sábado, 22 de dezembro de 2018

Natal: Deus no tempo

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No Natal, nós celebramos algo maravilhoso: Deus adentrando em nosso tempo e espaço. O eterno torna-se temporal; o infinito, finito; a Palavra que criou todas as coisas tornou-se carne.

Encarnação

Oh, quão misterioso é tudo isto! Aquele que sabe todas as coisas (João 16:30, 21:17) “cresceu em sabedoria” (Lucas 2:52). O Autossuficiente teve fome e sede (Mt. 4:2, João 19:28). O Criador de tudo não tinha casa (Mt. 8:20). O Senhor da vida padeceu e morreu. Deus encarnado foi desamparado por Deus Pai (Mt. 27:46).

Em Jesus, Deus Filho, que conhece o fim desde o princípio (Is. 46:10) viu seu plano eterno acontecer pouco a pouco, detalhe por detalhe. Ele foi bebê, criança e adulto, respondendo a eventos enquanto aconteciam. Por vezes se alegrava, em outras ocasiões, chorava. Dia após dia, hora após hora, o imutável Deus passava por mudanças. 

Mas o Deus Filho encarnado continua sendo Deus, continua sendo transcendente. Enquanto reage aos eventos no tempo, Ele também olha de cima o mundo, assistindo ao tempo e espaço, comandando todos os eventos naturais e históricos.

Por que Deus adentrou no tempo em Cristo? José nomeou o seu filho Jesus, “porque Ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt. 1:21). Foi o amor de Deus (João 3:16) que enviou seu Filho, “para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” O Filho de Deus tomou sobre si as limitações do tempo, até da morte, para que nós merecedores da morte tenhamos vida ilimitada, para sempre com Deus. Ele morreu em nosso lugar para nunca experimentarmos a morte.

Na encarnação de Jesus, os anjos se maravilharam (Lucas 2:14, Ef. 3:10, 1 Pe. 1:11-12). E nesse episódio, filósofos não cristãos e especialistas religiosos religiosos olharam perplexos. Em sistemas não-cristãos de pensamento, é impossível para a realidade final entrar no tempo e espaço. 

Para os religiosos ocidentais, para Platão e Aristóteles, e gnósticos antigos, o ser supremo é impessoal, e perde seu caráter absoluto se entrar em contato com a realidade temporal. Para outras religiões e filosofias, o ser supremo, se existir de fato, é o próprio mundo temporal, ou outro aspecto disso. Para eles, “deus encarnado” é indistinguível para o resto do mundo finito.

Somente na religião bíblica há a clara afirmação de um Deus pessoal distinto do mundo que Ele criou, que é capaz de vir a esse mundo criado sem comprometer ele mesmo e sem se perder no próprio mundo. Como encarnado, Ele permanece completamente Deus e revela sua divindade completa claramente a todas as sua criaturas apesar de todos os mistérios que mencionei anteriormente. 

Mas isso significa que somente na Escritura nós aprendemos do Deus que nos ama tanto que, maravilhosamente e poderosamente, adentrou no tempo juntamente conosco e permanece forte para vencer a batalha de Deus na história contra Satanás e contra o pecado.

Teofania

A encarnação é maravilhosa e absolutamente única. Somente uma vez Deus se tornou homem. Ele permanece Deus e homem pela eternidade (Cl. 2:9, Hb. 7:24). Ele se tornou homem para que fossemos salvos do pecado de uma vez por todas.

Mas a encarnação não foi a primeira vez que Deus adentrou no tempo. A Escritura registra outras vezes quando Deus encontrou-se com o homem na história: com Adão e Eva no Jardim, com Noé, com os patriarcas e Moisés, com Isaías no templo, e assim por diante. Ele apareceu a Israel no deserto em uma nuvem e fogo, ao longo dos 40 anos. Sua glória desceu no tabernáculo e no templo.

Esses eventos são chamados pelos teólogos de “teofanias” (“aparições” de Deus), não são encarnações. Nelas, Deus não se torna carne para sempre, morre pelos pecados e ressurge em glória. Mas elas se assemelham a encarnação de Deus em alguns aspectos. Certamente, são eventos misteriosos. Como em Jesus, Deus na teofania entra em um processo histórico, uma série de episódios. Ele se torna um ator na sua própria trama histórica.

Em Isaías 6, Deus assiste e ouve os anjos cantando seus louvores. Ele espera até eles terminarem. Então Ele ouve o arrependimento de Isaías, observa sua purificação simbólica (6-7), fala a Isaías, ouve sua resposta (8) e continua o diálogo (9-13). 

Deus atua no tempo, respondendo a cada evento enquanto acontece, fazendo o que é apropriado a cada momento. Ele muda, em uma maneira: uma hora Ele ouve, na outra ele fala. Ele muda, apesar de ser imutável (Tiago 1:17).

Em Êxodo 32, Israel rebela-se contra Deus ao adorar o bezerro de ouro. Deus ameaça destruí-los e colocar outra nação em seu lugar composta por Moisés e seus descendentes (verso 10). Mas Moisés intercede: Senhor, lembre-se de suas promessas a Abraão, Isaque e Jacó. E Deus “arrepende-se” (verso 14). Ele não destrói a Israel, apesar de sua ira. 

