terça-feira, 31 de outubro de 2017

Lutero e os judeus


Julio Severo

O Dr. Michael Brown escreveu um excelente artigo em que ele, citando Stephen Nichols, disse que “em 1523 Lutero estendeu a mão com bondade e humildade ao povo judeu, denunciando como a Igreja Católica os havia tratado até então, na esperança de que muitos se tornassem cristãos. 

Vinte anos depois, quando isso não aconteceu, e quando Lutero, agora velho e doente, havia tido acesso a literatura blasfema contra Jesus escrita por judeus em gerações passadas, ele escreveu seu infame documento ‘Com relação aos Judeus e Suas Mentiras.’”

Você pode ler o artigo completo de Brown, intitulado “Martinho Lutero era antissemita?” aqui.

Outro artigo importante, também intitulado “Martinho Lutero era antissemita?” e escrito pelo Dr. Eddie Hyatt, mostra que Lutero usava muitas palavras ofensivas contra os judeus, contra os muçulmanos, contra os católicos e contra os batistas e que eles também usavam palavras ofensivas contra ele. Você pode conferir o artigo completo de Hyatt aqui.

Brown explica como Adolf Hitler usou as palavras de Martinho Lutero para perseguir os judeus. Claro que Hitler também usava a Bíblia para sustentar o nazismo. De acordo com Ray Comfort, em seu livro “Hitler, God and the Bible”(Hitler, Deus e a Bíblia) Hitler fazia muito uso público da Bíblia. Mas, enquanto Hitler precisava perverter a Bíblia, ele não precisou perverter nenhuma palavra de Lutero contra os judeus. As próprias palavras de Lutero contra os judeus já eram pervertidas — e indesculpáveis.

São indesculpáveis não só porque ele foi o líder máximo da Reforma protestante, mas também dizia ser seguidor de Jesus. “Quem declara que permanece nele também deve andar como Ele andou.” (1 João 2:6 King James Atualizada)

Ao criticar os judeus, Lutero fez o que toda a sociedade europeia, dominada por antigas tradições católicas antijudaicas, já fazia há muito tempo. Aliás, enquanto Lutero estava criticando os judeus, a Igreja Católica os estava também criticando e os torturando, roubando e queimando nas fogueiras da Inquisição.

Apesar de tudo, Lutero e seus seguidores não têm histórico de torturar, roubar e queimar judeus. Eles não têm histórico de inquisição contra judeus.

Os Estados Unidos, a maior nação protestante do mundo e a nação que mais seguiu a orientação de Lutero de colocar a Bíblia no centro de tudo, não tem nenhum histórico de torturar, roubar e queimar judeus. 

Os EUA não têm histórico de inquisição contra judeus. Pelo contrário, como nação protestante, os EUA têm um histórico incrível de proteção, parceria e amizade com os judeus e um histórico invejável contra a Inquisição.

Mais leitura da Bíblia (que é o valor principal do protestantismo) produz mais defesa dos judeus, embora alguns judeus tenham pensamentos diferentes. Osias Wurman, que é o cônsul honorário de Israel no Rio de Janeiro, demonstrou preocupação com a vitória de Donald Trump nos EUAem 2016 — vitória que foi conseguida em grande parte por meio dos eleitores evangélicos.

Ele falou dessa vitória como se o aumento de conservadorismo evangélico fosse produzir um aumento de sentimentos favoráveis ao Holocausto, quando o contrário é verdade. Os evangélicos americanos não são a favor do Holocausto e da Inquisição.

Contudo, como judeu brasileiro Wurman perdeu uma grande oportunidade de denunciar que está havendo um aumento de posturas pró-Inquisição entre direitistas católicos esotéricos do Brasil

Esses direitistas extremistas defensores da Inquisição rejeitam a atual postura do Vaticano contra a Inquisição e acusam Lutero de “genocida” por suas opiniões antijudaicas, sendo que a Inquisição representa as palavras e ações antijudaicas do catolicismo medieval que foi uma grande influência em Lutero. 

Esse direitismo pró-Inquisição tem sido totalmente rejeitado pelos evangélicos conservadores, que se unem aos judeus na denúncia contra o Holocausto e a Inquisição.

Seguir o protestantismo conservador americano leva a posturas contra o Holocausto e a Inquisição.
Seguir o catolicismo medieval leva a posturas a favor da Inquisição, que fatalmente leva ao Holocausto.

Lutero seguiu os padrões europeus medievais (que eram totalmente católicos), e quando ele verbalmente atacou os judeus ele não seguiu o exemplo de Jesus, que nunca ensinou seus discípulos a odiar os judeus.

Jesus orientou seus discípulos a orar e tomar cuidado. Ele disse: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, com certeza, está preparado, mas a carne é fraca.” (Mateus 26:41 King James Atualizada) A tentação de Lutero foi forte e sua carne foi fraca. Ele caiu na tentação dominante de sua geração, que era antes e depois hostil aos judeus.

