sábado, 6 de dezembro de 2014

Demência: A ceia acridoce


Por Norma Braga

O jejum de postagens que me impus por ora devido à tendinite e à enxaqueca precisou ser quebrado quando vi no meu Facebook uma notícia sobre evento da Fraternidade Teológica Latino-Americana, em Belo Horizonte. 

Era sobre a ceia, com fotos estranhas: em vez do pão, duas bandejas, uma com limão fatiado e outra com quadradinhos marrons. Dizia a legenda: "Compartilhamos o amargo e o doce da vida simbolizados pelo limão e pelo doce de leite."

Não sei se algum dos participantes conseguiu perceber ou intuir isto, mas a mudança nos elementos, aos quais foi atribuído outro simbolismo, perverteu tudo. A ceia é o sacramento instituído pelo próprio Jesus Cristo para lembrarmos que só estamos vivos porque nos alimentamos dele, ou seja, do corpo e do sangue que ele entregou em sacrifício vicário por nós. 

Sim, como irmãos em Cristo, compartilhamos “o amargo e o doce da vida”, mas não é para isso que a ceia aponta. Nesse memorial solene, não lembramos os acontecimentos bons ou ruins que nos sobrevêm (ênfase no “eu”), mas sim o acontecimento único e irrepetível do sacrifício de Cristo, que “matou a nossa morte” na cruz. Ao atribuir aos elementos a experiência humana tão prosaica dos “sabores da vida”, perdeu-se a unicidade do que foi feito no Calvário; perdeu-se todo o propósito da ceia.

Dividida entre o riso da presença inusitada (limões e doces!) e a tristeza pelos profundos rasgos no significado do sacramento, acabei me decidindo por admirar a mente por trás disso. Afinal, não é realização pequena desvirtuar todo o sentido da ceia de Nosso Senhor apenas com uma troca de alimentos. 

Tremi ao pensar que, reunidos ali, em vez de contemplarem a Cristo e sua obra, os que tomaram parte nesse ritual torcido foram inevitavelmente levados a emocionar-se a partir de uma pura autocontemplação. A cruz ficou à sombra da consciência. E admirei o feito como quem se depara com um espetacular e horrível monumento idolátrico.

Ao mesmo tempo, não pude deixar de pensar que talvez, no caso da Fraternidade Teológica Latino-Americana, o simbolismo seja exato: quando se acomoda no cerne das ênfases cristãs, o esquerdismo dá as mãos ao velho liberalismo e adquire a mesma função idolátrica, transformando algo único e celestial, doador de vida, em uma estéril e autolaudatória amenidade humanista.

Atualização importante: O texto foi modificado depois que Alex Fajardo explicou no Facebook, e aqui nos comentários, que não ocorreu uma substituição dos elementos, mas sim um acréscimo.

No entanto, o acréscimo não muda em nada a substância do que escrevi: houve uma modificação fundamental no sacramento instituído por Cristo, uma modificação que tirou o foco da obra de Cristo na cruz e enfatizou "o doce e o amargo da vida", ou seja, o ser humano e suas vicissitudes. 

Conta-se que o celebrante, pr. Carlos Queiroz, passou dez minutos explicando o significado que ele atribuía ao limão e ao doce, e ainda observou que "não iria consagrar os elementos, pois alguns poderiam não concordar com ato que ele iria realizar". Isso significa que ele estava ciente de que aquilo poderia chocar alguns. 

Como expliquei ao Alex, em primeiro lugar, ceia não é momento para se arriscar a ferir ou escandalizar algum irmão. Ao escolher o momento da ceia para trazer uma novidade dessas, o celebrante não pensou que a ceia é um sacramento de COMUNHÃO e esse tipo de proposta diferente subverte esse propósito.

Em segundo lugar, a primeira nota do Alex, que apenas mencionou a novidade (e realmente deu a entender a substituição), demonstra que o que mais marcou os participantes dessa ceia foi o acréscimo, e não o que se faz usualmente. Claro: é da natureza humana que nos lembremos especialmente do novo. E esse "novo", no caso, tirou do ritual a centralidade de Cristo.

Em terceiro lugar, e supremamente importante: QUEM deu autoridade aos ministrantes da ceia para ACRESCENTAR outros elementos ao pão (corpo) e ao vinho (sangue)? Isso é muito sério. 

Nenhum pastor ou líder religioso tem autoridade para modificar o que Jesus instituiu como sacramento e memorial. Somos irmãos e estamos vivos espiritualmente não por causa das "vicissitudes da vida", mas pelo corpo e pelo sangue de Cristo, UNICAMENTE. 

Além disso, qualquer acréscimo arbitrário à simbologia da comunhão sugere que não estamos mais no espírito bíblico, mas sim no de seita.

Phonte: Blog da Norma Braga 
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"Encerramento da Consulta da Fraternidade com a Ceia celebrada[...] Compartilhamos o amargo e o doce da vida simbolizados pelo limão e doce de leite. Vida e comunhão é muito mais que "elementos e rituais"[...]é isso que é a teologia verdadeira ...." (texto da divulgação da ceia)

Estas afirmações antropocêntricas e anti-bíblicas são tão amargas (ou azedas?) quanto o limão utilizado nesta ceia. Se o liberalismo esquerdista continuar invadindo os seminários e entidades ditas teológicas, em pouco tempo muitos vão trocar a bíblia por literaturas socialistas, além de celebrar a ceia tomando coca-cola com pão de queijo.


Excelente texto Norma, parabéns pelas colocações.

Ruy Marinho

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