ou se descarta. Ou se ama ou se abomina. Ou se adere ou se abandona. Não se pode dizer: "até gosto de Jesus, mas não sou radical". Ora, se Jesus é mesmo Deus e o único doador da vida, então precisamos segui-lo, se é que desejamos a vida eterna. E se Jesus não é Deus, fujamos dele, porque veio propor o maior dos enganos!

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  5. Por tudo isso, não faz sentido dizer que as religiões são todas boas, ou todas iguais: ou somente o cristianismo é bom, ou apenas o cristianismo deve ser radicalmente descartado, e aí estaremos "livres" para abraçar todas as outras crenças, que não necessariamente se excluem. É preciso, é necessário escolher.

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  6. Conclusão

    Por outro lado, não estamos aqui pregando o ódio ou a intolerância contra as outras religiões. Pelo contrário, o cristão, – exatamente por ser católico, – prega a única verdade a todos, por uma questão de caridade. Não queremos esconder o grande "segredo" de que Deus se fez homem para a nossa salvação, e de que podemos comungar do seu Corpo e Sangue, Alma e Divindade, porque queremos salvar a todos, e não condená-los.

    Não estamos pregando uma guerra santa. Não cremos que aqueles que não aceitam a nossa fé devam ser maltratados, degolados ou excluídos. Não fazemos acepção de pessoas, ao contrário. É nosso dever sagrado amar a todos, até mesmo e especialmente os que nos odeiam e nos maltratam (Mt 5,43-45). Entendemos que amar e tratar bem somente aqueles que nos amam é a prática, justamente, dos não cristãos (Mt 5,46-47). Amar a Deus e ao próximo (como a nós mesmos) é exatamente o que nos define. É nosso maior Mandamento, que resume todos os outros. Por isso, desde a época dos primeiros mártires, das primeiras perseguições, a fé católica foi sempre, – como continua sendo hoje, – não algo pelo que se mata, mas sim algo pelo que se morre.

    ____
    Ref.:
    1. RATZINGER, Joseph Cardeal. O Sal da Terra, um diálogo com Peter Sewald. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
    • 'Todas as religiões são igualmente boas?', episódio de 'A resposta católica', vídeo-aula do padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr., disp. em:
    https://padrepauloricardo.org/episodios/todas-as-religioes-sao-igualmente-boas
    Acesso 30/9/015www.ofielcatolico.com.br

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