domingo, 10 de novembro de 2019

O padrão bíblico para estabelecer sacerdote

(Foto: YouTube)

Há um princípio divino, revelado nas Escrituras, que sempre está relacionado com o estabelecimento de pessoas no ministério.

Muitos ignoram (até mesmo estando no ministério) o fundamento bíblico no tocante à forma como o Senhor age com relação aos que são estabelecidos numa posição ministerial (ou até mesmo removidos dela). As coisas não acontecem de forma aleatória. O Reino de Deus é constituído por princípios – que Ele mesmo estabeleceu – e por isso não podemos ignorá-los. 

Há um princípio divino, revelado nas Escrituras, que sempre está relacionado com o estabelecimento de pessoas no ministério. Trata-se da consagração, da santificação.

Ao procurarmos entender o padrão celestial para o estabelecimento de alguém no ministério, precisamos recorrer aos registros bíblicos dos dias de Moisés. A razão é que, antes de Moisés, ninguém foi oficial e formalmente estabelecido por Deus no ministério. 

Algumas pessoas aparecem na narrativa bíblica como sacerdotes (como Melquisedeque e Jetro), mas não vemos ninguém sendo colocado por Deus nesta função. A primeira consagração ao ministério aconteceu com Arão e seus filhos, e, logo depois, toda a Tribo de Levi foi separada para as funções ministeriais (ainda que não fossem todos sacerdotes).

Mas há uma pergunta importante que deveríamos fazer ao falarmos sobre os padrões de Deus para se estabelecer alguém no ministério: “Por que a Tribo de Levi foi escolhida?” O plano de Deus inicialmente não envolvia apenas uma tribo. Ele desejava uma nação sacerdotal:

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.” (Êxodo 19.5,6)

O plano divino era um reino (e não só uma tribo) de sacerdotes! Era uma nação santa! A palavra hebraica traduzida como “santa” é “kadosh”, e significa não apenas “algo sagrado”, mas também tem a ideia de “separado”. 

O conceito de “separado” não era simplesmente o conceito de se manter distância dos outros povos, pois o plano divino envolvia o fato de que as nações seriam abençoadas e alcançadas através do povo de Israel (Gn 18.18). Ser “separado”, além de “não contaminar-se com os pecados e práticas dos demais povos”, também significava a necessidade de “ser um instrumento, um canal de Deus para se tocar os demais povos e culturas”!

Entretanto, num momento específico, a Tribo de Levi foi separada para ser uma tribo sacerdotal, ao invés de toda uma nação de sacerdotes. O que aconteceu para determinar esta escolha? O próprio Moisés responde, falando sobre algo que ocorreu entre as suas duas subidas ao Monte Sinai:

“Por esse mesmo tempo, o Senhor separou a tribo de Levi para levar a arca da Aliança do Senhor, para estar diante do Senhor, para o servir e para abençoar em seu nome até ao dia de hoje. Pelo que Levi não tem parte nem herança com seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como o Senhor, teu Deus, lhe tem prometido. Permaneci no monte, como da primeira vez, quarenta dias e quarenta noites; o Senhor me ouviu ainda por esta vez; não quis o Senhor destruir-te.” 
(Deuteronômio 10.8-10)

Ele fala que “por esse mesmo tempo” (e não antes) a Tribo de Levi foi separada. O que aconteceu para determinar esta escolha? O versículo 10 revela quando isto foi determinado: antes da segunda vez que Moisés subiu ao Monte Sinai!

Quando Moisés desceu do Monte Sinai com as Tábuas de Pedra contendo os Dez Mandamentos, ele descobriu que o povo de Israel, liderado por Arão, havia feito um bezerro de ouro e havia se apartado do Senhor. O povo estava desenfreado (não podia ser contido). Então foi tomada uma enérgica medida de juízo:

“Vendo Moisés que o povo estava desenfreado, pois Arão o deixara à solta para vergonha no meio dos seus inimigos, pôs-se em pé à entrada do arraial e disse: Quem é do Senhor venha até mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi, aos quais disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um cinja a espada sobre o lado, passai e tornai a passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho. E fizeram os filhos de Levi segundo a palavra de Moisés; e caíram do povo, naquele dia, uns três mil homens.” (Êxodo 32.25-28)

No momento em que Moisés declara “Quem é do Senhor venha até mim”, os únicos que responderam foram os integrantes da Tribo de Levi: “Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi.” E, naquele mesmo instante, eles se moveram no zelo de santidade e executaram juízo contra os seus irmãos. 

