sábado, 30 de dezembro de 2017

“Eu sabia que Deus se comunicava comigo através da Bíblia, mas eu ansiava por mais"


Sara Young escreveu um devocional que explodiu em milhões de cópias vendidas – “Jesus Calling”. 15 milhões de cópias vendidas e crescendo... Se desdobrou em versão para crianças, aplicativo para celular...

Por que um sucesso tão grande? Porque o livro encontra o ponto nevrálgico de apelo a grande massa que se diz cristã: Centralidade no homem.

No caso do livro de Sara Young, cada devocional são apresentados como as palavras reais de Jesus... Ele falando palavras de esperança, encorajamento... diretamente ao leitor do devocional.

Ela diz: Eu escrevi a partir da perspectiva de Jesus falando, para ajudar os leitores a se sentirem mais pessoalmente conectados com Ele... do que como se sentem ao ler a Bíblia. Assim, a primeira pessoa do singular ( Eu, meu, minha...) sempre se refere a Jesus e “Você” sempre se refere a você, leitor.

Ela diz que os seus inscritos, não são inspirados, mas isso é só um pegadinha... quando ela descreve o processo de escrita, outra coisa surge.

Ela diz: “Em determinado momento eu me perguntei se poderia mudar meus tempos de oração de monólogo para diálogo. Eu escrevia diários de oração por vários anos, mas essa comunicação com Deus era uma comunicação unidirecional – eu falava tudo. Cada vez mais, eu queria OUVIR o que Deus poderia querer me comunicar em um determinado dia específico. EU DECIDI “OUVIR” com a caneta na mão, escrevendo TUDO o que eu “OUVI” na minha MENTE”

É óbvio – como em todos os casos hoje, Young diz entender e distinguir o equilíbrio entre a revelação diretamente na mente dela e a sua imaginação. É algo – como sempre com tudo que acontece dentro de nós – puramente subjetivo. É Deus porque eu digo que é Deus. Os livros dela não têm nenhuma diferença da “profecia moderna” – Quando é dito para as pessoas acreditarem que aquilo é palavra de Deus, mas sem lhe atribuir a autoridade da Palavra de Deus. Ou seja – é a palavra de Deus – Deus está dizendo... mas pode estar errado, pode ser falso... quando for... não ligue... a próxima pode estar certa.

A verdade, é que a obra de Sara Young é apenas uma explosão do que acontece hoje o tempo todo... para grande parte dos cristãos a verdade é: A Bíblia não é Suficiente.

Em uma versão anterior, não revisada de Jesus Calling, Sara Young expressa isso de forma claríssima.

“Eu sabia que Deus se comunicava comigo através da Bíblia, MAS eu ANSIAVA POR MAIS. Cada vez mais, eu queria ouvir o que Deus tinha a dizer-me PESSOALMENTE em um determinado dia”

Este desejo de ouvir “PESSOALMENTE” do Senhor – e não através das Escrituras - não é nada novo para a igreja, mas pode estar desfrutando uma aceitação sem precedentes entre o povo de Deus. Agora se tornou comum ouvir frases do tipo: “O Senhor me disse” – “Deus me revelou” – “Ouvi Deus me dizendo ontem a noite...”

A verdade, é que Deus já disse tudo o que Ele pretendia dizer em Sua Palavra, e Ele deixa isso claro: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” - Timóteo 3:16,17

A Bíblia não é uma obra incompleta e inacabada – temos toda a revelação que precisamos de Deus. Não há nada para a vida e santificação que não esteja nela: “Santifica-os na tua verdade; A TUA PALAVRA é a verdade.” João 17:17

Como disse Justin Peters: "Se você quer ouvir Deus falar, leia a Bíblia. Se você quiser ouvi-Lo falar audivelmente, leia em voz alta.”

É extremamente bizarro para mim esse desejo de receber mensagens pessoais de Deus – deve ser pessoas que esgotaram a Bíblia e descobriram, depois de esgotá-la, que não foi suficiente.

Você não precisa de “uma revelação pessoal e especial de Deus” – precisa é de se comprometer novamente com a suficiência e autoridade final das Escrituras. Se comprometer com tudo o que Deus já disse em Sua Palavra. Você já fez isso? Então descobriu sua insuficiência?

Veja o cuidado especial e ÚNICO que Deus tomou ao registrar e preservar milagrosamente a Sua Palavra. Pedro diz: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” - 2 Pedro 1:20,21. É por isso que a Palavra é inerrante, suficiente e final.

Livros como Jesus Calling, e qualquer pessoa que fala como Sara Young, trazem o grande perigo trágico de estimular milhões a querer ouvir Deus em sua mente, ou seja, além do escopo da Escritura. Acharem que precisam de notas adicionais de Deus à Bíblia.

