quinta-feira, 27 de abril de 2017

10 teses de Farel, Calvino e dos reformados contra os papistas (Parte 2/2)

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500 anos de Reforma Protestante

Em comemoração aos 500 anos de Reforma Protestante, o Voltemos ao Evangelho trará artigos semanais e biografias de diferentes reformadores: Girolamo Zachi (jan), Theodoro Beza (fev), Thomas Cranmer (mar), Guilherme Farrel (abr), William Tyndale (mai), Martin Bucer (jun), John Knox (jul), Ulrico Zuínglio (ago), João Calvino (set) e Martinho Lutero (out).


(Esta é a Parte 2/2. Leia a Parte 1.)

Farel leu a primeira proposição, com provas e elucidações escriturísticas. Quando a parte oposta foi chamada a responder, os clérigos de Lausanne iniciaram um protesto tedioso contra o debate, principalmente alegando que as Escrituras recomendam a paz, enquanto um debate só geraria conflitos; que qualquer igreja em particular era sujeita a erros; e, em suma
, que eles não tinham a liberdade para o debate, mas deveriam esperar por um concílio geral.

Farel respondeu a essas objeções com argumentos extraídos das Escrituras (que eles tinham citado erroneamente) e dos pais da igreja que (como ele citou) estavam sempre dispostos a debater com os hereges.

Ele também censurou sobre as referências que eles fizeram aos Concílios gerais. Farel forneceu aos clérigos uma cópia da sua resposta, que foi seguida por um segundo e um terceiro protestos.

Uma longa disputa surgia agora sobre a fé e as boas obras. Farel explicou que a fé em Cristo não é vã e inoperante, que permite à alma permanecer na escravidão do pecado; mas um princípio ativo que produzia boas obras.

A questão que gerou comoção foi se as boas obras precedem ou seguem justificação. Os papistas afirmaram que as boas obras precediam a justificação e apresentaram a opinião contrária como sendo de uma tendência licenciosa. 

Por parte dos reformadores, Farel afirmou que, longe de negar a necessidade das boas obras, os reformadores diligentemente as estimulavam; mas ele imediatamente apontou a fé como a sua fonte genuína. “Depois de ter incutido a um homem”, disse ele, “um senso de sua pecaminosidade, então nós dizemos: ‘Deus não quer a sua destruição, mas a sua salvação’. 

Ele deu o seu Filho amado para morrer por nós. E, portanto, se você, de coração, crê que ele sofreu por você, e ora a Deus pelo perdão em seu nome, e abandona o pecado, ele o perdoará. Tal doutrina nunca pode conduzir ao mal ou à ingratidão. Ao contrário, inflamará o coração com o amor a Deus e ao próximo, e produzirá frutos visíveis na vida exterior”. 

Depois, voltando-se para o clero de Lausanne, ele censurou intencionalmente a vida daqueles defensores vigorosos das boas obras, e demonstrou que o que eles chamavam de boas obras eram principalmente peregrinações, missas ou absolvições.

A segunda proposição foi apresentada por Viret, e como ninguém se ofereceu para se opor a ela, Farel explicou em grande parte os erros da Igreja Romana contra a qual a afirmação foi dirigida.

Depois que Viret defendeu a terceira proposição, Farel expôs a falta de fundamento da doutrina da transubstanciação e a grande incerteza, até mesmo para os crentes nela, se a transmutação em qualquer determinada ocasião já foi realizada, já que depende da ordenação e intenção do sacerdote, além da consagração regular da hóstia. 

De maneira vívida e eloquente, ele apontou os males que surgem da missa. Ele exortou os sacerdotes a estudarem as Escrituras e a seguirem o exemplo de São Paulo que, após a sua conversão, dedicou sua vida a estabelecer a fé que ele um dia se esforçou para destruir. 

Em resposta a Mimard, um professor que tentou argumentar em favor da transubstanciação a partir da incompreensibilidade dos mistérios divinos, Farel disse: “Não me admiro que lhe pareça insondável, pois ultrapassa o sentido e a razão que um corpo seja e não seja, ao mesmo tempo. Você foi levado a esse absurdo pelo espírito de Marcião, que atribuiu a Jesus

a mera aparência de um corpo, e não pelo Espírito de Deus”. Reprovando a arrogância proferida por Mimard a respeito dos ministros reformados, Farel respondeu aos mestres da Igreja Romana que, sem o mandado da Escritura, e sob o pretexto de comunicações divinas, introduziram uma multidão de dogmas e observâncias, inventaram o purgatório, estabeleceram o tempo e o modo de penitência para cada pecado e elevaram um miserável pecador a Cabeça da igreja e a um deus sobre a terra.

À pergunta: “Quem és tu para pretender ser mais sábio do que os pais e a igreja?”, ele respondeu:

“Nós somos pobres pecadores que acreditamos ter recebido o perdão dos pecados e a salvação por meio de Cristo. Desejamos viver com a ajuda da sua graça, de acordo com a sua Palavra, e anelamos estimular outros a fazerem o mesmo, estando prontos a dar nossas vidas pelo seu evangelho. Mas quem és tu que tem outros objetos de culto além de Deus? 

