sábado, 16 de abril de 2016

E se DEUS for de Direita? DEUS é de direita por declaradamente se opor à ideologia esquerdista quanto por pregar padrões governamentais e culturais politicamente considerados como direitistas.


"Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;"
Mateus 25:41

“Nada mais difícil do que admitir que Deus não é socialista.” – Roberto Campos [1]

É muito conhecida a famosa frase de Tertuliano, um dos líderes do cristianismo primitivo: “O que Atenas tem a ver com Jerusalém? Que acordo há entre a Academia e a Igreja?”. Tertuliano lançava essa pergunta retórica para questionar o relacionamento entre filosofia e teologia. 

A ironia, no entanto, está em ser comumente aceito que ele próprio construiu sua doutrina com base em pressupostos filosóficos derivados do estoicismo. Percebe-se que o problema de Tertuliano não era com a filosofia em si, mas apenas com a tradição platônica. 

Como ele odiava o platonismo, uma das visões filosóficas mais influentes de sua época, Tertuliano se opôs a qualquer relacionamento entre teologia e filosofia, mesmo que ele
próprio baseasse sua teologia, em parte, em um sistema filosófico outro.

A mesma ironia se manifesta nas declarações atuais de muitos cristãos contra qualquer relacionamento entre teologia e política. Muitos irmãos bradam que não devemos abraçar nenhuma ideologia política, nenhuma tentativa de atribuir a Deus uma percepção específica sobre o governo civil, mas eles próprios são rápidos a apresentarem uma síntese entre cristianismo e marxismo como a visão política correta para todo cristão.

O que eles estão criticando, então? 

Assim como no caso de Tertuliano, quem critica o relacionamento entre teologia e política, mas assume inconscientemente padrões comumente percebidos como esquerdistas no espectro político, na verdade, não está criticando o relacionamento entre teologia e política, mas o relacionamento entre teologia e direita política.

Infelizmente, há uma ingenuidade hermenêutica que assola a mentalidade de crentes muito respeitáveis. Achar que é possível estar acima de qualquer posição política (“não sou nem de direita, nem de esquerda”) é costumeiramente uma tentativa frustrada de se manifestar um ser politicamente transcendente.

O problema é a maioria de quem não se define dentro do espectro político é alguém que tem como posição política aquilo que a cultura lhe inculcou inconscientemente. É como quem diz “não sou nem calvinista, nem arminiano”: quase sempre é arminiano.

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"O coração do sábio está à sua direita, mas o coração do tolo está à sua esquerda."
Eclesiastes 10:2

É por isso que quase todo crente que é contra uma visão cristã da política acaba sendo, consciente ou não, um defensor de conceitos esquerdistas. Lançou-se há pouco tempo certo livro de um respeitável autor brasileiro que se inicia dizendo que não pretende defender nem a direita, nem a esquerda em sua obra, mas que logo passa a pregar a favor de pontos centrais da ideologia marxista.

Ou o autor mentiu em suas páginas iniciais – o que não acredito que seja o caso –, ou ele simplesmente não conhece os próprios pressupostos ideológicos.

De fato, esta situação se dá porque há anos existe uma hegemonia esquerdista nas publicações cristãs sobre economia no Brasil. Por muito tempo, os livros sobre cristianismo e política publicados em solo nacional sofriam de uma unilateralidade de ideais declaradamente de esquerda, indo da socialdemocracia ao marxismo mais descarado.

Editoras inteiras abraçaram uma visão progressista de mundo e se dedicaram a vender essa ideia. O resultado de tudo isto foi uma quase completa esquerdização da fé. Cristianismo e marxismo são quase a mesma coisa na mente de muitos.

Além do cenário editorial, várias páginas da internet, quer sejam blogs, páginas do Facebook ou apenas comentários avulsos em sites diversos, declaram cabalmente que “Jesus é socialista”, que o “Cristianismo é de esquerda”, e que “marxismo é sinônimo de cristianismo”.

