sábado, 24 de outubro de 2015

Livro ataca a “esquerda caviar” e põe a nu os comunistas de salão


"Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;"
 Mateus 25:41

Mais do que uma profissão de fé política, ser de esquerda é uma cultura. Enquanto o político comum trafega no terreno das contingências, acudindo necessidades, o político de esquerda se move no horizonte da utopia, aguçando desejos.

Ser de esquerda é mais do que empunhar uma bandeira, militar num partido ou participar de um movimento – é, sobretudo, um estado de espírito, que oferece ao indivíduo uma reconfortante comunhão com a humanidade, substituindo a comunhão com Deus que os crentes buscam na religião.

Ser de esquerda tornou-se sinônimo de luta por justiça social, pela preservação do meio ambiente e em defesa das minorias. Por isso, ninguém quer ser de direita no Brasil e o campo da esquerda no espectro político está congestionado, abrigando as mais díspares figuras, que vão do líder sindical ao professor universitário, passando pelo estudante de passeata e o socialista de salão.

É essa esquerda para proletário ver, que desconhece contracheque e cartão de ponto e abriga até milionários, que o economista Rodrigo Constantino resolveu combater em “Esquerda Caviar”, seu mais novo livro, que acaba de ser lançado pela Editora Record.

Nas 434 páginas da obra, o autor examina diversas situações protagonizadas pelo que chama de “esquerda caviar” e observa que a expressão tem origem na França (“gauche caviar”) e equivalentes na Inglaterra (socialista “champagne”), Estados Unidos (“liberal limusine”) e Itália (“radical chic”). “Os artistas e os intelectuais se tornaram os grandes ícones desse movimento.

Todas as causas vistas como nobres são abraçadas por essa turma, que parece infinitamente mais preocupada com os aplausos da plateia e a própria sensação de superioridade moral do que com os resultados concretos daquilo que prega”, escreve Rodrigo Constantino.


Para o economista, o maior ícone da esquerda caviar no Brasil é Chico Buarque, que assumiu o posto com a morte de Oscar Niemeyer. Tanto o longevo arquiteto, que morreu em 5 de dezembro de 2012 prestes a completar 105 anos, quanto o compositor, que já fez 69 anos, são exemplos máximos da esquerda festiva, que pratica um socialismo de salão e pontifica sobre os oprimidos da terra, mesmo refestelando-se no consumo capitalista.

“A marca registrada dessa esquerda caviar, que adora o socialismo do conforto de Paris, que prega uma radical mudança no estilo de vida dos outros para mitigar o aquecimento global, é a antiga máxima ‘faça o que eu digo, mas não o que faço’”, critica Constantino, que se propôs a fazer um tratado sobre o tema.

“Esquerda Caviar”, o livro, se divide em três partes: a primeira analisa as origens do fenômeno; a segunda elenca as principais bandeiras da esquerda caviar em todo o mundo; e a terceira destaca seus principais ícones, que, de acordo com a taxonomia do autor, se dividem em “políticos, gurus e legitimadores” e “hollywoodianos e outros boçais úteis”. 

Para Constantino, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que desfruta de uma verdadeira “obamania”, com idólatras em todo o mundo, encabeça a lista da esquerda caviar. “Com a retórica de luta de classes, Obama expandiu o assistencialismo, e nunca houve tanto americano dependendo de esmolas estatais.


A meritocracia cedeu espaço ao coletivismo”, escreve Constan­tino, que também explora as ligações do presidente norte-americano com radicais marxistas, inclusive com um adepto do terrorismo, o professor Bill Ayers, que leciona na Uni­versidade de Michigan.

Em seguida, Constantino reserva espaço para Mahatma Gandhi (1869-1948), que, como admite, não integrava a esquerda caviar, mas tornou-se um ícone sagrado da mesma, apesar das muitas contradições de sua vida, premida entre a “incrível ingenuidade” e a “persistente ilusão”. Observa o autor que, em 1921, Gandhi ajudou no boicote aos tecidos estrangeiros na Índia, chegando a atear fogo em pilhas deles.

Mas, quando questionado se não seria melhor doá-los aos pobres, afirmou que não, pois os tecidos eram pecaminosos. “Gandhi idealizava a vida comunitária pré-industrial, autossuficiente, e com isso era um ferrenho inimigo do progresso de que vários de seus fãs desfrutam”, observa Constantino, acrescentando que Gandhi considerava Lênin como um mestre espiritual e via Hitler com olhos benevolentes.

