sábado, 16 de junho de 2018

Gangues de Estupradores: uma História na Verdejante Oxfordshire

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Quanto se pagou, está sendo pago ou poderá ser pago em determinado momento por todos aqueles agentes públicos que, errônea e tacitamente ou de qualquer outra maneira, permitiram que essas modernas atrocidades continuassem, sem que nada fosse feito para impedi-las?

Famílias de meninas estupradas relatam que tentaram constantemente soar o alarme sobre o que estava acontecendo com suas filhas, mas que tiveram todas as portas do estado fechadas na cara.

Se a Grã-Bretanha quiser reverter a desgraça da cultura das "gangues de abusadores de meninas", ela deve começar mudando a relação risco/recompensa entre aqueles que identificam esses crimes monstruosos e aqueles que se sabe que os acobertam.


Desde a detenção de Tommy Robinson em 25 de maio, as chamadas, errônea e comumente, "gangues de estupradores asiáticos", estão de volta ao noticiário. Isso reacendeu a celeuma se a justiça está sendo feita tanto em relação às vítimas quanto em relação aos criminosos.

Levando tudo isso em conta, falta pelo menos um elemento-chave. Quanto se pagou, está sendo pago ou poderá ser pago em determinado momento por todos aqueles agentes públicos que, errônea e tacitamente ou de qualquer outra maneira, permitiram que essas modernas atrocidades continuassem, sem que nada fosse feito para impedi-las? 

Vira e mexe, policiais, políticos, conselho de trabalhadores e outros ficaram expostos ao fracasso. Eles nunca foram condenados à prisão por nenhuma de suas omissões nem foram acusados de cometerem infrações penais (nem mesmo acusações de transgressões criminosas), nenhuma dessas acusações puderam ser feitas contra eles.

Vale a pena perguntar, no entanto, se alguma das vidas dessas pessoas, planos de carreira ou mesmo aposentadoria foram remotamente afetados pelo seu comprovado fracasso em confrontar um dos maiores males que vem ocorrendo na Grã-Bretanha. É o estupro em massa de meninas, perpetrado por adultos impelidos pelo racismo, religiosidade, misoginia e desprezo pela posição social (entre muitas outras motivações).

Talvez a carreira de uma agente pública pós gangues de estupradores de meninas possa ajudar a responder a essa pergunta. O nome dela é Joanna Simons. Em 2013 ela era a CEO do Conselho do Condado de Oxfordshire. Ela desempenhava o papel central no programa de "cuidados" do Conselho por quase uma década: isto é, ao longo do período em que os estupros em massa de meninas daquele condado (posteriormente investigado sob o nome de "Operação Bullfinch") estava em andamento. 

A barbárie que estava sendo perpetrada por homens locais que erroneamente são descritos como de origem "asiática". Em uma das meninas foi desenhado um "M" em seu corpo. O nome do estuprador era "Mohammed" e o Mohammed em questão queria que todos soubessem que essa menina "pertencia" a ele e, como tal, era de sua propriedade.

Outras meninas entre as centenas de vítimas locais sofreram abusos igualmente dantescos. Um sem-número se encontrava sob os cuidados das autoridades locais. Dos casos que vieram à tona dos processos judiciais de 2013 no Old Bailey, chamou a atenção o de uma menina que foi drogada e estuprada por uma gangue de homens. Ela conseguiu fugir e chamar um táxi que a levou para o abrigo em que morava. O staff do abrigo se recusou a pagar a corrida do táxi, na sequência o motorista do táxi a levou de volta para o local de onde ela tinha acabado de fugir, onde a gangue então a estuprou novamente. 

Não se trata de um pesadelo em algum país longínquo ou mesmo em uma cidade do norte da Inglaterra onde a mídia londrina raramente vai, mas de uma história na arborizada Oxfordshire. Famílias de meninas estupradas relatam que tentaram constantemente soar o alarme sobre o que estava acontecendo com suas filhas, mas que tiveram todas as portas do estado fechadas na cara.


Oxfordshire, England. (Imagem: Pixabay)

Assim que começaram a ser divulgados pormenores, como os descritos acima, do processo criminal em Old Bailey, Simons gravou um vídeo, que foi postado na Internet pelo Conselho do Condado de Oxfordshire. Nos últimos cinco anos, menos de 2.000 pessoas assistiram ao pedido de desculpas de 48 segundos

Mas isso merece um público bem maior. Nele, Simons olha para a câmera e se desculpa perante aqueles que o Conselho abandonou à própria sorte e revela muito sobre a postura que prevaleceu durante anos na Grã-Bretanha. Do começo ao fim, está tudo errado. O tom e o conteúdo sugerem que Simons está se desculpando por um atraso na coleta de lixo ou por atrasos no fornecimento de sal de estrada no período de mau tempo. Nada disso tem a ver com o apavorante e execrável horror que estava acontecendo nas ruas arborizadas e belas torres de Oxfordshire sob seus cuidados.