Ao contrário da Reforma, mesmo que neguem, estimulam o oposto do Sola Scriptura. Elevam as experiências imaginárias a voz de Deus para as pessoas. Todo o tipo de heresia satânica entrou na igreja assim.

O povo de Deus tem que acender todas as luzes de emergência quando qualquer pessoa assume falar por Deus sem estar com a Bíblia aberta olhando para o texto dentro do seu contexto. E precisamos ser um auxílio para os outros para se afastarem do desejo popular, natural e pecaminoso... já que depõe contra a suficiência das Escrituras... de revelação “especial”, e a voltarem de novo – 500 anos depois da Reforma, a Palavra de Deus, que é totalmente suficiente.

Lutero disse: A Palavra de Deus é um livro!


Uma das grandes redescobertas da Reforma — especialmente de Martinho Lutero – já que foi o primeiro — foi que a Palavra de Deus chega até nós na forma de um livro. Em outras palavras, Lutero compreendeu este fato poderoso: “Deus preserva a experiência da salvação e da santidade de geração para geração por meio de um livro de revelação, não por meio de um bispo em Roma e não pelos êxtases de Thomas Muenzer e os profetas de Zwickau. 

A Palavra de Deus chega até nós em um livro.” Essa redescoberta preparou Lutero e a Reforma. Ou seja, a Palavra salvadora, santificadora e autorizada de Deus vem a nós em um livro. As implicações dessa pequena observação são enormes.

Em 1539, comentando o Salmo 119, Lutero escreve: "Nesse salmo, Davi diz continuamente que irá falar, pensar, conversar, escutar, ler dia e noite e constantemente — porém, nada além da Palavra e dos Mandamentos de Deus. Pois Deus quer dar-lhe o seu Espírito somente pela Palavra externa". Esta frase é extremamente importante. 

A "Palavra externa" é o livro. Lutero afirma que o Espírito salvador, santificador, iluminador de Deus vem a nós diretamente pela "Palavra externa". Ele usa o termo "Palavra externa" para enfatizar que a Bíblia é objetiva, estável, externa a nós e, portanto, imutável. E um livro. Nem hierarquia eclesiástica ou êxtase fanático podem substituí-la ou dar-lhe forma. Ela é "externa" tal como Deus o é. Podemos aceitá-la ou deixá-la. Mas não podemos modificá-la. É um livro com letras e palavras e sentenças fixas.

Lutero disse com ressonante vigor em 1545, no ano anterior à sua morte: "Aquele que desejar ouvir Deus falar, que leia a Escritura Sagrada". Antes disso, nas suas exposições em Gênesis, ele havia dito: 

"O próprio Espírito Santo, e Deus, o Criador de todas as coisas, é o autor deste livro". Uma das implicações do fato de que a Palavra de Deus vem a nós em um livro é que o tema deste capítulo é "O pastor e seu estudo", não "O pastor e sua sessão espiritual" ou "O pastor e sua intuição" ou "O pastor e suas perspectivas religiosas múltiplas". Isso porque a Palavra de Deus vem a nós em um livro. A Palavra de Deus que salva e santifica, de geração para geração, está preservada em um livro.

Em 1520, ele disse: "Estejam certos de que somente o Espírito Santo do céu faz de alguém um doutor nas Escrituras Sagradas". Lutero tinha um grande amor pelo Espírito Santo. E sua exaltação da Bíblia como a "Palavra externa" não minimizou o Espírito. Ao contrário, elevou a grande dádiva do Espírito, que é a Bíblia, diante da cristandade. 

Em 1533, afirmou: "A Palavra de Deus é o objeto maior, mais necessário e mais importante na cristandade". Sem a "Palavra externa" não conseguiríamos distinguir um espírito do outro, e a personalidade objetiva do próprio Espírito Santo se perderia na obscuridade de expressões subjetivas. 

Apreciar o Livro fez com que Lutero entendesse que o Espírito Santo é uma Pessoa maravilhosa a ser conhecida e amada, e não um mero zumbido a ser sentido.

Lutero o coloca nestes termos:

“Os próprios apóstolos consideravam ser necessário traduzir o Novo Testamento ao grego e vinculá-lo àquela língua, sem dúvida para preservá-lo para nós, são e salvo, como em uma arca sagrada. Pois previam tudo o que era vindouro e o que hoje tem acontecido. Sabiam que, se fosse contido somente na cabeça das pessoas, surgiria na igreja uma turbulenta e terrível desordem e confusão, e diversas interpretações, concepções e doutrinas, as quais poderiam ser evitadas e das quais o homem simples poderia ser protegido somente se o Novo Testamento fosse mantido em linguagem escrita.”