Entre outros ícones da esquerda caviar a quem Rodrigo Constantino dedica análises especiais estão o músico John Lennon (que “brigava com homens e batia em mulheres”), o linguista Noam Chomsky (que “encarna de forma perfeita o manual da esquerda caviar”) e o economista Paul Krugman (“empedernido guerreiro das causas esquerdistas”, cujo “keynesianismo alucinado faria corar de vergonha o próprio Keynes”).

Na lista de Constantino não poderia faltar e não faltam o cineasta Michel Moore, o político Al Gore, o megainvestidor George Soros, o ator Sean Penn e o roqueiro Bono Vox. Todos eles faturam milhões no capitalismo, mas não se pejam de cuspir no prato da democrática economia de mercado em que comem, professando o antiamericanismo e cultuando ditadores de esquerda.

Iate do Tche!

José Saramago e García Márquez


Há outros nomes que entram merecidamente na lista de ícones da esquerda caviar elaborada por Rodrigo Constantino, como o cineasta Oliver Stone (amigo do peito de Fidel Castro e Hugo Chávez), mas, no conjunto, a lista parece um pouco arbitrária. 

A atriz Angelina Jolie, por exemplo, é elencada como ícone da esquerda caviar, mas o próprio autor admite que “sua postura política sequer é de esquerda e está mais para uma postura independente mesmo”. A atriz é mais um caso psicológico do que político e não faria nenhuma falta na lista.

O mesmo vale para o apresentador Luciano Huck, arrolado entre a esquerda caviar apenas pelo seu bom mocismo. Constantino, como se incorresse na inveja que aponta nos esquerdistas, afirma que Huck é o “Mr. Simpatia da TV Globo, o garoto bom, ícone da turma politicamente correta”, que “exala bondade, correção, altruísmo e isso tem um altíssimo valor de mercado na hora das campanhas publicitárias, que, em seu caso, são muitas”.

É certo que artistas como Luciano Huck se associam a campanhas da esquerda caviar, como a campanha do desarmamento, e o fazem de forma um tanto hipócrita, já que dispõem de guardas armados para sua segurança, mas isso basta para incluir alguém no elenco de ícones da esquerda caviar? Creio que não. Nem mesmo a mansão de Huck em Angra dos Reis, ferindo leis ambientais.


Num mundo ideologicamente plasmado pela esquerda é praticamente impossível para um artista escapar da ditadura do politicamente correto esquerdista, a não ser que queira romper com tudo e se tornar um Lobão, o que exigiria não só coragem, mas também um discurso intelectual minimamente organizado. 

É preciso separar artistas comuns que seguem a onda ideológica por inércia, como parece ser o caso de Luciano Huck e Angelina Jolie, e artistas intelectualizados que estão no leme do barco esquerdista, como Bono Vox e Chico Buarque.

Rodrigo Constantino parece ter priorizado o aspecto midiático do problema, o que talvez se justifique pela grande influência popular dos astros do cinema, da televisão e da música popular. 

Isso fez com que arrolasse entre a esquerda caviar dezenas de personalidades de segundo ou terceiro escalões ideológicos, como os já citados, ao mesmo tempo em que deixou de fora pelos menos dois ícones que jamais poderiam ser esquecidos em qualquer lista da esquerda caviar do planeta: o escritor português José Saramago (1922-2010), primeiro Prêmio Nobel da língua portuguesa, e o escritor colombiano Gabriel García Márquez, também Nobel de Literatura e autor de “Cem Anos de Solidão”, verdadeira bíblia da esquerda latino-americana e obra de sucesso em todo o mundo.

José Saramago era marxista em­pedernido, parceiro de Chico Buar­que e Sebastião Salgado na defesa das causas de esquerda, enquanto Gar­cía Márquez, o Gabo (que hoje, aos 86 anos, perdeu a memória e se aposentou da literatura), é amicíssimo de Fidel Castro, chegando a fundar uma escola de cinema na ilha-presídio do ditador comunista. 

Ambos, ressalte-se, são grandes escritores e, como são reconhecidos em todo o mundo, seus pecados ideológicos podem causar estrago ainda por muito tempo.

García Márquez é citado de passagem por Constantino, mas merecia figurar, com um tópico todo seu, no capitulo dos ícones da esquerda caviar. Da mesma forma, José Saramago, que, em seus últimos anos de vida, tornou-se um oráculo da esquerda mundial, que não se cansava de devorar seus livros e entrevistas.

Mas, a despeito dessas lacunas no capítulo em que analisa os ícones da esquerda caviar, Rodrigo Cons­tantino, ao longo do livro, critica muitos outros esquerdistas do gênero, nacionais e estrangeiros, como o milionário norte-americano Corliss Lamont, filho de um dos sócios do lendário banco J. P. Morgan, que escreveu um livro enaltecendo a União Soviética.