Pobre miseráveis que se ajoelham diante de imagens sem vida, sem sentidos ou sentimentos; servos da prostituta romana que seduziu o mundo e embriagou os seus príncipes com o vinho da sua fornicação. O opróbrio que lançaste sobre nós, que nós vos ‘apedrejamos’, cai sobre teus sacerdotes e seus adeptos. 

Eles são audaciosos o suficiente não apenas para nos apedrejar (como eu muitas vezes experimentei, e peço a Deus para perdoá-los como eu o faço de coração), mas onde eles têm uma oportunidade, queimam e torturam aqueles que não agem de acordo com o que eles querem. 

Somos desejosos da vossa salvação, para que cada um de vocês possa conhecer, confiar, servir e honrar a Jesus, e não homenagear uma simples hóstia, juntamente com o santo rato que a mordeu e que conservastes aqui como uma preciosa relíquia”.

Farel então relatou os diversos abusos da Igreja Romana e perguntou em qual evangelho eles poderiam ser encontrados.

O argumento foi retomado em seguida por Calvino, que explicou muito claramente as suas razões para rejeitar a transubstanciação, e os benefícios reais ligados à Ceia do Senhor, ao que o partido oposto não disse uma palavra em resposta; e Tandi, um franciscano, confessou diante de toda a assembleia que ele estava convencido pelo poder da verdade, e que doravante creria no puro evangelho e regularia sua vida por ele.

Viret defendeu a quarta, quinta, sexta e sétima proposições, as quais não tiveram nenhuma oposição. Em referência à oitava, Blanchrose, que já se queixara de estar abandonado pelos sacerdotes, repetiu uma variedade de afirmações estranhas que ele tinha abordado antes sobre a Trindade, uma doutrina sobre a qual ele buscava encontrar analogias em todas as ciências.

Depois que Viret defendeu a proposição referente ao poder e aos direitos do magistrado civil sem oposição, Farel falou sobre a injustiça feita aos ministros do evangelho que foram chamados de anticristos e considerados como homens cujo objetivo era promover mudanças políticas, destruir a igreja, para que pudessem mais facilmente destronar os príncipes. 

Como contrapartida à esta calúnia, ele apresentou a doutrina da Igreja Romana que isenta todo clero da fidelidade aos poderes civis assim que são ordenados. De modo que se todos os habitantes de um país se dedicassem à igreja, os governantes civis não teriam um só súdito. 

Enquanto, por outro lado, essa doutrina exclui os príncipes, sendo leigos, de interferir nos assuntos da igreja, que cabem inteiramente aos sacerdotes, que estão em sujeição ao Papa como seu líder supremo. Farel exortou os magistrados a abolirem o papado e a permitirem a pura pregação da Palavra de Deus. 

Ao mesmo tempo, exortou ao povo ao dever de agradecer a Deus por lhes conceder governantes piedosos que eram desejosos de promover a eles o conhecimento do caminho da salvação.

Depois, Farel leu a nona proposição, relativa ao casamento e ao celibato, e reivindicou a honra do primeiro, considerando o seu autor, a sua antiguidade e as suas utilidades. Ele descreveu os efeitos perniciosos do celibato entre o clero. 

Ele fez um relato sobre as muitas famílias corrompidas e arruinadas, além da multidão dos seus descendentes ilegítimos, expostos nas ruas, abandonados e doentes, amaldiçoando os seus pais e mães, os quais eram objeto de desgosto universal, e que eram encontrados ainda mais em Lausanne do que em Genebra. 

Ele comentou o quanto as consciências dos clérigos deveriam acusá-los, já que nenhum deles ousou se pronunciar no debate sobre essa proposição.

A partir do relato que temos do debate, é evidente que Farel assumiu a liderança no debate. Ele foi iniciado e concluído por ele, e não houve sequer uma proposição sobre a qual ele não falou no momento em que foi discutida, ou fez observações sobre ela no fim do debate. 

Embora não estivesse preparado para os protestos e objeções dos clérigos, ele respondeu-lhes com grande discrição, e comparou Escritura com Escritura, os pais da igreja com os pais da igreja e os decretos de um concílio com outros.

Nessa ocasião, a ignorância dos sacerdotes foi exposta, não menos do que sua imoralidade. E foi atestado pelas desculpas que deram para o seu silêncio, e pelas acusações que fizeram contra Farel e seus companheiros, de arrogância e autopresunção, além de falta de caridade em expor as falhas dos seus oponentes.

O debate não deixou de ter um efeito considerável. Várias das principais pessoas do lado papista voltaram para casa convencidas dos seus erros e se tornaram promotoras da Reforma. Farel voltou alegre para Genebra, cheio de gratidão a Deus por ter-lhe concedido essa oportunidade de fazer a verdade conhecida.

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