Por Alessandro Miranda Brito
Charles Spurgeon dizia que: “Todo cristão ou é um missionário ou é um impostor”. Ou seja, um missionário não é apenas aquela pessoa que deixa a sua terra natal para pregar o evangelho em terras mais distantes. Pelo contrário, todo cristão é um missionário justamente onde está. O estudante é missionário na sala de aula, o comerciante em sua empresa, o médico no hospital e a faxineira no local onde trabalha.
Quando Jesus nos salva ele nos torna justo, o que nos dá o direito de viver com Ele eternamente no céu. Porém, mesmo perdoados, não vamos direto para lá, pois somos salvos do mundo para voltarmos ao mundo como missionários. São os salvos os portadores da notícia de que Cristo morreu na cruz para resgatar da perdição eterna os que aqui vivem sem
esperança.
Isso por outro lado levanta algumas questões: todo missionário é um plantador de igrejas? Como saber se você é um missionário com uma vocação específica para plantar igrejas?[1] Para respondermos essas perguntas precisamos entender o método utilizado por Jesus ao recrutar os seus discípulos fazendo o uso do texto de Mateus 4.18-22.
1. O plantador é escolhido somente por Cristo
“E Jesus, andando ao longo do mar da Galiléia, viu dois irmãos – Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, os quais lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores.” (Mateus 4.18)
Jesus ao ser batizado estava na Judeia, região sul de Israel, onde habitavam os nobres, os principais mestres da lei, o sinédrio, a cidade de Jerusalém e as melhores “universidades” da época.[1] Esse parecia ser o melhor local para se recrutar uma pessoa, certo? Não para Jesus, pois voltou para a Galiléia a fim de encontrar os seus primeiros discípulos.
Dos doze discípulos, escolhidos por Jesus, apenas Judas Iscariotes era da Judeia.[2] A grande maioria dos convocados eram do norte, da região da Galiléia, onde se concentravam os iletrados, menos privilegiados e marginalizados.[3] Ou seja, aqueles desprezados pela sociedade e jamais escolhidos. Por que?
Primeiro, Jesus é quem escolhe o plantador. O texto diz que Jesus andando pela praia viu Pedro e André que estavam pescando e viu também Tiago e João que estavam consertando as redes. Ou seja, não foram eles que viram Jesus e sim Jesus quem os viu, pois eles estavam focados em suas atividades rotineiras.
Jesus é aquele quem vem ao nosso encontro já temos uma venda chamada pecado em nossos olhos. Somos como cegos espirituais, tão focados no pecado, que para ser mal não precisamos nem da influência de Satanás, pelo contrário, temos uma propensão natural para a maldade.[4]
Somos eleitos e esta eleição foi realizada por Deus antes mesmo do nosso nascimento e não por nós mesmos. Chales Spurgeon dizia que: “Ainda bem que Deus me escolheu antes do meu nascimento porque certamente Ele não teria me escolhido depois”.[5]
O segundo motivo é que Jesus não escolhe os melhores. Vivemos em um mundo onde os processos de seleção para uma vaga são rígidos a fim de aumentar a probabilidade de se encontrar o melhor dos melhores. Aqueles que realmente merecem. Jesus, por outro lado, agiu de forma totalmente contrária, escolhendo justamente quem não merecia.
Conheço pessoas que fazem questão de aparecer para serem vistas como as melhores escolhas de Deus. Outros que fazem de tudo para serem escolhidos por Cristo, não por terem abandonado o pecado, mas a fim de tirar algum proveito da igreja. E, em alguns casos, aqueles que se acham autossuficientes ao ponto de acharem que Deus precisa deles.
O plantador escolhido por Cristo sabe que só foi recrutado por conta da misericórdia de Deus e não pelas suas habilidades e talentos. Planta não como se estivesse fazendo um favor a Deus, mas em agradecimento por ter tido os seus pecados perdoados mesmo sem merecer. Vale a pena relembrar a famosa frase que diz:“Deus não escolhe os capacitados. Capacita os escolhidos.”
2. O plantador é chamado somente por Cristo
“Disse-lhes: Vinde após mim…E, passando mais adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e os chamou.”(Mateus 4.19a; 21)
Jesus além de escolher os discípulos vai até ao encontro de cada um é faz uma convocação. Ele é quem toma a iniciativa de chamar e neste caso, os chamou para segui-lo, mesmo sabendo que estes pescadores estavam ocupados com os seus afazeres.
Mas como saber se fui chamado? Para uns será através de uma convicção interna que não lhes permitirá investir suas vidas em qualquer outra coisa que não seja a plantação de igrejas. Muitos plantadores possuem a certeza de seus chamados justamente por terem abdicado de uma carreira de sucesso ou de um melhor salário que lhes garantia uma vida instável. Ou ainda por que sabem que ninguém em sã consciência escolheria enfrentar as dificuldades que envolvem uma plantação se não possuíssem essa convicção interna.
