quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Cristãos e o Halloween


Halloween. É aquela época do ano em que o ar fica mais geladinho, os dias mais curtos, e para muitos jovens americanos aumenta empolgação e expectativa para o feriado mais sombrio e aterrorizante do ano.

O comércio também se anima com a perspectiva de aquecer suas caixas registradoras com uma média de US$ 79,82 por domicílio, gastos em decorações, fantasias, doces e cartões. O Halloween irá gerar aproximadamente 8 bilhões de dólares esse ano.

Podemos apostar que os comerciantes não terão grandes expectativas de faturar os US$ 79,82 dos domicílios cristãos.

Muitos deles se recusam a participar do Halloween. Alguns desconfiam de suas origens pagãs; outros de suas figuras obscuras e macabras; e ainda existem aqueles preocupados com a segurança de suas crianças. Entretanto, outros cristãos escolhem participar das comemorações, seja em atividades escolares, no “doçura ou travessura” de sua vizinhança ou algum tipo de atividade alternativa em suas igrejas.

A questão é: como os cristãos devem reagir ao Halloween? É irresponsabilidade dos pais deixar seus filhos saírem pedindo “doçura ou travessura”? E quanto aos cristãos que refutam qualquer tipo de comemoração durante esse período? Estariam eles exagerando?

A origem pagã do Halloween

O nome Halloween vem da celebração do dia de todos os santos dos primórdios da igreja, um dia separado para solenemente lembrar os mártires. All Hallows Eve, na véspera do Dia de todos os Santos, se iniciava o tempo de lembrança. All Hallows Eve foi eventualmente resumido para Hallow-e’em, que então se tornou “Halloween”.

Na medida em que os cristãos se espalharam pela Europa houve um choque com culturas nativas pagãs, confrontando costumes já estabelecidos. Feriados e festivais pagãos estavam tão impregnados em sua realidade que novos convertidos os consideraram pedras de tropeço para sua fé. Para lidar com esse problema, a igreja comumente alterava a data de um feriado cristão para outro ponto do calendário que confrontaria diretamente o feriado pagão. 

O objetivo era combater a influência pagã e prover uma alternativa cristã, mas o que aconteceu com maior frequência foi a igreja “cristianizar” um ritual pagão – o ritual permanecia pagão, mas misturado com simbolismos cristãos. Foi isso que aconteceu com o Dia de todos os Santos – ele originalmente era a alternativa cristã!


Os povos celtas da Europa e Grã Bretanha eram druidas pagãos e suas maiores celebrações eram marcadas pelas estações do ano. Ao final do ano no Norte Europeu, as pessoas faziam seus preparativos para sobreviver ao inverno, colhendo suas plantações e abatendo os animais mais fracos de seus rebanhos. 

A vida diminuía de ritmo à medida que o inverno trazia a escuridão (dias mais curtos e noites mais longas), solo infértil e morte. As imagens de morte, simbolizada por esqueletos, crânios e a cor preta, são predominantes nas atuais celebrações do Halloween.

O festival pagão Samhain (pronunciado em inglês “sow” “en”) celebrava o final da colheita, morte e o começo do inverno durante três dias – de 31 de Outubro até 02 de Novembro. Os celtas acreditavam que a cortina que separava os vivos dos mortos se abria durante o Samhain permitindo que os espíritos dos mortos caminhassem entre os vivos – fantasmas assombrando a terra.

Alguns adotavam a temporada de assombrações aderindo a práticas de ocultismo como adivinhação e comunicação com os mortos. Eles consultavam espíritos “divinos” (demônios) e espíritos de seus ancestrais pedindo previsões para as estações do próximo ano, o sucesso de suas plantações e até sobre o sucesso de suas vidas amorosas.

Tentar pegar com a boca, maças boiando dentro de uma tina de água, era uma pratica pagã para predizer as “bênçãos” do mundo espiritual sobre a relação romântica de um casal.

Para outros o foco na morte, ocultismo, adivinhações e a ideia de espíritos retornando para assombrar os vivos, eram combustíveis para superstições e medos. Eles acreditavam que os espíritos estavam presos à terra até que fossem despachados com os devidos deleites – posses, dinheiro, comida e bebida. 

Espíritos que não haviam sido devidamente saciados iriam enganar (“trick”[1]) aqueles que os haviam negligenciado. O medo de assombrações só aumentava se aquele espírito tivesse sido ofendido durante sua vida “encarnada”.

Acreditava-se que os espíritos “trick-bent” assumissem formas grotescas. Iniciou-se a tradição de acreditar que usar uma fantasia para se parecer com um espírito enganaria a “alma penada”. Outros acreditavam que os espíritos poderiam ser espantados se você esculpisse uma face grotesca em uma abóbora ou outro tipo de raiz (os escoceses usavam nabos, por exemplo) e colocasse uma vela dentro – criando a abóbora de Halloween (em inglês jack-o-lantern).

