quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Impulsionada por grande fonte de esquerda, revista pentecostal Charisma ajuda a espalhar acusação de alegado conluio de Franklin Graham com Trump e Putin

Franklin Graham e Vladimir Putin

Julio Severo

Quando a Rússia era a União Soviética, os esquerdistas dos EUA não viam nenhum problema. Agora, quando o conservadorismo ortodoxo cristão voltou ao governo russo, não é surpresa que os esquerdistas dos EUA estejam vendo todo tipo de problema na Rússia. 

A grande surpresa é que os direitistas americanos, inclusive seus apoiadores evangélicos, estão embarcando em uma espécie de conluio com esquerdistas americanos no mesmo sentimento de hostilidade à Rússia.

O mais trágico é uma mídia pentecostal embarcando no mesmo conluio político. Digo trágico porque os pentecostais, os carismáticos e os neopentecostais são conhecidos por crerem e terem profecias e revelações. Mas de que vale acreditar em revelações se os pentecostais escolhem viver no baixo nível de escuros e sórdidos conluios políticos de esquerdistas ou neoconservadores (neocons), os falsos conservadores? Revelações e profecias são concedidas por Deus para dar às pessoas a chance de ver acima do baixo nível de escuros e sórdidos conluios políticos.

Em uma reportagem recente intitulada “The Russian Connection: When Franklin Graham Met Putin” (A conexão russa: quando Franklin Graham se encontrou com Putin), Charisma, que é a maior mídia pentecostal do mundo, disse:

Quando o presidente Trump ficou do lado do presidente russo Vladimir Putin… a tempestade subsequente de críticas incluiu tanto esquerdistas quanto republicanos proeminentes. Mas havia um grupo que se manteve incomumente quieto: os conselheiros evangélicos do presidente.

A reportagem de Charisma acrescentou:

Há boas razões para alguns líderes da direita cristã estarem menos do que ansiosos para lidar com as tentativas de Trump de aquecer as relações entre os EUA e a Rússia. Durante anos, os evangélicos americanos cultivaram laços com a Rússia, destacados por um encontro de 2015 entre Franklin Graham, filho do falecido Billy Graham, e Putin na Rússia.

Mas na época em que Trump foi empossado em 2017, o Kremlin se tornou o que a revista Politico descreveu como “o líder da direita cristã mundial,” em grande parte com base em uma aliança com o patriarca Kirill, da Igreja Ortodoxa Russa.

O relacionamento público de Graham com Trump remonta pelo menos a 2011, quando ele disse à ABC News: “Quanto mais você ouve [Trump], mais você diz para si mesmo: ‘Sabe, talvez o cara esteja certo.’” No ano seguinte, a fundação de Trump teria dado à organização que tem o nome do pai de Franklin Graham, a Associação Evangelística Billy Graham, um cheque de US$ 100.000 em 2012, enquanto Samaritan’s Purse, uma organização de assistência cristã também administrada por Franklin Graham, recebeu US$ 25.000 no mesmo ano e US$ 10.000 em 2013.
Enquanto isso, a influência ideológica de Putin sobre partes da direita religiosa americana remonta a pelo menos 2014.

Em março daquele ano, Putin foi destaque na capa da revista Decision, publicada pela Associação Evangelística Billy Graham, em uma edição que incluía um artigo de opinião de Franklin Graham que oferecia elogios cautelosos ao presidente russo. O líder evangélico apontou a decisão de Putin de sancionar uma lei que impede a disseminação de “propaganda de relações sexuais não tradicionais” para crianças.

“É óbvio que o presidente Obama e seu governo estão impondo a agenda gay e lésbica nos EUA hoje e se venderam completamente para aquilo que é contrário aos ensinos de Deus,” escreveu Graham. Mais adiante, ele acrescentou: “Em minha opinião, Putin está certo nessas questões. Obviamente, ele pode estar errado em muitas coisas, mas ele assumiu a posição de defender as crianças de sua nação contra os efeitos destrutivos da agenda gay e lésbica.”

