quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Introdução à reflexão sobre os desigrejados


by Fabio Blanco

Nunca fui um entusiasta de movimentos religiosos independentes. Acredito que uma religião, para ser considerada como tal, necessita, consolidar uma história, estabelecer também um alcance amplo que justifique sua existência. Dessa maneira, um movimento independente seria simplesmente sua negação, pois seria a negação da própria história dela.

Ainda assim, não posso deixar de observar que, com a diluição moderna do pensamento religioso e das próprias formas religiosas, o fenômeno de pessoas que identificam-se com
uma religião, mas que não frequentam uma comunidade, é esperado e até compreensível. 

Principalmente no meio protestante, onde a identificação se encontra muito mais na comunhão doutrinária do que na participação no culto, a existência, cada vez mais, de pessoas que, apesar de ser enxergarem com cristãs não frequentam mais reuniões da igreja, é algo que não surpreende.

Essa realidade, porém, leva qualquer pensador sério da religião a diversas reflexões. Um fato que já se tornou comum e incontestável não pode ser ignorado por quem se propõe a pensar a vida religiosa. E o primeiro e óbvio questionamento que se faz é sobre a legitimidade da situação. 

Poderiam os chamados desigrejados serem considerados membros da igreja de Cristo? Obviamente, essa pergunta leva a uma outra reflexão: o que é a igreja de Cristo? É certo que os doutrinadores não teriam dúvida em responder essa pergunta dizendo que ela é formada pelos cristãos de todo o mundo e que ela se manifesta na reunião física de seus membros. 

No entanto, foi o próprio João Calvino, iniciador da reforma protestante, quem afirmou, categoricamente, que a igreja não pode ser apontada com os dedos. Até que ponto então ela necessita existir como local identificável e até que ponto um cristão, para se identificar como tal, precisa estar fisicamente presente nesse espaço?

Observe que, somente nesta pequena reflexão, já é possível levantar quatro matérias importantes sobre a Igreja: o que ela é, quem faz parte dela, como ela se configura e o que caracteriza sua existência visível?

Diante disso, pretendo desenvolver calmamente cada uma dessas questões e tentar elucidar um pouco esse tema que tem incomodado alguns e instigado outros.

Se, por um lado, há aqueles que apressam-se em condenar quem, por algum motivo, não frequenta regularmente os cultos de uma comunidade cristã local, por outro, há um número crescente de cristãos sinceros que, apesar de não frequentarem igrejas, creem exatamente nas mesmas doutrinas pregadas nos cultos.

É papel, portanto, de qualquer pensador da religião, que se apresente como alguém sério e responsável, destrinchar esse problema.

Não me esquivarei desse desafio!

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