Em um texto compartilhado por muitos pastores – alguns deles de bastante destaque –, assumindo o lugar de Jesus, Gregório Duvivier diz: “Se você ler [a Bíblia] direitinho vai perceber, pastor-deputado, que eu [Jesus Cristo] sou de esquerda”. E continua mais à frente: “Sou mais socialista que Marx, Engels e Bakunin – esse bando de esquerda-caviar. Sou da esquerda-roots, esquerda-pé-no-chão, esquerda-mujica”[2]

A receptividade efusiva de tantos pastores e membros da igreja evangélica brasileira ao famoso e polêmico texto de Duvivier representa o culminar de toda uma doutrinação cultural hegemônica que há anos domina a igreja evangélica nacional. Para muitos, Deus é de esquerda.

Essa hegemonia esquerdista, graças ao bom Deus, começou a ser quebrada bem lentamente, mas com frutos reais muito visíveis no cenário nacional.

No cenário cristão, Franklin Ferreira dedicou espaço na sua Teologia Sistemática (e na versão resumida da mesma) para discutir economia e política. Em sua revista teológica Teologia Brasileira, vários artigos e debates sobre política tem sido postadas periodicamente.

Norma Braga, em seu A Mente de Cristo: Conversão e Cosmovisão Cristã, fez análises culturais importantes de um viés bem distante das tão comuns esquerdas nacionais. O livro representa o culminar de mais de dez anos de análise cultural em seu famoso blog. 

Algumas traduções importantes tornaram-se vistosas, culminando na publicação parcial de Política Segundo a Bíblia, de Wayne Grudem, e Visões e Ilusões Políticas, de David Koyzes, ambos por Edições Vida Nova.

Alguns eventos cristãos começaram a dar atenção a este tipo de assunto, também. Em setembro de 2014, a Igreja Batista do Morumbi sediou um encontro teológico chamado “Cristo & César: refletindo sobre a complexa relação do cristão com a política”, com a presença de homens como Luiz Felipe Pondé, Franklin Ferreira e Jonas Madureira. 

Em maio de 2015, a Academia de Formação em Missões Urbanas e o Núcleo de Estudos em Cosmovisão Cristã organizaram o “Primeiro Fórum Nordestino de Cosmovisão Cristã: Política, Cultura e Sociedade”, chamado pelos seus detratores de “Primeiro Fórum Nordestino da Direita Evangélica”, com a presença de Solano Portela, Norma Braga e vários outros preletores, incluindo este que vos fala.

Este site, então, surge dentro deste momento cultural brasileiro. É uma tentativa de quebrar a quase hegemonia cultural que doutrina os crentes ao marxismo e às outras formas de religião esquerdista. Adianto, então, que Deus não é de esquerda. Dizer isso já é chocante o bastante, mas não chocante o suficiente.

Quero declarar abertamente que este site defende que a Bíblia diz coisas diametralmente opostas ao que os cristãos progressistas têm defendido por anos em solo tupiniquim. Para isto, a clareza se torna necessária. Defenderei, nas postagens deste site, que Deus é de direita.

Você pode se assustar com este tipo de declaração, mesmo se você for um direitista. É claro que, de várias formas, não podemos dizer que Deus seja de direita. As próprias definições de direita e esquerda são imprecisas [3]

Talvez poderíamos dizer que existe esquerda e existe o resto. A esquerda é um produto cultural facilmente identificável, com ideais, visões e desejos claros e específicos. O termo “direita” surgiu como um mero xingamento para tudo-aquilo-que-não-é-esquerda. 

Se de um lado existe um sistema de crenças claro, na “direita” existem conservadores, nacionalistas, fascistas, neoconservadores, democratas-cristãos, anarquistas de mercado, teocratas, monarquistas, reacionários de almanaque defensores da ditadura militar e tudo o quanto [4]. Deus certamente não coaduna com uma série de visões comumente tratadas à direta do espectro político.