Da mesma forma, Constantino não se esquece da Fundação Ford, já denunciada pelo filósofo Olavo de Carvalho e pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que distribui recursos à mancheia para todas as causas de justiça social, ambientalistas e em defesa dos direitos dos animais. 

“Possui mais de 10 bilhões de dólares em ativos e desembolsa mais de 400 milhões de dólares por ano. É difícil encontrar uma ONG importante de esquerda que não tenha a impressão digital da fundação, especialmente em países em desenvolvimento” – contabiliza Rodrigo Constantino, referindo-se à Fundação Ford.

Livros que a universidade desconhece


Diversos ícones da esquerda tupiniquim, como o escritor Carlos Heitor Cony, o cartunista Ziraldo, o jornalista Zuenir Ventura, a indefectível Marilena Chauí e o ex-casal Eduardo e Marta Suplicy, podem comprar escondido o livro de Rodrigo Constantino que não irão se arrepender: além de se verem retratados como exemplos da esquerda caviar, entre outros camaradas de ideologia, terão a oportunidade de se confrontarem com uma rica bibliografia crítica sobre a esquerda, infelizmente inédita em português.

Aliás, esse é um dos méritos de “Esquerda Caviar”: além de alicerçar seu livro em críticos históricos do pensamento de esquerda ou coletivista, como o sociólogo Raymond Aron, o filósofo Ortega y Gassett, o escritor Nelson Ro­dri­gues e o economista Roberto Cam­pos, para citar alguns, Cons­tantino chama a atenção para ensaístas que a universidade brasileira desconhece ou finge desconhecer, por mero preconceito ideológico, já que é predominantemente de esquerda.

Um deles é o médico e escritor britânico Theodore Dalrymple (nascido Anthony Daniels em 1949), autor do livro “Romancing Opiates”, em que critica a transformação do uso de drogas num problema de saúde pública e mostra que esse modelo, longe de curar o viciado, contribui para produzir e alimentar uma burocrática corporação de especialistas no assunto, ela própria dependente do usuário transformado em paciente. Dalrymple precisa, com urgência, ser traduzido e lido no País, não só pelos universitários que querem se libertar da doutrinação esquerdista, mas também pelos políticos que formulam a legislação sobre drogas.

Sobre ele, o filósofo Luiz Felipe Pondé, autor de “Contra um Mundo Melhor”, escreveu na “Folha de S. Paulo”, em 30 de janeiro de 2012: “Dalrymple devia ser leitura obrigatória para todo mundo que tem um professor ou segue um guru de esquerda que fala como o mundo é mau e que devemos transformá-lo a todo custo. Ou que a sociedade devia ser ‘gerida’ por filósofos e cientistas sociais”.

Essa afirmação de Pondé foi a propósito de um livro citado por Darlymple e organizado pelo “scholar” norte-americano Paul Hollan­der, autor também utilizado em “Es­querda Caviar”. Rodrigo Cons­tan­tino recorre ao livro “Political Pil­grims” (“Peregrinos Políticos”), de Hollander, que analisa as viagens de intelectuais ocidentais para a União Soviética, China e Cuba, no período de 1928 a 1978, mostrando a incoerência de intelectuais como Bernard Shaw, Jean-Paul Sartre e Susan Sontag, que enalteciam regimes repressivos ao mesmo tempo em que se mostravam intolerantes com as sociedades plurais e democráticas em que viviam.


“Intelectuais, normalmente mais sensíveis e atentos aos valores decadentes da sociedade, acabam desenvolvendo um profundo sentimento de indignação moral. Eles olham em volta e abominam a hipocrisia burguesa, a vulgaridade dos gostos, a corrupção dos valores, a impessoalidade do capitalismo, o dinheiro como ícone sagrado. 

Essa revolta cria a predisposição para que deem o benefício da dúvida a qualquer alternativa distante e para que repudiem seu próprio sistema”, observa Ro­dri­go Constantino, inspirando-se em Paul Hollander no tópico em que aponta a alienação como uma das razões que levam o esquerdista caviar a desprezar o capitalismo e a democracia em prol de ditaduras comunistas.

