domingo, 28 de agosto de 2016

Qual a importância da teologia e da apologética na vivência cristã?

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Há algumas semanas um leitor do blog me inquiriu sobre algo interessante: qual a importância da teologia? Teologia é o estudo de Deus. Mas sabemos que ninguém é salvo por ter muito estudo. A salvação é pela graça, mediante a fé, não pelo conhecimento. 

Quem pregava a salvação mediante o conhecimento eram os antigos gnósticos. Jesus chegou até a dizer que Deus “escondeu estas coisas dos sábios e cultos, e as revelou aos pequeninos” (Mt.11:25).

E na única vez em que a Bíblia usa o termo “religião verdadeira”, não é para apontar a uma certa instituição religiosa ou a um conjunto de doutrinas, mas à vivência prática da fé:


“Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum! A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo”
(Tiago 1:26-27)

O leitor citou dois casos bastante curiosos e interessantes. Um foi o do ladrão da cruz, que recebeu pouco ou nenhum conhecimento teológico. Muito provavelmente, ele era completamente analfabeto de Bíblia, de Igreja, magistério, tradição ou teologia. Mas ele creu e foi salvo. O outro caso citado foi o de Judas, que durante três anos inteiros foi doutrinado por ninguém menos que Jesus Cristo. E se perdeu.

Se você parar para pensar, verá muitos exemplos de teólogos de renome que caíram em adultério, ou que aderiram ao liberalismo, ou que apostataram completamente da fé, ou que não tem um pingo de comunhão com Deus. Não oram, não louvam, não vão à igreja, não sacrificam nada por Cristo. Apenas tem conhecimento, e um conhecimento bem profundo, é verdade. 

Por outro lado, não será difícil trazer à mente exemplos de pessoas simples, incultas, humildes, muitas vezes até mesmo analfabetas, mas que buscam a Deus com fervor e paixão, como sendo tudo o que elas querem na vida. Vivem em Cristo, por Cristo e para Cristo, e nada mais importa além dEle. Não é difícil concluir quem será salvo e quem será condenado entre ambos.

A conclusão é inevitável: a vivência prática da fé cristã é muito mais importante do que o conhecimento recebido ou conquistado em vida. Muita gente adquire muito conhecimento e se perde com ele. O orgulho sobe à cabeça, o desejo pelos estudos acabam suplantando o desejo por uma comunhão mais íntima e profunda com Deus, e, consequentemente, se desviam do Caminho. Ninguém na história recebeu mais sabedoria do que o rei Salomão, e, no entanto, basta folhear as Escrituras para ver como ele terminou. 

Desviado dos caminhos do Senhor e imerso na idolatria, não há qualquer registro de que tenha se arrependido nos momentos finais da vida. Davi, seu pai, muito menos sábio que ele, se tornou o modelo de justiça e retidão em todo o Antigo Testamento.

Essa conclusão nos ajuda a evitar o fanatismo de certos indivíduos que pensam estar agradando a Deus por passarem o dia inteiro “defendendo a Igreja” com xingamentos, palavrões e obscenidades. Tiago é bem claro quando diz que a religião de tais pessoas não tem valor algum(Tg.1:26). 

Elas vão chegar no dia do juízo, com carteirinha de igreja e tudo, tendo recebido os sacramentos, mantido as aparências e “defendido a Igreja”, e Deus terá que jogar na cara delas que a religião que elas seguiam não valia nada. Porque o que vai salvar no dia do juízo não é uma instituição religiosa ou quantos debates venceu, mas se buscou a Deus com todo o coração, alma, força e entendimento, em espírito e em verdade. Qualquer coisa fora disso é religião sem valor. É fé morta.

Alguns, no entanto, acabam caindo no extremo oposto, e desprezando completamente a teologia. Para tais pessoas, basta fazer caridade e pronto. Não raras vezes recebo comentários em artigos aleatórios deste blog de pessoas que, sem ler o artigo e nem refutar nada, dizem que tenho que parar de falar de doutrina e de apontar os erros da Igreja Romana, deixar eles mentirem à vontade e espalharem o engano, e que, de minha parte, tenho apenas que “fazer caridade” para ir pro céu. 

É o extremo do “dane-se a doutrina”: qualquer coisa importa. Mas se a doutrina não fosse importante ou não influenciasse na salvação de almas, Paulo não teria escrito treze epístolas cheias de doutrina. Muita coisa ali eram prescrições morais, mas outras tantas eram especificamente doutrinárias.

