domingo, 31 de janeiro de 2016

Por que a esquerda se “importa” tanto com a educação?



O primeiro “herdeiro” de Karl Marx a compreender o vácuo deixado pelo “Capital” foi Antonio Gramsci. Gramsci é uma das principais referências do pensamento de esquerda até hoje. 

Embora fosse comprometido com o projeto político-ideológico que deveria culminar com uma revolução proletária, Gramsci distinguia-se de seus pares por acreditar que a revolução só seria possível após uma profunda mudança de mentalidade. 

Para ele, os principais agentes dessa mudança seriam os intelectuais e um dos seus instrumentos mais importantes, a escola.


Ao contrário da maioria dos teóricos que se dedicaram à interpretação e à continuidade do trabalho intelectual do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), que concentraram suas análises nas relações entre política e economia, Gramsci deteve-se particularmente no papel da cultura e dos intelectuais nos processos de transformação histórica. 

Suas ideias sobre educação surgem desse contexto. Gramsci propôs a chamada Elevação Cultural das Massas, ou seja, livrá-las de uma visão de mundo que, por se assentar em preconceitos e tabus, predispõe à interiorização acrítica da ideologia das classes dominantes.

Mas como isso se aplica ao Brasil? O atual modelo educacional brasileiro foi proposto por Paulo Freire, patrono da educação brasileira (via decreto de 2012) e membro fundador do Partido dos Trabalhadores (PT). Freire sempre foi assumidamente marxista, com obra tão influenciada por Gramsci, que chega a ser um complemento à do italiano.

Paulo Freire aprofunda o pensamento de Gramsci, complementando a noção de hegemonia na perspectiva de transformação e autonomia do povo como contra hegemonia. Além disso, Paulo Freire amplia o conceito de classe, passando de proletários ao que ele chama de esfarrapados, a quem ele inclusive dedica seu mais famoso livro, Pedagogia do Oprimido. 

Os esfarrapados para Freire são os sem-terra, os desempregados, os sem-teto. Os esfarrapados estão excluídos do sistema, mas são tão ou mais oprimidos que os próprios proletários à que Marx se referia.

Com base nisso, Freire persegue a construção de um método de emancipação do povo por si mesmo. A libertação, segundo ele, é proporcionar o desvelamento da própria realidade, que só tem sentido se o objetivo for transformá-lo. Somente pelo fortalecimento coletivo e autônomo o povo é capaz de romper as amarras da opressão que lhes é imposta.




Nesse ponto, as ideias de Gramsci e Paulo Freire se sobrepõem, pois todo o trabalho que Freire busca esmiuçar é basicamente o conceito que Gramsci apresentara de “catarse”: a transformação do indivíduo passivo e dominado pelas estruturas econômicas em sujeito ativo e socializado capaz de tomar iniciativa e se impor com um projeto próprio de sociedade.

Desde que assumiu o poder em 2003 o PT tem aplicado o método Paulo Freire no ensino brasileiro. Mas então por que o ensino público tem se deteriorado a cada dia na Pátria Educadora? Durante o discurso de posse do segundo mandato, Dilma proferiu a seguinte mentira: “O novo lema do meu governo, simples direto e mobilizador, reflete com clareza qual será nossa prioridade, e sinaliza para qual setor seve convergir nossos esforços.

Trata-se de emblema com duplo significado. Estamos dizendo que a educação será a prioridade das prioridades, mas também que devemos buscar em todas as ações de governo um sentido formador”.

Entretanto, após 13 anos a situação é um tanto… apocalíptica. Atualmente 95% dos nossos alunos saem do ensino médio sem conhecimentos básicos em matemática, quase 40% dos universitários são analfabetos funcionais e 78,5% dos estudantes brasileiros finalizam o ensino médio sem conhecimentos adequados em língua portuguesa. Em resumo: enfiamos mais de 42 milhões de crianças e adolescentes em escolas públicas, a um custo nababesco, mas ensinamos muito pouco.

Se você ainda está cético, segundo dados do Prova Brasil, 55% dos professores brasileiros dizem possuir pouco contato com a leitura. Além disso, uma pesquisa feita pela OCDE aponta que eles perdem, em média, 20% das suas aulas lidando com bagunça em sala de aula. 