Seguir tendências sociais (todas as personalidades sociais fazem isso) e tradições religiosas (todos os líderes religiosos fazem isso) está em conflito com vigilância e oração.

Na verdade, se Hitler precisasse de um exemplo religioso antijudaico contra os judeus, ele nem precisava de Lutero, pois a Igreja Católica tinha exemplos abundantes de vários séculos de palavras e ações contra os judeus. Tudo o que Lutero disse contra os judeus a Inquisição já praticava em abundância.

Hitler, que era um católico esotérico que astutamente usava imagens esquerdistas e direitistas, usou o exemplo de Lutero porque se não houvesse esse exemplo evangélico, só lhe restariam os abundantes exemplos católicos.

O protestantismo de Lutero buscava se libertar das tradições católicas, e o próprio Lutero só tinha experiência com tais tradições.

Lutero vivia numa Europa 100 por cento católica. Todos os que ele conhecia eram católicos. Todas as opiniões que ele ouvia eram católicas e antijudaicas.

A geração de Lutero era antissemita. Aliás, a Europa inteira onde Lutero nasceu era católica e antissemita.

Lutero tinha para com os judeus a mesma hostilidade de um católico comum (desde os papas até os padres), pois ele havia sido criado como católico. Embora ele e outros protestantes tivessem a mesma hostilidade antijudaica dos católicos, não vimos na prática Lutero e outros protestantes matando judeus. Eles tinham ódios ou preconceitos, mas não praticaram. 

Eles não tinham inquisições contra os judeus. Eles não torturavam e matavam judeus. Da mesma forma, os judeus tinham seus próprios ódios ou preconceitos contra os cristãos.

Quem quer que condene Lutero por suas palavras contra os judeus inevitavelmente tem de condenar o papa e toda a Igreja Católica daquela época não só por suas palavras, mas também por suas ações, especialmente a Inquisição, contra os judeus.

Um seguidor de Jesus teria pelos judeus o amor que Jesus tinha, e inicialmente Lutero tinha esse amor, pois ele desejava a conversão deles. Mas quando ficou velho e doente, ele mudou de ideia. E a ideia dele se tornou repugnante e odiosa contra os judeus, alegadamente porque ele leu escritos blasfemos de judeus contra Jesus Cristo e os cristãos. Contudo, Hyatt deixa claro que antes de morrer, Lutero voltou à sua atitude mais conciliatória para com os judeus.

Um cristão jamais pode se guiar por ódio. Foi exatamente o ódio aos judeus que sustentou a Inquisição, que saqueava, torturava e matava judeus.

Se Lutero tinha como justificativa para seu ódio antijudaico livros judaicos contra Jesus Cristo, hoje outros encontrariam como justificativa o fato de que Karl Marx era judeu e que Genrikh Yagoda, judeu que fundou e dirigiu a NKVD (sucessora da KGB), foi, de acordo com um escritor judeu no jornal israelense Ynetnews, “o maior assassino judeu do século XX.”

Aliás, em sua estridente propaganda contra o marxismo, Hitler e Henry Ford, o maior magnata americano daquela época, odiavam o marxismo soviéticopelo fato de que os judeus eram majoritariamente socialistas na Alemanha e também pelo fato de que eles ocupavam posições proeminentes de liderança na União Soviética.

Seja como for, o Lutero velho e doente que escreveu um livro contra os judeus cometeu um pecado grave. Discordo totalmente de todas as ideias loucas dele do Lutero velho e doente contra os judeus.
No entanto, precisamos ser justos e também discordar das ideias e palavras loucas dos judeus contra Jesus Cristo e os cristãos.

O Talmude judaico e a literatura rabínica são totalmente contra os cristãos, tratando-os de forma desprezível. O Talmude pode ser o equivalente judaico do livro de Lutero, mas foi escrito muito antes. Aliás, o Talmude é muito mais nocivo, pois embora nenhum luterano e nenhum evangélico coloque o livro antijudaico de Lutero em pé de igualdade com a Bíblia, os judeus religiosos colocam o Talmude num patamar muito próximo de suas Escrituras Sagradas (que é o Antigo Testamento dos cristãos).

Enquanto nenhuma igreja evangélica tem em seu templo o livro antijudaico de Lutero nem o lê do púlpito, as sinagogas têm o Talmude e o leem junto com as Escrituras.

De acordo com o livro “Jesus in the Talmud” (Jesus no Talmude), escrito por Peter Schäfer, publicado pela Princeton University Press (Editora da Universidade Oxford) em 2007, o Talmude e a literatura rabínica tratam Jesus como um bruxo depravado filho de uma prostituta.

