domingo, 31 de dezembro de 2017

O Messias seria apenas um Rei?


A palavra Messias vem do hebraico mashiyach e significa “Ungido” (cf. Daniel 9:25-26). Muitos judeus acreditam que o Messias será apenas um descendente de Davi que irá reinar sobre Israel e trazer a paz à Terra. 

Em outras palavras, eles creem que o Messias será simplesmente um “novo Davi” e nada além disso. Uma vez que Cristãos afirmam, entre outras coisas, que Jesus é Rei (o Rei dos reis – Apocalipse 19:16) e Sumo Sacerdote (Hebreus 2:17; 3:1; 4:14; 7:26; 8:1), os judeus O rejeitam, afirmando que o Messias não seria um sacerdote. Mas o que a Escritura diz?

Primeiramente, devemos atentar para o Salmo 110:4, que diz que o Messias seria “sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”. Um sacerdote oferece sacrifícios pelos pecados do povo (Levítico 4). 

O Salmo 40:6-8 prediz que o Messias se ofereceria a Si mesmo como sacrifício pelos nossos pecados: “Sacrifício e oferta não pediste, mas abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado, não exigiste. Então eu disse: Aqui estou! No livro está escrito a meu respeito. Tenho grande alegria em fazer a tua vontade, ó meu Deus; a tua lei está no fundo do meu coração”. 

Isto está em conformidade com Isaías 53, que prediz o sacrifício substitutivo do Messias pelos nossos pecados.

No primeiro versículo do mesmo Salmo 110, aliás, Davi chama o Messias de “meu Senhor”. Alguns judeus interpretam que este Salmo não foi escrito por Davi, mas por algum de seus companheiros, que o chama de “meu senhor”. 

Mas se este for o caso, então este Salmo estaria mostrando que Davi, além de rei, era também sacerdote. Portanto, uma vez que Davi era rei e sacerdote e o Messias será como ele, é de se esperar que o Messias exerça funções sacerdotais, inclusive.

De qualquer forma, a profecia do Salmos 110:1 diz: “O Senhor [Yahweh] disse ao meu Senhor [Adonai]: ‘Senta-te à minha direita até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés'” e isso só pode ser uma referência ao Messias divino, pois Ele é chamado de Adonai. 

Os judeus costumam argumentar que a esta palavra significa simplesmente “mestre” e não “Senhor”, e que o Messias não é o Senhor. Mas temos que notar que essa mesma palavra (Adonai) foi usada em Zacarias 4:14 em referência a Deus, o “Senhor [Adonai] de toda a terra” (veja também Gênesis 18:3,27,31-32; Isaías 6:1 e 8). 

E os próprios judeus costumam se cumprimentar usando a expressão “Shalom, Adonai“, que significa “A Paz do Senhor”. Logo, a profecia do Salmo 110:1 claramente fala de um Messias divino. E o versículo 4, como vimos antes, diz que Ele seria Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem do sacerdócio de Melquisedeque.

Outra forte evidência de que o Messias seria rei e sacerdote e, inclusive, que se chamaria Jesus é a seguinte profecia de Zacarias:

“E o Senhor me ordenou: ‘Tome prata e ouro dos exilados Heldai, Tobias e Jedaías, que chegaram da Babilônia. 

No mesmo dia vá à casa de Josias, filho de Sofonias. Pegue a prata e o ouro, faça uma coroa, e coloque-a na cabeça do sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque. Diga-lhe que assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Aqui está o homem cujo nome é Renovo, e ele sairá do seu lugar e construirá o templo do Senhor. 

Ele construirá o templo do Senhor, será revestido de majestade e se assentará em seu trono para governar. E ele será sacerdote no trono. E haverá harmonia entre os dois.’” 
(Zacarias 6:9-13, NVI)

Josué era o nome do um servo de Deus que foi fiel e, por isso, voltou do exílio babilônio e foi escolhido para ser rei e sacerdote de Israel. Este homem é uma tipologia que aponta para o Messias Rei-Sacerdote, pois o nome hebraico יהושע (Yehôshua), que em português é adaptado como Josué, passa pelo aramaico ישׁוּעָ, (Yeshua), que em português é adaptado como Jesua; passa pelo grego Ἰησοῦς (Iesoûs); passa pelo latim – Iesus; e, finalmente, chega ao português Jesus. 


