Mais conservador dos representantes mato-grossenses em Brasília defende a cura gay e diz que política e religião devem andar juntos
Rafael CostaDa Reportagem
Membro da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, o deputado federal por Mato Grosso, Victório Galli (PSC), não esconde sua contrariedade com a prática de grupos homossexuais.
No entanto, nega que seja homofóbico e garante que, como homem público, trabalha para assegurar serviços públicos de qualidade à coletividade. “Só não concordo que grupos homossexuais se blindem e se intitulem ser uma espécie diferente, protegida e com mais privilégios que os demais”.
Nesta entrevista polêmica, Victorio Galli, que é pastor evangélico da Assembleia de Deus e atua no Grande Templo em Cuiabá, afirma que a prática homossexual não está aliada aos conceitos divinos.
“A prática homossexual é uma forma também de interromper a espécie humana. Dois machos ou duas fêmeas não reproduzem. Então, o homossexualismo é uma forma de extinguir a espécie humana”.
Nesta entrevista ao DIÁRIO, Galli ainda defende a redução da maioridade penal e ao projeto batizado de “cura gay”, proposta pelo seu correligionário, deputado Marcos Feliciano (PSC-SP).
DIÁRIO - Quais são as bandeiras defendidas pela bancada evangélica na Câmara dos Deputados?
Victorio Galli – A nossa principal bandeira é a defesa da família. Isso envolve a proteção da criança, adolescente... Nós somos contra violência e exploração da mulher e contrários ao aborto. Esses são basicamente nossos temas defendidos.
DIÁRIO – A Câmara dos Deputados tem se notabilizado pela divisão de setores como as bancadas da segurança pública, ruralista e evangélica. Não seria mais prudente o parlamentar representar toda a sociedade pela qual foi eleito?
Galli - Vejo como natural no processo político segmentos se articularem para eleger seus representantes. Isso não significa, de forma alguma, abandono de projetos em prol da coletividade. A Câmara dos Deputados tem representantes dos metalúrgicos e de diversos setores trabalhistas, representantes dos católicos, defensores de melhorias da segurança pública. Isso é normal numa democracia.
DIÁRIO – Mas o rótulo de bancada evangélica não fere o princípio do Estado laico?
Galli – Acredito que não! O Estado diretamente não está patrocinando nenhuma religião. Mas, o cidadão que é evangélico, católico ou de outra religião pode perfeitamente ser candidato e ter seu projeto aprovado pela maioria da população.
Galli - Na verdade, nunca houve separação. Tenta se separar, mas não dá certo. Ambos estão juntos nas diversas fases da história. Não vejo muita necessidade disso.
DIÁRIO – O PT e a presidente Dilma Rousseff têm atendido aos anseios da bancada evangélica?
Galli – É uma atuação bastante pontuada do Executivo. No plano nacional de educação, houve pontos que criticamos e fomos atendidos. É uma relação tranquila. A frente parlamentar evangélica tem representantes do PT e PMDB. O diálogo existe.
DIÁRIO - A Câmara dos Deputados votou recentemente a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos em crimes hediondos. O senhor é favorável?
Galli – Concordo! É uma forma de frear essa onda de criminalidade desta juventude. Mas, também não é o único passo que demos para combater a criminalidade de adolescentes. Tem que se pensar muito em educação e valorização da família.
DIÁRIO – As unidades prisionais no Brasil são chefiadas por organizações criminosos como o PCC e Comando Vermelho. No Maranhão, o presídio de Pedrinhas é considerado uma prova cabal de violação aos direitos humanos. O senhor concorda que o sistema prisional em nada contribui para a ressocialização? Não é preocupante colocar adolescentes neste cenário?
Galli – É preocupante, mas o mais preocupante é deixá-lo solto nas ruas. Os adolescentes mudaram muito. A consciência de um jovem de 12, 14 anos na sociedade atual é muito diferente da década de 80 e 90. Nós precisamos que a população tenha sensação de segurança e o criminoso seja excluído do convívio social. Falar que um jovem de 16 anos na sociedade atual é uma criança em formação é uma balela. Cabe ao Estado oferecer melhor condição nos presídios, não tenho dúvida, mas não podemos deixar jovens de alta periculosidade com penas amenas. Em São Paulo, uma garota de 12 anos foi estuprada por três menores dentro de uma escola. No Piauí, menores lideraram um estupro coletivo contra mulheres inocentes. Nas escolas, professores estão intimidados com estudante tirando proveito de ser menor para ir armado e ameaçar profissionais. Isso é inaceitável.
DIÁRIO – Recentemente, o senhor discursou na tribuna da Câmara dos Deputados contrário ao beijo entre duas mulheres numa novela global e de uma união homossexual exibida em comercial do Boticário. O senhor acredita que a mídia é favorável ao homossexualismo?
Galli – Vou me posicionar quantas vezes for necessário contra essas aberrações que a mídia está fornecendo. Isso significa tirar a inocência das crianças. Cada vez mais está se tirando proveito disso. O resultado é a gravidez precoce de meninas de 12, 13 ou 14 anos, atividade sexual cada vez mais libertária de criança e adolescente. Antigamente, motel ficava longe da cidade. Tinha que pegar uma rodovia e ainda assim ter dificuldade para encontrar. Hoje, se você brincar, uma família se hospeda em um motel pensando que está em um hotel.