Nesse mundo sombrio, supersticioso e pagão, Deus fez por sua misericórdia brilhar a luz do evangelho. Novos convertidos ao cristianismo se armaram com a verdade e deixaram de temer assombrações de espíritos que retornariam à terra. Na verdade, eles condenaram suas antigas práticas de espiritismo pagão de acordo com Deuteronômio 18:

“Não permitam que se ache alguém entre vocês que… pratique adivinhação, ou dedique-se à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium ou espírita ou que consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas.” 
(vv. 10-12).

Não obstante, esses novos convertidos tiveram dificuldade para resistir a influência cultural e familiar; eles eram tentados a retomar os festivais pagãos, especialmente o “Samhain”. O Papa Gregório IV reagiu ao desafio do paganismo e alterou a data do Dia de todos os Santos no século nono – A data foi movida para 1º de novembro, bem no meio do Samhain.

Ao passar dos séculos, o Samhain e o Dias de todos os Santos se misturaram. Por um lado, as superstições pagãs deram espaço para superstições “cristianizadas” que promoveram ainda mais medo. As pessoas passaram a acreditar que os espíritos ancestrais dos povos pagãos eram demônios e que os adivinhos eram praticantes de bruxaria e necromancia.

Por outro lado, os festivais promoviam uma grande oportunidade para folia. O “doçura ou travessura” se tornou uma oportunidade para grupos de jovens arruaceiros perambularem de casa em casa arrecadando comida e bebida para suas festas. Proprietários avarentos corriam o risco de jovens embriagados praticarem “travessuras” ou “trotes” em suas casas.

O Halloween não se tornou uma celebração americana até a imigração das classes operarias britânicas no final do século XIX. Enquanto os primeiros imigrantes podem ter acreditado em tradições supersticiosas, foi aspecto malicioso desse feriado que atraiu os jovens americanos. Gerações mais novas emprestaram ou adaptaram muitos costumes sem a referência de suas origens pagãs.

Os filmes de Hollywood também incrementaram a “diversão” com muitos personagens fictícios – demônios, monstros, vampiros, lobisomens, múmias e psicopatas. Com certeza isso não tem contribuído com a mentalidade americana, mas com certeza alguém está fazendo muito dinheiro.

A resposta Cristã ao Halloween

Atualmente o Halloween é quase que exclusivamente um feriado americano secular, mas muitos que o celebram não têm ideia de suas origens religiosas ou herança no paganismo.

Isso sem dizer que o Halloween tem se tornado mais salutar. As crianças se vestem com fantasias engraçadas, vagam pela vizinhança em busca de doces e contos de histórias de terror. Por outro lado, os adultos frequentemente se envolvem em atos vergonhosos de bebedeira e devassidão.

Então como devem agir os cristãos?


Primeiramente, os cristãos não devem reagir ao Halloweeen como os pagãos supersticiosos. Pagãos são supersticiosos, cristãos são iluminados pela verdade da Palavra de Deus. 

Os espíritos e potestades não estão mais ativos no Halloween do que estariam em qualquer outro dia do ano; na verdade, qualquer dia é um bom dia para Satanás perambular à procura de quem devorar (1Pedro 5.8), mas aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo (1João 4.4). Deus tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz(Colossenses 2:15).

Em segundo lugar, os cristãos devem reagir ao Halloween com cautela e sabedoria. Algumas pessoas temem as atividades de satanistas ou bruxos, mas os atos criminosos relacionados a essas práticas são muito poucas. A real ameaça está mais relacionada aos problemas sociais de comportamentos pecaminosos – dirigir alcoolizado, praticar vandalismo e deixar crianças sem supervisão.

Assim como qualquer outro dia do ano, nós cristãos devemos agir como bons mordomos daquilo que temos e protetores de nossas famílias. Os jovens cristãos devem ficar longe de festas de Halloween seculares, já que elas são como terreno fértil para problemas. Pais cristãos podem proteger suas crianças mantendo-as bem supervisionadas e restringir o consumo de guloseimas para aquelas em que se possa averiguar a procedência.

Em terceiro lugar, devemos reagir com a compaixão do evangelho. O mundo incrédulo, que rejeita a Cristo, vive em constante medo da morte. Não é somente a experiência da morte, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus (Hebreus 10.27). Bruxas, fantasmas, e espíritos malignos não são assustadores; A ira de Deus sobre o pecador que não conhece seu perdão; isso sim é realmente assustador.

