segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Brasil não tem presidente, não tem imprensa, nem oposição forte: o Brasil só tem a nós



Desperto hoje estarrecido e indignado. Não apenas com a decisão revoltante do Supremo Tribunal Federal. Não também com o apêndice preocupante da forte possibilidade de saída do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, abrindo as portas para a posse de um eventual desenvolvimentista ensandecido que vá apimentar ainda mais a gastança irresponsável e a impressão de dinheiro. 

Não apenas com a Constituição sendo rasgada aos olhos de todos, com direito a transmissão da Globo News. Não. O que mais irrita é o dia amanhecer como se fosse uma manhã como qualquer outra.



Noutros tempos, tenho certeza de que seria diferente. Ao tempo, por exemplo, como bem lembrou o historiador Marco Antônio Villa, da chamada “banda de música” udenista, de nomes como Aliomar Baleeiro, Afonso Arinos, Carlos Lacerda e Olavo Bilac Pinto, que não davam sossego aos governos getulistas, do PSD e do PTB, Dilma e os ministros do STF não teriam sequer condições de dormir à noite com o incêndio que eles causariam. 

Hoje, mesmo nossos melhores nomes na oposição não são capazes de condensar os clamores populares e incensarem os instrumentos do Estado contra a sua própria perversão. Os melhores parlamentares e senadores de hoje não têm, ou o mesmo talento argumentativo, ou o mesmo dom de oratória, ou a mesma ousadia. 

Em especial o maior partido oposicionista, o PSDB, é pusilânime por sua própria natureza; as exceções, como Carlos Sampaio, não representam os caciques da legenda, e não podem, por si sós, mover montanhas. O ministro do STF, Gilmar Mendes, disse hoje que há “um projeto de bolivarização da Corte” e que “ontem, infelizmente, tivemos mostras disso”. Acusou os colegas de promover um “artificialismo jurídico” para julgar por “casuísmo”. 

O ex-presidente do STF, Carlos Ayres Britto, disse que a Corte errou. Apenas um tom muito mais tímido podemos esperar de nossos opositores políticos oficiais.

De nosso governo, que cometeu o crime, que se acumplicia de tudo o que há de mais populista, mais falsário, mais estelionatário e mais autoritário, nada mais digo. A presidente, em si, é um enfeite presunçoso e pedante que representa tão-somente uma face de um projeto de poder e de um esquema ideológico muito maiores do que ela – e para os quais, aliás, ao menos para alguns de seus setores, sua falta absoluta de carisma e sua ineptidão robusta já constituem mais um estorvo que um reforço. 

Que dizer de nossa imprensa? Tudo que temos visto em 2015 foi o sepultamento do nosso Jornalismo, de nos fazer corar. Manipulações de fotos e vídeos para engrandecer manifestações governistas, seleções patéticas de entrevistados esdrúxulos para caracterizar manifestações imensas de golpistas, a vergonhosa sessão de perguntas a Hélio Bicudo sobre Eduardo Cunha quando o assunto era o impeachment de Dilma, a “martelada” dos noticiários contra o presidente da Câmara quando havia várias citações e escândalos envolvendo o PT e a família de Lula. 

Tudo muito triste, mas não mais do que a covardia de dar nome aos bois. Os jornalistas, ontem e hoje, nada mais farão que discursos protocolares, oficialescos, artificiais, como se a sessão de ontem houvesse sido normal, como se nada de extraordinário houvesse ocorrido. Sua postura é e será, conhecendo-os como conhecemos, entendendo o que aconteceu durante o ano inteiro como entendemos, pior do que o absoluto silêncio. Será um desprezo profundo das proporções. Para que se faça justiça à sessão de 17 de dezembro, precisaremos esperar, talvez, pelos livros didáticos de historiadores de um futuro nebuloso.

Que tem o Brasil hoje? O Brasil só tem a nós. Cada um de nós. Os brasileiros decentes, que compartilham as mesmas angústias e dividem as mesmas dificuldades, que suam dia e noite para manter suas vidas e de suas famílias e, em consequência, sustentar a economia deste gigante combalido, gerar e fazer circularem as riquezas; os brasileiros que as vêem surrupiadas, então, pelo Estado paquidérmico e corrupto, que sequestra suas expectativas e desdenha de suas queixas. O Brasil só tem a nós, e o Brasil somos nós.

Nosso sincero desejo, nossos sinceros votos para 2016 e mais além, é que isso baste. Que mesmo diante dos percalços, dos problemas, dos imensos rochedos de desesperança que esse teatro de gângsters e duelistas ladinos nos proporciona, nossa força seja inquebrável, persevere, desafie o edifício da mentira e da avacalhação. 

Que tenhamos referências de virtude pública, ainda que provindas das vozes do passado, em que possamos nos inspirar para acreditar que podemos ser melhores do que isso. Que lotemos as ruas em março, ou quando quer que sejam convocadas as novas manifestações. Que mostremos a eles, que mantém essa tragicomédia efêmera, destinada a se apagar no lixo dos séculos, que a vitalidade do país está em nós, na nossa iniciativa, no nosso envolvimento, na nossa dedicação e na nossa honestidade.

Não temos mais do que isso. Temos a nós mesmos. Que isso seja tudo. Que isso seja o bastante. Que isso baste para que o Brasil vença a escuridão tempestuosa que atravessa e possa, ao fim de um túnel de sofrimento, enxergar a luz.

Fonte: Instituto Liberal

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