quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Antônio Carlos Costa: um protestante em convulsão

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Autor: Rev. Alan Rennê Alexandrino Lima

O pastor Antônio Carlos Costa, pastor presbiteriano no Rio de Janeiro, fundador e presidente da ONG Rio de Paz, publicou na manhã de hoje [30/10] um vídeo no qual afirma que as igrejas evangélicas brasileiras necessitam de uma nova Reforma. Abaixo farei um breve resumo do vídeo, seguido de uma crítica às afirmações de Costa.

De acordo com ele, a necessidade não é de um retorno ao século 16, a Martinho Lutero e a João Calvino. Antes, a necessidade é de um retorno ao século 1º, a Jesus e ao Sermão do Monte.

Em seguida, ele afirma que o cristão tem o DIREITO de ter divergências com o Partido dos Trabalhadores, o PT. Também de acordo com Antonio Carlos Costa, a sua intenção não é afirmar que os cristãos pecaram ao votar em Jair Bolsonaro. Ele chega a dizer que pessoas melhores do que ele fizeram o que ele jamais faria: votar em Bolsonaro.

Tudo isso para elencar 5 pecados gravíssimos que os cristãos evangélicos cometeram e que deveriam levar a igreja ao arrependimento. Os cinco pecados, segundo Costa, foram os seguintes:

1. O apoio acrítico, incondicional e institucional a Jair Bolsonaro.
2. Ataques pessoais a cristãos nas redes sociais.
3. Desrespeito à diversidade de opinião na igreja.
4. Não preocupação com os não cristãos.
5. Não preocupação com a preservação da pureza do evangelho.

Costa encerra seu vídeo dizendo que todos esses pecados farão com que Espírito Santo abandone as nossas assembleias solenes. Além disso, cometemos uma enorme iniquidade fechando o coração de milhões de brasileiros para a pregação da Palavra de Deus.

Se você desejar ver o vídeo na íntegra, ele se encontra aqui!

Comento:


Ao longo de toda a campanha presidencial Antônio Carlos Costa fez publicações nas redes sociais criticando Bolsonaro, bem como o apoio dado pela maioria dos evangélicos ao candidato do PSL. Seus ataques e críticas eram unilaterais. Eram dirigidos a um único candidato. Nenhuma palavra foi dita sobre a agenda esquerdista, progressista dos demais candidatos. 

Em determinado momento, ele criticou o que chamou de "agenda moralista da igreja", defendendo que não deveríamos nos pautar em questões éticas e morais na hora de escolher em quem votar, mas, sim, em questões econômicas, mais especificamente, na preocupação com a justiça social e o cuidado com os mais desfavorecidos. Caso tenha interesse em ler, apresentei uma resposta à crítica de Costa aqui!

Costa labora em erro quando afirma que o cristão tem o DIREITO de divergir do PT. Direito? Tudo se resume a uma questão de ter o direito de divergir? Na verdade, os cristãos têm o DEVER de se opor a um partido como o PT. O PT é um partido marxista, inimigo da fé cristã, defensor de pautas que, essas sim, são contrárias ao espírito do evangelho. 

Desde 2010, durante a corrida presidencial, que eu venho alertando sobre isso. Como exemplo, apresento o famigerado, mas esquecido PNDH-3, um programa nacional de desenvolvimento humano idealizado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, mas aparelhado e enfatizado durante o governo do PT. As ações programáticas do PNDH-3 que também são bandeiras partidárias do PT são os seguintes: 

1. Descriminalização do aborto (Eixo Orientador III, Diretriz 9, Objetivo Estratégico 3, alínea "g"); 
2. Legalização da Prostituição (Eixo Orientador III, Diretriz 9, Objetivo Estratégico 3, alínea "h"); 
3. Promoção do Homossexualismo (Eixo Orientador III, Diretriz 10, Objetivo Estratégico 5). 

A alínea "d" deste diz o seguinte: "Reconhecer e incluir nos sistemas de informação do serviço público todas as configurações familiares constituídas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), com base na desconstrução da heteronormatividade”. 

Mas o que isso quer dizer? Isso quer dizer, que a heterossexualidade e a homossexualidade devem ser interpretadas de forma situacional ou relativa, não de forma absoluta. De forma simples, o que o programa pretende é ensinar que a heterossexualidade não é em nada melhor da homossexualidade. Trata-se de algo meramente construído pela sociedade, podendo assim, ser facilmente desconstruído. 

A desconstrução da heteronormatividade traz consigo a afirmação da Bíblia como um livro obscurantista, antiquado, retrógrado, não-inspirado, algo já afirmado explicitamente pelos militantes do movimento LGBT.