Capítulos como 1ª Coríntios 14 (sobre o dom de línguas), 1ª Coríntios 15 (sobre a ressurreição), 2ª Tessalonicenses 2 (sobre escatologia), toda a epístola aos Gálatas (contra os judaizantes) e o Apocalipse inteiro seriam completamente descartáveis se a doutrina não fosse importante. Eles não têm nada ou quase nada de prescrições morais, apenas teologia, doutrina pura. 

Mais ainda que isso: os apóstolos escreviam rigorosamente contra os erros teológicos e doutrinários de oponentes da sã doutrina. João disse que aqueles que negavam a encarnação de Cristo eram “anticristos” e sequer deveriam ser saudados ou recebidos em casa (1Jo.4:3; 2Jo.10). Paulo expressou seu desejo de que os judaizantes se castrassem (Gl.5:12) e até lançou maldições (1Co.16:22), da mesma forma que João (Ap.22:18).

Judas insistiu que era preciso “batalhar pela fé uma vez por todas confiada aos santos” (Jd.3), porque certos indivíduos estavam infiltrando doutrinas liberais na Igreja. Por causa de uma falsa teologia relacionada ao dinheiro, a igreja de Laodiceia estava pobre, cega e nua (Ap.3:17). Os que caíam no engano do nicolaísmo também eram severamente repreendidos (Ap.2:15). A mesma coisa se aplicava aos que seguiam os “ensinos de Balaão” (Ap.2:14)

Por causa de falsas tradições, Jesus disse que a adoração dos fariseus era vã (Mc.7:7). Paulo mandou Tito repreender severamente os hereges (Tt.1:13) e expressou seu medo de que os coríntios fossem enganados pela serpente e se desviassem da devoção sincera e pura somente a Cristo:

“O zelo que tenho por vocês é um zelo que vem de Deus. Eu os prometi a um único marido, Cristo, querendo apresentá-los a ele como uma virgem pura. O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo” 
(2ª Coríntios 11:2-3)

A conclusão aqui também é inequívoca: a doutrina também é importante. Se o ensino doutrinário, inclusive a apologética (o combate às heresias) não fosse importante, rasgue as páginas da Bíblia fora, especialmente o Novo Testamento.

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Abra uma igreja ecumênica e comece a pregar que todos os caminhos levam a Deus, que não faz diferença seguir a uma sã doutrina, que a heresia é bem-vinda ou que ela não existe, que temos que nos unir no erro e tolerar a mentira, entrar pela porta larga e só precisar “fazer caridade”. Muita gente já aderiu a este pensamento e nem percebe. Outros percebem, e não tem vergonha disso. Geralmente, são os que nunca abriram a Bíblia na vida – ou que a deixam sempre aberta, no Salmo 91, para espantar os males.

Temos aqui um impasse: a vivência da fé é mais importante e decisiva do que a doutrina em si, mas a doutrina também é importante e necessária, e, com ela, a teologia e a apologética. Resolver qual é a relação entre uma e outra é um dilema muito mal resolvido por aí. Há quem ensine que quem adere a uma heresia qualquer, mesmo que por ignorância, já está perdido e seu destino é o inferno. Não penso assim. O que eu penso é que a teologia interfere na vivência prática da fé, e é isso o que explicarei nas linhas a seguir.

Até hoje, ao refletir sobre os enganos teológicos que existem em diversas seitas (incluindo a romana, evidentemente), eu nunca consegui descobrir alguma que não possa ter interferência na vida prática do fiel. O engano é pregado por homens, mas sabemos que é semeado por Satanás. E ele é estratégico e preciso. Sabemos que ele não vai inventar uma doutrina falsa apenas por inventar, e muito menos inventaria uma heresia que levasse alguém para mais perto de Deus. 

Ele irá semear a semente do engano no sentido de interferir negativamente na vida prática dos crentes em Deus, a fim de tirá-los do caminho e conduzi-los ao abismo. É por isso que por detrás de toda falsa doutrina há uma consequência cruel.

Aqui não citarei todas as heresias e as consequências práticas de cada uma delas, o que elevaria imensuravelmente as páginas deste artigo. Me limitarei a citar alguns, mas que servem de referência e padrão para os demais casos.

