quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Não tenho fé suficiente para ser de Esquerda


Se há vantagens em adotar o esquerdismo, elas estão na mesma proporção de alguém que dilui a consciência para fazê-la caber nas amarras do movimento. Sabe aquela coisa de querer ser amiguinho de todo mundo? Funciona para quem ainda não amadureceu. 

Hoje, é uma das religiões que mais ganha adeptos em todo o mundo. Seus fiéis ultrapassam em muito o número de convertidos ao cristianismo ou ao islamismo. Possui textos sagrados, exegetas, ritos, sacerdotes, excomunhões e processos de beatificação. 

Sua maneira de olhar o mundo e sua linha de raciocínio são até sedutores. Pena que muitos
de nós, diante da enxurrada de fatos que testemunham contrariamente aos seus dogmas, não tenhamos fé suficiente para se juntar às suas fileiras.

Religião do Progresso
"Tudo o que precisavam demonstrar era que, quando Jesus dissera que o seu reino não era desse mundo, Ele tencionava dizer que era."  - Malcolm Muggeridge

Falo da esquerda política, do esquerdismo e do progressismo como um todo, pois me parece inverossímil que a maneira de olhar o mundo, através da ótica esquerdista, esteja em algum acordo com a realidade. Se comparo essa disposição particular de encarar a realidade com uma crença religiosa, é precisamente pelo fato de que elas pretendem ocupar a lacuna deixada pela ausência de sentido da vida que o descrédito das religiões tradicionais organizadas, como catolicismo e protestantismo, causaram. 

Os dogmas do progressismo, ou do "culto ao progresso", no qual o marxismo está filosoficamente inserido, ganharam força com o declínio da influência religiosa no Ocidente. A "morte de Deus", profetizada anos mais tarde por Nietzsche, não seria apenas a obsolescência da metafísica, relegada aos livros de história da filosofia, mas um evento histórico de consequências até então inimagináveis. 

Depor a fé em uma divindade criadora e mantenedora do universo, que envolvia e permeava toda a vida individual e comunitária, exigiria que outra coisa fosse posta em seu lugar. E o que surgiu em lugar da devoção religiosa foi uma série de cultos menores que endeusavam a evolução natural, o método científico, o poder da razão e, last but not least, a preocupação e o envolvimento do indivíduo em causas políticas que tornariam em fato o "mito" do Paraíso.

Se para Nietzsche, Deus era um ídolo que precisava ser derribado, outros ídolos muito piores surgiram em Seu lugar. Se a história for um Eterno Retorno, os religiosos da época do filósofo alemão estavam observando o mesmo efeito que o descrédito da religião judaica causou em Israel antes do primeiro cativeiro. Com o esquecimento da adoração ao Deus de Israel,  surgiram diversos cultos particulares de entidades menores, algumas delas, inclusive, patrocinadas pelo governo. Nada de novo sob o céu.

Ideologia
"Quanto maior for a carga da consciência coletiva, tanto mais o eu perde sua consciência prática. É, por assim dizer, sugado pelas opiniões e tendências da consciência coletiva, e o resultado disto é o homem massificado, a eterna vítima de qualquer “ismo'." - Carl G. Jung

O termo correto para designar esse assalto dos conceitos religiosos tradicionais pela política é ideologia. Ideologia significa, desde a Segunda Guerra Mundial, qualquer teoria política dogmática que consista no esforço de colocar objetivos e doutrinas seculares no lugar de objetivos e doutrinas religiosas. A ideologia, ao longo de nossa história, prometeu paraísos terrenos à humanidade; mas o que ela criou de fato foi uma série de infernos na terra. ¹

A esquerda política possui uma propaganda interessante, que cativa, que impõe a permanecer lutando por seus objetivos. Se você é homossexual, por exemplo, pode ser levado a crer que só a adoção dos princípios marxistas é que podem gerar uma sociedade que o respeite, e respeite os gays plenamente. Se você é mulher, talvez a pregação do feminismo surja como única alternativa de reação à comportamentos execráveis de muitos homens. 

Lutar pelo respeito aos homossexuais e às mulheres enquanto seres humanos dotados de valor infinito é perfeitamente possível sem ser esquerdista, e na minha opinião, faz até mais sentido. A questão que é a postura progressista tem um apelo emocional maior, uma série de artifícios de marketing (como filmes hollywoodianos), um código moral muito mais fácil de ser vivido - já que, no fundo, ele é relativo aos interesses do "bem comum" - e uma proclamação de um futuro que todos gostariam de viver, embora impossível. 

Não ser arrebatado pela anunciação do evangelho socialista não é lá tarefa tão difícil, mas pressupõe uma postura do intelecto de exigir pelo menos que as coisas tenham o mínimo de coerência com a realidade, coisa que todo fiel emocional de uma religião não possui. 

A melhor resposta que eu poderia dar às ebulições ideológicas do presente, às tolices do tempo, às agitações políticas na qual dançam as pessoas de mente "moderna", me vêm de um título em que Norman Geisler e Frank Turek argumentam que é preciso muito mais fé para ser um ateu do que um crente: não tenho fé suficiente para ser de esquerda

Como dito anteriormente, a esquerda tem  até uma mensagem interessante, mas não funciona. Se há vantagens em adotar o esquerdismo, elas estão na mesma proporção de alguém que dilui a consciência para fazê-la caber nas amarras do movimento. Sabe aquela coisa de querer ser amiguinho de todo mundo? Funciona para quem ainda não amadureceu.




O Ser Reacionário
"Reajo contra aquilo que não presta" - Nelson Rodrigues

Neste sentido, sou "reacionário". Não por ter escolhido defender posições hoje consideradas fora de moda, mas por ser um cético e um ateu ferrenho desse deus do progresso automático da humanidade. Se olharmos mais atentamente, o homem é hoje o que era há dez mil anos, com a diferença de que poucos de nós tem poder suficiente para dizimar a raça inteira. O que evoluiu e avançou foi o conhecimento científico, e com ele inúmeras possibilidades de causar mais danos ao planeta e a nós mesmos; já nossa conduta moral parece ter regredido. 

É possível melhorarmos a vida uns dos outros, é possível que haja avanços tecnológicos e preservação do ambiente, que haja respeito ao valor da vida humana, que as classes mais baixas sejam socorridas em suas necessidades básicas; mas isso não tem nada a ver com ser esquerdista. 

É possível ser um homem ou uma mulher de direita e ainda ser ciclista, ouvir música eletrônica, ter dezenas de tatuagens e cabelo arrepiado - como este vosso escriba tem. Ser esquerdista, "espiritualmente" falando, é acreditar num futuro sem desigualdade salarial, sem mortes, sem assaltos, sem políticos corruptos, sem choro e sem ranger de dentes. É uma religião, não uma postura política séria. 


1. Kirk, Russel - A Política da Prudência, p. 94 (É Realizações, 2013)

Fonte: Reaça

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