O que tudo isso tem a ver com o Partido dos Trabalhadores? Simplesmente, tudo! As ações programáticas listadas acima fazem parte de um compromisso partidário. Todas foram discutidas e defendidas de forma ferrenha nos últimos anos. Luís Inácio Lula da Silva, na apresentação do PNDH-3, afirma o seguinte: “Tenho reiterado que um momento muito importante de nosso mandato foi a realização da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, travestis e transexuais, em 2008, marco histórico na caminhada para construirmos um país sem qualquer tipo de intolerância homofóbica”. 

Além disso, o Partido dos Trabalhadores, através das resoluções do seu 3º Congresso, em 2007, reafirma o compromisso partidário de defender a “autodeterminação das mulheres, da discriminalização[sic] do aborto e regulamentação do atendimento a todos os casos no serviço público, evitando assim a gravidez não desejada e a morte de centenas de mulheres”. 

O serviço público mencionado é o SUS (Sistema Único de Saúde). Interessantemente, o PNDH-2, datado de 13 de maio de 2002, na proposta geral 334 se compromete a “considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos serviços públicos de saúde para os casos previstos em lei".

Nem vou adentrar às aberrações anticristãs que estão presentes no famoso Caderno de Teses do PT. Mas a questão é que os cristãos evangélicos têm, não o DIREITO, como defende Costa, mas, sim, o DEVER de jamais apoiarem um partido iníquo como o PT.

Sobre os pecados elencados por Costa, gostaria de fazer as seguintes observações:

1. Ele, mais uma vez, labora em erro quando afirma que o apoio dado a Bolsonaro foi acrítico e incondicional. 

Diversos líderes e pastores evangélicos que apoiaram Bolsonaro também manifestaram as suas discordâncias e fizeram questão de afirmar que o apoio dado ao candidato trazia consigo o dever de cobrar o zelo e a justiça quando do exercício da magistratura. Inúmeros pastores manifestaram que Jair Bolsonaro não era o candidato ideal, mas diante de todo o quadro, e de todos os candidatos, ele era o melhor - o melhor dos ruins, talvez. Mas a configuração, dentre os principais candidatos, era a seguinte:


Fernando Haddad, um marxista leninista/stalinista, ideólogo apaixonado pelo sistema soviético, com uma vice-candidata, Manuela D'Ávila, apaixonada pelo comunismo maoísta chinês;

Ciro Gomes, um socialista declarado, candidato por um partido filiado à Internacional Socialista e adepto do Nasserismo, uma espécie de socialismo árabe autóctone;

Geraldo Alckmin,
um socialista fabiano, adepto do gramcismo, tutelado por um sociólogo gramcista declarado, Fernando Henrique Cardoso;

Marina Silva, embora cristã evangélica professa, também adepta do socialismo;

João Amoêdo, que, embora liberal na economia, o que é bom, acabava patinando quando da tratativa de questões como o aborto e ideologia de gênero. Tanto era assim, que muitos dos seus eleitores afirmavam categoricamente que, a questão econômica, e não a moral, era o que tornava imperativo o voto em Amoêdo.

Costa não declarou em momento algum em quem votou, mas é certo que o seu voto foi dado a algum candidato socialista. Ademais, enquanto Costa acusa a igreja evangélica de ter sido acrítica em seu apoio a Bolsonaro, ele fez críticas apenas ao candidato do PSL, e a nenhum outro.

Para Costa, as declarações de Bolsonaro sobre posse e porte de armas são anticristãs e contrárias ao espírito do Sermão do Monte. Mas, ele está errado. Embora não afirme explicitamente, imagino que ele tenha em mente a passagem de Mateus 5.38-42, onde Jesus diz que devemos amar os nossos inimigos e dar a face a quem nos fere. 

Sobre isso, vou me limitar a remeter o leitor à exposição que faço da questão das armas e a fé cristã, no qual analiso, dentre outras, a passagem de Mateus 5.38-42 (https://www.youtube.com/watch?v=2Fz0UGuBfvw). Assim, Costa está profundamente equivocado quando afirma que é um absurdo e uma grande iniquidade desejar permitir que os cidadãos de bem passem a andar armados. O Cristianismo não é desarmamentista.

2. Inegavelmente, Costa está correto em lamentar que ataques pessoais tenham sido dirigidos mutuamente ao longo das eleições. Mas, mais uma vez, ele está equivocado quando dá a entender que as questões em jogo eram meramente periféricas. Ele afirma que a disputa não era sobre doutrinas essenciais, como as da Trindade e da divindade de Cristo, por exemplo. 

Apesar disso, questões como ideologia de gênero, aborto, descriminalização das drogas, redefinição do casamento como instituído por Deus e o papel do Estado como vingador de Deus na punição daqueles que fazem o mal são questões periféricas? De jeito nenhum! 

São questões importantes que, apesar de não estarem na mesma categoria das doutrinas mencionadas acima, são, sim, questões das quais muitas outras dependem para a saúde da igreja e a pureza do evangelho.