• Purgatório

Muitos católicos não se preocupam completamente em se santificar totalmente, porque pensam que podem ser mornos na vida cristã e passar na "segunda chamada", ou seja, pelo purgatório. A Igreja Romana ensina oficialmente que há certos pecados que a pessoa pode cometer o quanto quiser sem ir para o inferno, ela só vai para o inferno se cometer os pecados mais graves. 

O problema é que a Bíblia ensina expressamente o contrário. Paulo afirmou que quem pratica “as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as facções, as dissensões, os partidos, as invejas, as bebedices, as orgias, e coisas semelhantes a estas, contra as quais vos previno, como já antes vos preveni, que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus” (Gl.5:20-21).

Ele afirma que as pessoas que cometem estes pecados – a maioria dos quais considerados “veniais” pela Igreja Romana – não herdarão o reino de Deus

Ele não disse que tais pessoas herdarão após passarem algum tempinho no purgatório, mas que NÃO herdarão. Consequentemente, a Igreja Romana coloca no céu pessoas que, para Paulo, estarão no inferno. Pecados "menores", se praticados deliberadamente e sem arrependimento, também levam à condenação. 

A Igreja Romana alivia a consciência das pessoas, fazendo-as se conformar com o pecado, por pensarem que na pior das hipóteses entrarão no céu do mesmo jeito, apenas passando pelo purgatório primeiro. Isso traz um conformismo ao pecado na cabeça de milhões de pessoas. É por isso que a maioria dos católicos sequer se preocupa em praticar sua religião.

• Confissão auricular

Há numerosos relatos de católicos devotos que pecam deliberadamente pensando que para serem perdoados basta ir se confessar a um sacerdote em particular e pronto. Inclusive multidões de católicos que pulam carnaval de propósito, mesmo sabendo que isso é pecado, já sabendo que depois bastarão se confessar ao padre na "Quarta-feira de cinzas" e já está tudo certo. 

Qualquer pecado pode ser praticado conscientemente, deliberadamente e propositalmente, até mesmo de forma planejada, porque tudo será resolvido com a absolvição do padre que, na Igreja Romana, tem poder para tirar os pecados literalmente.

Há inclusive testemunhos de ex-católicos que assumiram que, quando um mesmo padre se cansava dos repetidos pecados confessados sem arrependimento sincero e decidia “reter” o perdão, bastava a ele ir a uma outra paróquia e ali se confessar a um outro padre que não o conhecia, e que o perdoava sem hesitação. Na prática, não havia como um pecado intencional não ser perdoado. 

Não havia restrições à prática pecaminosa, porque tudo podia se resolver facilmente com uma rápida confissão no domingo seguinte. Ele podia pecar o quanto quisesse, mesmo que deliberadamente e sem arrependimento, que a confissão e o "perdão" do padre seriam o suficiente para ele se sentir de consciência limpa.

Isso confronta diretamente Hebreus 10:26-27, que diz:

“Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus” 
(Hebreus 10:26-27)

Além disso, a confissão auricular anula o verdadeiro arrependimento bíblico, que é aquela confissão sincera onde um pecador perdido eleva suas preces diretamente a Deus, em arrependimento e contrição, onde pode quebrantar seu coração e derramá-lo na presença daquele que conhece todas as coisas e que tem poder para regenerar um pecador e lhe dar uma nova vida.

Este é o tipo verdadeiro de confissão de pecados presente em toda a Bíblia, como explanei neste artigo sobre o tema com diversos textos bíblicos, uma confissão feita diretamente a Deus em arrependimento e sinceridade. 

Ao dizer que é errado se confessar direto com Deus e forçar uma confissão obrigatória a um sacerdote, a Igreja Romana anula consideravelmente as chances de um arrependimento sincero, mudança e quebrantamento de coração que são frutos de uma confissão feita diretamente a Deus, como a Bíblia ensina. O resultado disso é uma legião de pessoas sem arrependimento e confissão verdadeiros, preenchendo as fileiras das igrejas.

• Dogmas marianos e intercessão dos santos

A Igreja Romana ensina dogmas relacionados à pessoa de Maria, tais como a imaculada conceição (negada por absolutamente todos os Pais da Igreja), a assunção de Maria, a mediação e intercessão de Maria no céu, a apresentam como “advogada”, “Rainha dos céus”, “onipotência suplicante” e muitos apologistas católicos chegam até mesmo a considerá-la co-redentora, enquanto outros afirmam que é melhor pedir à mãe do que pedir ao filho, que “Maria passa à frente” e que ela é esposa do Espírito Santo e co-partícipe da Santíssima Trindade. 