Então, Charisma menciona reuniões de líderes cristãos ortodoxos russos com líderes evangélicos conservadores nos Estados Unidos como um suposto exemplo de algum tipo de “intriga.” O grande problema — e você não precisa de nenhum dom sobrenatural de profecia para vê-lo — é que a fonte de todas as acusações de intriga não é a própria Charisma. Não é também alguma mídia evangélica conservadora. A fonte foi o Religion News Service, que significa Serviço de Notícias Religiosas, que usou como sua própria fonte… Mother Jones, uma famosa revista de esquerda dos EUA.

Na verdade, Charisma reproduziu descuidadamente a reportagem completa do Serviço de Notícias Religiosas, a qual é pura propaganda contra Trump, contra Graham e contra a Rússia.

Se Charisma tivesse feito uma reportagem investigativa diligente, teria visto que o Serviço de Notícias Religiosas não era a fonte original. O Serviço de Notícias Religiosas usou uma fonte muito grande de esquerda.

A questão não é por que Mother Jones e outros esquerdistas americanos estão preocupados ou até mesmo desesperados com contatos de evangélicos conservadores com Trump e de evangélicos conservadores com a Rússia. A grande questão é por que os evangélicos, inclusive os pentecostais, estão permitindo que Mother Jones e outros esquerdistas americanos lhes ditem como deve ser seu relacionamento com Trump e a Rússia.

Pentecostais, carismáticos e neopentecostais seguindo cegamente fontes não esquerdistas é ruim. Mas seguir fontes de esquerda é muito pior.

Em uma longa reportagem intitulada “What Happened in Moscow: The Inside Story of How Trump’s Obsession With Putin Began” (O que aconteceu em Moscou: A história interna de como começou a obsessão de Trump por Putin), Mother Jones mencionou a visita de Trump à Rússia em 2013 como um ponto preocupante. Outro ponto preocupante era a lei russa proibindo a propaganda homossexual para crianças. Essa reportagem de esquerda foi a fonte para o Serviço de Notícias Religiosas e, no final das contas, e consequentemente, para Charisma.

Donald Trump e Franklin Graham

A esquerdista Mother Jones abriu o coração sobre todos os seus sentimentos ruins sobre Trump, Rússia, Graham e a lei russa contra a propaganda homossexual, dizendo:

…A Duma russa [o parlamento russo] aprovou uma lei que tornava ilegal expor crianças a informações sobre a homossexualidade. A nova medida anti-homossexualismo foi a ação mais nova de Putin para apelar para a Igreja Ortodoxa, que é conservadora, e para as forças ultranacionalistas.

Os defensores dos direitos humanos e dos direitos dos homossexuais na Rússia e em todo o mundo denunciaram a nova lei. Boicotes da vodka russa foram lançados. Houve uma campanha para mudar para outro país as Olimpíadas de Inverno, programadas para o ano seguinte em Sochi, na Rússia. Nos Estados Unidos, a [organização homossexual] Campanha de Direitos Humanos exortou Trump e a Organização Miss Universo a retirar o evento da Rússia, observando que, de acordo com a nova lei, uma competidora poderia ser processada se expressasse apoio aos direitos homossexuais.

O alvoroço por causa da lei russa anti-homossexualismo confrontou Trump com um dilema — como se distanciar da lei sem colocar em risco seu grande concurso na Rússia. A Organização Miss Universo divulgou uma declaração afirmando que “acredita na igualdade para todos os indivíduos.” Isso não impediu os protestos. O apresentador do programa de entrevistas Bravo, Andy Cohen, e a repórter de entretenimento Giuliana Rancic, que já sido apresentadora do desfile, deixaram o programa. 

Funcionários do Miss Universo com muita dificuldade encontraram substitutos: Thomas Roberts, um âncora abertamente gay da MSNBC, e a ex-Spice Girl Mel B.