Além desta convicção interna você precisa realizar uma avaliação pessoal e honesta se perguntando: as pessoas ao meu redor já viram em mim o que Jesus um dia viu? Muitos confirmarão o que Deus já colocou em seu coração. As vezes a igreja terá essa percepção de chamado na sua vida antes mesmo que você tenha uma convicção interna.
Por outro lado, se você é a única pessoa que tem essa convicção de chamado para plantar igrejas é melhor esperar um pouco ou seguir o conselho de Darrin Patrick: “…se você não tem um sentimento de chamado para o ministério, então, por favor, encontre outra vocação!”[6]
Hoje, porém existe líderes que nunca foram vistos por Jesus, quem dirá escolhidos. Plantadores que se chamam a si próprios em busca de um emprego já que falharam em uma dezena de outras atividades. Talvez isto explique o motivo pelo o qual temos tantas igrejas em declínio. Muitos acabam abandonando o ministério por não terem a certeza de que foram realmente chamados. Não entramos no ministério por não terem mais nada para fazer na vida ou por buscar uma profissão, na verdade quando somos escolhidos o oposto acontece.
3. O plantador é ensinado somente por Cristo
“e eu vos farei pescadores de homens.” (Mateus 4.19b)
Os pescadores desta passagem tinham um conhecimento extenso sobre pesca. Sabiam quais eram os melhores horários, melhores partes do lago e formas para se obter uma boa pesca, porém precisavam aprender novas lições, pois nada entendiam da pesca de almas. Sabendo disso Jesus diz que faria deles pescadores de homens, ou seja, ele os ensinaria.
Ser um especialista, um mestre ou mesmo um doutor em um determinado assunto não faz de nós plantadores de igrejas. Para pescar almas precisamos aprender como pescá-las. Ou seja, para plantar igrejas precisamos aprender como espalhar a semente. Jesus nos deixou o evangelho justamente para nos ensinar.
Só ter o chamado não é tudo, pois o plantador deve ser qualificado. Darrin Patrick, em seu livro O Plantador, diz que: “Ninguém embarcaria num avião se soubesse que o ‘piloto’ adora aviões, mas não tem um brevê”.[7] Mas como conhecer a Cristo?
Primeiro, através do estudo diário da Palavra de Deus em nossos lares. Todos nós crentes em Jesus Cristo sabemos da necessidade de conhecermos melhor a palavra de Deus e isso deve ser algo constante. Segundo, através do estudo realizado na igreja, ou seja, por meio de discipulado conduzido por mestres mais experientes do que nós. Terceiro, através de um curso específico.
Já ouvi por diversas vezes líderes denominacionais dizerem que não é necessário realizar um curso em um seminário, por exemplo, para ser um plantador de igrejas. Concordo em partes com tais líderes já que Charles Spurgeon nunca frequentou aulas em um seminário. A questão é que ele era um verdadeiro autodidata que conhecia muito bem a Bíblia.
Aos seis anos de idade já tinha lido o livro de John Bunyan, O Peregrino. Antes dos seus 20 anos de idade, já havia pregado mais de 600 sermões. Lia quase um livro por dia e fundou um seminário onde lecionava. Se você for um plantador autodidata, como Spurgeon, realmente não precisa realizar um curso teológico. Porém, não for esse o seu caso, procure uma instituição séria e se matricule o mais rápido possível.
Enquanto Jesus estava escolhendo, chamando e ensinando os seus discípulos um homem chamado Natanael perguntou: “E será que pode sair alguma coisa boa de Nazaré?” (João 1.46). Esse preconceito ainda paira na mente de muitos que duvidam dos métodos estabelecidos por Cristo para formar sua liderança. Mas como observamos até aqui, Jesus bem diferente do mundo, não procura os melhores, mais capacitados e mais ágeis.
Pelo contrário, escolhe pessoas simples acostumadas com as crises da vida. Além disso não chama pessoas perfeitas, como fazem os profissionais de RH, mas sim os pecadores. É justamente esses homens que Jesus quer ensinar hoje.
Notas
[1] “Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão.” (Hebreus 5:4)
[2] Paulo estudou na capital do farisaísmo, isto é, em Jerusalém onde frequentou a escola de Gamaliel: “Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui educado nesta cidade, instruído aos pés de Gamaliel, em todo o rigor da Lei dos nossos pais e cheio de zelo pelas coisas de Deus, como todos vós sois agora”. (Act 22,3)
[3] Iscariotes, significa “homem de Keriote”.
[4] O preconceito era tão grande que enquanto Jesus montava seu time, um habitante da Galileia perguntou: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (Jo 1.46).
[5] Isaías 64:6-7, Romanos 1:29-31, 3:10-18
[6] I Pedro 1:2
[7] PATRICK, Darrin. O plantador de igrejas: O homem a mensagem, a missão. São Paulo, SP: Editora Vida Nova. 2013, p.39
[8] Ibid, p.55
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