Podemos dizer, com certa segurança, que classificar alguém como de direita, no fim das contas, é nada mais que dizer que alguém não é de esquerda. Se isto é fato cabal, pode ser debatido, mas é exatamente isto que quero transmitir nesta página. 

Deus é de direita, no sentido de que, total e cabalmente, ele não coaduna com qualquer ponto da ideologia de esquerda, quer seja no seu modelo mais extremo, como no comunismo marxista, como em suas formas mais acovardadas, como na socialdemocracia dos vulgos centristas.

Deus é de direita por declaradamente se opor à ideologia esquerdista quanto por pregar padrões governamentais e culturais politicamente considerados como direitistas.

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Digo mais. É incomodo que o progressista seja tão claro e até mesmo descarado quando declara suas sínteses entre esquerda e cristianismo, enquanto os cristãos conservadores se veem presos em uma jaula de excesso de boa educação, quando não, amarrados pelo pescoço às grades da covardia. 

As esquerdas berram a plenos pulmões que Jesus é marxista, mas nós não temos o pingo de ânimo para declarar que existe uma posição política próxima daquilo que a Escritura declarar ser a vontade de Deus. Em um duelo tão virulento pela mentalidade política dos cristãos, dar a esquerda o monopólio da clareza é um pecado que crava a espada inimiga fundo em nosso peito.

É obvio que preciso dar o braço a torcer. Sei que declarar assim tão escancaradamente que Deus é de direita é problemático porque definir Deus de forma tão aparentemente conclusiva é complicado, e fazê-lo em termos políticos é quase absurdo – ainda mais em termos políticos que tomam partido, se me permitem o trocadilho. Eu argumentaria que é claro que Deus não pode ser extensivamente definido, mas ele pode ser percebido pela sua revelação, a Bíblia Sagrada. 

Se ele próprio desejou manifestar seus mandatos e sua estrutura criacional para algo que, nos dias atuais, pode ser chamado de algum modo de direita política, não deveríamos ser temerosos em usar tal linguagem – que mesmo imprecisa de muitas maneiras, não é de forma alguma inverdadeira.

Falo, claramente, do Deus cristão. Pressuponho aqui a veracidade do cristianismo histórico e seus axiomas fundamentais. Creio que os escritos bíblicos representam a fala de Deus através de seres humanos, e que entendidos corretamente, podemos conhecer a vontade de Deus para seu povo em todas as áreas da vida.

Cabe deixar claro, antes de tudo, que meu objetivo aqui não é montar uma apologia a qualquer modelo político completo, por mais que defenda de modo bem aberto uma visão de direita [5]. Aqueles empolgados com as questões econômicas e sociais poderão me acusar, em determinado momento, de liberal clássico; depois, de anarquista de mercado; mais adiante, de conservador. Haverá até quem me acuse de socialista light em determinados momentos. 

Confesso que não vou me esforçar para declarar algum imprimatur sobre qualquer ideologia política específica, mas estou comprometido em dialogar com ideias das mais variadas correntes – vou desagradar gente das mais variadas visões da direita, e vou receber o ódio mortal dos esquerdistas, e talvez, receber um olhar de desprezo ou outro de todos os espectros intermediários.

Além disto, é bom lembrar que eu possuo minhas próprias convicções políticas que, de alguma forma, afetam minha leitura de tudo, inclusive do texto bíblico. 

Sou um conservador-liberal (termos que fazem sentido quando unidos para definir uma visão política, mas que seriam contraditórios na teologia). Minha esperança é que a Palavra tenha encontrado no meu coração abertura promovida pelo Espírito suficiente para que meus próprios pressupostos tenham sido redefinidos pela Santa Palavra da Verdade.