Possíveis causas do fenômeno

A alienação é apenas um dos vinte fatores que Rodrigo Cons­tantino arrola como possíveis causas da esquerda caviar, um fenômeno que não é novo, mas parece ter crescido nos últimos anos, depois que a esquerda mundial superou a queda do Muro de Berlim, abrindo novas frentes de atuação entre os caudilhos bananeiros da América Latina e os terroristas islâmicos do Oriente Médio. E nem sempre por ideais nobres, mas, porque, como afirma Rodrigo Constan­tino, “vender socialismo pode ser rentável no capitalismo”

Constantino elenca uma série de possíveis razões para o surgimento da esquerda caviar, começando pelo “oportunismo hipócrita”, em que enquadra Maria Bethania e a dupla Zezé Di Camargo & Luciano, até a “ignorância” pura e simples, passando pelo narcisismo e pela culpa da elite, o tédio, a histeria, a racionalização, a preguiça mental, a alienação, a insegurança e covardia, o medo, o niilismo, a Síndrome de Estocolmo, o ressentimento, a infantilidade, o romantismo, o desprezo popular, a arrogância fatal e a sede pelo poder, sem esquecer o marxismo, o “ópio dos intelectuais” no dizer de Raymond Aron.

Contradições na explicação do fenômeno


Especialmente pela rica bibliografia com que se põe a analisar cada um desses vinte fatores citados, “Esquerda Caviar” já poderia figurar no corpus de uma tese de sociologia do conhecimento; mas, talvez por sua militância mais jornalística do que acadêmica, Rodrigo Constan­tino incorre em algumas contradições ao tentar explicar o fenômeno que estuda.

Começando pelo fato de que muitos dos fatores que arrola como causa da esquerda caviar não são distintivos da mesma e, dado o seu grau de subjetividade, poderiam explicar um conservador, um liberal ou até mesmo um zé-ninguém ideológico. É o caso de “insegurança” e “narcisismo”, que poderiam ser usados, respectivamente, como possível explicação para um ditador de direita ou um consumista nato.

Outro exemplo de explicação subjetiva para a esquerda caviar é o fator “desprezo popular”, que, aliás, Constantino poderia ter conjugado com “arrogância fatal”, uma expressão do economista liberal Friedrich Hayek para designar a supervalorização da razão na história, que levou aos desatinos da Revolução Francesa.

Um capitalista convicto também pode devotar profundo desprezo ao povo, ainda que o demonstre de outro modo, assim como a arrogância intelectual do esquerdista, que se julga o senhor da verdade, não é muito diferente da arrogância técnica de um economista liberal, por exemplo. 

Estou convicto que todo intelectual – liberal, conservador, de esquerda, de centro ou de direita – é um ditador em potencial e a única forma de se precaver disso é evitando o poder.

Ao falar do desprezo que a esquerda caviar tem pelo povo real, pelo fato de ele não se enquadrar em suas formulações ideológicas, Rodrigo Constantino cita o exemplo de Marilena Chauí, que vocifera aos quatro ventos seu ódio à classe média. “Se o mercado valoriza mais, financeiramente falando, um craque de futebol do que um filósofo, então a vingança virá pelo ataque ideológico ao mercado”, diz Constantino. 

E acrescenta: “Esses intelectuais desprezam as escolhas populares da classe média. Todo aquele que parece se divertir com futebol, novelas ou filmes é retratado como um alienado sob o domínio do capital”. O que é um equívoco.

Como o próprio Constantino reconhece em outro ponto do livro e reiterou em recente artigo no seu blog de “Veja”, a universidade já não aceita hierarquizar as culturas e coloca no mesmo nível de Mozart a bestialidade do funk.



Acertadamente, Rodrigo Constantino alerta que “não há socialismo moderno sem uma novilíngua orwelliana” e dedica um tópico de “Esquerda Caviar” ao problema da manipulação da linguagem por parte da esquerda. “Confúcio teria feito um alerta importante: ‘Quando as palavras perdem seu significado, as pessoas perdem sua liberdade’. O uso adequado das palavras é essencial para a compreensão da realidade. Sem isso entramos em um pântano perigoso”.

E, como consequência dessa sua preocupação com a linguagem (infelizmente não observada em alguns palavrões desnecessários que espalha no texto), Constantino também se dedica a analisar a hegemônica presença do pensamento de esquerda na imprensa, lembrando que não se trata de um fenômeno brasileiro, mas mundial, inclusive nos Estados Unidos.

Na segunda parte de “Esquer­da Caviar”, Rodrigo Constantino arrola e disseca as principais bandeiras da esquerda começando pelo que chama de “obsessão norte-americana” – acompanhado do “ódio à Israel”, analisado à parte – até o mito da “juventude utópica”, talvez a pior doença da esquerda, responsável pela maioria das tragédias da história.