DIÁRIO – A bancada evangélica repudia o conteúdo homossexual, mas a mesma novela que exibiu o beijo de duas mulheres também abordou adultério, violência e assassinatos? A união homossexual seria mais grave?
Galli – O adultério é cometido por adultos conscientes. Minha preocupação é com essa influência que um beijo lésbico tem na formação de crianças e adolescentes. Nós somos contra adultério, trairagem de familiares, falta de respeito com os filhos. Uma prática reprovável não torna outra menos reprovável.
DIÁRIO - A última Parada Gay em São Paulo gerou polêmica por conta de uma mulher homossexual crucificada simbolizando Jesus Cristo. Como o senhor vê este episódio?
Galli – Aquilo foi um ato para zombar da fé de evangélicos e católicos e não para reivindicar direitos. Eu defendo qualquer tipo de manifestação, desde que tenha decência e respeito à religião dos outros. Imagina se grupos religiosos saem às ruas em um protesto com a imagem de um homossexual ardendo na fogueira da Inquisição defendendo essa prática que existia na Idade Média? Seríamos duramente atacados 24 horas. O respeito tem que ser mútuo.
DIÁRIO – A Câmara dos Deputados aprovou em primeira votação projeto de lei que determina o fim da proibição, pelo Conselho Federal de Psicologia, de tratamentos que se propõem a reverter a homossexualidade. O senhor acredita que ser gay ou lésbica pode ser de mero cunho comportamental e assim ser reversível?
Galli – A pessoa ser homossexual é comportamental. O que uma pessoa é hoje pode não ser amanhã. Não se pode tirar o homossexual de querer mudar de vida se assim for a vontade.
DIÁRIO – Como o senhor se define politicamente?
Galli – Sou conservador. Defendo a família e valores tradicionais. Estou sempre aberto ao diálogo e, ao contrário do que muitos pensam, não sou homofóbico. Como homem público, vou sempre lutar pela melhoria da qualidade de vida, independente do cidadão ser homossexual ou heterossexual. Educação, saúde, segurança e transporte público de qualidade têm que ser direito de todos. Só não concordo que grupos homossexuais se blindem e se intitulem ser uma espécie diferente, protegida e com mais privilégios que os demais.
DIÁRIO – Como o senhor vê a luta dos homossexuais em obter o direito de adotar crianças?
Galli – Sou totalmente contra. Quantas vezes for necessário vou me manifestar contra. Felizmente, não é lei. Isso é uma ação antinatural. Não é da natureza homem casar com homem e mulher casar com mulher. A natureza é homem casar com mulher e vice-versa. Se for assim, vamos aproximar duas ilhas. Deixemos em uma ilha cinquenta casais de homens homossexuais e cinquenta casais de lésbicas em uma outra ilha. Dez anos depois voltaremos e veremos que não haverá reprodução alguma. A prática homossexual é uma forma também de interromper a espécie humana. Dois machos ou duas fêmeas não reproduzem. Então, o homossexualismo é uma forma de extinguir a espécie humana.
DIÁRIO – Se um homossexual buscar sua Igreja, seria aceito?
Galli – Muito bem aceito. Será apresentado como frequentador e não vai ter problema.
DIÁRIO – Mas a posição dos evangélicos não pode gerar desconforto?
Galli – Daí já é um problema dele, porque nós amamos a pessoa, mas condenamos a prática. O homossexualismo na prática é condenado pela Bíblia. Nós atendemos a uma vontade de Deus. Nós amamos o gay, mas repudiamos sua prática. Não somos contra o pecador, apenas somos contra o pecado.
DIÁRIO – Como é o convívio em Brasília com deputados que apoiam o movimento gay?
Galli – Normal! Eu não discrimino ninguém. Se tiver que tomar um café ou discutir um projeto ao lado deles, não tenho desconforto nenhum. Se eu sentar ao lado deles, imediatamente eles deixam o lugar. O Clodovil [ex-deputado federal já falecido] sempre promoveu debates sadios, nunca ofendeu ninguém, conquistou o respeito de todos. Foi um grande parlamentar independente de ser homossexual.
DIÁRIO – O senhor pensa em um projeto político maior como ser candidato ao Senado ou governo do Estado?
Galli – Não! O que penso é exercer um bom mandato de deputado federal e auxiliar na melhoria da qualidade de vida do povo mato-grossense.
DIÁRIO – O senhor faz parte do grupo político do governador Pedro Taques (PDT). Como avalia o desempenho dele até aqui?
Galli – Em um primeiro momento, o Taques puxou o freio de mão e paralisou investimentos e projetos por conta de auditorias que considerou necessárias. Agora, vejo que não existe mais a necessidade de olhar para o retrovisor e tem que seguir adiante.
DIÁRIO – A prioridade deve ser educação, saúde e segurança pública?
Galli – Um governador é eleito para cuidar disso. Faço parte da equipe dele e vou trabalhar para auxiliar no que considero necessário. Ainda defendo que o governador atue fortemente na mobilidade urbana da região metropolitana de Cuiabá e melhoria nas rodovias do interior, até para facilitar a logística da produção agrícola.
Fonte: Diário de Cuiabá
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