Roberts explicou sua decisão em um editorial no MSNBC.com: “Boicotar e difamar de fora é muito fácil. Em vez disso, escolho oferecer meu apoio à comunidade LGBT na Rússia indo a Moscou e apresentando esse evento como jornalista, âncora e um homem que por acaso é gay, deixando as pessoas verem que não sou diferente de qualquer outra pessoa.”

Isso foi uma salvação para Trump. Ele concedeu a Roberts uma entrevista na MSNBC. “Eu acho que você vai fazer um trabalho fantástico,” ele disse a Roberts, “e adoro o fato de você sentir o mesmo sobre toda a situação como eu.” Inevitavelmente, a conversa se voltou para Putin e se ele apareceria no concurso. “Sei com certeza que ele quer muito vir,” disse Trump, “mas vamos ter que ver. Ainda não ouvimos falar, mas nós o convidamos.”

Embora as relações dos EUA com a Rússia estivessem nesse momento se deteriorando, Trump estava promovendo Putin como um líder astuto e forte. Em setembro, Putin publicou um artigo no jornal New York Times que se opunha a um possível ataque militar dos EUA contra o governo de Bashar al-Assad na Síria (em retaliação por seu uso de armas químicas) e que denunciou o presidente Barack Obama por se referir ao Excepcionalismo Americano. No dia seguinte, Trump na Fox News elogiou a atitude de Putin. “Isso realmente faz com que ele pareça um grande líder,” disse ele.

No mês seguinte, Trump apareceu no programa de TV de fim de noite de David Letterman. O apresentador perguntou se Trump já tinha feito negócios com os russos. “Tenho feito muitos negócios com os russos,” respondeu Trump, acrescentando: “Eles são inteligentes e são durões.” Letterman perguntou se Trump já tinha se encontrado com Putin. 

“Ele é um cara durão,” disse Trump. “Encontrei-me com ele uma vez.” Na verdade, não havia nenhum registro desse encontro.

Você tem um relacionamento com Putin e qualquer influência com o líder russo? Roberts perguntou a ele. Trump foi inequívoco: “Tenho realmente um relacionamento.” Ele fez uma pausa. “Posso lhe dizer que ele está muito interessado no que estamos fazendo aqui hoje. Ele provavelmente está muito interessado no que você e eu estamos dizendo hoje. E tenho certeza que ele vai ver isso de alguma forma.”

Trump mal podia conter seus elogios ao presidente da Rússia: “Olha, ele tem feito um trabalho muito brilhante em termos do que ele representa e a quem ele está representando. Se você olhar para o que ele tem feito com a Síria, se você olhar para muitas das coisas diferentes, ele realmente derrotou nosso presidente Obama. Não vamos nos enganar. 

Ele tem feito um trabalho incrível… Ele tem se colocado na vanguarda do mundo como líder em um curto período de tempo.”

Mas Trump decidiu participar da celebração do aniversário de 95 anos do evangelista Billy Graham no dia 7 de novembro no Grove Park Inn em Asheville, Carolina do Norte. Na Rússia, Trump disse a Goldstone que tinha sido necessário que ele aparecesse no evento de Graham: “Há algo que estou planejando para o futuro e isso é realmente importante.”

Goldstone sabia exatamente do que Trump estava falando: uma corrida para a Casa Branca. Franklin Graham, o filho do evangelista, era uma figura influente entre os conservadores cristãos. Quando Trump, dois anos antes, estava defendendo o birtherism — a teoria da conspiração infundada de que Barack Obama havia nascido no Quênia e era inelegível para ser presidente —, Graham juntou-se a esse movimento, levantando questões sobre a certidão de nascimento do presidente Obama. 

