quarta-feira, 13 de maio de 2020

2020 vai além de 1984: A profecia de Orwell


Quando um sistema de poder controla o que você opina, suas escolhas e faz uso da força Estatal para punir qualquer decisão que ande em descompasso com sua ideologia política, estamos diante de uma cópia exata do mundo de 1984.

Peraí, existem profetas depois de João Batista? Eu não vou entrar nessa discussão, por mais que ela seja “bem legal”, estou denominando de profeta um romancista do meio do século passado que escreveu uma obra com tons proféticos, sem dúvida nenhuma, e tu entenderás o porquê estamos afirmando isto.

O romance de George Orwell se desenrola em um cenário político totalitário onde as engrenagens do poder promovem ou tentam promover a igualdade entre três grandes classes que permeiam o Estado.

Entretanto, a igualdade entre essas três classes é inexistente. Para criar uma ilusão no corpo político de que essa igualdade é real, o autor faz uso de algumas ferramentas que possibilitam a sensação de uma atmosfera de realidade.

Entre as ferramentas, podemos citar a criação de uma nova língua (novilíngua) que reconstrói os vocábulos, amontoa as palavras e reduz consideravelmente os adjetivos, em especial os adjetivos meritórios[1].

Com esta ferramenta é possível dar um novo tom a paleta de cores do pensamento comum que permeia o corpo político da Oceania. Ao ressignificar conceitos e eliminar os adjetivos meritórios, o Grande Irmão dá o primeiro passo rumo à consciência una e monocromática. Ele, e tão somente ele, é a verdade.

No Brasil, de hoje, é fácil perceber a utilização desta manobra social promovida lá na Oceania de Orwell. Grupos minoritários e progressistas tentam alterar o significado de institutos jurídicos para imprimir a fórceps suas agendas. Ouvimos diariamente os gritos contrários ao pensamento judaico-cristão, estruturante no mundo ocidental e na maioria das vezes diametralmente oposto ao pensamento progressista do new normal.

Pelo mundo afora também percebemos outras modalidades de cópia daquilo que profetizado por Orwell: a supervisão extrema, violando a premissa universal da dignidade da pessoa humana ao sufocar sua liberdade fundamental, sua liberdade religiosa, de expressão e o direito e ir e vir.

O governo chinês é um exemplo que coleciona ações inspiradas no Partido Comunista da obra: 1º) Um sistema de créditos sociais que supervisiona tudo o que você faz por meio de câmeras[2] e 2º) Perseguição religiosa, condenando pastores que não leem/pregam a bíblia conforme a imposição do governo[3].

E o que dizer da perseguição religiosa SIM que estamos sofrendo nestes tempos de pandemia, muitas vezes desadequadas e sem nenhuma razoabilidade com o enfrentamento do covid-19. Suprime-se a liberdade de culto, sem maiores explicações técnico-científicas, como ocorre em Porto Alegre, por exemplo.

Quando um sistema de poder controla o que você opina, suas escolhas e faz uso da força Estatal para punir qualquer decisão que ande em descompasso com sua ideologia política, estamos diante de uma cópia exata do mundo de 1984.

Quem diria, parece que hoje estamos piores do que o passado de Orwell, já que na China comunista nem pegar um metrô para viajar o cidadão poderá, caso seus créditos sociais (creditados pelo governo) estejam em valor baixo. E, no Brasil, em São Paulo, por exemplo, já se fala em controle de nossos movimentos via gps de nossos celulares.

Mas as ações silenciosas, no Brasil, também merecem nossa atenção. O ambiente acadêmico como um antro de violações a liberdade de expressão e limitação do conhecimento acadêmico é um alerta. Talvez não tenhamos um grande irmão, mas há “pequenos irmãos” agindo de forma conjunta em diferentes locais, de forma discreta: quer seja condenando sua visão política contrária ao progressismo, quer seja te punindo com pena privativa de liberdade, quer seja criando tipos penais.

A linguagem, moldada pelo “Ministério da Verdade”, também é uma estratégia da classe subversiva. Investem tempo em uivar novos conceitos ou distorcer conceitos tradicionais, até que ocorra uma assimilação pelo corpo político por meio da repetição.

Exemplo disto é a laicidade brasileira: gritam que o Brasil é laico e por isto o fenômeno religioso não pode ocorrer no espaço público, enquanto a laicidade é exatamente a garantia da ocorrência plena do fenômeno religioso, tanto no espaço público quanto no espaço privado. Estas são apenas algumas das ferramentas utilizadas hoje e profetizadas por George em sua obra.

[1] Um exemplo é eliminar qualquer variação em torno das duas oposições: bom e ruim. Não pode haver um ótimo, ou regular, apenas o bom e o ruim.

[2] China pune quem lê Bíblia sem aprovação dos comunistas. Disponível em: < https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/madeleine-lacsko/china-pune-quem-le-biblia-sem-aprovacao-dos-comunistas/?fbclid=IwAR09kTHUzo6Hm0Bea9fq02IutDYRCJnUGogvRc8m0vi-gwGj-73_KAhEiCM >

[3] Pastor é condenado a 9 anos de prisão em renovada perseguição a cristãos na China. Disponível em: < https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/pastor-e-condenado-a-9-anos-de-prisao-em-renovada-perseguicao-a-cristaos-na-china/ >



Thiago Vieira

Advogado, especializado em Direito Religioso, com pós em Liberdade Religiosa pelo Mackenzie, estudos em Oxford e Coimbra; pós em Direito do Estado pela UFGRS e pós-graduando em Teologia e Bíblia pela Ulbra, Presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Religião – IBDR. Co-autor da Obra: Direito Religioso: questões práticas e teóricas.

Phonte: Gospel Prime

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