Mais tarde quando Simons apareceu no Newsnight da BBC, ela foi confrontada com excelentes questionamentos de Emily Maitlis. Simons respondeu dizendo não só que sentia muito pela interrupção dos serviços, mas também veio com a mensagem tranquilizadora de que ela e seus colegas do Conselho de Oxfordshire 'aprenderam muito'. 

Quando Maitlis perguntou se Simons achava que ela deveria renunciar, Simons respondeu: 'eu fiz a mim mesma perguntas muito duras', mas 'não vou renunciar, porque estou determinada a fazer tudo o que for possível para acabar com isso' Quando Maitlis perguntou a Simons se ela renunciaria se as vítimas ou suas famílias achassem que ela deveria renunciar, Simons teve uma daquelas lindas evasivas políticas de não responder, nem de longe, à pergunta, dizendo (em tom mais alto) que ela não tinha nenhuma intenção de renunciar, mesmo se todas as vítimas e todas as famílias das vítimas pedissem a sua renúncia.

Talvez haja outros motivos para que ela queira tanto permanecer no cargo. Quando da instauração da Operação Bullfinch, Simons recebia um salário anual de mais de £196.000, sem contar com os demais benefícios. Colocando o valor em contexto, o salário médio anual no Reino Unido gira em torno de pouco mais de £27.000. O salário anual do primeiro-ministro do Reino Unido para administrar o país é de pouco menos de £150.000 ao ano. 

De modo que, pelo seu esforço extremo no Conselho do Condado de Oxfordshire, Simons recebia um salário consideravelmente mais alto do que o do primeiro-ministro e mais de seis vezes o salário médio nacional.

Embora ela tenha resistido à pressão para renunciar em 2013, os eventos continuaram evoluindo. Uma avaliação de todo o histórico concluiu que os assistentes sociais e a polícia estavam cientes do abuso de centenas de meninas em Oxfordshire desde 2005, mas que não haviam investigado e sequer registrado os casos como crimes.

Em 2015 o Conselho do Condado de Oxfordshire resolveu acabar com o cargo de Simon, aparentemente para reduzir despesas. A decisão, após altercações internas, foi então abandonada. Simons acabou renunciando em 2015, recebendo uma compensação do Conselho no valor de £259.000. Valor que, mais uma vez para contextualizar, vale mais do que uma casa média no Reino Unido. O preço médio de uma casa no Reino Unido no ano seguinte ao recebimento de Simons era de £220.000. De modo que o investimento que a maioria dos britânicos fazem em sua vida profissional inteira poderia ter sido coberto por Simons em um único ano.

Muitos poderão supor que tal figura não iria reaparecer em público ou que se contentaria com seus ganhos e seguiria em frente. Mas Oxfordshire não ficou sem Simons por muito tempo. Em julho passado, a organização que promove o turismo na região, 'Experience Oxfordshire', apresentou Joanna Simons como a nova chefe de seu conselho. Um comunicado à imprensa anunciou sua nomeação salientando suas próprias palavras sobre a experiência adquirida no Conselho do Condado de Oxfordshire como qualificação para assumir o novo cargo. 

Ela ressaltou também o quanto estava ansiosa para "ajudar a promover o lugar maravilhoso que é Oxfordshire para trabalhar, visitar e viver". O ex-presidente do conselho, Graham Upton, declarou que Simons trouxe uma "rica experiência" para a função.

Simons é apenas um caso, um entre outros tantos no Reino Unido que por anos a fio fizeram vista grossa no tocante aos estupros em massa de meninas em suas respectivas regiões. Mas é claro que essas pessoas não estão na prisão. Elas raramente são vilipendiadas, sequer são mencionadas na imprensa nacional. Elas não tiveram suas vidas viradas de ponta cabeça. 

Elas não foram perseguidas em cada esquina, se for para botar fé no que Joanna Simons diz, elas ficaram cabisbaixas por um breve período de tempo, tiraram partido da situação, emergindo na sequência. Se a Grã-Bretanha quiser reverter a desgraça da cultura das "gangues de abusadores de meninas", ela deve começar mudando a relação risco/recompensa entre aqueles que identificam esses crimes monstruosos e aqueles que se sabe que os acobertaram.

Douglas Murray, escritor, jornalista, comentarista e analista de relações públicas britânico, encontra-se sediado em Londres, Inglaterra. Seu último livro, best seller internacional: "The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam".

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