Por fim, segundo o Núcleo Brasileiro de Estágio – Nube, quatro em cada 10 universitários são barrados em seleções para estágio por causa de erros de ortografia – os estudantes de Pedagogia lideram entre os piores índices.

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Não bastasse o claro fracasso na escola como instituição de ensino, não raramente ela é usada como instrumento para doutrinação ideológica. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Sensus, 78% dos professores brasileiros acreditam que a principal missão das escolas é “formar cidadãos” (apenas 8% apontou a opção “ensinar as matérias”) e 61% dos pais acham “normal” que os professores façam proselitismo ideológico em sala de aula.

Evidentemente essa não é uma prática assinada por todos os docentes – e seria chover no molhado apontar aqui que parte considerável dos nossos professores atuam na melhor das intenções, quando não são vítimas de material didático de péssimo gosto. Mas, ainda assim, a doutrinação atua como uma praga numa lavoura, corrompendo a formação intelectual de incontáveis estudantes e interferindo negativamente no ambiente de trabalho dos docentes.

Todo professor militante considera que sua missão primordial é “preparar” cérebros para que no futuro possam conduzir o destino do país como cidadãos livres, ou intelectuais orgânicos, segundo a visão de Gramsci.

O subproduto do Plano Nacional de Educação, que atende pelo nome de Base Nacional Comum Curricular – BNCC, é o que poderíamos chamar de veneno diluído em abundantes doses curriculares. Ninguém morre intelectualmente com uma pitada, mas depois de uma dúzia de anos, não sobra neurônio com autonomia. O objetivo final do petismo na Educação e na Cultura é tornar-se hegemônico. 

No meio, fica tudo: da música ao teatro, da internet à sala de redação, do seminário religioso à reserva indígena, do sistema bancário à barraquinha da praia, dos corações às mentes. Para conquistar mentes e corações, os companheiros burocratas do MEC trataram, primeiro, de unificar tudo, inclusive os exames vestibulares através do Enem (com o qual a BNCC tem que “dialogar”). 

A esquerda adora os sistemas únicos, os coletivos, totalmente controláveis. Depois, criaram um Plano Nacional de Educação, que o Congresso parcialmente comprou pelo valor de face. Agora pretendem impor um currículo único que, uma vez definido, fará com que todos entendam e interpretem as coisas como o PT quer. Ao menos em 60% dos conteúdos. Os outros 40% não o interessam.

Para afastar o Brasil dos padrões ocidentais, nada melhor do que romper com o relato eurocêntrico da história. Então, nos delírios da BNCC, vamos acabar com a cronologia, enfatizar a história africana, ameríndia e, definitivamente, jogar no ostracismo os mestres da nossa cultura. 

Ensinar segundo a versão proposta pela BNCC é servir burrice em linguagem de redes sociais, com vocabulário de creche. Se lhe parece difícil crer no que estou dizendo, informe-se aqui: basenacionalcomum.mec.gov.br.

Todo leitor atento e todo estudante que entrou em contato com a linguagem esquerdista já com plena vigência docente nas salas de aula do país, sabe que existe um vocabulário-padrão. Há palavras que mesmo avulsas no espaço valem por uma frase inteira e servem como prova de identidade ideológica. 

Uma delas é “problematizar”. Quando um professor diz que vai problematizar algo, ele está, na verdade, afirmando que vai usar sua autoridade (mais do que seu estreito conhecimento) para destruir alguma crença ou valor que suspeita estar presente nas mentes dos alunos. E a BNCC é pródiga em “problematizações”. Ela problematiza o papel e a função de instituições sociais, culturais, políticas, econômicas e religiosas. 

Problematiza os processos de mudanças de instituições como família, igrejas e escola. Problematiza as relações étnicas e raciais e seus desdobramentos na estrutura desigual da sociedade brasileira. Problematiza, para “desnaturalizar”, modos de vida, valores e condutas sociais. Quem disse que existem valores, modos de vida e condutas que são naturais?

Não era difícil imaginar a dedicação com que os companheiros do MEC se atirariam à tarefa de preparar uma base comum a todos os estabelecimentos de ensino do país. Melhor que isso só iniciar cada aula bradando – “Seremos como el Che!”. Agora o MEC vai ouvir a sociedade, mas todos sabem que, para esse governo, ouvir a sociedade e com ela debater é reunir-se com os seus e decidir por todos. 

