sábado, 26 de março de 2016

Medicina em Cuba: A qualidade do sistema de saúde socializado cubano é um fato ou um mito?

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À luz da visita do presidente americano Barack Obama a ilha de Cuba, o primeiro presidente em ofício a visitar a ilha desde janeiro de 1928, é importante analisar um dos fatos mais propagados por jornalistas e professores de história e geografia no Brasil: a alta qualidade do sistema de saúde cubano.

São várias as ocasiões que a mídia nos fala que o sistema de saúde cubano é referência, que ele presta serviços de excelente qualidade, que seus médicos são supercapacitadosjustificando até ao Brasil importar mais de 10 mil deles no programa mais médicos. Um desses casos é uma reportagem do New York Times de 2014, em que uma jornalista perguntou se Cuba poderia escapar da pobreza e se manter saudável, como se a Ilha Caribenha fosse referência em qualidade de saúde.

Além do NYT, pessoas como Michael Moore, em seu documentário Sicko — que já foi desmascarado por diversas pessoas, inclusive cubanos — continuam ardentemente propagando essa narrativa. Mas ela se baseia em algum fato concreto?

Muito do que se fala sobre o sistema de saúde cubano se baseia em três estatísticas: alto número de médicos por mil habitantes, baixa mortalidade infantil e alta expectativa de vida. O objetivo desse texto é entender um pouco sobre esses elementos e ver como eles não necessariamente indicam que o sistema de saúde está funcionando.

Número de Médicos

Quando o Brasil começou a importar médicos Cubanos, o Partido dos Trabalhadores e seus aliados disseram que isso não afetaria a Ilha de Fidel Castro, visto que há um excesso considerável de médicos na população de 11 milhões de habitantes (estatísticas variam entre cerca de 6,4 a 13 médicos por mil habitantes, acima do número que é considerado mínimo pela OMS que é de 1 médico por mil pessoas). Esse número de médicos por habitantes é realmente bem superior àquele dos EUA, do Canadá e mesmo de vários países Europeus. Ou seja, esse indicador parece algo até interessante.

Cerca de 1/5 dos médicos Cubanos (aproximadamente 14 mil) se encontra trabalhando na Venezuela em troca de petróleo. Adicionando-se a esse número os mais de 10 mil médicos exportados para o Brasil, vê-se que cerca de 40% da força de médica cubana não atende a própria população — sem contar outras missões ao redor do mundo e os médicos que são exclusivos dos sistemas da elite, como o hospital mostrado por Michael Moore. Dessa forma, o número que é supostamente alto não é tão significativo assim quando se consideram os outros fatores relacionados à oferta de serviços médicos.

Mas por que um país tão pequeno tem tantos médicos?

Primeiramente, o sistema de de educação cubano é pouco seletivo para a entrada nas universidades. Muitas pessoas que não conseguiriam passar no vestibular para Medicina no Brasil podem ser admitidas nas universidades cubanas apenas por vínculos ideológicos e políticos. Isso leva, consequentemente a uma distorção no mercado de saúde com excesso de profissionais em formação e formados, o que facilita para o governo alocá-los onde bem entender — afinal, todos devem “pagar” ao Estado pelo privilégio de terem estudado “de graça”.

Em segundo lugar, em um país onde há poucos projetos de tecnologia e indústria, onde a agricultura é muito simples, onde a pesquisa é muito restrita, as pessoas acabam não cursando áreas como engenharia, agronomia, veterinária. Assim, muitas delas encontram nas especialidades médicas uma forma de tentar realizar sonhos profissionais — até começarem a trabalhar como médicos e se desiludirem, ou decidirem ganhar mais em outra profissão — ou mesmo uma única saída para o possível desemprego.


Aliado a esses dois fatores, os cursos de medicina em Cuba são mais baratos de se manter do que em outros países latino-americanos por dois motivos simples: falta de acesso a tecnologia e foco único e exclusivo em atenção primária. Como os hospitais escola não tem aparelhos de diagnóstico para drenar parte das verbas em instalação e manutenção, mais dinheiro pode ser despendido em contratar profissionais que em muitos lugares do mundo seriam redundantes. Esse excesso de pessoal contratado leva a maior disponibilidade de mão de obra para o ensino. 

Como esses profissionais também são baratos, por estarem em excesso no mercado e por terem uma qualidade duvidosa, não se gasta muito para manter os cursos de medicina. Desse modo, as turmas de uma faculdade cubana podem ser bem maiores que as vistas no Brasil (às vezes 2000 alunos ingressam num ano) e formam-se vários profissionais por ano. Desse modo, a demanda por vagas de medicina é prontamente atendida e o sistema é inundado anualmente por profissionais formados.