Os marianos não apenas ensinam que tais doutrinas são verdadeiras, mas também que somos obrigados a crer nelas para sermos considerados católicos, e, portanto, para sermos salvos, já que supostamente fora da Igreja Romana não há salvação.

Não vou nem perder tempo comentando sobre as maluquices mais fortes, concentremo-nos apenas no mais light, a simples intercessão de Maria no céu, uma crença absolutamente básica e essencial para qualquer católico. Também não vou abordar aqui o fato de Maria não ser onisciente e de por isso, mesmo se estivesse viva e no céu, não poderia saber o que todo mundo pede ao mesmo tempo em todas as partes do planeta.

Só a afirmação de que é possível Maria ouvir e atender a todo mundo no céu, até mesmo enquanto faz “aparições” na terra clamando por autopromoção e autoglorificação em detrimento de Cristo, e às vezes até mesmo a orações em pensamento, já é elevá-la ao patamar de deusa, uma vez que só Deus é capaz de ouvir e atender a todos ao mesmo tempo, em função de seu atributo da onisciência, exclusivo da divindade tanto quanto a onipresença, a onipotência e a imortalidade incondicional.

Mas isso não vem ao caso, porque este não é um artigo sobre intercessão dos santos. Já há vários sobre o tema, disponíveis nesta tag. Para o propósito deste texto, farei a concessão, para o bem do argumento, de que Maria realmente tinha uma alma imortal que saiu voando para o céu na hora da morte, que é onisciente e sabe o que todos rezam em todo lugar, e que, como Deus, tem poder para atender a todos simultaneamente. 

Suponhamos que tudo isso seja verdade. Isso ainda levantaria a grande questão que até hoje nenhum apologista católico jamais foi capaz de responder: o que perderíamos se orássemos a Jesus em vez de Maria?

Suponhamos que um católico decida dedicar meia hora do seu dia apenas rezando a Maria. O que ele perderia se, durante este mesmo período, estivesse elevando suas preces a Jesus? Por que um evangélico teria que deixar de dedicar, digamos, uma hora de oração a Jesus por dia, para dedicar metade deste tempo a Maria e somente a outra metade a Jesus? Ele não seria atendido se orasse totalmente a Jesus? A oração a Jesus não surtiria efeito, mas se as mesmas coisas tivessem sido ditas a Maria, então teria? Deus não atenderia se você dedicasse todo o seu tempo de oração a Jesus, mas atenderia se dedicasse o mesmo tempo a Maria?

Esse tipo de pergunta assusta e apavora qualquer apologista católico. Se você quer que ele te odeie pelo resto da vida ou se quer vê-lo se enrolar todo, é só perguntar isso a ele. Um dos primeiros artigos da história deste blog, escrito ainda em 2012, foi este aqui, que eu intitulei de “O Grande Desafio”. O desafio era na verdade bastante simples, consistindo em perguntar ao católico:

– Em qual situação é melhor ou mais recomendável rezar a um santo do que orar direto a Deus? Em que caso seria mais eficiente dirigir as suas rezas a um santo que já morreu e não ao Criador dos céus e da terra? Em que circunstância, por exemplo, uma oração dirigida a um santo é atendida, onde na mesma situação o milagre não aconteceria se a reza fosse dirigida a Deus?

Apenas um católico topou o desafio, um fake com o nome de “Soldados de Maria” (no plural mesmo, talvez eu estivesse debatendo com um exército inteiro e não com uma pessoa só). Mas sua resposta foi tão risível que incentivo que todos vejam. Ele disse que se sentia “indigno” de ir direto a Deus, então por isso ia a Maria. O comentário merece ser printado:


Recomendo que leiam a minha resposta mais completa a ele, mas aqui só preciso resumir com um versículo de Hebreus preparado justamente para essa ocasião:

“Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. 
Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel” 
(Hebreus 10:19-23)

O escritor inspirado não disse que somos indignos pecadores miseráveis e que por isso devemos ir a Maria e a santos defuntos em vez de Deus. Ao contrário: disse que podemos nos aproximar de Deus com plena confiança, porque Jesus nos abriu um novo e vivo caminho por meio do seu sangue. Quem é justificado em Cristo tem confiança e segurança em ir direto a ele.

