domingo, 26 de março de 2017

Filho processa a própria mãe? Ah, vá estudar, moleque!

"Ensina a criança no Caminho em que deve andar, e mesmo quando for idoso não se desviará dele!"
Provérbios 22:6

Li ontem no site de temática jurídica Jusbrasil uma notícia assaz eloquente por si própria:

Um adolescente de 15 anos processou a própria mãe depois que esta lhe tomou o celular para que ele parasse de jogar e se concentrasse nos estudos.

O caso aconteceu em Almería, na Espanha. Era 28 de fevereiro, quando se comemora o Día de Andalucía e, portanto, feriado. O site La Voz de Almería reporta que María Angustias H. H, de 37 anos, queria que o filho largasse o aparelho; como ele não o fez, ela decidiu pelo confisco, o que fez com uso "leve" de força, segundo afirma.

O caso foi parar nas mãos de Luis Miguel Columma, magistrado do Penal 1, que não

só absolveu a mãe como ainda lembrou que a lei exige que ela tome atitudes como aquela, já que é dever dos responsáveis garantir que as crianças e adolescentes do país tenham boa educação.

"Ela não seria uma mãe responsável se permitisse que seu filho se distraísse com o celular e falhasse nos estudos", afirmou Columma na sentença.


Muy bueno, meritíssimo! O movimento que busca retirar dos pais - e transferir para o Estado - a responsabilidade pela educação de nossos filhos precisa tomar umas pauladas desse tipo com mais frequência.

Sim, é da família a incumbência de transmitir valores às próximas gerações. E a ela é facultado, por conseguinte, impor proibições, determinar limites e aplicar punições se necessário. O rebento indisciplinado não quer cessar a diversão e fazer seus deveres escolares? 

Nada que um puxão de orelha não resolva mesmo. Opressão? Até parece: respeito às figuras materna e paterna é algo de tal sorte importante que mesmo uns bons beliscões justificam-se no caso.

É desse aprendizado, afinal, que brotará o cidadão cumpridor de regras, o bom funcionário, o indivíduo ciente de que o mundo não gira ao seu redor, a pessoa que sabe distinguir o certo do errado, o adulto capaz de reconhecer as ocasiões em que deve refrear suas vontades e agir pensando nas consequências de seus atos.

Pitagoras:
" Educação e repreensão começam nos primeiros anos da infância e duram até o último dia de vida." 

“Educai as crianças e não será preciso punir os homens”

Admira-me muito a cara-de-pau do advogado que representou este menor em juízo. Decerto pretendia que o judiciário deixasse claro, em sua decisão, que filhos não devem obediência a seus genitores e que só precisam estudar, portanto, se assim lhes aprouver - contribuindo tanto para desestabilizar os núcleos familiares quanto para formar seres humanos mimados e totalmente despreparados para as agruras da vida (e muito burros, claro).

Retirar a autoridade dos pais é impossibilitá-los de restringir as atitudes dos filhos, resultando em um cenário esquizofrênico: são eles os legalmente responsáveis pelos desvios de condutas cometidos pelos adolescentes antes da idade de dezoito anos, mas como será possível orientá-los e mantê-los na linha se até olhar feio der azo à processos judiciais?

Já não fosse suficiente a famigerada Lei da Palmada intervindo na criação dos filhos, agora também o "uso leve de força" será visto como reprimenda desproporcional e inadequada ao mundo "progressista" em que vivemos? Castigos sem video-game passarão a justificar multa e perda da guarda da criança, e seu envio a um orfanato estatal? É bom nem dar idéia.

Está ficando tão complicado educar a prole conforme os próprios desígnios sem desagradar o padrasto governo que tal conjuntura acaba gerando uma forte sensação de medo de ter filhos, como se fosse a situação mais difícil do mundo de encarar. 

E adivinhe se esse sentimento - somado à libertinagem sexual (ela também fruto da falta de uns cascudos) e às decorrentes gravidezes indesejadas e precoces em profusão - contribui para que ocorram mais ou menos abortos?

Lamentável o episódio, amenizado tão somente pelo arrazoado do magistrado. Mas não pensem que esse povo que vê a família como inimiga número um da felicidade geral da nação - muito embora nenhum deles tenha sido criado em chocadeira - vai desistir fácil. 

A próxima petição já está em vias de ser protocolada na vara de justiça: indenização por não deixar a menina de dez anos ir ao baile funk, caracterizando incontestável cárcere privado. Por falar em vara, que falta uma de marmelo faz nessas horas...

Ah, o dever de casa era de Sociologia, Karl Marx e mais valia? Devolve o celular aqui pro rapaz então. Tá liberado!

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