terça-feira, 1 de março de 2016

Zika e aborto: a história está se repetindo?




John Stonestreet

Mais de cinquenta anos atrás, médicos nos EUA e Europa Ocidental prescreviam a droga talidomida para suas pacientes para tratar, entre outros males, náusea e enjoo matinal em mulheres grávidas.

A droga teve resultados trágicos cujos efeitos ainda são sentidos hoje.

No final da década de 1950, começaram a aparecer registros de anormalidades em crianças cujas mães haviam usado essa droga durante a gravidez. As anormalidades mais conhecidas
e dolorosas envolviam bebês que nasciam sem braços e pernas.

O que não é surpresa alguma é que em poucos anos, a droga foi removida do mercado, mas o caso trágico da talidomida não terminou aí. Como o historiador Daniel K. Williams nos diz em seu recente livro “Defenders of the Unborn” (Defensores dos Bebês em Gestação), a tragédia da talidomida abriu a porta para o aborto legalizado nos Estados Unidos.

Os apoiadores de leis de aborto liberalizado aproveitaram a tragédia para justificar a expansão da disponibilidade do aborto, que na época era em grande parte limitado aos casos em que a vida da mãe estava em perigo. Eles argumentaram que as mulheres que haviam tomado a talidomida deveriam ter o direito de abortar seus bebês em gestação, ainda que não houvesse nenhum jeito de saber se seus bebês haviam sido afetados pela droga.


O argumento deles, como documenta Williams, era que o medo de dar à luz uma criança deficiente era suficiente para justificar a expansão da disponibilidade do aborto.

A fotos trágicas de crianças sem pernas e braços, junto com alguns casos famosos, influenciaram as assembleias legislativas americanas, inclusive a Califórnia, em 1966. Em 1972, vinte estados dos EUA haviam legalizado o aborto em casos em que a vida e a saúde física da mãe não estavam sob ameaça.

Cinquenta anos mais tarde, numa parte diferente dos EUA, a história, se não está se repetindo, está pelo menos parecendo rimar, como Mark Twain poderia ter dito.
Eric Metaxas recentemente disse no programa BreakPoint sobre como a epidemia do Zika na América Latina está sendo usada por promotores do aborto como arma contra a proteção à vida dos bebês em gestação. A parte mais afiada dessa arma é o elo presumido entre o Zika e a microcefalia, “uma ‘desordem neurodesenvolvimental’ caracterizada por tamanho da cabeça consideravelmente menor.”

Digo “presumido” porque, como um recente artigo do jornal New York Times diz aos leitores, “o elo entre a microcefalia em bebês e o Zika não foi comprovado.” Tudo o que sabemos com certeza é que autoridades internacionais de saúde “suspeitam fortemente” que haja um elo.

Um exemplo dessa incerteza é a Colômbia. Embora se saiba que milhares de mulheres colombianas grávidas contraíram o Zika, não existe caso confirmado de nenhuma delas dando à luz filhos com microcefalia.

Conforme disse o vice-ministro da Saúde da Colômbia ao New York Times, “Há muita coisa que não sabemos sobre o [Zika]. O que sabemos é que há uma disparidade crescente entre o que estamos vendo na Colômbia e a experiência no Brasil”

Apesar dessa “disparidade crescente,” o New York Times e outros têm certeza de que liberalizar as leis de aborto agora é o caminho certo. Isso ignora não só fatos reais da epidemia do Zika, mas ignora também o fato mais importante de todos: a humanidade dos bebês no útero.


Como foi o caso cinquenta anos atrás, a ansiedade sobre a possibilidade de dar à luz uma criança com deficiência é considerada como razão suficiente para matar o bebê em gestação. A mensagem é clara: Qualquer coisa que seja menos que uma “criança perfeita” é descartável. Na era dos testes genéticos pré-natal, as implicações dessa mensagem são de dar calafrio.

E conforme a história mostra, não vai parar aí. O Zika, como a talidomida, é parte de uma arma cuja meta é o aborto por qualquer motivo. Cinquenta anos atrás, uma tragédia levou a uma tragédia maior cujos efeitos ainda estão nos EUA. Vamos orar para que a mesma coisa não aconteça de novo.

Talvez seja o povo da América Latina que deveria construir uma muralha em sua fronteira [para se proteger das más influências dos EUA].

Traduzido por Julio Severo do original em inglês do ChristianHeadlines: Zika and Abortion Part II: is History Repeating Itself?

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