Existem, pelo menos, três grandes teorias ateístas que têm moldado fortemente a cultura contemporânea em oposição à cosmovisão cristã: o marxismo, o darwinismo e o freudianismo.
Já tratei da sangrenta e herética ideologia marxista aqui e também fiz pontuações sobre o cientificismo do evolucionismo (neo)darwinista aqui, cabe agora fazer algumas considerações sobre a psicanálise freudiana.
Pressupostos da Psicanálise Freudiana
O freudianismo se sustenta sobre três pressupostos básicos[1]:
1. Ontologia materialista: Segundo a metapsicologia freudiana, a natureza do mental é material. Os estados mentais inconscientes são, em última instância, estados cerebrais.
Pressupostos da Psicanálise Freudiana
O freudianismo se sustenta sobre três pressupostos básicos[1]:
1. Ontologia materialista: Segundo a metapsicologia freudiana, a natureza do mental é material. Os estados mentais inconscientes são, em última instância, estados cerebrais.
2. Epistemologia naturalista: A psicanálise freudiana está alinhada com o naturalismo científico. O homem é concebido a partir de um ponto de vista antropológico naturalista como uma espécie biológica e a psicanálise é entendida como uma ciência natural.
3. Metodologia pessimista: A técnica utilizada pela psicanálise é a associação livre, na qual o sujeito articula livremente a fala e o analista fica em atenção flutuante atento, não à fala em si, mas as manifestações do inconsciente. O pessimismo terapêutico do freudianismo questiona a possibilidade da felicidade, pois há uma tendência natural no psiquismo (a pulsão de morte) para a autodestruição.
Ao assumir uma ontologia materialista e uma epistemologia naturalista, a psicanálise freudiana se coloca em contradição com a antropologia cristã, que concebe o homem como dotado de uma alma racional e imortal.
O materialismo freudiano destrói o fundamento da dignidade humana ao conceber o homem como um mero amontoado de células. Além disso, por seu materialismo mecanicista, Freud compreende um determinismo psíquico segundo o qual as “escolhas” humanas em Freud são vistas como determinadas pela rede de conexões causais dos processos do inconsciente:
“Notarão desde logo que o psicanalista se distingue pela rigorosa fé no determinismo da vida mental. Para ele não existe nada insignificante, arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas. Antevê um motivo suficiente em toda parte onde habitualmente ninguém pensa nisso; está até disposto a aceitar causas múltiplas para o mesmo efeito, enquanto nossa necessidade causal, que supomos inata, se satisfaz plenamente com uma única causa psíquica” [2]
“Notarão desde logo que o psicanalista se distingue pela rigorosa fé no determinismo da vida mental. Para ele não existe nada insignificante, arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas. Antevê um motivo suficiente em toda parte onde habitualmente ninguém pensa nisso; está até disposto a aceitar causas múltiplas para o mesmo efeito, enquanto nossa necessidade causal, que supomos inata, se satisfaz plenamente com uma única causa psíquica” [2]
Era de se esperar que dessa antropologia naturalista viesse um pessimismo terapêutico. A morte é o único destino que resta ao homem. Não há esperança de cura para as patologias psíquicas e os desejos do homem são insaciáveis.
Com base na insaciabilidade desses desejos, Freud argumentava contra a existência de Deus dizendo que Ele era apenas uma projeção dos fortes desejos internos do coração humano. O indivíduo se sentiria impotente na idade adula criando uma figura paterna semelhante aquela que lhe protegeu na infância:
“A psicanálise dos seres humanos de per si, contudo, ensina-nos com insistência muito especial que o deus de cada um deles é formado à semelhança do pai, que a relação pessoal com Deus depende da relação com o pai em carne e osso e oscila e se modifica de acordo com essa relação e que, no fundo, Deus nada mais é que um pai glorificado.”[3]
“A psicanálise dos seres humanos de per si, contudo, ensina-nos com insistência muito especial que o deus de cada um deles é formado à semelhança do pai, que a relação pessoal com Deus depende da relação com o pai em carne e osso e oscila e se modifica de acordo com essa relação e que, no fundo, Deus nada mais é que um pai glorificado.”[3]
O argumento de Freud poderia ser colocado assim:
(1) Uma ilusão é uma projeção dos nossos desejos sem bases no real;
(2) Deus é uma projeção dos nossos desejos sem bases no real;
(3) Logo, Deus é uma ilusão. A verdade, por outro lado, é que a paternidade de Deus na Trindade é o arquétipo das paternidades humanas, não o contrário.
[4] Freud comete uma falácia genética por querer invalidar a verdade de uma crença com base em sua possível origem.