Então, não é ao governo que a sociedade deve protestar. Está tudo pronto para que as coisas aconteçam como convém a ele e a seu partido. Atenção, Brasil! Atenção, meios de comunicação, intelectuais, educadores, lideranças empresariais e sindicais, pais e mães! Atenção todos os cidadãos comprometidos com o bem dos nossos jovens e do Brasil! É preciso impedir que se cometa mais esse crime contra a nação e que o governo imponha sua ideologia a todos por meio das salas de aula.

Desde que chegou ao poder, o PT empenha-se em desinformar, não educar e subverter a sociedade brasileira para que seja possível perpetuar-se no poder e realizar o tão sonhado projeto político da esquerda brasileira: tornar o Brasil um país comunista. E ironicamente sóirão alcançar isso pela “educação” dos brasileiros.

Abaixo alguns dados levantados pelo Spotniks que comprovam o desinteresse do PT com uma educação de qualidade em nosso país.

95% DOS ALUNOS SAEM DO ENSINO MÉDIO SEM CONHECIMENTOS BÁSICOS EM MATEMÁTICA.


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A ONG Todos Pela Educação compilou em 2013 os resultados de exames realizados com alunos de todos os estados do país para determinar os níveis de aprendizado principalmente nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.

Os números são desanimadores. Apenas 4,9% dos alunos do 3º ano do Ensino Médio matriculados na rede pública atingiram a nota mínima para terem seus conhecimentos considerados adequados pelos examinadores – ou seja, menos de 5% dos alunos sabiam o que deveriam saber.

GASTAMOS MAIS PORCENTAGEM DO PIB COM EDUCAÇÃO DO QUE PAÍSES DESENVOLVIDOS…


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O valor gasto pelo governo com educação no país representava 5,7% do PIB em 2012. A taxa, apesar de parecer pequena, é superior ao gasto com educação por países como Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Itália, Rússia, Alemanha, Canadá e Austrália no mesmo ano.

Mas não pense que essa é uma boa estatística: dado o nosso baixo desempenho em diversos rankings de educação (inclusive entre os realizados dentro do próprio país), é fácil entender como boa parte desse dinheiro é mal administrado.

E ainda tem outro problema: apesar do gasto em relação à economia estar num bom patamar, o valor que o governo gasta para manter cada aluno na escola está muito longe do ideal: 

… MAS O GASTO POR ALUNO É UM DOS MAIS BAIXOS DO MUNDO.


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A comparação do gasto com educação em relação ao PIB pode levar a um equívoco: apesar de gastarmos mais que diversos países, nosso PIB per capita ainda é muito baixo, consequência da baixa produtividade e da enorme burocracia do país.

Desta forma, ainda que o gasto seja proporcionalmente alto, o valor que é investido em cada estudanteestá muito abaixo da média dos países da OECD, que todo ano gastam em torno de US$ 9,5 mil com cada discente. O Brasil investe menos de US$ 2,7 mil por ano em seus alunos. No ranking mundial, estamos ao lado de países como Colômbia, México e Indonésia.

Sem desenvolvimento econômico e diminuição da burocracia, nossa educação nunca sairá do lugar, por mais que rios de dinheiro sejam despejados no sistema.

QUASE 40% DOS UNIVERSITÁRIOS SÃO ANALFABETOS FUNCIONAIS.


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Há hoje no país 9 milhões de pessoas que até conseguem ler, mas não conseguem interpretar o sentido da frase – são, por definição, analfabetos funcionais. Mas estes 9 milhões que me refiro não são compostos de alunos do Ensino Fundamental ou adultos que largaram os estudos antes de se graduarem: são todos estudantes ou graduados do nível superior, cerca de 38% da nossa massa acadêmica.

NÃO CONSEGUIMOS COMPLETAR 4 DAS 5 METAS PARA EDUCAÇÃO QUE NÓS MESMOS NOS PROPUSEMOS.


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Durante a fundação da ONG Todos Pela Educação, em 2006, foram estipuladas 5 metas para melhorar a educação do país até 2022: toda criança e jovem entre 4 a 17 anos na escola, toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos, todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano, todo jovem concluindo o ensino médio até os 19 anos e ampliação do investimento na educação.