Essa falta de filtragem na entrada dos alunos associada a baixa competitividade do mercado — as pessoas não podem escolher seu provedor, são obrigadas a se consultar com o designado pelo governo — e a pouca ou nenhuma exigência de qualidade dos serviços prestados — todos são funcionários do governo, o que gera baixa accountability — resulta em formandos de qualidade duvidosa, quando não certamente baixa. 

O médico formado em Cuba tem o tempo de estudo de um enfermeiro brasileiro (cinco anos de graduação) com um ano de internato clínico, mas acesso a menos recursos e menos conhecimento que tal. Como grande parte das suas funções como gestor comunitário de saúde envolvem apenas seguir protocolos definidos pelo governo — ensinados durante a graduação –, não se exige muito dos estudantes além de longas horas de trabalho nos hospitais e policlínicas.

Com isso, o médico generalista formado em Cuba seria uma mistura de Agente Comunitário de Saúde (ACS) e Enfermeiro — a nível de Brasil –, capaz de lidar com prevenção de algumas doenças infectocontagiosas e com manutenção de tratamentos de doenças crônicas (cuidando se a pessoa toma a medicação com a frequência desejada, por exemplo), mas que é quase inútil ante cenários complexos que exigem um diagnóstico diferencial. 

Podem até existir bons cirurgiões depois da especialização — que não é obrigatória –, que conheçam bem anatomia e fisiologia, mas a eles falta equipamento para as operações. O mesmo vale para todas as outras especialidades, todavia o que se vê em geral são profissionais muito motivados, mas sem capacidade técnica e sem acesso a recursos tanto para capacitação quanto para atuação profissional.


Assim, o sistema gera muitos médicos formados, de qualidade duvidosa —aproximadamente apenas 10% conseguem passar no Revalida brasileiro — e que estão espalhados pelo país fazendo trabalhos similares a ACS brasileiros. A alta quantidade de médicos, portanto, não se reflete em uma melhor qualidade de serviço prestado — e muitas vezes nem se reflete em diminuição de filas, devido à corrupção do sistema.

Saúde Infantil

Outro fator amplamente alardeado é que a qualidade de vida das crianças supera muitos países desenvolvidos. A mortalidade infantil seria menor que dos EUA e os índices de vacinação seriam mais altos, por exemplo. Novamente, se esses dados fossem realmente sérios, eles seriam interessantes e dignos de nota. Entretanto, como tudo divulgado por uma ditadura, sem ninguém ter acesso aos reais números e sem a possibilidade de auditoria, é muito difícil de se acreditar neles.

Em primeiro lugar, é importante notar, como a forma de apresentar os dados esquece que boa parte do mérito dos números baixos não vem do governo socialista:

“(…) de acordo com essas mesmas estatísticas [de mortalidade infantil] da ONU, em 1958 (o ano anterior à gloriosa revolução) Cuba figurava na 13ª posição, mundialmente. Isso significa que a Cuba pré-Fidel, robustamente capitalista, tinha a 13ª menor taxa de mortalidade infantil do mundo. Isso colocava o país não apenas no topo da América Latina, mas também acima de grande parte da Europa Ocidental, à frente da França, Bélgica, Alemanha Ocidental, Israel, Japão, Áustria, Itália, Espanha e Portugal. Hoje, todos esses países deixam a Cuba comunista comendo poeira, com taxas de mortalidade infantil muito menores.

“E mesmo despencando da 13ª posição (quando capitalista) para a 44ª (agora comunista), a ‘impressionante’ mortalidade infantil cubana é mantida artificialmente baixa pelas trapaças estatísticas do Partido Comunista e por uma taxa de aborto verdadeiramente pavorosa: 0,71 abortos para cada feto nascido vivo. Essa é, de longe, a taxa mais alta do hemisfério. Em Cuba, qualquer gestação que sequer insinue alguma complicação é ‘terminada’.” (Humberto Fontova)


Ressalta-se que nas décadas de 50 e 60, a ONU ainda se importava com a qualidade dos dados apresentados pelos governos e não só com narrativa. Portanto, o sistema de saúde Cubano ainda estava sob escrutínio da comunidade internacional. Todavia, essa perspectiva mudou significativamente ao longo do tempo.

