sábado, 5 de maio de 2018

JESUS era comunista?


Uma das maneiras que poderia tornar palatável novamente a mensagem comunista era a estratégia do mascaramento de seus princípios em uma roupagem religiosa, em uma realidade pastoral

Percebemos que há na sociedade brasileira uma confusão político-teológica no que se refere ao pobre, à caridade e à missão terrena de Jesus Cristo. Uma confusão séria de ordem urgente a ser esclarecida. E para tal esclarecimento escrevo este artigo.

Muitas pessoas usam a imagem de Cristo e até mesmo chegam a afirmar que Jesus foi o primeiro comunista da história. Ignorando todo enfrentamento histórico, político, social e teológico de tal afirmação — afirmação esta que, per se, é totalmente infundada e ilógica. Pois bem, está na hora de investigar este discurso mais a fundo; afinal, Jesus foi o primeiro
comunista da história?

A comparação que se dá acontece no terreno político ideológico do século XIX e XX, mais especificamente com o advento da teologia da libertação com raízes mais profundas no fim da década de 60, do século passado. As perguntas que surgiram foram:

Será que Marx atualiza o pobre do evangelho cristão com a imagem do proletário operário do século XIX e XX? 
Será que Marx, ao pregar a justiça social, estava elevando a caridade cristã a outro patamar? 
Será que a parúsia cristã (o reino de Deus) é algo que possa se assemelhar à sociedade comunista? 

Estas questões são impostas em nosso atual meio partidarizado e merecem a devida atenção.

O pobre e o rico:

Opobre no evangelho cristão é o preferido de Jesus, isto é tão claro quanto a face de Jesus ressurreto. Não são poucas as referências que Jesus faz aos pobres: do Sermão da montanha (São Mateus 5–7) à passagem do “rico e do camelo” (São Mateus 19, 24), entre outras volumosas citações. Não obstante, antes de tecermos julgamentos sobre o gosto ou desgosto pessoal de Jesus em relação aos ricos é preciso discernir algumas questões de cunho mais teológico e hermenêutico.

Primeiramente, Jesus não tem antipatia pela riqueza ou pelos ricos, propriamente dizendo. Não obstante, ele considera que a fortuna é um fator de dificuldade para a verdadeira metanoia (conversão) dos pecadores. 

Conversão essa que é condição para a salvação. Sendo assim, a apologética de Jesus se dirige aos apegos terrenos, de qualquer nível, a qualquer coisa. É visível tal fato quando o jovem da Samaria disse a Jesus que o seguiria, com a condição que Ele o deixasse se despedir dos seus (São Lucas 9, 61), e Jesus foi intransigente ao pedido, pois, “Quem põe a mão do arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus” (São Lucas 9, 62); Jesus não permite que o jovem vá despedir-se dos seus e volte para segui-lo. 

Para ser Discípulo do Messias era preciso se desapegar das condições terrenas.

Jesus era um Deus nômade na terra, um messias que não permitia apegos às coisas passageiras, pois, “o meu reino não é deste mundo” (São João 18, 36a).

Sermão da montanha (São Mateus 5–7)

Ou seja, o tratamento que jesus despensa aos ricos não se trata de um desprezo ou uma inimizade, o que ele esperava dos ricos era o seu desapego dos bens. Ao encontrar Zaqueu, Jesus desfruta da comodidade de seu lar e de seus alimentos, mas sua presença faz com que desperte no homem a vontade de devolver com juros tudo aquilo que ele tomou indevidamente através de seu trabalho estatal de cobrador de impostos. Jesus não amaldiçoou ou maltratou Zaqueu por sua condição de riqueza, mas o fez entender para qual fim ele deveria gastar sua fortuna (São Lucas 19, 1–10).

A presença de Jesus, unido à missão de segui-lo em sua jornada, requeria que os homens tomassem uma decisão radical naquele momento, isto é: ou os apegos terrenos, ou o discipulado. A escolha era de ordem individual e não tinha nada a ver com governos, estados ou preceitos políticos, havia tão somente a condição espiritual de emancipação e ascese. Não em função de qualquer levante político, ou de revolução dos pobres contra a “burguesia”, mas sim em função da purificação das almas em troca de uma espera do destino escatológico previsto desde os profetas e reafirmado pelo messias.

Quando Marx trata do proletariado (do pobre operário), o alemão dá a eles caraterísticas revolucionárias de cunho social — e tão somente político. Sabemos também que o comunismo é ateu em sua concepção mais fundacional e justamente por isso se diferencia ferrenhamente do cerne da missão cristã. Quando Marx defendia o proletariado e a igualdade comunista ele não via tal condição para um futuro espiritualmente escatológico, mas sim para uma escatologia social — imanente — somente. 

O que Jesus queria ao dizer: “Felizes os pobres no espírito”, é exatamente o que está escrito, a pobreza de espírito, o desapego espiritual da matéria que passará é uma condição para o reino divino. Para chegar ao reino de Deus era preciso uma ascese dos bens materiais; era preciso não ser materialista.