Além disso, como o próprio Freud reconhece, a relação com o pai reserva uma ambivalência de amor/ódio em que a criança deseja a proteção do pai e ao mesmo tempo deseja a morte do pai. Neste caso, mesmo o ateísmo poderia ter alguma base no desejo.
Além disso, como o próprio Freud reconhece, a relação com o pai reserva uma ambivalência de amor/ódio em que a criança deseja a proteção do pai e ao mesmo tempo deseja a morte do pai. Neste caso, mesmo o ateísmo poderia ter alguma base no desejo.
A rejeição de uma Autoridade Última poderia ter bases no desejo de que ninguém interferisse nas nossas vidas. Podemos observar também, como disse C.S. Lewis, que a existência em nós de um desejo que não pode ser saciado neste mundo indica a existência de uma Satisfação além mundo para esse desejo [5].
Complexo de Édipo e moralidade
O freudianismo busca fornecer uma solução para o problema da moralidade no ateísmo. Se não existe Deus, como explicar a culpa que o homem sente por suas transgressões da lei? Nesse sentido, a psicanálise desenvolveu a ideia de um conflito universal chamado “Complexo de Édipo”.
Freud acreditava que existiram hordas primitivas nas quais o patriarca detinha sob o seu poder todas as mulheres da horda. Isso levou a uma revolta por parte dos filhos que mataram o pai. A morte do pai deu origem ao sentimento de culpa, pois os filhos alimentavam um sentimento ambivalente de ódio/amor pelo pai, visto que o patriarca também era fonte de proteção.
Ninguém teve coragem de substituir o lugar do Pai. O Pai foi substituído, então, por um símbolo religioso (totem) e foram instauradas duas leis: “Não matar o pai” (proibição do parricídio) e “Não tomar as mulheres da horda” (tabu do incesto).
Complexo de Édipo e moralidade
O freudianismo busca fornecer uma solução para o problema da moralidade no ateísmo. Se não existe Deus, como explicar a culpa que o homem sente por suas transgressões da lei? Nesse sentido, a psicanálise desenvolveu a ideia de um conflito universal chamado “Complexo de Édipo”.
Freud acreditava que existiram hordas primitivas nas quais o patriarca detinha sob o seu poder todas as mulheres da horda. Isso levou a uma revolta por parte dos filhos que mataram o pai. A morte do pai deu origem ao sentimento de culpa, pois os filhos alimentavam um sentimento ambivalente de ódio/amor pelo pai, visto que o patriarca também era fonte de proteção.
Ninguém teve coragem de substituir o lugar do Pai. O Pai foi substituído, então, por um símbolo religioso (totem) e foram instauradas duas leis: “Não matar o pai” (proibição do parricídio) e “Não tomar as mulheres da horda” (tabu do incesto).
Essas duas proibições fundaram a civilização humana, de modo que essas leis estão presentes em todas as culturas: “A cultura totêmica baseia-se nas restrições que os filhos tiveram de impor-se mutuamente, a fim de conservar esse novo estado de coisas. Os preceitos do tabu constituíram o primeiro ‘direito’ ou ‘lei’.” [6]
Essa ocorrência fundante da cultura ocorre também em cada homem individualmente. Para Freud, a criança, desde o nascimento, experimenta vários prazeres sexuais. Primeiro ela se excita oralmente com o seio materno, depois com o prazer anal da defecação, até chegar a uma fase em que começa a teorizar sobre o pênis.
Toda criança acreditaria, a princípio, que o pênis é universal. Para o menino, tudo e todos possuem pênis, até que ele descobre que meninas não o possuem. Essa descoberta geraria uma angústia na criança que, imaginando que as meninas perderam seu pênis, teme perder o seu também. O menino teme ser castrado pelo pai e por isso passa a desejar que o pai morra para que ele possa ficar com a mãe.
A percepção e aceitação das diferenças sexuais anatômicas pela criança seria o que proporcionaria a formação de uma agência psíquica moral reguladora (superego) possibilitando que a criança se converta de um pequeno selvagem para um adulto civilizado. Civilizar-se, no entanto, exige o recalcamento dos desejos incestuosos pela mãe e do desejo da morte do pai, o que torna o homem civilizado um neurótico angustiado.
A consciência moral (superego), portanto, seria formada com a dissolução do complexo edípico. A agência de censura psíquica se construiria na infância a partir da relação com os pais:
“O longo período da infância, durante o qual o ser humano em crescimento vive na dependência dos pais, deixa atrás de si, como um precipitado, a formação, no ego, de um agente especial no qual se prolonga a influência parental. Ele recebeu o nome de superego. Na medida em que este superego se diferencia do ego ou se lhe opõe, constitui uma terceira força que o ego tem de levar em conta.” [7]
Essa ocorrência fundante da cultura ocorre também em cada homem individualmente. Para Freud, a criança, desde o nascimento, experimenta vários prazeres sexuais. Primeiro ela se excita oralmente com o seio materno, depois com o prazer anal da defecação, até chegar a uma fase em que começa a teorizar sobre o pênis.