A escolha divina pelos que serão ministros do Altíssimo sempre está associada à consagração e à santificação. Por isso, se um ministro comprometer esses valores, ele terá comprometido a essência do seu chamado!

Assim como vemos na profecia contra Eli e na separação da Tribo de Levi, também vemos este mesmo critério de escolha (ou de rejeição) com relação aos reis de Israel. Este é o caso de Saul:

“Então, disse Samuel a Saul: Procedeste nesciamente em não guardar o mandamento que o Senhor, teu Deus, te ordenou; pois teria, agora, o Senhor confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Já agora não subsistirá o teu reino. O Senhor buscou para si um homem que lhe agrada e já lhe ordenou que seja príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou.” (1 Samuel 13.13)

Eu sempre achei que Saul havia sido levantado “temporariamente”, até que Davi, o escolhido de Deus, aparecesse no cenário. Mas isso não é verdade! Saul teve chances reais de não somente permanecer no trono, mas também, como disse o profeta Samuel, de ter o seu reino sobre Israel confirmado para sempre! Isso não significa que ele seria imortal, mas que a sua linhagem (à semelhança da Aliança que Deus fez posteriormente com Davi) estaria para sempre no trono – o que, a meu ver, revela a possibilidade de que o Messias viesse da linhagem de Saul! 

O que este homem jogou fora não foi apenas o trono (aliás, isso foi o que ele mais aproveitou! Ele reinou por quarenta anos – At 13.21), mas foi também a perspectiva de ele poder estar no desenrolar do plano divino, que envolvia algo muito maior do que ele jamais sonhara!

Vemos a repetição do mesmo caso com o rei Jeroboão. Nos dias de Roboão, filho de Salomão, o reino se dividiu. Judá e Benjamin formaram, sob o comando de Roboão, o Reino de Judá (ou do Sul), e as demais tribos formaram, sob o comando de Jeroboão, o Reino de Israel (ou do Norte). 

Antes de o reino se dividir, uma palavra profética foi dada a Jeroboão, dizendo que o Senhor estava rasgando dez Tribos de Israel, do Reino de Roboão, e entregando-as a ele. E, juntamente com esta notícia, foi dito a Jeroboão o seguinte:

“Tomar-te-ei, e reinarás sobre tudo o que desejar a tua alma; e serás rei sobre Israel. Se ouvires tudo o que eu te ordenar, e andares nos meus caminhos, e fizeres o que é reto perante mim, guardando os meus estatutos e os meus mandamentos, como fez Davi, meu servo, eu serei contigo, e te edificarei uma casa estável, como edifiquei a Davi, e te darei Israel.” (1 Reis 11.37,38)
Se Jeroboão obedecesse ao Senhor – o que sabemos que ele não fez – ele teria o mesmo direito a uma casa estável (firme), como Deus concedeu a Davi! Nem Saul nem Jeroboão foi levantado por Deus para falhar e ser removido! Eles tinham promessas e possibilidades reais de prosperarem no plano divino! Contudo, as suas escolhas (erradas) os afastaram do Senhor! 

Se por um lado a nossa obediência e a nossa consagração nos estabelecem no lugar de serviço designado por Deus, por outro lado a desobediência e a falta de consagração nos removem da posição de serviço em que fomos estabelecidos!

Este é um padrão encontrado em toda a Bíblia! Não somente no Antigo Testamento, mas também no Novo Testamento. No Livro do Apocalipse, o apóstolo João teve uma visão de Sete Candeeiros de Ouro e de Sete Estrelas (Ap 1.20), sendo que os Candeeiros simbolizam as Sete Igrejas (da Ásia) e as estrelas representam os anjos (mensageiros) dessas Igrejas. Uma palavra que o Senhor diz, através de João, ao anjo da Igreja (Candeeiro) de Éfeso é a seguinte:

“Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro [igreja], caso não te arrependas.” (Apocalipse 2.5)

Em outras palavras, o Senhor está dizendo: “Arrependa-se, senão Eu retirarei a igreja (o ministério) que Eu lhe confiei!” É evidente, portanto, que a falta de santidade faz com que alguns ministros sejam removidos do seu lugar de serviço em o Senhor os colocou. 

Por outro lado, vimos que Deus separou a Tribo de Levi para o ministério, justamente por terem se posicionado em santidade, o que nos faz perceber o princípio bíblico de que o que faz com que sejamos estabelecidos no ministério é o nosso compromisso de santidade.

Luciano P. Subirá é o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.

*O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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