3. Sobre a diversidade de opiniões na igreja, Costa está certo quando defende que ela deve ser defendida. Um dos princípios da fé reformada é a liberdade de consciência, segundo a qual, somos livres para fazermos escolhas que estejam de acordo com a nossa consciência. Costa só labora em erro quando parece defender que este é um valor absoluto. 

Ninguém tem liberdade para pecar. Ninguém tem liberdade para fazer escolhas pecaminosas. Por tudo aquilo que o PT defende, e visto que o voto é uma aliança entre eleitor e candidato, votar no PT é, sim, pecado. Embora a igreja não seja senhora da nossa consciência, Deus, falando nas Escrituras, é o Senhor da nossa consciência. Nosso dever, como cristãos, é alimentarmos a nossa consciência pela Palavra de Deus.

4. Costa professa ser um cristão protestante calvinista. Como tal, creio eu, ele conhece bem a verdade de que o coração do homem já é naturalmente fechado para a pregação do evangelho. As pessoas não precisam de motivos para se recusarem a ouvir a pregação do evangelho. Elas já o são. 

É assustador que Costa culpe a igreja pela antipatia e perseguição por parte dos incrédulos, como em relação ao vídeo aludido por ele, em que uma turba de esquerdistas afirma que a igreja fascista está em sua lista. A igreja está na lista da esquerda e, de acordo com ele, a culpa é da igreja. É de embasbacar.

5. Como assim tirar o evangelho da campanha política? É justamente aí que o evangelho deve se fazer presente. Costa afirma que a igreja deveria ordenar que Bolsonaro retirasse o evangelho da sua campanha em função do pensamento desarmamentista de Costa. 

Além disso, ele entende que o evangelho diz respeito apenas a justiça social definida em termos de cuidado com os pobres e de redistribuição de renda. Para Costa, o evangelho não tem nada a ver com questões como as já mencionadas acima: aborto, ideologia de gênero, família etc. Para ele, tais questões são meras expressões de moralismo, não o evangelho. Costa demonstra uma visão bem limitada, estreita do que é o evangelho.

Concluo:

Antônio Carlos Costa nega ser socialista ou marxista. Ele se define como um social-democrata. Ele diz repudiar Karl Marx e o comunismo. Não obstante, eu sempre trago à mente a definição de James W. Sire sobre Cosmovisão, como um conjunto de pressuposições que sustentamos consistente ou inconsistentemente, consciente ou inconscientemente, sobre a realidade que nos cerca. 

Isso porque, não é necessário que uma pessoa assuma, explicitamente, ser marxista, para que ela seja marxista. É perfeitamente possível que uma pessoa seja identificada com o marxismo, sem professar isso abertamente e sem nem mesmo nunca ter lido uma obra de Marx. Como pode ser isso?

Basta observar o ideário da pessoa, suas ideias, seus conceitos, suas afirmações. Nesse sentido, Antônio Carlos Costa já de há muito tempo demonstra ter sido profundamente influenciado pela visão de mundo marxista. 

Prova disso é a maneira como, em seu livro Convulsão Protestante: Quando A Teologia Foge Do Templo E Abraça A Rua, publicado pela editora Mundo Cristão, ele usa amplamente conceitos marxistas como a mais-valia e a teoria do valor-trabalho. Yago Martins já fez uma excelente resenha do mesmo e, em breve, voltará a publicar a mesma.

Eu não desejo dar a entender aqui que Antônio Carlos Costa seja um ímpio ou que não exista nada em sua produção teológica que seja benéfica. Sua obra As Dimensões Da Espiritualidade Reformada é, no geral, muito boa. E muitas pessoas testemunham dos benefícios que, em outros tempos, receberam por meio do seu ministério. Pessoas próximas a ele testemunham da qualidade da sua exposição bíblica e da influência de D. Martyn Lloyd-Jones em seu ministério. 

Porém, essas mesmas pessoas se entristecem como, a partir de 2006, quando houve uma queima de ônibus em que algumas pessoas morreram no Rio de Janeiro, o ministério de Costa deu uma guinada à esquerda. Ele criou uma ONG, a Rio de Paz. Tornou-se um ativista dos direitos humanos. Como ele mesmo afirmou ao site Franciscanos: "Deixei de ser um teólogo voltado para o ensino da Teologia e passei a ser um militante de direitos humanos" (http://franciscanos.org.br/?p=166577).

Costa pode até não desejar ser identificado como socialista ou marxista, mas o seu trabalho dialoga, quase que exclusivamente, com ativistas dos direitos humanos de inclinação ideológica esquerdista, de maneira que, ainda que contra a sua vontade, não há como não reconhecer as lentes com as quais ele lê a realidade brasileira. São lentes vermelhas.

De posse dessas lentes, ele se assenta sobre o cume da teologia reformada e julga a todos que apoiaram Bolsonaro.

Phonte: Perfil do autor no Facebook

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