Aqui nós percebemos como Deus em sua teofania completa seu plano: através do diálogo com o homem. Ele primeiro profere sua intenção inicial (uma declaração do que Israel merece verdadeiramente), mas então, em resposta a intercessão de Moisés, promete graça em lugar da destruição. 

A graça sempre esteve no seu plano eternal; mas Ele também planejou trazer graça por meio da oração dos homens, não sem ela. Antes da oração de Moisés, somente o julgamento estava em curso. Através de um peça e encontre entre Deus e Moisés, o Senhor pôs em prática sua vontade eterna.

Na teofania, Deus, cujo plano eterno fez todas as coisas acontecerem (Ef. 1:11), espera episódios que ele previamente ordenou. Ele realiza seu querer, não instantaneamente, mas por um processo Ele realiza sua vontade a seu tempo ao tornar-se um ator na trama histórica na qual Ele mesmo é o escritor. Ele não apressa o fim, como Ele poderia fazer. 

Como na encarnação, Ele responde aos acontecimentos à medida que eles ocorrem. Em um momento ele fala de graça e bênção, em outro, do julgamento. Ele fala e age apropriadamente às situações. Dessa maneira, os mistérios da teofania são similares aos da encarnação.

Onipresença Temporal

Mas mesmo a encarnação e teofania juntas não exaurem as misteriosas formas com que Deus vem ao tempo. Em um sentido, Deus está sempre no tempo, na história. Nós não hesitamos em falar da onipresença de Deus no espaço: Deus está em todo lugar. Nós não podemos escapar de sua presença na bênção e no julgamento (Sl. 139:7-12, Jonas 1-2, Atos 17:28). Mas se Deus é presente no espaço, Ele o é no tempo. Se Ele está sempre aqui, então Ele também está sempre agora.

Israel no Egito sabia que Deus era Deus de seus pais Abraão, Isaque e Jacó. (Ex. 3:6); mas gemendo sob escravidão, eles devem ter pensado se Deus continuava sendo seu Deus, se era capaz de cumprir Suas promessas após 400 anos de silêncio. Creio que o misterioso nome “EU SOU” (Ex. 3:14) é em parte a resposta a essas preocupações. Deus diz a Moisés, “Eu serei contigo” (3:12), não somente na teofania da sarça ardente, mas também quando Moisés se apresenta perante o Faraó exigindo que seu povo fosse liberto.

Ele permanece conosco agora. Jesus disse que Ele estaria conosco sempre (Mt 28:20) em Espírito (João 14:15-18). Isso significa que Deus continua sendo um ator na história, bem como na história transcendente. Ele está comigo enquanto escrevo, assistindo um momento passar para o seguinte, respondendo apropriadamente a cada um dos eventos, trazendo seu soberano senhorio a comandar cada acontecimento à medida que eles surgem, ouvindo e respondendo minhas súplicas. 

Mas Ele está também olhando de cima o mundo em sua transcendência, de que ponto de vista atemporalmente eterno. Ele é transcendente e imanente ao mesmo tempo, Ele traz todas as coisas ao acontecimento no seu eterno plano. Como imanente, Ele trabalha com e em todas as coisas, momento após momento, para realizar sua soberana vontade.

Então Emanuel, o nome de Deus no Natal, é apropriado. A encarnação de Jesus, única como é, é em alguns aspectos, como Deus se relaciona com o mundo em todos os tempos, em todas as gerações (Sl. 90:1). Deus continua sendo um ator em nossa história, agindo, reagindo, sofrendo e alegrando-se. Mas Ele age na história como o soberano Senhor da história.

Os escritores do movimento dos “teístas abertos” como Gregory Boyd, William Hasker, Clark Pinnock, Richard Rice e John Sanders acreditam que se nós devemos fazer justiça ao intermediar o relacionamento entre Deus e sua criaturas na história, nós devemos rejeitar o soberano controle de Deus sobre a história e até mesmo seu imenso conhecimento sobre o futuro. Essas conclusões não se dão logicamente e são bíblicas. (Explorarei o teísmo aberto mais profundamente no meu livro Doctrine of God a ser publicado pela P&R Publishers.) 

Além disso, essas imagens bíblicas do agir de Deus no tempo deve nos conduzir a uma visão mais elevada da soberania de Deus. Nosso Deus é aquele que pode e realiza seu soberano querer, não somente “de cima”, por seus eternos decretos, mas também “de baixo”, fazendo todas as coisas trabalharem juntas para o seu bom propósito (Romanos 8:28). 

Até as aparentes derrotas de Deus na história são colaboradoras em seu plano eterno. Na morte de Cristo por nossos pecados, Deus estava agindo temporalmente para cumprir seu propósito soberano.(Atos 2:23).

Então o Natal revela de um modo maravilhoso que Deus age no tempo tanto quanto acima dele. Isso nos mostra quão maravilhosamente Deus se relaciona conosco, não somente como.sendo de um reino misterioso, mas como uma pessoa em nosso próprio tempo e espaço : interagindo conosco, ouvindo nossas orações, guiando-nos passo a passo, castigando-nos com disciplina paterna, confortando-nos com maravilhosas promessas das bênçãos de Cristo. 

Verdadeiramente Ele é Emanuel, o Deus de fato está conosco, que é nada menos do que eternamente soberano Senhor de tudo.

Autor: John Frame
Fonte: John Frame & Vern Poythress

Tradução: Vitor Barbosa Fróes Souza
Divulgação: Bereianos

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