Para Marx, por sua vez, a pobreza proletária não é uma condição para a salvação, mas uma realidade injustamente imposta pela burguesia, e, para instaurar o reino do proletariado, era necessário suprimir a burguesia e a propriedade privada. Como bom materialista que era Marx, ele via o problema do proletariado na burguesia e na propriedade privada, ou seja, na estrutura política imanente.

Jesus, ainda que tenha criticado os ricos e a hipocrisia que desses emanavam — e ter colocado a pobreza do espírito como condição salvífica — , como bom líder espiritual que era, Ele via o mal da soberba dos ricos no reino do espírito e da moral. Sendo que a materialização desse mal na sociedade se dava pela corrupção do espírito humano, o mal embrionário estava, então, na ganância e na mesquinhez do apego às coisas fugazes e, por reflexo, nas atitudes.

Propriedade privada (bens materiais):

Marx critica a propriedade privada e, como ele bem sublinha em seu livro A origem da família, da propriedade privada e do Estado, a origem dos males sociais está no patrimônio. Possuir uma propriedade, para Marx, é um mal em si, um mal que deve ser combatido até com a força das armas e dos genocídios em massa, se necessário. 

O que não acontece com Jesus, obviamente. Jesus nunca deixou transparecer nenhum problema pessoal com a propriedade privada, ou com qualquer tipo de bens materiais que não corrompessem a alma. O fato dele ter sido nascido numa condição de nômade e ter levado a sua vida pública numa condição de missionário errante, não significa que possuir uma casa seja para ele uma espécie da maldição.

Sabemos pouco da vida de Jesus antes de seu batismo, todavia, é muito provável que ele próprio tenha vivido em uma propriedade privada de seu pai José, o carpinteiro, profissão que provavelmente dava estabilidade de moradia ao jovem Cristo e sua família.

Livro citado no corpo do texto: A origem da família, da propriedade privada e do Estado

O problema central da riqueza está na sua má gerência e na escravização espiritual que esta gera no indivíduo. Quando Jesus diz: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (São Mateus 22, 21b), ele evidencia algo que poucas vezes é levado no sentido teológico do termo. 

A riqueza terrena não possui valor algum para o reino dos céus, o rico e o pobre terão as mesmas tratativas diante do Santo dos Santos, pois na vida eterna a moeda dos homens é irrelevante, o que contará, ao findar dos tempos, é a santidade e a pureza dos corações.

Sendo assim, a propriedade privada é irrelevante para aquele que veio salvar almas e pregar o reino que há de vir. Hoje a propriedade é um problema real a ser tratado com seriedade na nossa política interna, não obstante, não busquem no Evangelho argumentos para expropriação e guerras contra os proprietários de terras, pois, além de não haver tais argumentos, Jesus não era político de palanque ou líder sem-terra. 

Quando gritou foi para tirar os invasores do templo de Deus, e não para expropriarem o templo de Deus em favor dos ideologizados.

A intenção por trás do discurso:

Oque acontece de fato em nosso tempo é uma espécie de ideologização do evangelho, onde as leituras não mais possuem um caráter espiritual de libertação do pecado; Jesus passa a ser mais um revolucionário político como quaisquer outros que já pisaram na terra. Jesus deixou de ser o messias para tornar-se sindicalistas, nas visões modernas. Esvazia-se a mensagem salvífica do evangelho para se pregar uma revolução política utópica.

Caricatura de Karl Marx

O comunismo foi rechaçado nas décadas de 80 e 90 em muitos países, por muitos motivos, principalmente pelo fracasso político, e pelas ditaduras perpetradas através de suas revoluções e discursos. Uma das maneiras que poderia tornar palatável novamente a mensagem comunista era a estratégia do mascaramento de seus princípios em uma roupagem religiosa, em uma realidade pastoral. 

Se o comunismo começasse a ser pregado como sendo a realização final de Jesus — como se Jesus fosse mais um seguidor de Marx — , talvez a mensagem prosperaria com mais facilidade nos meios cristãos — tendo em vista que o principal opositor do comunismo no século passado foi a Igreja Católica. E, se por algum viés, esta tornar-se aliada ou invés de opositora, pronto, a principal trincheira se foi sem ser preciso demais dores de cabeça. O enculturamento comunista é real e está pulsante ainda hoje no cristianismo católico!

O comunismo nada mais é, como afirma Russell Kirk, uma “religião invertida”, pois o fim escatológico cristão, um reino de paz, amor e contemplação da verdade face a face — como afirmara S. Tomás de Aquino — , é transmutado, por via ideológica, em conquistas políticas em vista da derrubada do famigerado Capital. 