Quem ainda se nega a fazer isso mostra que não entendeu nada da expiação e justificação. Mostra que Cristo morreu em vão. Ele morreu para limpar os nossos pecados e nos abrir acesso direto ao Pai, e eles ainda pensam e vivem como se o sacrifício de Cristo tivesse sido inútil.

Mesmo na antiga aliança, quando Cristo sequer tinha vindo ao mundo, todos os salmistas e profetas elevavam suas preces direto a Deus. Quanto mais agora que Jesus morreu em nosso lugar para nos dar plena confiança em fazer isso! Quem usa a desculpa da “indignidade” para escolher Maria e os santos em vez de Cristo está pisando na cruz do Calvário e negando o sangue que o redimiu. Ainda está morto em seus pecados e delitos. 

Ainda não sabe que Cristo nos abriu um novo e vivo caminho por meio do seu sangue (Hb.10:20). Ainda não crê que ele é o único caminho, e que ninguém vem ao Pai senão por ele (Jo.14:6). Ainda não leu que por intermédio de Cristo temos livre acesso a Deus em confiança (Ef.3:11-12). Ainda rejeita que tudo o que pedirmos em Seu nome, Ele nos dará (Jo.14:13).

De fato, não há escapatórias. A única saída do apologista católico será admitir o óbvio que suas premissas exigem para sustentar que somos obrigados a pedir a intercessão de Maria: que por meio dela alcançam-se coisas que não alcançaríamos se fôssemos direto a Deus por meio de Jesus. Por incrível que pareça, é exatamente essa a conclusão que alguns santos e doutores da Igreja Romana sustentaram. Um deles, bastante famoso, chamado Afonso de Ligório, escreveu um livro mariólatra chamado “As Glórias de Maria”, onde sustenta isso explicitamente. Ele disse:

“Muitas coisas se pedem a Deus, e não se alcançam. Pedem-se a Maria, e conseguem-se” (p. 118) 

O que foi que a Igreja Romana fez com um sujeito desses, que disse descaradamente que muitas coisas pedem-se a Deus e não se alcançam, mas pedem-se a Maria e conseguem? Excomungou? Queimou seus livros? Incluiu a obra no “Índice dos Livros Proibidos” pela Igreja? O puniu na “Santa Inquisição”? Não. Em vez disso, o declarou como doutor e santo da Igreja, aclamado por todos, e elevou seu livro ao patamar de obra oficial da Igreja e altamente recomendada aos fieis. Ou seja, as heresias de Ligório apenas refletem o pensamento mariólatra da Igreja Romana.

Em suma, a resposta do apologista católico ao desafio pode ser:

• Nenhuma (ou fuga do tema, ou enrolações sem sentido).

• Dizer que nós temos que recorrer a Maria porque somos indignos de recorrer a Jesus (heresia já refutada).

• Dizer que realmente há coisas que se pedem a Deus e não se alcançam, mas se pedem a Maria e conseguem-se (blasfêmia total).

• Ou admitir o óbvio: que pedir a Maria em vez de Jesus não trará absolutamente vantagem nenhuma, o que implica em dizer que a devoção mariana não deveria ser necessária e muito menos obrigatória, e que todos aqueles que rezam a Maria estariam fazendo algo mais útil e confiável se estivessem orando a Deus em nome de Jesus.

No fim das contas, até o mariano mais fanático terá que admitir que uma pessoa que passa duas horas orando por dia a Jesus não estará perdendo em nada para uma outra que passa meia hora orando a Jesus, uma hora orando a Maria e mais meia hora direcionada a qualquer um do panteão de deuses santos do paganismo romano. 

A diferença é que o evangélico está orando para alguém que a Bíblia garante que é onisciente, que ressuscitou e que está no céu, com numerosos exemplos bíblicos, enquanto os papistas rezam a uma deusa-mãe sem nenhuma evidência de que tivesse uma alma imortal que foi para o céu antes mesmo da ressurreição, ou que tenha sido assunta de corpo e alma depois da morte, ou que tenha poderes de onisciência como Deus para atender todo mundo, ou que Deus divida a sua glória com alguém.

Ou seja: eles preferem jogar na loteria com base em números aleatórios. Neste caso, com base em uma fé cega. Isso tudo em vez de ir direto a Deus, como todos os personagens bíblicos do Antigo e do Novo Testamento fizeram em absolutamente todas as ocasiões em que há alguma oração registrada nas Escrituras. Isso é pedir para ser enganado. Para não dizer coisa pior.