Citando o Talmude, Schäfer disse: “A mais bizarra de todas as histórias acerca de Jesus é aquela que conta como Jesus está no inferno junto com Tito e Balaão, arqui-inimigos notórios do povo judeu… O destino de Jesus consiste em sentar-se para sempre em cima de excremento fervendo” (página 13).

Schäfer disse que, de acordo com o Talmude, Maria, “Depois que foi expulsa por seu marido e enquanto estava vagando de uma maneira vergonhosa, ela secretamente deu à luz Jesus. E… porque ele [Jesus] era pobre, ele se empregou como trabalhador no Egito, e tentou certos poderes de bruxaria dos quais os egípcios se orgulham; ele voltou cheio de presunção, por causa desses poderes, e por causa deles se deu o título de Deus” (página 19).

O Talmude, de acordo com Schäfer, disse: “Os seguidores de Jesus, que afirmam ser o novo sal da terra, não são nada mais que a placenta pós-parto da prole imaginada da mula, uma ficção de uma ficção” (página 24).

Enquanto os protestantes em geral e os luteranos em particular rejeitam as opiniões antijudaicas de Lutero, os judeus religiosos não fazem nenhum esforço para rejeitar o Talmude anticristão.

Contudo, as palavras loucas do Talmude contra os cristãos e as palavras loucas de Lutero contra os judeus estão apenas no campo das ideias. Se fossem implementadas, se os luteranos tivessem agido como Genrikh Yagoda, seria repugnante. Daí, mesmo defendendo Lutero e os judeus, não concordo com eles em tudo, por causa de suas ideias loucas uns contra os outros.

A Inquisição, é claro, foi pior, pois foi a implementação de ideias loucas. Por isso, sou contra a Inquisição e louvo o histórico notável dos Estados Unidos no combate à propaganda pró-Inquisição.
Não há, no luteranismo e no protestantismo, uma tradição de Inquisição de tortura e morte contra os judeus, embora haja o livro de Lutero, o qual tem antijudaísmo em palavras. No catolicismo há em palavras e ações, e a Inquisição é uma das grandes provas inegáveis.

O protestantismo produziu os Estados Unidos, que se tornaram o maior abrigo de judeus que o mundo já viu. E o Brasil, o maior país católico do mundo, tem um histórico de Inquisição, que torturou e matou muitos judeus brasileiros. Aliás, os primeiros judeus de Nova Iorque no século XVII eram brasileiros que haviam fugido da Inquisição no Brasil. O primeiro cemitério judaico de Nova Iorque é composto desses judeus brasileiros perseguidos pela Inquisição.

A proposta original de Lutero era valorizar a Bíblia acima de tudo. Os Estados Unidos fizeram exatamente isso. O fruto protestante nos EUA não foi só um amor cultural imenso pela Bíblia, mas também uma tolerância aos judeus nunca antes vista.

Os EUA, que foram fundados por uma população 98 por cento de protestantes, seguiram a Bíblia, como Lutero indicou, mas não seguiram os pecados antijudaicos de Lutero.

Com suas imperfeições, pecados e até opiniões pesadas, Lutero buscava muitas vezes apontar para Cristo. Se um evangélico colocar Lutero acima de Jesus, ele não será melhor do que os papas a quem Lutero criticava.

O evangélico verdadeiro deve imitar Jesus e o Evangelho, não Lutero e outros homens. Se ele imitar Lutero, ele falará muitos palavrões, pois esse era um dos pecados de Lutero. E ele imitará a postura insana de Lutero contra os judeus, postura totalmente imitada dos costumes católicos comuns de sua época.

Evangélico que imita os pecados, a boca suja e as opiniões pesadas de Lutero não é seguidor de Jesus.

No ano passado, a Igreja Luterana da Noruega denunciou os escritos antijudaicos de Lutero. Mais igrejas da Reforma precisam seguir o exemplo da Igreja Luterana da Noruega.

Lutero deu um bom exemplo ao denunciar a corrupção da hierarquia da Igreja Católica, que tem trabalhado para consertar alguns desses problemas. Mas ele acabou imitando um dos piores pecados da Igreja Católica. Agora, seguindo o exemplo dele mesmo de dar preeminência à Bíblia, as igrejas da Reforma têm a obrigação moral e espiritual de denunciar as opiniões antijudaicais que se apossaram de um Lutero velho e doente.

Contudo, o bom fruto permanente de Lutero é muito melhor do que seu livro anti-judaico momentâneo: Por causa de Lutero, os EUA nasceram protestantes e se tornaram o melhor amigo e refúgio dos judeus e Israel.

Outro bom fruto foi o Rev. Richard Wurmbrand, um pastor judeu luterano que escreveu vários livros contra o comunismo.

Versão em inglês deste artigo: Luther and the Jews

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