Aparecer nesse evento e pedir favores a Franklin Graham era uma parada obrigatória para Trump, se ele estava interessado em buscar a indicação presidencial do Partido Republicano. E valeu a pena: Trump e sua esposa Melania estavam sentados na mesa VIP junto com Rupert Murdoch e Sarah Palin. Franklin Graham mais tarde disse que Trump estava entre aqueles que “deram o coração a Cristo” naquela noite.

Então, essas são as preocupações da Mother Jones, uma das publicações mais esquerdistas dos Estados Unidos. O mistério não é por que Mother Jones e outras publicações esquerdistas americanas são tão contrárias ao envolvimento evangélico com Trump e com o conservadorismo russo hoje e o envolvimento de Trump com a Rússia. O mistério é por que os evangélicos, especialmente Charisma, usaria sua poderosa mídia para deixar um artigo de esquerda espalhar seu veneno contra Trump e o conservadorismo russo.

O problema não é apenas a falta de atenção à Palavra de Deus e profecias e revelações. É uma falta de bom senso cristão.

Enquanto Charisma e alguns pentecostais estão dando atenção a Mother Jones e outros esquerdistas, a Rede de Televisão Cristã e outros canais carismáticos estão dando atenção aos neoconservadores, os conservadores falsos. Isso também é pura falta de bom senso.

Trump é melhor que Obama e a Rússia não é pior que o Vaticano. Se os EUA têm tido um longo relacionamento e parceria com o Vaticano, por que não com a Rússia?

A Rússia é muito melhor que a ditadura islâmica da Arábia Saudita. Se os EUA têm tido um longo relacionamento e parceria com a Arábia Saudita, por que a esquerda dos EUA está tão enfurecida e desesperada para impedir os evangélicos conservadores dos EUA de uma parceria com a Rússia?

Pelo fato de que a pressão anti-Rússia dos esquerdistas e neoconservadores tem sido tão grande, em um momento em que a Rússia está mais aberta à cooperação, os EUA encontram-se, mesmo sob Trump, buscando toda razão e não-razão para impor sanções, isolar e até provocar a Rússia.
Se os EUA fizessem com o Vaticano apenas dez por cento do que estão fazendo com a Rússia, seria chamado, em meio a protestos, de hostilidade anticatólica.

Se os EUA fizessem com Israel apenas dez por cento do que estão fazendo com a Rússia, seria chamado, em meio a protestos, de hostilidade anti-Israel ou mesmo antissemitismo.

A mesma esquerda que sempre não via nenhuma razão para culpar a antiga União Soviética hoje vê toda razão e não-razão para culpar a Rússia conservadora por tudo e por nada. A incoerência deles está evidente aos olhos normais, mas por que não também aos olhos espirituais pentecostais e carismáticos de Charisma e de outros evangélicos?

Esquerdistas e neocons estão destruindo a melhor chance que os EUA já tiveram de parceria com uma Rússia conservadora.

Talvez um dos sinais mais importantes de tal parceria tenha ocorrido em 2014, em Moscou, quando o Kremlin realizou uma conferência pró-família com a participação de líderes internacionais pró-família, inclusive eu. A conferência condenou claramente o aborto, a agenda homossexual e o marxismo. 

O falecido Larry Jacobs, que era um grande líder no Congresso Mundial de Famílias, disse-me pessoalmente que o governo de Obama e esquerdistas americanos estavam ameaçando os americanos conservadores que estavam participando da conferência. Jacobs e outros americanos foram muito corajosos de desafiar as ameaças de Obama. Jacobs era um pentecostal das Assembleias de Deus.

O que não é surpresa é que Mother Jones viu uma conspiração conservadora na conferência pró-família em Moscou. Mas o que esperar de esquerdistas?

Os pentecostais, os carismáticos e os neopentecostais conservadores não deveriam deixar que os neoconservadores e os esquerdistas — que abraçam a Arábia Saudita e seus sangrentos petrodólares — os guiem em seu conluio odioso contra a Rússia conservadora.

Com informações de Charisma e Mother Jones.

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