Em síntese, se Maria está mesmo no céu e pode mesmo atender as orações de todo mundo ao mesmo tempo, o protestante não perde nada direcionando as orações a alguém mais poderoso que ela (Jesus). Mas em caso contrário (ou seja, se Maria está morta aguardando a ressurreição, ou se não tem conhecimento do que acontece entre os viventes, ou se tem mas não é onisciente para ouvir as rezas de todo mundo ao mesmo tempo), o papista está simplesmente perdido. 

Significaria que ele passou horas e mais horas, dias e mais dias, meses e mais meses, rezando a alguém que simplesmente não fazia a menor ideia de que ele estava rezando. Ou seja: um verdadeiro desperdício de oração. Tempo jogado no lixo orando aos pés de uma estátua de gesso morta e sem vida, quando poderia tê-lo utilizado utilmente dirigindo suas preces ao Criador dos céus e da terra.

Se os romanistas estão certos em sua devoção mariana, os protestantes não perdem nada ao orarem a Jesus no lugar. Mas se os evangélicos estão certos em acreditar que só Deus deve receber as orações e só Ele pode atendê-las, os católicos estão em verdadeiros apuros ao desperdiçarem tanto tempo de oração inutilmente, rezando a alguém que não está lá para atendê-los. Pior ainda que isso: estariam trocando o Criador pela criatura, o que Paulo condena com bastante veemência em Romanos 1:25.

Assim, podemos entender facilmente o porquê que o diabo semeou a semente do engano em relação à intercessão dos defuntos: ele sabe que os mortos estão sem vida aguardando a ressurreição na sepultura, como eu mostrei em meu livro de mais de 800 páginas sobre o tema (veja aqui), e por isso quer direcionar a ninguém as orações que, de outra maneira, seriam direcionadas a Deus, que é quem realmente atende e responde as orações dos crentes. 

Ele conhece perfeitamente bem o poder que a oração tem, e por isso não quer que a oração chegue a Deus. Quer que pensem que Deus não existe (ateísmo), ou que existe, mas que você precisa passar por um panteão de santos primeiro, para só depois eles entregarem a mensagem a Deus (catolicismo romano). Dá no mesmo. Em ambos os casos, Deus não é o alvo das orações.

Os demais dogmas marianos servem apenas para acentuar a descentralização de Cristo. Paulo, o apóstolo que tanto escreveu que nós temos “um só Senhor, Jesus Cristo” (1Co.8:6), sem jamais mencionar as “Senhoras” que os romanistas buscam mais que a Cristo, estaria apavorado se visse hoje uma legião de fieis que se dizem “cristãos” dizendo que somos filhos e escravos de Maria(!), que Cristo não é o único redentor, que há um quarto participante na Trindade, que ressuscitaram a Rainha dos céus de Jeremias 7:18 e 44:17-19 com uma “carinha cristã”, que nem “todos pecaram” (Rm.3:23), que há mais mediadores além de Cristo (1Tm.2:5), que a porta do céu, a árvore da vida e a arca da aliança são Maria, e que o Reino que virá é o “Reino de Maria”, como dizia São Luís de Montfort.

Bem Paulo, que jamais mencionou Maria em qualquer uma de suas epístolas, nem mesmo quando isso parecia necessário ou oportuno (cf. Gl.4:4). Bem ele, que insistia que não nos tornássemos escravos de homens (Gl.4:8), mas que os apologistas católicos insistem que ele queria que fôssemos escravos de Maria. Bem ele, que sempre fez questão de ressaltar que a nossa devoção deveria ser sincera e pura somente a Cristo, e temia que esse evangelho Cristocêntrico fosse contaminado por meio da devoção à criatura em lugar do Criador:

“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis (...) Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém” 
(Romanos 1:22,23,25)

“O zelo que tenho por vocês é um zelo que vem de Deus. Eu os prometi a um único marido, Cristo, querendo apresentá-los a ele como uma virgem pura. O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo” 
(2ª Coríntios 11:2-3)

De fato, é isso o que o diabo vem fazendo cada vez mais ao longo do tempo, por meio da sua seita preferida: incentivar a completa descentralização de Cristo, transformando o evangelho Cristocêntrico em um pseudoevangelho fake mariocêntrico. 

Quanto mais o tempo passa, mais dogmas mariólatras são adicionados. No século XIX veio a imaculada conceição, no século XX a assunção (em pleno ano de 1950, o do Maracanaço), e no século XXI há diversos apologistas católicos defendendo a co-redenção e pedindo que a Santa Sé reconheça isso oficialmente. Não sabemos onde isso irá parar. Talvez só pare quando eles admitirem abertamente que Maria é realmente uma deusa, com os mesmos poderes de Cristo e de Deus.