Vemos que os índices de mortalidade infantil não são representativos de avanços do sistema de saúde socializado cubano, mas uma combinação de três fatores: um bom ponto de partida (antes do regime comunista); um número elevadíssimo de abortos que reduz quaisquer complicações pós-parto e diminui os casos de doenças infantis — por exemplo, o país é o 162º no mundo em mortes de bebês por baixo peso; e uma manipulação constante dos dados relacionados a idade de morte das crianças, colocando-se mortes de bebês em estatísticas de mortes de crianças de 1 a 4 anos que são desconsideradas por organizações internacionais. Essa manipulação de dados já foi descrita por diferentes cubanos ex-patriados e é algo muito comum em regimes ditatoriais — estando presente mesmo em países subdesenvolvidos democráticos como o Brasil.

Quando analisamos os índices de vacinação, que são considerados altíssimos —em muitos casos melhores que países desenvolvidos –, percebemos que eles não necessariamente são resultado de conscientização da população sobre vacinas ou um bom trabalho de saúde pública. É possível atingir números altos com repressão do Estado através de programas de vacinação obrigatória que impõem duras sanções àqueles que não se vacinam — desde o século XIX existe vacinação obrigatória na Ilha, inclusive para os antigos escravos. Além disso, pais podem ser coagidos a vacinar as crianças conforme acontece com os pais do Bolsa Família, no caso em que ou a carteira de vacinas está em dia ou o benefício será cortado.

Outra forma de manter a vacinação em níveis respeitáveis é com programas de vacinação obrigatória em escolas públicas, as quais são frequentadas por todas as crianças cubanas e conseguem impedir os alunos de fugirem das imunizações. Desse modo, fica muito mais fácil controlar a população e garantir que as vacinas sejam aplicadas.

Lembremos que grande parte do movimento anti-vacina que existe ao redor do mundo se dá em áreas ricas, como Nova Iorque e Califórnia, onde os pais podem se dar ao luxo de perderem parte das economias bancando um tratamento de doenças de fácil prevenção, ou em áreas em que as pessoas duvidam do governo por causa de regimes corruptos como na África e no Paquistão. No caso de Cuba, essa opção não é facultada para as famílias.

Hospital Pediátrico em Cuba (fonte: Humberto Fontova)

Determinantes sociais da saúde infantil

Podemos comentar ainda sobre os determinantes sociais de saúde que seriam qualidade de educação, moradia e alimentação. Cuba propagandeia que nenhuma criança dormirá sem teto e ficará sem acesso a escola, entretanto, não se fala da qualidade do teto — que foi determinada como padrão para todos — , ou da qualidade da educação ofertada. 

Muitos vivem em cortiços mais cheios que diversos barracos em favelas do Brasil e vão para escola apenas para serem doutrinados sobre o regime, sem estudar o mínimo sobre a história do mundo, ou deixando de lado as ciências. Se considerados em uma análise mais global, esses fatores piorariam qualquer estatística séria que fosse coletada no país, mas são maquiados pelo governo e por jornalistas complacentes.

Por fim, quando se fala sobre os investimentos cubanos em nutrição, é necessário ressaltar que o governo cubano não consegue oferecer alimentos suficientes para a população como um todo — um detalhe interessante é que grande parte da comida em Cuba vem dos EUA, mesmo com o embargo ainda vigente. 

Com isso, as pessoas precisam achar maneiras para sobreviver às restrições impostas pelo racionamento de comida do governo e o fazem com muita prostituição (inclusive infantil) e com um mercado negro em si vibrante. A inventividade dos Cubanos consegue sobressair às restrições impostas pelos Castro e consegue manter a Ilha ainda funcional mesmo depois de 50 anos de miséria sob o regime comunista.

Expectativa de Vida

Uma coisa que muito poucas pessoas comentam é que a expectativa de vida de um país não necessariamente reflete a qualidade do sistema de saúde desse lugar. Por que isso acontece? Pelo simples fato de que este dado engloba todas as causas de morte possíveis em um único dado e calcula uma média de quanto uma criança recém nascida pode chegar a viver.

Um país como Iraque, Síria, Ucrânia ou Belarus, que estão em situações de guerra civil ou que ainda sofrem as consequências de desastres como Chernobyl, terá a expectativa de vida menor que Cuba, independente de ter um sistema de saúde melhor. O mesmo pode acontecer em um país como os Estados Unidos, em que muitas pessoas morrem jovens por causas evitáveis e não relacionadas à saúde — as principais causa de morte de pessoas entre 25 e 34 anos são envenenamento, acidentes de trânsito, homicídios e suicídios — ou no Brasil, com mais de 100 mil vidas por ano sendo perdidas em crimes ou acidentes de trânsito.