O ministério do Espírito interno não opera contra o ministério da "Palavra externa". O Espírito não duplica aquilo para o que o livro foi designado. O Espírito glorifica a Palavra encarnada dos Evangelhos.

Grande parte do que é falado em nome de Deus em nossos dias hoje, se tornou um grande circo de horror. Muitas vezes nos sentimos sujos só de ouvir o que as pessoas falam a respeito de Deus. Como precisamos hoje da ênfase de Martinho Lutero na Palavra Externa.

Muitas doutrinas foram trazidas de volta ao lugar que sempre deveriam estar na Reforma – Justificação por Fé, a Soberania Divina... Mas aquilo do qual tudo isso dependeu foi essa ênfase de que a Palavra de Deus chega até nós através de um Livro. 

Como apenas a restauração dessa verdade faria cessar grande parte das heresias. Sem essa ênfase, como acontecia com a Hidra da mitologia grega que ao ter cortada a sua cabeça nascia duas, a cada heresia atacada outras duas nascem. O único remédio possível é a restauração dessa verdade fundamental – A Palavra de Deus é Externa e está em um Livro.

Em seus decretos eternos Deus resolveu perpetuar a experiência de Salvação através da Verdade fixa – não dentro de nós – mas externa a nós – Um Livro. Só esse Livro revela a verdade do coração de Deus. Se nossa geração tivesse em seu coração essa verdade que reformou a igreja um dia – então, e só então poderíamos ver de novo o brilho da luz que mudou o mundo no século XVI.

Lutero disse – Não através do Bispo de Roma, de êxtases, de profetas contemporâneos – NÃO! – A Palavra de Deus vem até nós através de um Livro – isso preparou Lutero para a Reforma – e não há outro caminho a não ser esse – qualquer outro é um caminhar cambaleante de desvios para desvios, de heresia para heresia.

Um grande historiador disse: “O que é novo em Lutero é a noção da absoluta obediência as Escrituras contra quaisquer autoridade” – O que era novo e que há muito foi abandonado – é que o Livro estava infinitamente acima do homem que dissesse ter a mais íntima relação com Deus. As mais profundas experiências de êxtases não eram nada e nem dignas de serem mencionadas diante do Livro. Na verdade, eram pecaminosas.

As implicações disso são enormes e por isso elas abalaram a história da igreja. E se nossa geração há de sofrer um impacto real, terá que ser por essas mesmas implicações. Acontecerá hoje? Não sei. 

Afinal de contas, podemos dizer de maneira geral que a igreja ficou por quase mil e quinhentos anos com esses mestres do horror impondo algo subjetivo e falso sobre Deus. Ah! Mais eu oro, e como oro para que vejamos isso. Sempre houve remanescentes antes da Reforma – Deus sempre tem os seus – hoje também é assim, mas uma verdadeira Reforma, sobre isso oramos e esperamos.

Deixe eu repetir o que Lutero disse em 1539 sobre o Salmo 119 – O maior capítulo da Bíblia – uma declaração de amor inigualável a Palavra Escrita de Deus : “neste Salmo Davi diz continuamente que irá falar, pensar, conversar, escutar, ler dia e noite e constantemente, nada além da Palavra e dos Mandamentos de Deus, pois Deus quer dar-lhe seu Espírito somente pela Palavra Externa” – O Espírito Santo vem a nós e nos fala diretamente pela Palavra de Deus, pela revelação de Deus através da Bíblia.

Lutero está dizendo que é fundamental você ver a Palavra de Deus como algo externo, fora do homem, objetiva e não subjetiva. Só sendo externa ela é objetiva e estável. Ele está fora de nós não podendo ser manipulado por nossos sentimentos, percepções... 

Muitas pessoas tem grandes dificuldades com Doutrinas claras porque tão somente se aproximam delas emocionalmente e não objetivamente. É por isso que a Palavra é Externa. 

O homem tão somente tem que ir a essa palavra humildemente e se alimentar com a Verdade absoluta que flui dela. Ou seja, se alimentar da mente de Deus e não de algo subjetivo em si mesmo, em sua mente. Ela é externa – não pode ser influenciada por nossos sentimentos, percepções, ou nossa suposta espiritualidade – é imutável – É um Livro selado. 

Não a igreja, nem os homens que se denominam grandes, ou nossos êxtases particulares, sentimentos, percepções... Não! A Palavra é externa a nós. Como Deus está acima da sua criação (da qual fazemos parte). Não é dentro que buscamos a Verdade – mas fora – num Livro – e por ele o Espírito nos liberta.

Sola Scriptura!!!

Phonte: Josemar Bessa

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