Hoje, basta ver um culto católico para observar o quão nítido é o fato de que eles dão muito mais valor, atenção, importância e destaque a Maria do que a Jesus. Jesus é como se fosse até hoje um bebezinho indefeso nas mãos da mãe protetora Maria, aquela que realmente é digna de louvor. Há poucos dias um amigo meu de longa data, ex-católico, resolveu visitar uma igreja católica para ver como as coisas estavam. O relato dele foi o seguinte:






É por isso que precisamos estudar teologia, amigos. Sem um conhecimento sólido da Palavra, o Inimigo se sentirá livre para conseguir enganar cada vez mais e mais facilmente os ingênuos. Com o tempo, o pecado será relativizado, Cristo será deixado de lado e a criatura será posta no lugar do Criador. 

Toda a adoração será vã: sua oração não será a Deus, seu louvor não será a Cristo, sua busca não será pelo Espírito Santo, seus ensinamentos não passarão de tradições de homens (Mc.7:6-7). Será o “outro evangelho”, do qual Paulo fala em Gálatas 1:8-9. Um evangelho com Jesus, mas onde Jesus é só mais um no panteão de santos. Um evangelho com Deus, mas onde não se pode confessar nem pedir direto a Ele. Um evangelho com oração, louvor, culto, doutrina... mas com uma finalidade totalmente distinta da original. Um evangelho versão pirateada do Paraguai.

Mas tem um problema: para Paulo, não existem dois evangelhos. “Ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!” (Gl.1:8). O evangelho que traz vida é um só. Os outros podem ter Cristo em uma imagem pregado numa cruz, mas só o evangelho verdadeiro prega o Cristo ressurreto e vivo para todo o sempre. Os outros podem ter elementos ou aspectos cristãos, mas já perdeu completamente a essência do original.

É por isso que doutrina, teologia, apologética, enfim, este blog é importante. Sem isso, a imaginação dos homens não tem limite. Paulo previu que chegaria o tempo “em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos” (2Tm.4:3)
E o que esses mestres fariam? Paulo responde no versículo seguinte: “Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (2Tm.4:4).

Mitos, mitos e mais mitos. Mitos que não existem na Bíblia, mitos que não existem na patrística, mitos que foram criados cinco, seis, sete, dez, quinze, vinte séculos depois de Cristo. Mitos aprovados por papas que viveram na época em que o Brasil perdia a final no Maracanã para o Uruguai. Mitos construídos em cima de mitos, apoiados por outros mitos e aglomerados por mais mitos. Mitos que já surgiram, mitos que estão em construção e mitos que ainda surgirão. 

É por isso que precisamos de teologia: uma boa teologia destrói os mitos, traz luz à razão e liberta as almas da prisão. Uma teologia responsável e bem feita evita a escuridão, enfatiza a redenção e conduz à boa religião – aquela que consiste em “cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tg.1:27).

Sim, precisamos de Cristo. Mas sem uma teologia séria, Cristo pode ser qualquer coisa: apenas um grande mestre de moral (humanistas), apenas um grande profeta (islamismo), apenas um entre 330 milhões de divindades (hinduísmo), apenas um “espírito evoluído” (kardecismo), ou aquele que só atende aquilo que a mãe pede (catolicismo).


Só não vai ser aquilo que é: o Rei dos reis e Senhor dos senhores, digno de toda a honra e toda a glória, que recebe e atende orações e diante de quem toda a terra treme e todo o joelho – incluindo o de Maria – se dobra e proclama que Santo, Santo e Santo é o Seu nome, e que toda a terra está cheia da sua glória.

A teologia bem feita nos apresenta a este Cristo verdadeiro. Ela evita que alguém se esforce por alcançar um falso Cristo. Ela pode influenciar na vivência cristã ao nos mostrar o trilho certo a ser seguido. 

Mas se depois disso o cristão decidirá andar por este caminho indicado, seguindo e servindo a este Cristo, o procurando de todo o coração e o buscando com toda a alma, isso dependerá do quanto estará disposto a negar a si mesmo e tomar a sua cruz, e não da própria teologia. Essa é a vivência cristã – o ápice, o alvo e a consumação da verdadeira teologia.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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