domingo, 28 de maio de 2017

Formigas versus águias


A vergonhosa e inglória disputa entre fãs de pregadores famosos continua na grande rede, depois que um conhecido animador de auditório, em um grande congresso, resolveu expor, de cima do púlpito, uma célebre pregadora performática, comparando-a, indiretamente, a uma formiga. 

Esta errou, evidentemente, ao usar o mesmo púlpito, antes, não prioritariamente para pregar a Palavra, e sim para desafiar seus pares. Mas seu fã-clube foi mais além e transformou a presente discussão em guerra de gêneros, no melhor estilo mundano e feminista.

Como o pregador, demonstrando estar indignado com o que ouvira, disse que a pregadora jamais seria águia, pois é tanajura, suas fãs, inclusive algumas "pastoras", criaram a hashtag #SomosTodosFormigas. E, inflamando-se em seus discursos feministas, estão empregando frases desafiadoras, muito usadas nestes tempos de polarização política, como:"Mexeu com uma, mexeu com todas". E mais: passaram a verberar contra os homens, de maneira geral. Pura carnalidade.

Há alguns anos, um famoso pregador — idolatrado por muitos — me xingou de canalha de cima do púlpito, ao som de "glórias a Deus" e "aleluias". E, como se isso não bastasse, ele ainda deu a entender que gostaria muito de ter um encontro nada amistoso comigo, "numa hora dessas, no aeroporto", a fim de me dizer "algumas verdades, para eu me converter e não ir para o inferno".

Enquanto o ofensor, cheio de ira, gritava, me xingava e, tacitamente, me ameaçava, muitos irmãos, inclusive pastores, além de usar palavras de glorificação, diziam: "Fala mesmo, Jeová" ou "Queima ele". Era como se eu fosse um emissário do mal, um opositor do "mover de Deus", que precisasse ser "barrado". 

Mas, sabe quais eram os motivos da revolta de todos? Meus livros, especialmente: Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria(CPAD, 2006) e Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar (CPAD, 2007), os quais contém críticas à pregação performática, que ainda sobrevive, para tristeza do Espírito Santo!

Passado pouco tempo — veja como Deus trabalha por aqueles que nEle esperam; não é necessário se vingar —, estava eu no mesmo púlpito de onde os tais impropérios haviam partido! A expectativa ali era grande, não porque sou importante, e sim porque alguns queriam "ver o circo pegando fogo". Soube, depois, através de alguns irmãos, que houve até uma certa decepção, pois se esperava que eu usasse parte do tempo para me defender dos mencionados ataques e alfinetar quem me desafiara.

De fato, eu tinha a oportunidade de me vingar e verberar contra quem me atacou. E sabia que tudo iria parar na Internet! Mas meu coração estava em paz. Que noite memorável! Eu apenas preguei a Palavra de Deus! Quem saiu vitorioso? Eu? Não! O pregador que me xingou de canalha e seu hostil fã-clube? Também não! Quem venceu? O Cordeiro de Deus! Ele foi glorificado. Sua Palavra — e somente sua Palavra — foi pregada naquela noite!

Não sou melhor do que ninguém. Aliás, enquanto uns dizem que são águias, e outras afirmam que são formigas, me lembro sempre do que está escrito em Isaías 41.24: "Eis que sois menos do que nada e a vossa obra é menos do que nada". Ora, se nada já é nada, quanto seria menos do que nada? É o que somos quando pensamos que somos alguma coisa!

Entretanto, louvo ao Senhor Jesus pela formação ministerial que recebi. Tive a honra de aprender, desde a minha adolescência, aos pés de grandes mestres, imitadores de Cristo, como Valdir Bícego e Antonio Gilberto. Com eles aprendi — e tenho aprendido — que púlpito é lugar de pregar o Evangelho e ensinar a Palavra.

Quem foi o pregador mais antipático que andou na terra? Possivelmente, João Batista, que verberava sem medo contra o que estava errado, mas sua prioridade era falar do Cordeiro de Deus, e não de si mesmo ou dos outros: "João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). 

Sua meta não era ser o pregador dos pregadores, pois era um "enviado de Deus" (v. 6). Não objetivava ser maior do que ninguém. Pelo contrário, queria ser menor que Jesus Cristo, já que seu lema era: "Convém que ele cresça e que eu diminua" (3.30, ARA).

Ciro Sanches Zibordi

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