Quando se conseguem diminuir as mortes por causas não relacionadas a saúde, e no caso cubano isso se dá com muita coerção estatal, é possível aumentar a expectativa de vida sem nem se alterar em nada a qualidade do cuidado médico. Um estudo sobre como fatores não relacionados ao sistema saúde afetam a expectativa de vida está presente no livro The Business of Health, em que se comenta que caso os EUA tivessem as mesmas taxas de mortes trágicas de outros países, a sua expectativa de vida seria a mais alta do mundo.

Na Ilha, de acordo com as Nações Unidas, a taxa de homicídios é de 4.2 por grupo de 100 mil habitantes, a terceira menor das Américas atrás apenas de Canadá e Chile. Há 6.41 mortes por grupo de 100 mil pessoas em acidentes de trânsito, o que coloca o país na 146ª no mundo. Mortes por outros tipos de violência totalizam 4.24 por 100 mil, levando a posição 97 no ranking mundial. Assim vemos uma significante redução das causas externas de mortalidade quando se comparando o país com outros de características econômicas similares.

Portanto, em Cuba se retiram as causas externas de mortalidade, com o desarmamento amplo e irrestrito da população — para facilitar o controle dela por parte do governo –, com a proibição (ou completa inexistência) de vários tipos de drogas e medicamentos, com a dificuldade de acesso a veículos automotivos — a existência de poucos carros implica em menos acidentes –, entre outros aspectos. 

Juntando-se a isso, o controle do governo sobre a rotina da população e o baixo acesso a alimentos — levando a reduzida obesidade e doenças associadas –, os números conseguem ser “melhores” que os de outros países que apresentam qualidade de vida da população mais elevada. Situação parecida é vista no interior brasileiro, mesmo do Nordeste, em que várias pessoas vivem bem mais de 80 anos mesmo sem acesso a um sistema de saúde de qualidade.

Não é a saúde cubana em si que faz a população a viver mais — se é que realmente vive, já que esses dados são apresentados pelo mesmo governo que fornece diversas outras estatísticas duvidosas –, mas ausência de causas externas de morte que afetam as estatísticas que desaparecem conforme o governo reduz a liberdade das pessoas. Querendo ou não, a liberdade pode impor esse trade-off às pessoas.

Conclusão

É bonitinho falar que Cuba tem um sistema de saúde que faz sua população viver mais e melhor — eu mesmo infelizmente defendia isso quando tinha 10 anos de idade e estava no auge da doutrinação escolar –, entretanto isso não está baseado na realidade.

Cuba mostra que pessoas superam as restrições que um governo autoritário impõe e que conseguem sobreviver a despeito de tudo que é feito contra elas. A Ilha Caribenha se destaca por ter uma população alegre, inventiva, trabalhadora que batalha diariamente para sobreviver às mazelas que mais de 50 anos de ditadura lhe trouxe.

Atribuir ao sistema socializado de saúde cubano os méritos que residem em outros aspectos da vida da população da ilha é no mínimo uma ignorância, quando não mau-caratismo. Tomara que os próximos anos mostrem como essa história tão difundida do sistema de saúde de excelente qualidade não passa de um mito repetido a esmo por muitas pessoas que não fazem ideia do que estão falando ou que tentam vender uma ideia de uma utopia que nunca se concretizou.

Cuba tem muito a ganhar com a queda do socialismo. Que os órfãos da URSS e do controle estatal espalhados pela imprensa parem de difundir mentiras por aí. Os cubanos agradecem.

Um comentário:

  1. Cuba, o mais miserável país da América Latina! Esses "médicos" cubanos sã na verdade enfermeiros da quinta categoria, feitos em massa para países atrasados e, a maioria desses "médicos" são criminosos espiões comunistas! Esses idiotas "médicos" cubanos só sabem limpar uma ferida, pois Cuba é uma merda primitiva que não tem tecnologia para nada! A "tecnologia" que Cuba produz são as miseráveis camisetas com a cara do assassino Guevara, feitas especiais para idiotas da América Latina, pois nem os cubanos usam essa merda em Cuba! O favelão socialista ainda produz outra merda como charutos e rum, o resto é o maior lixão do mundo que serve só para coxinhas marxistas e comunistas caviar acéfalos da América do Sul!

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