domingo, 30 de setembro de 2018

Evangélicos do Brasil dizem que candidato presidencial de extrema direita é resposta às suas orações

Fiéis oram e cantam durante um culto da igreja do Ministério da Fé em Brasília, Brasil, em 26 de setembro de 2018. 
Anthony Boadle

Comentário de Julio Severo: A notícia a seguir é da Reuters, o primeiro serviço noticioso internacional do mundo, com sede em Londres. Não estou publicando esta matéria porque concordo com tudo, mas para destacar o que está sendo amplamente visto internacionalmente: os evangélicos do Brasil, mais do que ninguém, estão exercendo papel conservador decisivo na política brasileira. 

Esse fato já foi notado e noticiado pela imprensa dos Estados Unidos, conforme mostra minha matéria “Evangélicos poderão colocar um candidato de direita na presidência do Brasil.” 

Enquanto muitos grupos brasileiros, inclusive maçônicos e ocultistas, buscam para si a glória da onda conservadora no Brasil, a glória realmente pertence a Deus, que está usando os evangélicos e suas orações. 

Confira agora a reportagem completa da Reuters:

Brasília (Reuters) — Em uma visita a Israel há dois anos, o parlamentar brasileiro de extrema direita Jair Bolsonaro inclinou-se para trás no rio Jordão com uma túnica branca para ser batizado nos braços de um colega parlamentar e pastor evangélico.

Embora ainda seja católico declarado, Bolsonaro está recebendo uma onda de apoio de evangélicos brasileiros, que ajudaram a torná-lo o principal candidato presidencial ao primeiro turno de votação marcado para 7 de outubro.

Os evangélicos representam um em cada quatro eleitores no maior país católico do mundo e mais de 20% de seus legisladores federais. Muitos foram cativados pela atitude de Bolsonaro aceitar avidamente as guerras culturais e sua estridente retórica anti-homossexualismo. Em uma entrevista de 2011 para a revista Playboy Brasil, por exemplo, o pai de cinco filhos disse que não seria capaz de amar um filho gay. “Eu preferiria que meu filho morresse,” disse ele.

Esses eleitores querem agora que o ex-capitão do Exército lidere um contra-ataque conservador contra a agenda progressista do Partido dos Trabalhadores (PT), que liderou o Brasil durante a maior parte dos últimos 15 anos.

Esses apoiadores veem a eleição de Bolsonaro como crucial para acabar com o reconhecimento pelos tribunais brasileiros de uniões civis do mesmo sexo e para deter o impulso em direção ao casamento gay.

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Eles também querem suspender os esforços legislativos para legalizar o aborto, drogas, jogos de azar e pesquisas com células-tronco. E almejam bloquear qualquer tentativa de penalizar a discriminação com base na orientação sexual ou identidade de gênero. Acima de tudo, eles querem ver a educação sobre direitos LGBT removida das escolas públicas.

“A esquerda foi longe demais,” disse o bispo Robson Rodovalho, fundador da igreja Sara Nossa Terra, com sede em Brasília, que conta com 1,6 milhão de seguidores. “Doutrinar crianças em idade escolar sobre sexo revoltou muitos pais. Hoje estamos vendo um reação fervilhando.”

Como muitos outros líderes evangélicos, ele está convocando seus seguidores para apoiar Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias.

Os marqueteiros de Bolsonaro dizem que esses votos serão decisivos para garantir a vitória. Eles se reuniram com líderes religiosos em todo o país para ouvir sua visão do Brasil. Bolsonaro participa regularmente de reuniões de oração realizadas por pastores evangélicos em seus gabinetes no Congresso em Brasília. E o candidato casado três vezes acompanha sua esposa evangélica à igreja aos domingos, disseram os assessores.

Voluntários evangélicos têm respondido distribuindo panfletos de campanha do lado de fora das igrejas e falando sobre Bolsonaro para amigos e vizinhos. Essa organização de base é fundamental para a campanha de baixo orçamento de Bolsonaro; ele não tem nenhum partido político importante e muito pouco tempo de propaganda no rádio e na televisão.

Ainda assim, ele atrai quase cinco vezes mais o apoio de eleitores evangélicos do que a ambientalista Marina Silva, a única política evangélica entre os principais candidatos. Pesquisas recentes feitas por empresas de pesquisa brasileiras, Ibope e Datafolha, disseram que 36 por cento dos eleitores evangélicos votarão em Bolsonaro no mês que vem e apenas 7 por cento ou 8 por cento em Marina.

Fiéis oram e cantam durante um culto da igreja do Ministério da Fé em Brasília, Brasil, 
em 26 de setembro de 2018. 