Algo que eu faço nas minhas pregações e exposições bíblicas acerca de política, e que talvez quem me acompanha apenas pela internet não imagine, mas que tentarei trazer a este site, é justamente levantar muitas críticas ao comportamento da Direita política do Brasil. 

A diferença é que a Bíblia critica comportamentos dos que se posicionam politicamente à direita (virulência, achar que mudanças políticas são messiânicas, usar argumentos evidentemente espúrios para suas ideias etc.), enquanto a Bíblia critica a esquerda em sua própria ideologia (estatismo, desculpabilização do criminoso, distribuição forçada de renda etc).

Essa é a diferença fundamental que guia esta obra. O direitista que se torna cristão deveria se tornar um direitista melhor, enquanto o esquerdista que se torna cristão deveria deixar de ser esquerdista.

Meus textos, também, não trarão uma teoria política completa, coesa e toda suficiente. Um dos modos mais tolos de relacionar os pressupostos cristãos às ciências é acreditar que a Bíblia é tudo o que precisamos para compreender a totalidade das coisas.

Um educador físico precisa compreender o que a Bíblia diz sobre o cuidado com o corpo, sobre a natureza física do homem e tudo o mais, mas nenhuma epístola paulina vai descrever a melhor maneira de queimar gordura localizada ou possuir um abdômen bem torneado. Isto ele terá que aprender através de outras fontes. 

Da mesma forma, um cientista político ou estudante de assuntos governamentais precisa observar profundamente tudo o que a Escritura estabelece acerca de ciência política. Porém, não temos um modelo governamental completo na Escritura. Muitas coisas só serão conhecidas através do estudo profundo da realidade através das lentes do Evangelho.

É por isto que, em alguns momentos dos estudos, indicarei várias possibilidades distintas de aplicação do mesmo princípio que o texto assevera, indicando ao leitor a possibilidade de aprofundamento no estudo de perspectivas viáveis ao pensamento cristão.

Por fim, queiro deixar claro que não estou dizendo que Deus só está interessado na salvação de homens e mulheres politicamente à direita. Jesus teve entre os doze discípulos homens como Simão e Judas Iscariotes, ambos membros de um grupo judaico radical chamado zelote, empenhados em um combate armado anti-imperialista.

Ao mesmo tempo, Jesus chamou o publicano Levi Mateus para ser também um de seus apóstolos – um homem que trabalhava justamente cobrando impostos para o Império Romano. Entre as mantenedoras de Jesus, existia “Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes” (Lucas 8.3) que seguia e sustentava Jesus com seus bens.

Pessoas das mais variadas perspectivas políticas podem encontrar salvação em Jesus. Meu único argumento é que, se tal pessoa passar a aplicar os ensinos do Novo Testamento em sua vida, ela não permanecerá politicamente da mesma forma como chegou ao cristianismo.

Espero que este site seja um instrumento para tal.



Yago Martins é casado com Isa Cavalcante, pastor na Igreja Batista Maanaim, professor e diretor da Academia de Formação em Missões Urbanas, coordenador do Núcleo de Estudos em Cosmovisão Cristã e bacharelando em Teologia. Autor de “Você não precisa de um chamado missionário“, publicado pela BTbooks.


[1] Folha de S.Paulo – Roberto Campos: O “neobobismo” dos jesuítas – 06/04/97.

[2] http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2015/06/1645957-querido-pastor.shtml?cmpid=comptw

[3] Meu amigo André Venâncio explica isso de forma magistral em Armadilhas do vocabulário político. Disponível em: <http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=397>. Acesso em: 27 abr. 2015.

[4] http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/06/1647350-rodrigo-da-silva-nao-existe-direita-no-brasil.shtml

[5] Para uma análise e crítica cristã das várias ideologias políticas e ainda conhecer uma perspectiva supra-ideológica que bebe da doutrina social católica e do neocalvinismo holandês, ver KOYSIS, David. Visões e Ilusões Políticas. São Paulo, SP: Vida Nova, 2015.

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