quarta-feira, 29 de junho de 2016

Conservador? Direitista? Cristão? Ou produto pirata?


Julio Severo

Há um segmento no Brasil que alega defender valores morais e cristãos, mas ostenta boca suja, e acha que isso faz parte do conservadorismo, ignorando completamente que boca suja nada tem a ver com valores morais e cristãos.

Boca suja nunca foi marca de conservadorismo e muito menos de Cristianismo. É marca registrada de esquerdismo, especialmente o marxismo de Lênin.
Esse segmento diz que defende a vida e a família, mas igualmente defende a Inquisição, que matava a vida e a família de multidões de inocentes. É uma contradição
cósmica.

Defender matança de inocentes, seja através de aborto ou de Inquisição, não é marca de conservadorismo, mas de ideologia extremista e espírito de seita esotérica radical.

Esse segmento alega que o conservadorismo dos EUA é sua maior inspiração. Mas o conservadorismo americano tradicionalmente rejeita boca suja e é o maior denunciador da Inquisição que já existiu na história da humanidade. O mesmo conservadorismo americano que hoje inspira uma luta sistemática contra a indústria sangrenta do aborto também inspirou, durante séculos, uma luta sistemática contra a indústria sangrenta da Inquisição.

O conservadorismo americano se destaca por sua esplêndida liderança histórica contra a Inquisição e liderança moderna contra o aborto. E, sim, para os que nunca perceberam: a essência e maioria do conservadorismo americano sempre foi evangélica.

Entretanto, o segmento radical do “conservadorismo” brasileiro quer, xingando todos os discordantes, desculpar a Inquisição e ainda posar de imitador do conservadorismo americano. Quer fazer parecer que a essência do conservadorismo é católica pró-Inquisição, quando tal imagem está longe da realidade. Tal imagem é tudo, menos conservadora e americana.

Isso nada tem a ver com rivalidade entre evangélicos e católicos, pois o segmento brasileiro tem muito mais afinidades e características de seita esotérica do que qualquer outra coisa. Tem paixão por filosofias “iluminadas,” mas não tem a mesma paixão pela Palavra de Deus.

Esse segmento — que na teoria é americanista, mas que na prática está em contradição e oposição ao conservadorismo americano — só pode ser definido então como produto pirata e pervertido, criado para confundir, desestabilizar e arruinar o conservadorismo brasileiro.

Para dissipar toda confusão: quem quer que queira seguir o conservadorismo americano precisa entender que o conservadorismo americano não tem e nunca teve nada a ver com a defesa da Inquisição e de palavrões.

Como explicar então a defesa da Inquisição entre extremistas católicos direitistas do Brasil?
O espírito e natureza da Inquisição têm origem no islamismo e a origem da defesa da Inquisição entre católicos direitistas no Brasil não tem origem no conservadorismo americano. 

Quem me explicou isso foi um filósofo católico pró-vida e conservador do Brasil. Ele me esclareceu que a Inquisição sangrenta tem muito a ver com o islamismo e que sua defesa entre direitistas católicos do Brasil está ligada a Olavo de Carvalho, que tem raízes filosóficas e espirituais islâmicas. Ele disse:

A Inquisição só apareceu no século XIII. Durante doze séculos, a Igreja Católica não ousou defender a fé católica por meios coercitivos. No ano 385, quando o imperador Máximo condenou o herege Prisciliano à morte, Santo Ambrósio, bispo de Milão, com o consenso de quase todo o episcopado da época, condenou a medida como contraria à mansidão do Evangelho. Em 866, o Papa Nicolau I, consultado pelo rei da Bulgária sobre se o rei poderia usar a força para converter os pagãos de seu reino, respondeu que “Deus ama a homenagem espontânea, pois, se desejasse usar a força, ninguém conseguiria resistir à sua onipotência.”
É da convivência com os muçulmanos que surge a ideia de um tribunal da inquisição coercitivo, o qual condena à fogueira os hereges impenitentes e mancha a história da Igreja Católica com uma nodoa de vergonha. É dos muçulmanos que os católicos tomam também a ideia de “guerra santa.”

A Igreja Católica, pelas declarações oficiais dos últimos papas, já reconheceu que a Inquisição era “incompatível com a mansidão do Evangelho” (para citar as palavras de Santo Ambrósio). A defesa que Olavo faz da Inquisição, em meu humilde modo de ver, pretende matar dois coelhos com uma só cajadada: 
1) Acostumar os católicos direitistas com um tipo de religiosidade sanguinolenta e violenta, mais própria dos adeptos de Maomé do que dos seguidores de Cristo (basta observar como os olavetes se comportam de maneira agressiva, especialmente contra quem ousa contestar seu mestre, tais como os muçulmanos fazem em defesa de seus mestres). 
2) Tal como no caso da suposta excomunhão dos comunistas, a defesa da Inquisição desmoraliza a autoridade espiritual da hierarquia católica, que é pintada pelo Olavo como uma instituição insensata que pede perdão por aquilo que praticou e que, além disso, por algo que era justo, belo e bom. 
Quando eu denuncio o Olavo na Igreja Católica, a maioria me responde que ele “converte” muita gente para o catolicismo. Sublinho que se trata de um catolicismo muito esquisito, para dizer o mínimo, pois não dá para ser católico sem hierarquia.O catolicismo do Olavo é esquisito porque faz abstração completa da hierarquia. Os olavetes batem no peito que são católicos, xingam os protestantes com palavrões no Facebook, mas não se preocupam em guardar-se de obscenidades. É um “catolicismo” mucho loco que faz parecer uma torcida de time de futebol, que inclusive se dá o direito de xingar o técnico [o papa] e bater nos jogadores do próprio time… 
Os olavetes dão pouca atenção à liturgia oficial, salvo quando é para criticar supostos abusos (afinal de contas, esses padres são todos uns comunistas excomungados mesmo). Outra coisa que Olavo faz é viver à custa do catolicismo popular brasileiro, valorizando práticas que estão muito próximas da superstição. 
O catolicismo de que o Olavo gosta não é um catolicismo de acordo com a doutrina, a liturgia e a disciplina oficial. É o catolicismo com as confusões, os sincretismos e a ignorância própria da religiosidade popular brasileira, que constitui um bom adubo para a ascensão do misticismo de natureza islâmica como religião superior. 
Ao contrário do cristão que tem a obrigação de confessar a fé mesmo sob risco de morte, o muçulmano pode ocultar sua própria crença se com isso ajuda melhor a expansão do islamismo.
Está aí a opinião de um filósofo católico brasileiro.

O conservadorismo americano, que supostamente é a maior fonte de inspiração para muitos direitistas católicos do Brasil, não tem nada a ver com palavrões, defesa da Inquisição, sincretismos, misticismo islâmico e outros ismos suspeitos.

O fenômeno que parece estar ocorrendo no Brasil é que vendedores piratas mascararam seu produto “conservador” com suas próprias qualidades inexistentes no conservadorismo americano e o estão vendendo (através de cursos e livros) como se fosse cópia legítima do conservadorismo americano.
O Brasil, já acostumado a tantos outros produtos piratas, está aceitando e pagando numa boa essa versão fajuta e rejeitada nos Estados Unidos.

O resultado final desse empreendimento não vai ser menos falso do que o esforço para vender um conservadorismo regado a palavrões, superstições e Inquisições.

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