Toda criança acreditaria, a princípio, que o pênis é universal. Para o menino, tudo e todos possuem pênis, até que ele descobre que meninas não o possuem. Essa descoberta geraria uma angústia na criança que, imaginando que as meninas perderam seu pênis, teme perder o seu também. O menino teme ser castrado pelo pai e por isso passa a desejar que o pai morra para que ele possa ficar com a mãe.
A percepção e aceitação das diferenças sexuais anatômicas pela criança seria o que proporcionaria a formação de uma agência psíquica moral reguladora (superego) possibilitando que a criança se converta de um pequeno selvagem para um adulto civilizado. Civilizar-se, no entanto, exige o recalcamento dos desejos incestuosos pela mãe e do desejo da morte do pai, o que torna o homem civilizado um neurótico angustiado.
A consciência moral (superego), portanto, seria formada com a dissolução do complexo edípico. A agência de censura psíquica se construiria na infância a partir da relação com os pais:
“O longo período da infância, durante o qual o ser humano em crescimento vive na dependência dos pais, deixa atrás de si, como um precipitado, a formação, no ego, de um agente especial no qual se prolonga a influência parental. Ele recebeu o nome de superego. Na medida em que este superego se diferencia do ego ou se lhe opõe, constitui uma terceira força que o ego tem de levar em conta.” [7]
O Cristianismo, por outro lado, defende que todos já nascem com a lei gravada em seus corações. E, novamente aqui, a psicanálise freudiana está em oposição à antropologia cristã: “Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Romanos 2.15).
Paulo está respondendo à pergunta: “Como os gentios poderiam ser culpados de negar o Deus verdadeiro e de quebrar a Lei, se Deus e sua Lei não foram revelados a eles como o foi a Israel?” Paulo responde isso dizendo que eles conhecem Deus e a Lei por meio da natureza, tanto externa, quanto interna.
Portanto, eles são condenados com base na Lei objetiva de Deus gravada no coração humano. Paulo não tem em mente uma consciência subjetiva construída durante o desenvolvimento psíquico, ele tem em mente a consciência judiciosa que Deus implantou na natureza humana.
Além disso, o pecado não pode ser reduzido a uma noção psicologista de “id”, nem a culpa deve ser entendida como um desprazer ocasionado pelo acúmulo de energias no aparelho psíquico. Biblicamente os pecadores são real e verdadeiramente culpados pelos seus pecados.
Considerações finais
A psicanálise freudiana é uma teoria materialista, naturalista, determinista e reducionista, cujos pressupostos estão em evidente oposição à Cosmovisão cristã.
Além disso, o pecado não pode ser reduzido a uma noção psicologista de “id”, nem a culpa deve ser entendida como um desprazer ocasionado pelo acúmulo de energias no aparelho psíquico. Biblicamente os pecadores são real e verdadeiramente culpados pelos seus pecados.
Considerações finais
A psicanálise freudiana é uma teoria materialista, naturalista, determinista e reducionista, cujos pressupostos estão em evidente oposição à Cosmovisão cristã.
A concepção de moral da Psicanálise, como baseada numa instância psíquica formada com a dissolução do complexo edípico, é oposta ao ensino bíblico de que Deus imprimiu a lei na natureza do homem.
Sendo assim, a metapsicologia freudiana, assim como a ideologia marxista e o darwinismo cientificista, é uma teoria ateísta.
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Notas:
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Notas:
[1] Pressupostos de algumas abordagens da Psicologia. Compactação que eu fiz do capítulo “Freud e a Psicanálise: Uma visão de Conjunto – Richard Theisen Simanke & Fátima Caropreso” do livro “História e filosofia da psicologia: perspectivas contemporâneas. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2012” organizado por Saulo de Freitas Araújo.
[2] 5 Lições de Psicanálise – Sigmund Freud.
[3] Totem e Tabu e outros trabalhos – Sigmund Freud.
[4] Teologia Sistemática I – Norman Geisler, CPAD, 2015, página 533.
[5] Deus em Questão: C.S.Lewis e Sigmund Freud debatem Deus, amor, sexo e o sentido da vida – Armand M. Nicholi Jr, páginas 55 e 56..
[6] O mal estar na civilização – Sigmund Freud.
[7] Esboço de Psicanálise – Sigmund Freud.
Autor: Bruno dos Santos Queiroz
Divulgação: Bereianos
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