Ao dissecar a bandeira da utopia juvenil empunhada pela esquerda, Cons­tantino ressalta o papel transformador da juventude, que, com sua rebeldia, se abre ao novo, mas salienta que isso comporta riscos. “Mao, como sabemos, usou e abusou dos jovens em sua Revolução Cultural, transformando adolescentes em máquinas de violência e agressão, jogando-os inclusive contra seus próprios pais”, lembra, reservando algumas linhas para criticar o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O culto do multiculturalismo, o pacifismo, o mito Che Guevara, o “paraíso socialista” representado por Cuba, o ambientalismo melancia (verde por fora e vermelho por dentro), a justiça social e a obsessão com o fim dos preconceitos são as demais bandeiras da esquerda caviar que Rodrigo Constantino disseca. 


No tópico dedicado aos preconceitos, cita uma deliciosa frase de Thomas Sowell a respeito da escassez de republicanos nos cursos de sociologia, que, no Brasil, poderia ser traduzida e adaptada assim: “Da próxima vez que alguns acadêmicos lhe falarem o quão importante é a diversidade, pergunte quantos direitistas existem no seu departamento de sociologia”.

No tópico dedicado às minorias, Rodrigo Constantino não poupa críticas ao movimento gay, afirmando que “gaysistas não querem saber de igualdade perante a lei, de liberdade individual e de discrição na vida sexual privada” e, sim, de “passeatas bancadas com dinheiro público”. E faz um alerta: “O movimento gay tem rompido a preciosa barreira entre público e privado”.

O que, sem dúvida, é preocupante. A barreira que separa o direito à privacidade do indivíduo e a transparência necessária à esfera pública costuma ser rompida nas ditaduras totalitárias até que se invertam totalmente as coisas – o privado passa a ser público, sob o escrutínio permanente da polícia política e seus delatores, e o público passa a ser privado, fechado a sete chaves segundo os interesses do ditador.

Arrogância científica

“Esquerda Caviar”, que suscita essas e outras reflexões, é um livro oportuno. Sobretudo numa época em que a maioria das instituições – como a imprensa, o Ministério Público, a OAB e o próprio Judiciário – esposam ca­da vez mais o ideário do marxismo de salão.

Mas fica a pergunta: se existe uma esquerda caviar, que prega a revolução socialista a partir do luxo que o capitalismo lhe proporciona, haverá uma esquerda autêntica, constituída de verdadeiros oprimidos que carecem de libertação? Creio que sim. Mas sua voz tende a ser silenciada sempre, não pelo capitalismo, que, apesar dos pesares, lhe garante a sobrevivência, mas pelos próprios intelectuais de esquerda, que, fazendo de conta que o marxismo é uma ciência irrefutável, com ele oprime aqueles aos quais finge libertar.

O sociólogo Émile Durkheim (1858-1917), preocupado com a arrogância científica do marxismo, que começava a conquistar a Europa, observou que a paixão e não o rigor científico é que inspirava esses sistemas revolucionários: “O que lhes deu o ser e a força foi a ânsia por uma justiça mais perfeita, a dor pelo sofrimento das classes trabalhadoras, esse indefinível sentimento de mal-estar que palpita nas sociedades contemporâneas”.

E, afirmando que “o socialismo não é uma ciência”, senão “um grito de dor e às vezes de cólera lançado por homens que sentem mais profundamente o mal-estar coletivo”, Durkheim observa que a relação do socialismo com os fenômenos sociais que o promovem é a mesma dos gemidos do enfermo com a doença que o afeta. “E o que pensaríamos de um médico que tomasse as palavras do paciente por aforismos científicos?” – ironiza. Ora, se nem mesmo as dores reais dos oprimidos podem justificar a sanguinária utopia socialista, então que os intelectuais de esquerda calem suas dores discursivas e deixem os pobres em paz.

Trecho do Livro

Salvar o planeta, proteger os índios, cuidar das crianças africanas, enfrentar os ricos capitalistas em nome da justiça social, pagar a dívida histórica com os negros, acabar com as guerras, enaltecer as diferenças culturais, idealizar os jovens – estas são algumas das bandeiras dos abnegados artistas e intelectuais. Os grandes defensores dos fracos e oprimidos contra as elites – como se não fossem parte da elite.

Há um pequeno detalhe: normalmente muitos deles são ricos graças ao capitalismo que atacam; vivem no conforto do Ocidente que desprezam; gozam da liberdade de expressão que inexiste na Cuba que tanto proclamam; e desfrutam da paz e da segurança conquistadas pelo poder militar do Tio Sam que abominam.

Ninguém melhor do que Roberto Campos resumiu o fenômeno: “É divertidíssima a esquizofrenia de nossos intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola.

Rodrigo Constantino,
em “Esquerda Caviar”


Phonte: Jornal Opção

3 comentários:

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