sábado, 23 de julho de 2016

Desde quando Porta dos Fundos tem graça?

Porta dos Fundos - Gregório Duvivier, Fábio Porchat no lançamento de Contrato Vitalício

Por Flávio Morgenstern


O Porta dos Fundos se intitula um portal de "humor", mas é apenas um grande modelo de negócios. Quem afinal já RIU com Porchat e Duvivier?

O filme “Contrato Vitalício”, do portal Porta dos Fundos, que reúne gente famosa por ser famosa que nunca fez nada na vida além de filminho de Youtube, foi um fracasso vergonhoso. Teve liberação de R$ 7,5 milhões via Lei Rouanet, mas só conseguiu vender 375 mil ingressos em 3 semanas em cartaz.

Como relata a Folha Política, um outro filme brasileiro, “Um suburbano sortudo”, estreou com o dobro da audiência, chegando perto de 800 mil espectadores. Na última semana, o filme do Porta dos Fundos teve 14 mil espectadores com todo o aporte de R$ 7,5 milhões. Nosso humilde site, sem um centavo de dinheiro público, teve cerca de 20 vezes isso.

O Porta dos Fundos sofre do que os gregos chamam de hybris, uma arrogância fatal, um comportamento além do humano, como se tivesse poder sobre o destino, a natureza ou as leis universais.


Como um canal de Youtube com videozinhos de 2 minutos, alguém pode até assistir Porta dos Fundos na falta de algo melhor. É assim que funciona 99% da audiência do negócio: gente querendo enrolar no trabalho, já tendo vivido uma situação parecida com a que eles retratam, mostrando o vídeo para os colegas para não ter de falar de algo relevante para a própria vida o tempo integral de seu horário comercial.

É a famosa “Nothing Box” que o humorista (este sim) Mark Gungor relata que existe no cérebro masculino: o lugar preferido dos homens, um lugar de nada. Se homens pudessem, iriam para a Nothing Box o tempo todo. O que mais querem é se esvaziar da realidade. 

Assista:


Adicione-se ao fato do Porta dos Fundos ser apenas uma Nothing Box a política: seus videozinhos não são engraçados. São apenas passatempo, mas se tornam cada vez mais propaganda partidária, num país contaminado de A a Z pela onda esquerdista.

Seus videos não são exatamente feitos para alguém rir: são feitos como tática de ataque. Foi a estratégia de marketing para seu modelo Nothing Box não cansar. Ao invés de esvaziar a cabeça no escritório, seus vídeos agora servem para que alguém de esquerda, ou mesmo petista, tenha algo o que dizer, mesmo pós-impeachment e com todo o falhanço do projeto progressista.

Se a esquerda na vida real significa centenas de milhares de venezuelanos correndo pela fronteira com a Colômbia para buscar comida, ou os bilhões e bilhões roubados do trabalhador brasileiro pelo PT para gerar uma crise brutal, basta sacar o gasto tripé machismo-homofobia-racismo para fazer um videozinho reducionista e o Porta dos Fundos ganhar uns compartilhamentos.


As pessoas comentando “KKKKKKKKK” nos vídeos do Porta dos Fundos não estão, de fato, rindo: estão apenas concordando com a visão idílica, pueril e reducionista do grupo, e compartilhando para tentarem se justificar, confirmar que ainda possuem motivo para acreditar cegamente em suas superstições, mesmo que toda a vida real ao redor mostre que aquilo são apenas explicações fáceis com conceitos reduzidos, e não a doce e difícil desilusão das fantasias adolescentes, que, superada, cria novos conceitos, visões mais abrangentes e a dor de admitir que seu aparente adversário estava correto – este processo que caracteriza a maturidade.

O Porta dos Fundos é um excelente modelo de negócios. Sua propaganda anti-capitalista vende que é uma beleza. É Excel puro: a demanda do Brasil é por gente rica e descolada pagando de minoria e criticando a compra e venda como forma de enriquecer, então estão eles enriquecendo tendo como oferta um monte de gente rica e descolada pagando de minoria e criticando a compra e venda como forma de enriquecer.

É a maravilha do capitalismo: neste sistema, você pode ficar rico falando mal do capitalismo. Na social-democracia, o dinheiro dos trabalhadores é transferido para os companheiros do governo, mesmo improdutivos, através de mecanismos como a Lei Rouanet. E no socialismo, eles te matam.

Basta lembrar de Fabio Porchat reclamando de ninguém querer ver seu outro filme, exigindo lei para percentual de filmes nacionais e o público ser obrigado a assistir o que não quer assistir – e sua conta bancária, por mera coincidência, acabar sendo a maior beneficiária do “incentivo à cultura”. Pro domo sua.


Mas, fora ser uma empresa rentável, o Porta dos Fundos não é nada além de propaganda e uma Nothing Box que já se tornou mais chata e repetitiva do que propaganda de cerveja. 

Ele não é engraçado: no máximo, útil para pessoas ricas e descoladas se sentirem pobres, revolucionárias e contrárias a injustiças sociais pré-fabricadas. Além, claro, de poder fazer filmes ruins e não precisar pagar o prejuízo: deixe que o dinheiro do pagador de impostos brasileiro faça isso, e que eles “lucrem” mesmo sem conseguir vender o seu produto.

Isto funcionaria com vídeos gratuitos de 2 minutos e os botões “Curtir” e “Compartilhar” de redes sociais. Agora, mesmo que não seja colocado em palavras, instintivamente o próprio público do Porta dos Fundos sabe que um filme dos assim chamados “humoristas” deve ter tanta graça quanto um velório, o Zorra Total, o programa do Marcos Mion, a Voz do Brasil ou o boletim do trânsito. Até um filme da Praça É Nossa parece mais promissor.


É a hybris de empresários trabalhando com jovens descolados achando que são artistas. São ótimos para lucrar, são ótimos para arrancar dinheiro do público antes mesmo de o público querer ver seu filme via Lei Rouanet. Mas para fazer o público dar uma risadinha em seu filme e recomendá-lo para os melhores amigos, inclusive os riquinhos esquerdistas de Vila Madalena? Aí faltará a coisa que o Porta dos Fundos menos tem: graça.

Phonte: Senso Incomum

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