terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Blogueiro saudita condenado a mil chicotadas está “muito deprimido” e gravemente doente, diz sua esposa no quarto aniversário de sua condenação a açoites

Blogueiro saudita Raif Badawi

Khaleda Rahman para o Mailonline

A esposa de um blogueiro da Arábia Saudita, condenado a mil chicotadas e 10 anos de prisão, teme que ele esteja à beira da morte antes do quarto aniversário de seu brutal castigo público.

Raif Badawi foi preso em 2012 e condenado em maio de 2014 por insultar o islamismo depois de criticar os poderosos clérigos da Arábia Saudita em um blog que ele fundou em um caso que provocou reação internacional.

Em janeiro de 2015, ele recebeu 50 chicotadas diante de uma multidão de centenas de pessoas em Jeddah e essa condenação deveria continuar com 50 por semana durante 20 semanas.

Outros açoites foram suspensos depois que ele quase morreu em sua primeira rodada de chicotadas e depois de críticas da UE, dos Estados Unidos, do Canadá, da ONU e mais países. Mas o homem de 34 anos, que completa 35 anos na semana que vem, permanece preso.

Sua esposa, Ensaf Haidar, que mora com seus filhos no Canadá, faz campanha pela liberdade do marido desde então.

No ano passado, ela tinha esperanças de um perdão real depois que um grupo de direitos humanos em Riad manteve conversações com o legislador europeu Josef Weidenholzer.

Agora, em uma entrevista exclusiva antes do quarto aniversário dos açoites públicos de seu marido, ela revelou que Badawi está gravemente deprimido e fazendo planos para quando ele morrer.
“Raif está muito deprimido,” ela disse.

“Ele me informou que se ele morresse, ele queria que seu corpo fosse enviado para Quebec, para que sua alma permanecesse em paz.”

Ela acrescentou: “Ele está doente, tem problemas com os rins e sua saúde psicológica está muito ruim.”

Haidar acrescentou que ela continua no escuro sobre o caso de seu marido, pois as autoridades na Arábia Saudita não lhe dão nenhuma informação.

“Não recebemos nenhuma notícia sobre a condição legal dele porque tudo é secreto no caso dele,” disse ela.

Ela está sendo forçada a criar seus três filhos — com 10, 13 e 14 anos — que ela teve com Badawi, como mãe solteira.

Embora ela e seus filhos tenham se tornado cidadãos canadenses depois que o país lhes concedeu asilo, ela diz que o estado mental de toda a família não está bom.

“Sua situação psicológica está ruim. Não há palavras para explicar isso,” acrescentou ela.

Na primavera do ano passado, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, expressou sua “séria preocupação” com a continuação da prisão de Badawi para o rei saudita, Salman bin Abdulaziz, em uma ligação telefônica.

Desde então, o caso de Badawi se tornou o centro de uma disputa diplomática entre o Canadá e a Arábia Saudita.

Em agosto passado, a Arábia Saudita congelou novas relações comerciais com o Canadá, expulsou o embaixador do Canadá e ordenou que todos os estudantes sauditas voltassem para casa.

Isso ocorreu depois que o Canadá pediu à Arábia Saudita que libertasse ativistas detidos por reivindicarem mais direitos para as mulheres, inclusive sua irmã Samar Badawi, uma proeminente defensora dos direitos das mulheres.

Ela foi homenageada pelo Departamento de Estado dos EUA em 2012 com um Prêmio Internacional Mulheres em Coragem.

Seu irmão Raif foi co-fundador do grupo de discussão da Internet Rede Liberal Saudita.

O grupo promovia a liberdade de expressão e buscava o fim da influência de líderes religiosos na vida pública em um dos países mais radicalmente islâmicos do mundo.

Isso ocorre enquanto a Arábia Saudita continua enfrentando as repercussões da morte de Jamal Khashoggi.

O jornalista do Washington Post, crítico do príncipe herdeiro do reino, Mohammed bin Salman, foi visto pela última vez entrando no consulado saudita em Istambul no dia 2 de outubro do ano passado.
As agências de inteligência dos EUA acreditam que o príncipe herdeiro ordenou uma operação para matar Khashoggi, cujo corpo foi desmembrado dentro do consulado e depois removido.

Mas as autoridades sauditas negam as acusações de que o príncipe ordenou o assassinato.

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