A popularidade de Bolsonaro cresceu ainda mais depois que ele foi esfaqueado no abdômen por um agressor mentalmente perturbado em uma manifestação de campanha no início deste mês. O candidato foi forçado a parar de fazer campanha enquanto se recupera.

O apoio ao candidato favorito desde então se estabilizou em 28 por cento em um campo lotado de 13 candidatos. Se nenhum candidato obtiver a maioria no dia 7 de outubro, como previsto, os dois primeiros colocados competirão em um segundo turno de votação em 28 de outubro.

O Bolsonaro incendiário tem a maior taxa de rejeição de todos os candidatos, o que poderá ser uma desvantagem num segundo turno.

As pesquisas atualmente preveem que seu provável concorrente será o candidato do PT, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. Ele substituiu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na chapa quando Lula foi impedido de concorrer devido a uma condenação por corrupção. Uma pesquisa do Ibope na quarta-feira mostrou que Haddad derrotou Bolsonaro por uma margem de seis pontos em uma disputa frente a frente.

Sexo na Escola

Muitos dos apoiadores evangélicos de Bolsonaro estão unidos em seu medo de que a família, a principal instituição de uma sociedade cristã, está sob ameaça de um Estado sem Deus.

Esses eleitores se revoltaram quando o governo de Lula criou um programa nacional para promover direitos LGBT. Mas os evangélicos ficaram particularmente indignados quando o governo da sucessora escolhida por Lula, Dilma Rousseff, tentou distribuir um manual instruindo os educadores sobre como ensinar às crianças tolerância para com relacionamentos gays e lésbicos. A oposição ao material, que os críticos apelidaram de “Kit Gay,” foi tão feroz que a iniciativa foi abandonada.

O pastor Everaldo Pereira, o político que batizou Bolsonaro no rio Jordão, disse que os pais, e não o Estado, devem ensinar seus filhos sobre sexo e casamento tradicional entre um homem e uma mulher.
Everaldo, o líder do Partido Social Cristão, está concorrendo agora ao Senado. 

Ele quer aprovar uma lei que revoga uma decisão do Supremo Tribunal de 2011 que permitiu uniões civis do mesmo sexo. Ele diz que colocar Bolsonaro no cargo máximo do país pode ajudar esse sonho a se tornar realidade.
“Bolsonaro irá restaurar a ordem no caos,” disse Everaldo.

Os evangélicos, enquanto isso, se afastaram de um membro do meio deles. O apoio a Marina, ex-senadora que obteve cerca de 20 por cento dos votos nas duas eleições presidenciais anteriores, despencou principalmente entre os eleitores evangélicos.

Marina defende há muito tempo manter sua fé evangélica separada da política. Essa é uma posição que muitos crentes interpretam como falta de vontade de defender os valores deles.

Bolsonaro, por exemplo, prometeu vetar qualquer legislação que busque legalizar o aborto, o que é permitido apenas em casos de estupro, deformação fetal e para salvar a vida de uma mãe. Marina favorece um plebiscito para deixar os brasileiros decidirem.

“Essa é Marina. Vamos salvar os ovos das tartarugas, mas matar os fetos,” disse a professora desempregada Madalena Venâncio, 44, em uma manifestação de Bolsonaro. “Prefiro a franqueza dele.”

Lei e Ordem

Bolsonaro se apresenta como uma figura contra as elites nos moldes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cujas políticas ele admira.

Mas apesar de quase 27 anos no Congresso, ele tem poucas realizações legislativas para mostrar. Em vez disso, sua carreira consistiu em grande parte em controvérsias. Ele expressou repetidamente apoio à ditadura militar de 1964-1985 e virou manchete com comentários racistas, sexistas e homofóbicos.

Vilipendiado por muitos críticos como um fanfarrão isolado, Bolsonaro demonstrou instintos políticos perspicazes, explorando a revolta pública contra a corrupção desenfreada e o aumento do crime. Ele quer afrouxar as leis de porte de armas para que mais brasileiros possam se armar. E ele prefere dar carta branca à polícia para matar criminosos suspeitos.

Essa postura dura ganhou admiradores em uma nação que registrou um recorde de quase 64.000 assassinatos no ano passado.

Saindo do culto de uma igreja evangélica recentemente em Ceilândia, um subúrbio da classe trabalhadora de Brasília, Maria de Conceição disse estar inclinada a votar em Bolsonaro.
“Ele diz que vai restaurar a disciplina nas escolas, onde os alunos fazem o que querem e batem nos professores,” disse Maria. “Talvez devêssemos tentar um oficial militar agora.”

Traduzido por Julio Severo do serviço noticioso Reuters: Brazil’s evangelicals say far-right presidential candidate is answer to their prayers

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