As expectativas se confirmaram, e a economia brasileira fechou 2015 em queda. A retração, de 3,8% em relação a 2014, foi a maior da série histórica atual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 1996. Considerando a série anterior, o desempenho é o pior desde 1990, quando o recuo chegou a 4,3%.
Em valores correntes, o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) chegou a R$ 5,9 trilhões, e o PIB per capita ficou em R$ 28.876 em 2015 – uma redução de 4,6% diante de 2014.
“Essa taxa de -3,8% é a menor dessa série, desde 1996. Olhando essa série mais antiga, em 1990, tinha sido -4,3%. Então, essa taxa [de -3,8%] é a menor desde 1990. Olhando uma perceptiva mais ampla, é a maior queda desde 1990”, analisou Rebeca de La Rocque Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Já a indústria amargou uma queda de 6,2%, puxada pela retração de quase 8% do setor de construção. “Construção teve queda importante, puxada tanto com a parte de infraestrutura como a parte imobiliária”, disse Rebeca.
Além da construção, a indústria de transformação recuou 9,7%, influenciada pela redução, em volume, dos segmentos de veículos, de máquinas e equipamentos e de aparelhos eletroeletrônicos.
O recuo poderia ser maior se a indústria extrativa mineral não tivesse colaborado positivamente. O aumento da extração de petróleo, gás natural e minérios ferrosos ajudou a suavizar o tombo.
O setor de serviços, que sempre respondeu por boa parte do PIB, recuou 2,7%, a maior baixa desde 1996, porque o comércio, forte em outros anos, mostrou uma diminuição de 8,9%.
"Os serviços que mais caíram são exatamente os correlacionados com a indústria de transformação e o nosso comércio", disse a coordenadora do IBGE.
Investimentos e setor externo
A queda do PIB também sofreu influência do resultado negativo dos investimentos. A retração na formação bruta de capital fixo (que são os investimentos em produção), de 14,1%, foi atribuída principalmente à queda da produção interna e da importação de bens de capital.
No ano anterior, o recuo havia sido bem menor, de 4,5%. Com isso, a taxa de investimento caiu de 20,2% em 2014 para 18,2% do PIB, no ano seguinte.
O consumo das famílias, que durante muitos anos puxou o crescimento da economia brasileira, recuou 4% em relação ao ano anterior, revertendo o aumento de 1,3% em 2014.
O IBGE afirma que esse resultado vem da "deterioração dos indicadores de inflação, juros, crédito, emprego e renda ao longo de todo o ano de 2015".
Já os gastos do governo diminuíram 1% em 2015, depois de terem crescido 1,2% no ano anterior.
Em 2015, diante da forte valorização do dólar em relação ao real, as vendas para o exterior cresceram e as compras, diminuíram.
De acordo com o IBGE, as exportações aumentaram 6,1%, puxadas pelas commodities como petróleo e minério de ferro, e as importações caíram 14,3%, sob influência dos segmentos de máquinas e equipamentos e de automóveis.
"Essa contribuição positiva [do setor externo] não ocorria desde 2005, que foi 0,6% positivo e depois a gente só teve contribuições negativas. O volume da importação foi maior do que a da exportação nesse período todo. Ano passado, a contribuição foi praticamente zero", afirmou Rebeca de La Rocque Palis, do IBGE.
4º trimestre
No quarto trimestre, o PIB recuou 5,9% frente ao mesmo período de 2014, indicando o pior desempenho desde o início da série histórica iniciada em 1996. Nessa base de comparação, a agropecuária cresceu 0,6% e a indústria sofreu queda de 8%.
Já em relação ao terceiro trimestre, a queda foi menor, de 1,4%, puxada pelas retrações da indústria (-1,4%) e de serviços (-1,4%). O resultado não foi ainda pior porque a agropecuária cresceu 2,9%.
Venezuela
Com esse resultado, a economia do Brasil teve o segundo pior desempenho entre os países da América Latina, ficando atrás apenas da Venezuela, cujo PIB deve recuar 10%, segundo previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Entre os Brics (os países "emergentes"), o Brasil deverá ter a queda mais acentuada.
Previsões próximas
A previsão do mercado financeiro era que o PIB encerraria o ano em queda de 3,8%, de acordo com o último boletim Focus que trazia as estimativas para 2015.
A expectativa do Banco Central era ainda mais pessimista. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado um indicador que tenta "antecipar" o resultado do PIB, sinalizava que a economia brasileira havia recuado 4,08% no ano passado.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) também estimou que a economia brasileira teria resultado negativo no final do ano passado. Em janeiro de 2016, o órgão previu que o PIB encolheria 3,8% em 2015.
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