Os cristãos devem usar o Halloween e tudo que ele traz à imaginação – imagens de morte, superstições, folia exagerada – como uma oportunidade para confrontar o mundo com o evangelho de Jesus Cristo. Deus deu a todos uma consciência que responde as suas verdades (Romanos 2.14-16), e essa consciência é nossa aliada na evangelização. 

Os cristãos devem investir tempo alimentando a consciência de amigos e familiares com as verdades bíblicas sobre Deus, a palavra, o pecado, Cristo, o julgamento futuro e a esperança na vida eterna em Jesus através do arrependimento dos pecados.

Existem muitas maneiras de se evangelizar durante o Halloween. Alguns irão adotar uma postura de “não participar”. Eles não querem seus filhos participando de situações espiritualmente comprometedoras – ouvindo histórias de fantasmas e colorindo desenhos de bruxas. Eles não querem que seus filhos vistam fantasias e saiam pedindo “doçura ou travessura”, nem mesmo que participem de eventos relacionados ao Halloween.

Essa reação normalmente provoca curiosidade e é uma boa oportunidade para apresentar o evangelho aos curiosos de plantão. Também é fundamental que esses pais expliquem sua postura a seus filhos e os preparem para enfrentar as provocações e piadas de seus colegas que desaprovam essa escolha ou mesmo o desprezo de seus professores.

Outros cristãos vão optar por eventos alternativos como “Festival da Colheita” ou “Comemorações da Reforma Protestante” – com as crianças se vestindo de fazendeiros, personagens bíblicos ou até heróis da reforma protestante. É irônico quando pensamos no Halloween como uma alternativa, mas ele pode ser uma maneira eficiente de alcançar vizinhos e familiares com o evangelho. 

Algumas igrejas deixam seus templos e realizam ações de impacto em suas comunidades, “adoçando” a vida de pessoas necessitadas com comida, presentes e a mensagem do evangelho.

Essas são boas alternativas; existem outras que não são tão boas. Algumas igrejas estão usando apresentações chamadas “Hell House”, uma estratégia de evangelismo de impacto direcionada a assustar os mais jovens e convencê-los a aceitarem a Cristo. 

Os jovens passam por diversas salas decoradas que demonstram situações pecaminosas – Mulheres passando por abortos, pessoas sacrificadas em rituais satânicos, consequências negativas do sexo antes do casamento, o perigo de festas “rave”, possessões demoníacas e outras tragédias.

Eis aqui o problema com esse tal de evangelismo “Hell House”: Para chocar uma cultura tão imunda como a atual é necessário ser realmente muito impactante. Demonstrações gráficas ou cênicas do pecado e de suas consequências são desnecessárias – as mentes dos que não creem em Jesus muitas vezes já são dominadas por tais imagens. 

O que eles precisam ver é a transformação verdadeira de vidas através do poder de Deus, e o que eles precisam ouvir são as verdades de Deus através de uma apresentação fiel do evangelho. Artifícios simplistas não são adequados para o povo de Deus.

Existe ainda mais uma opção aos Cristãos: participação limitada e não comprometedora no Halloween. Não existe nada inerentemente ruim nos doces, fantasias, ou em pedir “doçuras ou travessuras” em suas vizinhança. Na verdade, tudo isso pode promover uma oportunidade única para o evangelismo com seus vizinhos.

Até mesmo entregar doces para as crianças que passarem por sua casa – desde que você não seja mesquinho – pode melhorar sua reputação com as crianças. Desde que as fantasias sejam inocentes e as atitudes não desonrem Jesus, o “doçura ou travessura” pode ser usado para a evangelização.

Finalmente, a participação de cristãos no Halloween é uma questão da sua consciência perante Deus. Não importa qual seu nível de participação, você deve honrar a Deus se mantendo separado do mundo e demonstrando misericórdia aos que estão padecendo. O Halloween nos dá a oportunidade de fazer essas duas coisas através do evangelho de Jesus e de sua mensagem que é santa e distinta desse mundo.

Existe outra data do ano em que a mensagem de VIDA contida no evangelho faça tanto sentido?

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Notas:
[1] De “trick or treat,” como é falado em inglês o que é dito “doçuras ou travessuras” em português.
Nota do Tradutor: Talvez o Halloween não faça parte de sua realidade, mas com certeza o Carnaval, as festas Juninas e outros feriados e datas legitimamente brasileiros fazem. Que tal aplicar essas mesmas ideias e conceitos, aproveitando cada oportunidade para transmitir o amor de Cristo e fazer a diferença no mundo?

Autor: Travis Allen
Fonte: Grace to You

Tradução: Guilherme Andor
Phonte: Todah Elohim

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