A sociedade comunista de igualdade suprema e de sublimação da propriedade privada, agora está decorada com pantufas religiosas; não estão mais somente em palanques e praças, agora pregam as palavras de Marx também a partir dos púlpitos.
Caridade x Justiça social:

Outro aspecto de comparações esdrúxulas do Cristo com o comunismo é o fator: caridade — ou solidariedade, termo criado pela revolução francesa e usado, hoje em dia, para qualquer coisa que você precisa aparentar ser “fofo”. Aquilo que é cunhado como uma obrigação social dos “camaradas”, isto é, a alienação à propriedade privada e o pagamento de altos impostos para os programas sociais via mãos estatais, no cristianismo a ajuda ou justiça social é uma realidade pessoal. 

A caridade cristã não acontece por vias oficiais ou por mãos de terceiros; ainda que em casos específicos tais ajudas possam ocorrer, aquilo que essencialmente Jesus pregou foi a conversão pessoal e a atitude cristã por vontade própria, não por indução estatal. Amar o próximo é um exercício pessoal e inalienável a todos individualmente, amar e ajudar o próximo, na visão cristã, não é uma realidade terceirizável ao Estado ou ao líder religioso. 

O comunismo ensinou que deveríamos amar a humanidade, Jesus nos mandou amar o próximo, e pessoalmente.

A justiça social é uma função política dada ao Estado que, como pai e supremo senhor, distribui as bonanças segundo os seus desígnios; a caridade cristã, por sua vez, é um impulso do espírito que nos leva PESSOALMENTE a socorrer o próximo.

Na parábola do bom samaritano (São Lucas 10, 30–37) não existe nenhum tipo de terceirização do serviço que o samaritano realiza, é ele quem recolhe o ferido, leva para cuidar e paga a estadia dele na hospedaria onde o ferido foi cuidado. Não há nenhuma relação do carita cristão com a justiça social comunista. 

O comunismo tudo toma com a promessa de tudo distribuir conforme a necessidade de todos, o cristianismo ensina a tudo doar sem reservas, inclusive aquilo que não é material. O amor cristão não pede revoluções ou estatizações, pede tão somente um indivíduo comprometido com a verdade por ele professada por meio da fé aceita, e, consequentemente, a realização em atos daquilo que se professou.

Conclusão:

Por fim, comparar Jesus à Marx, ou o cristianismo ao comunismo, é uma tolice. O cristianismo é uma religião que se preocupa sim com a sociedade e usa sim dos ensinamentos do Cristo para promover o bem-social e a justiça, mas, ao apagar das luzes, ao fechar-se os portões do coliseu, os cristãos nos ensinam que preservar a alma é muito mais importante do que se preocupar com o que o tempo indispensavelmente deteriorará. 

A prova deste caráter transcendente do pensar e agir do cristão são os mártires, que, na iminência de suas mortes, não se apavoravam, pois sabiam da recompensa eterna que os aguardava. Perder a propriedade, seus corpos materiais, tudo isso era um ato de amor e não uma exigência do Estado. Eu desafio qualquer clérigo a me contrariar nisso.

O cristianismo foi feito sim para sanar a fome dos mendicantes, foi feito sim para curar os machucados, foi feito sim para abrigar os desalojados, mas a mensagem central, aquilo que Cristo ensinou quando ousou sair do sepulcro foi: há vida após esta, comam e bebam, mas preparem suas almas para o reino no qual não mais sentirão fome e nem sede. 

Cristo veio para anunciar o reino de seu Pai, Marx veio para seu próprio Reino. “Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e arruinar sua própria vida [eterna]?” (São Marcos 8, 36)

Imagem do filme Son of God

Jesus é um paradoxo em si, como afirmava Chesterton, ele curou os corpos dos doentes, esperando que isto também os levassem a conversão de suas almas; Jesus fez paralíticos andarem, na esperança de que andando ao seu lado os paralíticos se salvassem; Jesus fez Bartimeu voltar a enxergar, na esperança que vendo a salvação com seus próprios olhos ele se convertesse e cresse no Evangelho vivo que o curou.

Jesus é o pão vivo que desceu do céu para sanar a fome de comida dos mendicantes, mas também a fome de paz; Jesus veio para sanar a sede de vida eterna como na fonte de Jacó com a samaritana (São João 4), mas também teve sede na cruz quando lhe deram vinagre. Jesus, Homem-Deus, aquele que veio para amar e cuidar, mas principalmente para salvar. Marx e sua teoria comunista veio para fazer uma revolução ateia e instaurar a ditadura do proletariado, suprimindo, a custo de sangues inocentes, aqueles a quem a eles se opunham.

Não há semelhança entre Marx e Jesus, comunismo e cristianismo, há tão somente uma ideologia troiana passando-se por cristã na esperança de tomarem espaços na cultura ocidental e, por meios alternativos, instaurarem a política comunista.

Jesus não foi o primeiro comunista e nem Marx era cristão, paremos com esta paranoia demente; Jesus multiplicou os pães, o comunismo os confiscou.

Phonte: Do Contra

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