Daniel Lima
Não é impressionante como tudo que é bom e de qualidade logo é copiado por um produto mais barato, de qualidade inferior? De modo geral, a cópia não tem a mesma durabilidade, não tem a mesma qualidade, mas “engana” por algum tempo.
O mais curioso é que quem compra um artigo falsificado, com frequência, sabe que está comprando algo que não é autêntico. Alguns o fazem por crer que não há diferença, outros compram para tentar passar uma imagem que também não é autêntica.
Um produto falsificado é sempre uma mentira. Dá uma aparência, mas não tem a mesma essência. Afirma ser algo que não é. No entanto, parece que só aparência, com alguma frequência, nos satisfaz. Parece que se os outros pensam que tenho, ou que faço, ou mesmo
que sou algo que não sou, eu já consigo algum ganho com isso.
Viver de aparência pode ter seu lucro em termos de imagem passada, mas quem já comprou um bilhete falsificado precisou, na hora de entrar no evento, enfrentar a triste realidade de que por melhor que seja a cópia, ela não é autêntica.
Na semana passada comentei que ao estudar o evangelho de João, percebo que o autor usa o termo “crer” quase cem vezes. Em uma mesma passagem, João parece indicar que pessoas creram, mas não tinham uma fé autêntica (João 8.30-47).
Os judeus descritos na passagem acima creram, mas, quando foram confrontados com a duras realidades do evangelho, voltaram atrás. Uma vez mais, é importante afirmar que isso não é o equivalente a “perder a salvação”.
Parece descrever um processo em que a pessoa se convence de algumas coisas, mas que há um momento em que este convencimento precisa se tornar um compromisso, ou simplesmente não é uma fé autêntica.
Pensando assim, busquei verificar quais características marcam uma fé autêntica. Cheguei a cinco marcas. Tenho certeza de que há outras, mas minha oração é que estas desafiem nosso entendimento e nos leve a uma sincera e profunda autoavaliação.
-1) Permanecem na Palavra. A passagem de João 8.30-31 descreve uma realidade e as palavras de Jesus para aqueles que haviam crido: “Tendo dito essas coisas, muitos creram nele. Disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: ‘Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”.
O público de Jesus era os que haviam crido nele. No entanto, ele afirma que os verdadeiros (autênticos) são aqueles que permanecem na sua Palavra. Permanecer na sua Palavra significa continuar a colocar sua esperança e confiança naquilo que a Palavra afirma. Significa que mesmo que opiniões e ideologias afirmem o contrário, vou continuar seguindo o que o Senhor Jesus afirmou. Esta é a primeira característica de uma fé que não é falsificada ou oportunista, mas autêntica.
-2) Permanecem nele. João 15.5-6 afirma: “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados”.
A segunda marca de uma fé autêntica é permanecer em Cristo. Pode parecer muito com a primeira (permanecer em sua Palavra), mas esta marca aponta uma característica mais relacional. Uma fé verdadeira é uma fé que continua a buscar uma comunhão com Jesus Cristo. É uma fé que se alimenta desta relação; não apenas como aquele que nos perdoa dos pecados, mas como aquele que pode preencher o vazio de nossas almas, aquele que é digno de nosso amor e adoração.
-3) Confia. Em João 9.37-38 lemos: “Disse Jesus: ‘Você já o tem visto. É aquele que está falando com você’. Então o homem disse: ‘Senhor, eu creio’. E o adorou”.
Este foi o cego que Jesus curou. Apesar de ser testemunha do milagre de Jesus, ele nunca o havia visto, pois Jesus já havia partido quando ele voltou curado. É muito interessante ver como sua fé era autêntica. No momento que Jesus se identifica, ele não precisava mais refletir ou pensar, ele simplesmente confia sua vida e seu destino eterno a Jesus por meio da adoração.
-4) Obedece. Ao falar com seus discípulos no discurso registrado em João 14, Jesus indica a obediência como uma marca daqueles que creem em seu nome. Deixe-me destacar os versos 1, 11 e 15: “Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Creiam em mim quando digo que estou no Pai e que o Pai está em mim; ou pelo menos creiam por causa das mesmas obras. Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos”.
Uma vez mais, seu público é composto por aqueles que creem. No entanto, no verso 15 ele aponta para mais uma marca de uma fé autêntica: obediência. É importante destacar que não é a obediência que sustenta a fé. Aquele que o ama – que tem uma fé autêntica – desejará obedecer. Este é um dos melhores testes sobre sua fé. Você busca obedecer (mesmo que falhando com frequência) ou sua busca é como “dar a volta”, como dar um jeitinho naquilo que Jesus ordena?
-5) Ama. Esta é a marca mais óbvia, no entanto mais ignorada. Em João 13.34-35 lemos: “Um novo mandamento dou a vocês: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros”.
A marca do discípulo (fé autêntica) é o amor. É difícil definir o que é o amor, mas é inconfundível quando se convive com alguém. Mais uma vez, a passagem não ensina que devo mostrar amor para ter uma fé autêntica.
A relação é justamente o contrário. Se minha fé for autêntica, o Espírito Santo de Deus vai manifestar um amor crescente em mim. Isso não significa uma mudança total num instante, mas um processo em que começamos a sentir e a viver um amor que sabemos não ter começado em nós mesmos.
Meu propósito não é gerar uma inquietação quanto à sua fé, mas sim uma autoavaliação de sua fé e de minha fé. Eu não quero crer em Jesus, mas não confiar plenamente nele. Eu não quero crer meramente em uma formulação teológica. Eu quero, sim, conhecer a Jesus e tornar-me mais e mais como ele.
Como Paulo expressa tão bem em Filipenses 3.10-11:
"10 Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte 11para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos."
Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.
Phonte: A Chamada
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