As metas definidas pela organização foram aceitas pelo MEC como um compromisso do Ministério para os próximos anos.

Para a conclusão das metas no prazo estipulado, a ONG organizou metas anuais, que aumentam de forma gradual, para que o sistema de ensino possa se adaptar. Mas, apesar dos esforços, das 4 metas, apenas a última vem sendo concluída como esperado.

Todas as outras estão falhando em quase todos os estados e, apesar de algumas Unidades da Federação se destacarem, nenhuma delas conseguiu concluir até o momento todas as metas anuais propostas.

73% DOS BRASILEIROS NÃO SÃO PLENAMENTE ALFABETIZADOS.


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Apenas 26% das pessoas que realizaram os testes do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) tiraram nota suficiente para se enquadrarem como plenamente alfabetizadas na última avaliação, realizada em 2011.

Além de alarmante, o número de brasileiros plenamente alfabetizados só vem caindo: eram 28% em 2007, caíram para 27% em 2009 e no último teste desceram para 26%. 
Apesar do número de analfabetos cair desde 2000, o número de pessoas com alfabetização considerada Rudimentar ou Básica vem subindo, o que significa que a educação dada aos analfabetos não possui um padrão de qualidade.
78,5% DOS ALUNOS SAEM DO ENSINO MÉDIO SEM CONHECIMENTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA ADEQUADOS PARA A IDADE.


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Dados da ONG Todos pela Educação mostram que, entre os alunos da rede pública matriculados no terceiro ano do Ensino Médio em 2013, somente 21,5% apresentaram conhecimentos adequados para a idade em Língua Portuguesa. Nas regiões Norte e Nordeste, os números são ainda piores: 12,4 e 12,7%, respectivamente.

O resultado passou bem longe da meta estabelecida pela ONG para aquele ano, de 39%. Nesse ritmo, nunca alcançaremos a meta final de termos mais de 70% dos alunos se formando com conhecimentos adequados para a sua idade; pelo contrário: quase 80% deles estão se formando sem saberem o básico.

OS RESULTADOS SÓ PIORAM COM O PASSAR DOS ANOS.


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Os números sobre a educação no tempo certo (Meta 3) do Todos Pela Educação mostram que o desempenho dos alunos tem piorado à medida que eles avançam pelo ensino.

No 5º ano do Ensino Fundamental, as notas dos alunos da rede pública não atingiram a meta estabelecida por menos de 5 pontos percentuais em Língua Portuguesa e por 7 pontos em Matemática na média geral. A pequena distância facilitou para que diversos estados atingissem e até ultrapassassem as metas.

Mas na avaliação do 9º ano do Ensino Fundamental, a distância entre as metas e a realidade aumentou muito e nenhum estado chegou a efetivamente cumpri-las. Na média do país, faltaram 19 pontos percentuais em Língua Portuguesa e 25 pontos em Matemática.

No Ensino Médio, como já mencionado acima, os números também são péssimos e nenhuma Unidade da Federação conseguiu entregar os objetivos propostos até agora para nenhuma das disciplinas. Apesar disso, a distância entre a realidade e os números exigidos pela ONG diminuiu levemente, passando para 17 e 23 pontos de diferença nas duas matérias. A baixa qualidade do ensino entre o 5º e o 9º ano, porém, contribuem para que os alunos continuem atrasados na educação durante a etapa final do Ensino Básico.

10) ESTAMOS EM QUEDA LIVRE NO RANKING DO PISA DESDE 2000.


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No tão aclamado ranking Pisa, organizado pela OCDE para medir a educação em 65 países, o Brasil nunca foi destaque. O problema é que estamos caminhando no sentido contrário de uma evolução.

Apesar da nota do Brasil ter crescido nos últimos anos, como fez questão de destacar o então Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, em 2013, nossa posição nunca subiu em nenhum das 3 matérias avaliadas desde o primeiro exame.

Ou seja, mesmo que a nossa nota tenha subido nos últimos testes, ela está crescendo numa proporção muito menor que a atingida pelos outros países. Se continuarmos assim, estaremos confinados às últimas posições do índice por um bom tempo.

Juliano Brustolin escreve uma coluna para este site nas segundas feiras. 
Para entrar em contato com o autor envie um e-mail para juliano.brustolin@aol.com .

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