O importante é notar que estas diferentes soletrações não são traduções do nome, mas adaptações fonéticas que cada língua fez para poder pronunciar o nome dentro da sua fonologia própria. O nome Josué, Jesua ou Jesus é o mesmo nome em hebraico, aramaico, grego, latim ou português, e tem o mesmo significado: “Yahweh é salvação”. A questão é de soletração, não de tradução. [1]

“Jesus. Do gr. Iésous, equivalente ao heb. Yehoshua, ‘Josué’ (ver Atos 7:45; Hebreus 4:8, em que Lucas e Paulo se referem a Josué como Iésous, ‘Jesus’). Em geral, se entende que este nome significa ‘Yahweh é salvação’ (ver Mateus 1:21) (…)

O nome original de Josué, Oséias, foi mudado para Jehoshua (Números 13:16). Josué é Jehoshua. Quando o aramaico substituiu o hebraico como idioma comum dos judeus, após o cativeiro babilônico, o nome se tornou ‘Yeshua’, forma transliterada para o grego como Iésous. ‘Yeshua’ era um nome comum entre os judeus da época do NT (ver Atos 13:6; Colossenses 4:11), em harmonia com o costume hebraico de escolher nomes com significado religioso.

Hoje os nomes servem apenas como identificação, mas nos tempos bíblicos o nome de um filho era escolhido com todo cuidado porque representava a fé e a esperança dos pais, as circunstâncias do nascimento da criança, suas características pessoais ou estava relacionado a sua missão na vida: principalmente quando o nome era designado por Deus.

O nome Jesus está repleto de lembranças históricas e vislumbres proféticos. Assim como Josué tinha conduzido Israel à vitória na terra prometida, assim também Jesus, o capitão de nossa salvação, veio para abrir os portões da Canaã celestial. 

Contudo, Jesus, não é só o autor de nossa salvação (Hebreus 2:10), Ele também é ‘Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão’ (Hebreus 3:1). O sumo sacerdote, que voltou do cativeiro babilônico (Esdras 2:2), se chamava Josué (Zacarias 3:8; 6:11-15). 

Assim como Oséias (nome idêntico no hebraico ao Oséias de Números 13:16), que amou a esposa indigna e buscou em vão ganhar suas afeições e finalmente a comprou de volta no mercado de escravos (Oseias 1:2; 3:1,2), Jesus veio para libertar a raça humana da escravidão do pecado (Lucas 4:18; João 8:36).” [2]

A propósito, o “Renovo” aludido em Zacarias 6:12 é outra clara referência ao Messias Jesus, pois Mateus disse que Jesus (que nasceu em Belém da Judéia – Mateus 2:1; Lucas 2:4-7) “foi viver numa cidade chamada Nazaré. Assim cumpriu-se o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno” (Mateus 2:23).

Porém, Nazaré não é mencionada nas Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento). A chave para o entendimento está em relacionar “Nazaré” com sua raiz hebraica “né·tser”, que significa “renovo”, “broto” ou “ramo”.

Com isto em mente, é evidente que Mateus se referiu aos profetas Isaías, Jeremias e Zacarias, que disseram a respeito do Messias:

“Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo [we·né·tser].” (Isaías 11:1)

“‘Dias virão’, declara o Senhor, ‘em que levantarei para Davi um Renovo justo, um rei que reinará com sabedoria e fará o que é justo e certo na terra.’” (Jeremias 23:5)

Deus disse a Zacarias que dissesse a Josué que ele é o “Renovo”:

“Diga-lhe que assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Aqui está o homem cujo nome é Renovo, e ele sairá do seu lugar e construirá o templo do Senhor’” (Zacarias 6:12)


Mas Deus também disse que o Josué e seus companheiros eram simplesmente prefigurações de coisas que viriam depois:

“Ouçam bem, sumo sacerdote Josué e seus companheiros sentados diante de você, homens que prefiguram coisas que virão: Vou trazer o meu servo, o Renovo.” (Zacarias 3:8)

Ademais, a cidade de Nazaré, onde Jesus viveu, era um lugar desprezado, “fora dos bons caminhos”. Isso ficou evidente na resposta de Natanael ao saber que Jesus era de Nazaré: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (João 1:46). 

Considerando isso, “Nazareno” era um termo de desprezo apropriado ao Messias, a respeito de quem os profetas haviam predito que seria “desprezado e o mais rejeitado entre os homens” (Isaías 53:3; cf. Salmos 22:6; Daniel 9:26; Zacarias 12:10).

Assim, vemos que não há nada de errado em Jesus ser chamado de Nazareno apesar de ter nascido em Belém, afinal Ele era o Messias que cumpriu perfeitamente as profecias.

Conclusão

Existem, portanto, muitas passagens bíblicas no Antigo Testamento que apontam para um Messias Sacerdote, que se ofereceria como sacrifício pelos nossos pecados. E as Escrituras ainda anunciam o Seu Nome: Jesus. Desse modo, é absurdo pensar que o Messias seria simplesmente um rei. 

Deus tem muito mais a oferecer do que vitórias militares: Ele oferece a eterna salvação a todos aqueles que creem no Seu Ungido. Lembre-se, o Nome do Messias é Jesus, que significa “Yahweh é salvação”.

Notas de rodapé:

[1] Pr. Clovis Torquato, Jr. – A autenticidade do nome Jesus.


[2] SDABC, vol. 5, p. 278.


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